O centro londrino era algo espetacular para Tom. Em seus poucos dias com Rose – os únicos de que se lembrava -, tudo o que vira fora o subúrbio onde ficava a casa dela e a região onde o restaurante de Andrew ficava, perto de uma rodovia na saída da cidade. Então o centro, com todos os seus prédios e construções em suas formas modernas e mais antigas juntas, foi uma visão que lhe tirou o fôlego, como se fosse uma criança que estivesse a receber um presente.

- Isso é incrível – comentou com Andrew quando este estacionou o carro e eles começaram a andar pelas ruas movimentadas. – O que é aquela roda, atrás daquela torre com um grande relógio?

- Céus, eu me esqueço que você não se lembra. Aquela “roda” é o Olho de Londres, serve para ter uma visão panorâmica da cidade. E a torre pertence ao Parlamento Inglês. Se quiser, depois podemos ir ver mais de perto, mas o lugar em que preciso ir fica para lá – ele então apontou na direção oposta ao prédio do Parlamento.

Tom concordou, e com isso eles começaram a se locomover pela cidade grande. Ele olhava para exatamente tudo, observando cada detalhe, do mais aparente ao mais irrelevante, buscando em sua mente algo que pudesse se encaixar, como um quebra-cabeça. Mas nada acontecia.

Entraram então num grande mercado apinhado, onde ele acompanhou Andrew passando a uma atendente uma lista de coisas que ele precisava para o restaurante, a qual ela verificou os itens e assentiu, dizendo que os produtos seriam entregues no dia seguinte, pela manhã. Andrew concordou, assinou um papel e depois eles deixaram o lugar.

- Na outra esquina tem uma loja de tintas. Vamos lá. Estou pensando em mudar a fachada do estabelecimento e quero fazer um orçamento.

Eles desceram a rua em direção à loja de tinta, mas quando Andrew entrou, Tom hesitou na porta.

- Andrew... Eu acho que vou ficar aqui fora enquanto você faz o orçamento...

- Está tudo bem, Tom?

- Sim, eu só quero observar mais as coisas aqui... só isso. Vou esperar você voltar para me arriscar a sair andando claro, afinal não estou realmente com vontade de me perder mais do que já estou perdido.

O outro assentiu, mas depois apontou para o final da rua.

- Se quiser, ao virar à esquerda ali você vai encontrar um parque. É que talvez eu posso demorar aqui.

- Oh, sim, quero dizer, obrigado.

Ele não sabia exatamente porque sentia a necessidade de ficar ali fora, mas era um sentimento que de repente o envolveu, algo que dizia para que permanecesse ali, observando as coisas...

Seguiu na direção que Andrew lhe apontara. Não demorou a avistar o parque, um lugar que, mesmo de longe, admirou pelo vasto gramado, onde algumas crianças brincavam e muitos adultos também passeavam. Continuou caminhando em direção a ele, mas antes que pudesse lá chegar, precisou parar, porque a poucos metros diante de si, um homem o encarava com uma expressão que o assustou.

A princípio pensou que fosse mais uma das muitas pessoas que, fantasiadas, pediam dinheiro pelas ruas da cidade. No entanto, as pessoas que passavam por ele, com sua estranha roupa que lembrava uma armadura provida de uma longa capa vermelha, pareciam tão assustadas quando o próprio Tom. Talvez fosse o próprio tamanho do homem que fizesse isso, porque ele era bastante forte. Isso vez com que ele desse meia-volta e desistisse do parque. Voltaria para a loja de tintas. Algo naquele rosto o perturbara de uma forma que ele não compreendia. No entanto, assim como tudo mais na cidade, não o fizera se recordar de nada de seu passado desconhecido.

Parou de andar novamente quando uma mão de ferro fechou-se em seu ombro. Sentiu as pernas estremecerem.

Quando olhou para trás, desviando-se daquela mão, o estranho homem louro que trajava a armadura o encarava, sério.

- Irmão – disse ele.

Algo dentro de Tom se quebrou. Aquela voz... essa voz! Ele a conhecia, mas de onde? Irmão? Eles nem ao menos era parecidos! Só o que tinham em comum era a altura...

- Me desculpe – disse ele, da forma mais educada que podia. – Eu não sou seu irmão.

A expressão do louro pareceu se alarmar ao ouvir aquilo. Sua mão mais uma vez segurou-lhe o ombro. E de novo Tom se afastou. As pessoas ao redor deles observavam.

- Por favor, Loki, você já disse isso antes...

Loki. Será que ele era assim tão parecido com esse cara que todo mundo achava que eles eram a mesma pessoa? Não bastava só Heath achar isso? E, além do mais, Loki, pelo que ele sabia, era alienígena. Será que esse grandão a sua frente também pensava ser um?

- Escute, eu não sou esse cara! Nós somos parecidos, mas eu sou o Tom, está bem? Só isso.

O outro o encarava incrédulo, mas não disse mais nada.

Tom se afastou mais dele. Deu meia-volta e continuou seu caminho, ignorando a estranha sensação de que tudo estava errado... Mas, afinal, apesar de tudo, ele não lembrava mesmo de quando alguma coisa com ele esteve verdadeiramente certa, então estava tudo bem. Só que ele sabia que isso era uma mentira.