The best for we

Call me and tell me about the real world


Caitlin esperava muitas ao visitar Barry na prisão. Esperava um olhar vazio ou um cansaço evidente. Esperava olheiras e rugas profundas em seu rosto. Mas o que ela não esperava era um corte sobre sua boca e um olho roxo.

Sua primeira reação assim que os guardas o trouxeram e o colocaram sentado à frente foi entreabrir a boca em surpresa, a segunda foi transformar sua cara em uma careta de raiva. A irritação faiscava dentro dela, como alguém poderia ser capaz de fazer algo como aquilo com ele.

—Oi. - Barry disse sorrindo, ela se perguntava como ele conseguia manter sorriso mesmo com tudo aquilo.

—Oi. - sussurrou ao telefone ainda notando o arroxeado no olho dele e o lábio inchado. Não conseguia desviar o olhar mesmo que tentasse, suas mãos coçaram em ansiedade para atravessar o vidro e cuidar dele. - O que houve?

—Nada. Estou bem. - ele disse, ela franziu a testa sem acreditar nas palavras dele. - Foi apenas um desentendimento no pátio hoje mais cedo. - ele admitiu, Caitlin mordeu o lábio. - Os outros presos não gostam tanto de mim assim, acho que deve ser por eu ter trabalhado na polícia. Ou por ter “matado” um velhinho que usava uma cadeira de rodas.

—Oh Barry. - soltou um longo suspiro.

—Não se preocupe que logo estarei melhor. Como você sabe eu me curou bem rápido. - ele teve a ousadia de soltar uma risada baixa. Caitlin não pode conter o pequeno sorriso que se formou em seus lábios, ele não estava totalmente bem, ninguém ficaria bem em um lugar como aquele, mas Barry parecia capaz aguentar qualquer coisa.

Os últimos dias haviam sido difíceis, bem mais do que ela podia imaginar. Nem chegava a ousar pensar como estaria sendo para Barry, ele havia sido tirado de sua vida de maneira brutal, sua noiva, seu emprego, sua família, sua vida.

—Como você está se alimentando? - indagou mudando o assunto e usando seu tom profissional.

—Bem. - ele deu de ombros. - Só desmaie algumas vezes hoje.

Os olhos de Caitlin se arregalaram em repreensão.

—Barry Allen. - começou a se preparar para dar uma palestra quando o riso dele interrompeu a chamada.

—Estou brincando Caitlin, mas o olhar em seu rosto realmente não tem preço. - ele disse e ela sentiu o coração mais leve por saber que o seu senso de humor não havia se perdido no meio daquilo tudo. - Sinceramente estou com fome, mas não deixo chegar ao ponto de desmaiar.

Ela assentiu já imaginando ele correndo pelo presídio até a cozinha e furtando algo para comer.

—Bem agora vai ser mais fácil.

—Como assim?

—Você não pode passar fome por causa da sua hipoglicemia ou será capaz de desmaiar ou até mesmo entrar em coma. - ela disse dramatizando um pouco no final. Ele riu, mas assentiu entendendo o que ela queria dizer. - Sou sua médica Barry Allen. Sei exatamente o que você pode ou não pode fazer. E passar fome está na lista de coisas que você não pode fazer.

—Você é um anjo, Cait.

Ela deu levemente de ombros. Ela já havia dado inúmeros atestados a Barry para compensar seus atrasos e faltas, mas agora a história era diferente e ela tinha que fazer isso para a saúde dele.

Barry ergueu a mão a colocando contra o vidro, Caitlin repetiu seu gesto e lhe sorriu fracamente.

—Vamos te tirar daqui. - ela prometeu.

—Eu sei que vão tentar ao máximo. - ele disse com pesar.

Caitlin suspirou. Ele ficaria bem. Eles ficariam bem.

●●

—Não me diga que te bateram novamente.

Barry arqueou a sobrancelha, mas rapidamente a abaixou quando a pontada de dor percorreu seu rosto.

—Na verdade eu cai da escada. - ele disse dando de ombros. Caitlin o lançou aquele olhar cético que parecia saber quando ele estava mentindo, Barry suspirou. - Eles me empurram.

