Quando despertei, estava em meu quarto. Dylan estava ao meu lado, tentando não cochilar. Levantei-me rapidamente, fazendo com que Dylan despertasse também e se levantasse.

– Cadê o Derek? - Digo, talvez intimidadora demais.

– Está lá embaixo. Provavelmente acalmando sua mãe que não para de chorar há dois dias.

Eu respiro profundamente.

Então ela me fez ficar desacordada por dois dias com um simples toque do eletrosingular. Minha própria mãe.

– Ela está chorando? - Eu pergunto para Dylan.

Ele faz que sim com a cabeça.

– Eu fiz o seu almoço. E arrumei seu guarda roupa e sua prateleira de livros. Fiz seu jantar ontem também. E seu almoço de ontem. E o jantar de antes de ontem. Mas você não acordou para comê-los. - Disse ele.

– Desculpe.

– Está se desculpando por tomar um choque elétrico? Eu realmente espero que não, porque se for, eu com certeza vou arrancar esse abajur da tomada apenas para acertá-lo em sua cabeça. - Ele diz.

Eu dou um sorriso na direção dele, mas percebo que não estou muito bem, porque ao que parece, mandei-lhe uma careta estranha.

– Quer que eu lhe traga o almoço?

– Não, Dylan, obrigada. Eu preciso descer. Preciso ver como Derek está.

– Oh, ele está bem. Sua mãe é que não está nem um pouco.

– Ela só está chorando, Dylan. Mulheres choram o tempo todo. E é por isso que são tão insuportáveis. - Digo e deixo-o sozinho em meu quarto, descendo rapidamente as escadas e deparando-me com minha mãe cercada de lenços usados e Derek acariciando seu rosto.

– Está tudo bem. - Ele sussurra.

– Não. - Eu digo, claramente insatisfeita. Ambos se viram para mim e Derek me lança um olhar de repreensão misturado com o alívio por eu finalmente ter acordado. - Não está tudo bem. Ela não pode fazer isso, Derek. Não pode simplesmente dar uma de louca e no mesmo instante estar tudo bem entre vocês dois novamente. Você - Apontei meu dedo em sua cara - não pode simplesmente me deixar desacordada por dois dias, não pode simplesmente dar 6 doses ou mais de eletrosingular em Derek para que depois ele a conforte em suas loucuras constantes.

O choro dela se torna mais depressivo do que quando eu entrei na sala.

– Tessa. Peça desculpas para sua mãe. - Derek diz.

– Eu? Eu devo pedir desculpas, Derek? Eu? O que eu fiz? Ela nos deve desculpas! Ela nos deve isso!

– Então, Derek deve me devolver minha vida! - Ela grita em meio ao choro. - Deve me devolver a tranquilidade. Eu não aguento mais viver sobre pressão, não aguento mais viver com medo de que o governo tire meu filho de mim. E elas estão perto de descobrir sobre ele. Elas estão. E isso é tudo culpa dele! Tudo culpa de Derek, sempre é tudo culpa dele. - E ela levanta-se do sofá para estapeá-lo. Ela bate em seu rosto, puxa seu cabelo, o arranha e o belisca antes que eu me dê conta do que está acontecendo novamente. Eu me coloco novamente entre os dois. Ela pode estar com raiva, mas eu estou um milhão de vezes mais.

Eu seguro os dois braços dela e a arremesso contra a parede.

– Bailee Mason me ligou hoje. - Ela diz, voltando a chorar enquanto desliza na parede, longe de Derek e de mim.

Derek arregala os olhos e eu tento me conter, quando ela recomeça o fluxo do choro.

– O que Bailee Mason queria? - Eu pergunto, minha voz tremendo tanto quanto minhas pernas.

Minha mãe interrompe o choro e olha para Derek fixamente.

– Me desculpe. - Ela diz para ele.

– O QUE BAILEE MASON QUERIA? - Eu grito. Ela parece voltar à realidade e começa a chorar de novo.

Derek se abaixa e tenta acalmá-la.

– Eu...Eu contei à ela sobre Jamie. Contei à Bailee sobre Jamie. - Ela diz.

Demoro alguns instantes para me dar conta de que estou nos braços de Dylan, porque minhas pernas ainda tremem. Meu corpo todo treme.

– Jamie!! - Grito.

Dylan luta para segurar Derek e eu. Derek luta para alcançar minha mãe. Eu nunca o vi no estado que ele está agora. Nunca. Seus olhos verdes brilham de fúria e eu tento me controlar para controlá-lo.

A porta da sala se abre violentamente e duas mulheres fardadas entram sem pedir licença. Elas sacam armas e fazem com que eu me encolha na frente de Derek e Dylan. Meu Jamie. Eu queria tento poder protegê-lo também.

– Tessa, vá para o seu quarto. - Dylan grita.

– Não! - Eu grito.

– Derek Ripling. Mãos acima da cabeça.

– Não! - Eu grito de novo.

