Eu teria que engolir aquilo. Eu tinha uma irmã gêmea. A única diferença entre nós era os olhos. O porque dela ter olhos cinza e eu dourados, eu não sabia. Em que localidade exata estávamos eu não sabia. Uns vinte minutos andando e demos de cara com um portão gigantesco e um muro maior ainda. O portão tinha duas inicias gigantes gravadas, não dava para ver o que tinha atrás dele. As iniciais deviam significar Anjos Caídos. Pedro, que estava de mãos dadas comigo, soltou-se, afastou-se e abriu vôo.

–Ele foi pedir para abrir o portão.- Ela disse ao se aproximar.

–Ata.

Segundos depois o grande portão se partiu em dois e se abriu. Ela puxou minha mão e nos entramos. Nossa. Isso é o que eu chamo de esquisitice. Nos afastamos um pouco do portão e esperamos por Pedro. Logo ele apareceu. Olhei em volta. Tudo isso era incrível e esquisito ao mesmo tempo. As casas por exemplo. Elas tinham aparência humana, porém foram construídas de maneira engraçada. Não era o chão da casa que tocava o solo, mas sim o lado esquerdo dela. Isso mesmo, o "chão" das casas era o lado esquerdo delas. Os prédios não pareciam tão esquisitos. Eles só não eram retos como eu sempre vi. Eles tinham forma de onda. Todos eles ao invés de serem retos, eles faziam ondinhas. As plantas de algumas casas eram diferentes de qualquer planta que já vi na vida. Elas tinham uma aparência diferente. Umas tinham pétalas como flocos de neve, outras com aparência do fogo, o resto tinha aparência de objetos, como velas, sapatos. E se não me engano algumas, poucas, tinham rostos. Meu Deus o Céu é assim? Minha nossa. A alguns metros depois, nós chegamos na casa de Pedro. A casa dele era um apartamento. O prédio era muito muito muito alto.

–Qual andar?-Perguntei.

–Último.-Pedro respondeu.

–Você não se muda para uma casa porque...?-Minha irmã perguntou.

–Não gosto das casas daqui. Se fosse lá no Céu eu até ficaria...mas aqui os apartamentos são melhores.

–Sempre do contra.-Ela bufou

–Olha só se não está satisfeita compre uma casa e fique por lá.-Pedro soltou

–Não vou comprar não. Não adianta ficar me expulsando porque não irei embora. Você sabe muito bem porque estou aqui.-Ela mostrou a língua

–Sim, eu sei. Mas ficar reclamando o tempo todo não faz parte do que realmente veio fazer aqui.

–Ah é mesmo? Olha só ou você cala essa sua boca ridícula ou eu mesma vou te encher de porrada.

Isso não ia dar bom. Os olhos dela estavam fervendo de ódio, e Pedro não estava diferente. Por que eles se odiavam tanto? Eu queria saber.

–Ata,-Pedro riu- uma garotinha vai me bater? Tenho pena de você.

Ela então caminhou até Pedro. Fechou a mão e acertou-a em cheio. No meio da cara dele. Saiu sangue do nariz de Pedro enquanto ele caia no chão. Ai meu Deus do céu.

–Pedro não...-Começei e parei.

Pedro levantou e acertou-a também só que mais forte. Ela foi em direção ao céu. Então abriu suas asas e pousou no chão.

–Filho da puta.

Vi o sangue escorrendo da boca dela. Ela se preparou para outro ataque. Só que não era um ataque normal. Sua mão começou a brilhar. Uma grande bola se formou em volta dela. Olhei para Pedro. Ele estava fazendo a mesma coisa. A diferença era que a bola na mão dela era azul, e na de Pedro era roxa.

–Eu vou te matar!-Ela gritou.

Eles correram em direção ao outro. Meus olhos se arregalaram. Eu tinha que impedir. Corri em direção ao meio dos dois.

–Parem!-Gritei.

Cheguei no momento que eles iam se acertar. Suas mãos estavam próximas de mim, e eu as segurei. Uma força surgiu de dentro de mim. E naquele momento eu descubri uma coisa sobre mim que eu não sabia. Segurei suas mãos e as joguei para baixo. O brilho apagou. Os dois estavam no chão, ofegantes. Olhei para um ponto a frente. O que foi isso? Olhei para as minhas mãos. O que eu sou? Eu impedi duas mortes com as minhas mãos. Eu impedi dois ataques sobrenaturais como se não fossem nada.

–Chega. Eu vou pedir que enquanto eu estiver perto, ou longe, vocês não se ataquem. Por favor.-Falei olhando para os dois.

Eles estavam no chão olhando para mim com admiração. Pedro levantou e me olhou. Minha irmã fez a mesma coisa. Em silêncio, entramos no prédio e fomos em direção ao elevador. Fiquei no meio dos dois. Assim que chegamos, minha irmã correu pelo corredor e entrou na terceira porta do lado esquerdo. Eu e Pedro saímos do elevador.

–Todos os cômodos estão depois de uma porta. Vou te levar para o seu quarto. Tem coisas suas lá e algumas que comprei. E não se assuste quando entrar.

Ele me levou no meu quarto. A terceira porta do lado direito. Entrei e fechei a porta. O quarto era exatamente igual ao meu. "E não se assuste quando entrar", as palavras de Pedro. Os quartos se costumizavam quando uma pessoa entrava. Olhei no armário. Tinha umas roupas minhas ali, e outras que Pedro comprou. Sentei na cama. Algo cutucou minha cintura. Levantei a blusa e vi as adagas. Eu tinha me esquecido delas. Peguei-as e pus no meio das roupas na gaveta do armário.

Depois que tomei banho, fui para a cozinha. Iríamos comer estrogonofe de camarão. Sentei-me à mesa. Pedro estava sem camisa e com uma calça de moletom cinza. Logo minha irmã apareceu com um short curto, uma camiseta preta e pantufas do Bob Esponja. Jantamos em silêncio. Puxei assunto.

–Como se chama?

–Pode me chamar de Julieta.

–Julieta. Você já deve saber meu nome não é?

–Seu verdadeiro nome não o falsificado.

–Meu verdadeiro nome?

Larguei os talheres e olhei para ela.

–Sim.

–Que é?

–Seu nome é Laura.

Laura. Que ótimo.

–Melhor ir dormir,-Julieta me olhou- amanhã será cansativo.

–O que?-Dessa vez foi Pedro que falou.

–Olha só cala essa sua boca nojenta. Eu vou treiná-la. Você acha que vou deixá-la assim, cheia de poder, mas sem saber usar nenhum? Por favor né?

–Não está na hora!

–Você vai esperar ela morrer? Ela não pode agir por instinto sempre, isso pode provocar um estrago maior. Você viu que ela bloqueou um dos ataques mais poderosos apenas com as mãos. Nem vem com essa.

Pedro olhou para seu prato vazio. Julieta terminou sua janta, levantou e saiu. Pedro levantou, pegou meu prato, o dela, o dele e levou para a pia. Veio até mim e ficou me olhando. Levantei e o abracei. Ele me envolveu em seus braços. O familiar cheiro de baseado e sabonete comum invadiu meu nariz. Eu havia me acostumado com aquilo. Levantei a cabeça e beijei-o. Ele retribuiu o beijo. Envolvi seu pescoço. Ele me pôs em cima da mesa. Nosso beijo se tornou suave e romântico. Depois disso, escovei meus dentes e fui dormir.