—Por que? - ela suspirou, eles não podiam continuar o usando como saco de pancadas, mas Barry também não podia continuar aceitando aquilo sem revidar. Ela sabia que ele nunca faria aquilo, mesmo que Barry pudesse desviar de cada soco ou acabar com o pátio todo em segundos, mas ele esconderia seu segredo a qualquer custo.

—Eles souberam que ajudei a prender um dos chefes de uma gangue poderosa. Acharam que eu merecia um castigo.

Caitlin soltou uma exclamação suja que o fez rir.

—Pessoas não deveriam ser tão cruéis assim.

—Alguns são. - Barry deu de ombros como não se importasse com mais uma agressão sofrida. Caitlin mordeu o lábio com força. - Ei, mas você não precisa se preocupar. Eu ficarei bem.

—Eu sei que vai, mas eu… - ela hesitou balançando levemente a cabeça deixando aquele breve momento passar, então continuou com mais calma. - O atestado funcionou?

—Sim, estou totalmente bem alimentado, embora eu não possa dizer que a comida daqui é tão boa ao ponto de alguém estar bem alimentado. - ele brincou deixando o clima mais leve. - Iris disse que Killer Frost se virou bem com o vilão desta semana. Ela é uma ótima heroína.

Caitlin sorriu calmamente um tanto feliz com o elogio.

—Sim, ela é. Pena que não possa atuar ao lado do Flash, eles são uma bela dupla.

—Com certeza.

Ela queria muito dizer que sentia muita saudade dele e do Flash, queria dizer que se sentia apreensiva ao entrar naquele presídio para vê-lo e que o guarda do lado de fora não parava de olhar pra sua bunda, mas sabia que naquele momento qualquer reclamação parecia ser inútil diante de tudo. Barry Allen estava preso por um crime que não cometeu e tudo o que ela mais queria era que o culpado se assume logo e o tirasse daquele inferno. De todas as pessoas do mundo, Barry deveria ser a última a passar por algo como aquilo.

—Cisco saiu com Gypsy ontem. Eles foram a aquele restaurante que você gosta. - disse sem saber o porquê, Barry se inclinou um pouco para frente atento a conversa.

—O chinês?

—Não, o italiano. Gypsy odiou a lasanha.

Barry riu.

—Não é realmente uma especialidade deles. Prefeito o tailandês que tem aquela sopa.

—Com a aquele tempero muito gosto. - falou e ele assentiu. - Queria poder trazê-la para você. - completou em baixo tom.Ele sorriu triste.

—Mas quando eu sair daqui, um das primeiras coisas que vou fazer é te levar lá.

—Isso é uma promessa?

—Com certeza.

●●

Caitlin riu com moderação enquanto estudava o rosto de Barry. Seus olhos calmos, mas apreensivos; seu sorriso afetado e cansado; mas estranhamente ele ainda tinha aquele mesmo brilho de sempre.

—Então Ralph levou um tapa na cara da mulher que salvou porque tentou colocar a mão no seio dela. - terminou de contar fazendo Barry balançar a cabeça em negação.

—O Ralph não muda mesmo.

Ela assentiu e então retomou a conversa em um tom mais sério.

—Você já conversou com Cecile sobre seu caso?

—Ela ainda não veio aqui esses dias.

—Você sabe que pode… - ela deixou a frase no ar sabendo que ele sabia o que ela queria dizer.

—Estou aqui porque eles acham que fui eu, mas quero provar que não sou culpado. Não matei ele.

—Eu sei que não. Você seria incapaz de ferir uma mosca. - brincou levemente fazendo ele rir. - Sinto sua falta Barry.

—Você sempre pode vir me visitar quando quiser. Não vou sair daqui.

—Não brinca com isso. Você logo vai sair daqui e estaremos todos juntos novamente. - assegurou com confiança. Um silêncio confortável se instalou entre eles, Caitlin aproveitou esse momento apenas para continuar a observá-lo. De repente o guarda atrás dela informou que o tempo havia acabado, ela suspirou um tanto frustrada. - Eu tenho que ir.

—Caitlin, obrigada por estar aqui. - Barry falou, Caitlin sorriu.

—Sempre estarei aqui. E acredite, eu realmente já tentei ir, mas não consigo. Acho que nunca vou conseguir.

—Que bom, porque eu realmente não suportaria aqui dentro sem você.

—E eu não suportaria aqui fora sem você.