Minha mãe já não está mais chorando. Seu olhar é um misto de arrependimento e vingança. Como ela pode?

E então eu me lembro de algo que pode nos salvar naquele exato momento. Minha aljava e arco que eu usava nas aulas de arco e flecha, geralmente ficam embaixo da escada.

Mergulho no chão, procurando embaixo dos degraus e as encontro rapidamente.

Quando volto para a sala, Dylan não está mais lá. Mas Derek está e está recebendo mais choque de uma das policiais.

– Diga aonde está o garoto. - Diz uma delas, enquanto a outra lhe aplica mais choque.

Eu miro no Eletrosingular e atiro uma flecha com a força e confiança que minhas mãos trêmulas me permitem. O objeto desaba no chão fazendo com que a luz azul ilumine toda a sala, num clarão que nem eu consigo ao menos tentar abrir meus olhos.

Pego Derek pelas mãos e descemos até o porão, tateando a escada, da melhor forma que o clarão nos proporcionou.

– Derek. - Susssurro.

Ele coloca o dedo em meus lábios, talvez sinalizando que eu deva ficar em silêncio. Obedeço, e juntos, mal ousando respirar, descemos as escadas para o subsolo onde Jamie deveria estar.

E ele está lá.

Está lá com uma jaqueta marrom e uma calça jeans, sendo vestido por Dylan. Dylan joga algumas roupas de Jamie dentro de uma mochila enorme e a fecha.

– Graças a Deus. - Derek diz enquanto Jamie se enrosca em seu corpo. Meu irmão cochila no colo do pai e Derek fica algum tempo fitando o rosto do filho. - Elas vieram para buscá-lo.

– Não vão tocar nele. - Eu digo, puxando uma flecha e encaixando-a no arco.

– Eu sei que não vão. - Diz Derek. Os olhos exalam a mesma fúria que quando Dylan tentava conter a nós dois, após minha mãe ter dito que havia contado para Bailee.

– Temos que sair daqui. - Dylan diz.

– Talvez elas ainda estejam atordoadas com a luz azul do Eletrosingular. - Arrisco.

– Ou talvez já estejam completamente despertas. - Derek diz.

– Precisamos arriscar. - Dylan abre a porta do quarto de Jamie e paramos ao seu lado.

Passamos correndo pelo quarto de Derek e subimos para a casa. A luz azul ainda toma toda a sala de estar, mas é possível correr até meu quarto. Dylan não tropeça no tapete dessa vez. Em vez disso, acelera nosso passo. Encho a aljava de flechas novas que ficam embaixo da minha cama e levanto-me apenas para ouvir passos ecoando na escada. Derek, Dylan e eu nos viramos apenas para ver minha mãe com uma arma na mão.

– Pensou que iria tirar minha vida e deixar-me, Derek, seu traidor? - Ela grita, e Derek encolhe Jamie em seu casaco de couro preto.

– Jennette, não precisa ser assim... - Dylan tenta acalmá-la.

– Precisa! - Ela grita. - Ele está tentando fugir. Eu vou morrer, isso é certo. Vou morrer mas ele também vai e em praça pública. Comigo.

Derek olha para Dylan e em seguida para mim. Entendo seu olhar. É o olhar que significa "Você sabe o que fazer". E eu sei sim.

E só confirmo o meu saber, quando Derek gruda meu irmão ao seu corpo e o enrola ainda mais em seu casaco. Entrelaço minha mão na de Dylan e nós quatro, Derek, Dylan, Jamie e eu, nos arremessamos contra o vidro da enorme janela de meu quarto.

Eu já sabia onde caíriamos. E Derek também já sabia. Dylan não, por isso, quando nos colocamos de pé no canteiro de flores bem cuidadas, ele está branco como papel. Meu rosto está cortado, e o de Derek também, mas nada como o rosto de Dylan, que não imaginava o que aconteceria a seguir.

Pensei que dali em diante estávamos bem, até minha mãe começar a gritar da janela.

– Socorro! Estão capturando minha filha! - Ela gritava a plenos pulmões, enquanto eu tentava fazer com que Dylan se colocasse de pé e começasse a correr.

Quando por fim consigo fazer isso, pego uma flecha e a coloco no arco, bem no tempo em que minha mãe mira a arma em Derek. Por sorte sou mais rápida que ela. Sempre fui.

A flecha paira em seu ombro e ela luta para tirá-la, esquecendo-se completamente da arma. Ela some da minha área de visão e imagino que esteja caída no chão, começando a sangrar até que ocorra uma hemorragia.

Derek olha para mim, horrorizado. Obviamente, ele não tinha uma boa posição para visualizar que ela estava tentando atirar nele. Eu não quero apavorá-lo nesse momento e muito menos partir seu coração, que sempre foi alucinadamente apaixonado por minha mãe, então sorrio e digo:

– Era só para ela calar a boca.

– Vamos dar o fora daqui. - Dylan sugere.

– Sem dúvidas. - Derek concorda.