Minha barriga doía pelo exagero de risadas. Alisei-a temendo que minha pequena estivesse sentindo o mesmo. Pedro me olhou e depois para minha barriga, alisando-a e beijando-a logo em seguida. Sorri. Nós nos casamos se é isso que está se perguntando, tivemos uma lua de mel incrivelmente desastrada, e dois anos depois disso eu engravidei. Não por que queria, foi descuido de nossa parte mesmo. Julieta olhou para mim com carinho e perguntou com um olhar se estava tudo bem. Afirmei com a cabeça e ela sorriu. Minha irmã achou que Pedro ia sambar fora quando descobrisse, mas depois de alguns minutos de silêncio ele berrou "vou ser pai!" antes de me pegar no colo e me beijar. Braços passaram em volta de mim e eu não precisei olhar para ver Ithuriel atrás de mim. Pedro morria de ciúmes dele, e eu morria de rir com a carranca que ele arrumava quando Ithuriel fazia demonstrações de afeto perto dele. Ithuriel... ele agora é como um irmão. Nunca olhou para mim diferente. E nem eu. Ele tinha muito cuidado e mimo comigo e muito mais com sua primeira sobrinha. Eu achava lindo quando ele colava o ouvido na minha barriga e dizia o como é emocionante ouvir o coração dela batendo. Eu ainda não a tinha nomeado. Eu iria fazer isso quando ela nascesse. Eu iria olhar no rosto dela e ali eu veria que nome era perfeito.

–Tudo bem com você?-Ithuriel perguntou.

–Tudo certo. E com você?

–Estou bem obrigado.

–De nada.

Depois da guerra, do meu sacrifício e tudo mais, todos nós resolvemos morar perto. Construímos nossas casas no bairro A.C. e estamos até agora sem nenhum problema. Não é como se fosse uma casa ao lado da outra, o bairro é grande o suficiente para caber todos nós sem ficar apertadinho ou sem privacidade. A casa que eu e Pedro construímos fica no final do bairro. O final do bairro é como um montinho e perfeito para nós. Somos eternos, não vamos para com um filho só, sem animais ou o que der na telha. Então, nossa casa é grande, fizemos um muro não muito alto em volta de boa parte e começamos semana passada a fazer plantações atrás da casa. Pedro fica com medo que eu passasse mal, mas eu disse que estava plantando não pegando uma árvore e colando-a no chão. Mas admiro sua preocupação.

Luz também engravidou do meu pai. Eu sei que ela é minha mãe e tal, mas não consigo vê-la como uma. Então a trato com respeito e admito que um sentimento pequeno se desenrolou em meu coração. Até porque ela não me força a nada, respeita minhas decisões e meu espaço. Eu a admiro por isso. "Se você fizesse isso comigo eu juro que não ia te deixar em paz.", Julieta me disse um dia. Eu ri disso. Nem sonhando ela iria aceitar esse negócio de espaço.

Os anjos nos deixaram em paz, assim como os demônios. O rei do Inferno não me veio me procurar. Acho que o mundo parou quando mandei todos para seus respectivos lugares numa porrada só. Miguel deve sentir um ódio mortal por mim, tenho certeza. Mas não me procurou para me matar ou algo do tipo, o que é bom. Eu o cortaria ao meio de novo se precisasse. Ri comigo mesma e abracei Pedro. Ele sorriu e passou sua mão na minha barriga. Senti uma pontada e logo depois a concentração. Olhei para Pedro transmitindo a mensagem e ele arregalou os olhos. Soltei um grito quando senti um líquido quente escorrer pelo meio das minhas pernas. Olhei para baixo e vi o sangue misturado com um líquido transparente. Pedro passou o braço embaixo da minhas pernas e o outro na minha nuca. Gritei. Ele abriu suas asas e eu fechei os olhos.

Senti o vento em meu corpo e os gritos atrás de nós. Pedro pousou e eu abri os olhos. Ouvi palavras, senti movimentos e a maldita contração não me deixava em paz. Pedro me colocou numa cadeira de rodas e uma enfermeira me tranquilizou até a sala de parto. Lembro-me de ver Pedro com a roupa azul e uma touca, lembro-me de sua mão segurando a minha, lembro-me de seu incentivo. Lembro-me de empurrar minha filha e gritar por dentro. O alívio que senti depois de tanta dor foi diferente. Respirei fundo em meio as lágrimas. Pedro me olhou com amor e devoção. Um monte de pano azul se materializou na minha frente, trazendo um choro estridente. Peguei minha filha e sorri. Ela puxou os olhos de Pedro, mas seus lábios eram como os meus. Ela me olhou e eu a ninei até ela parar de chorar. E vê-la sorrir foi perfeito. Jacquie. Seu nome será Jacquie. Deixei que a levasse para pesar e limpar e puxei Pedro para um beijo. Ele me beijou carinhosamente.

–Então, como ela se chama?

–Jacquie.

–Jacquie? Como uma tempestade?

–Como uma doce tempestade.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.