Tessa suspira ao meu lado enquanto dorme. Ela sussurra o nome de Jamie e sei que ela sente sua falta tanto quanto também sei que esse sentimento é recíproco.

– Eu sinto falta dele também, Tess. - Resmungo.

Fecho os olhos, com a cabeça encostada no sofá e o cotovelo de Tessa esmagando minha coxa. Seu cabelo está molhado de suor, mas não paro de acariciá-los.

– George. - Dylan senta-se no braço do sofá. Ele chega tão silenciosamente que não ouço-o se aproximar e por isso dou um tapa forte no espaço vago do sofá. Ele arregala os olhos, mas não hesita ao se aconchegar no móvel que Tess e eu estamos ocupando. - Podemos conversar.

– Não. - Respondo imediatamente. Essa foi a pergunta mais fácil que me fizeram em dias.

Ele revira os olhos.

– Você não está fazendo nada. Só preciso de quinze minutos do Grande George Mason.

– Na verdade, estou fazendo algo. Ocupado fazendo nada. É melhor do que falar com você.

Ele bufa e rasteja os pés pelo tapete, passando pela frente do sofá para olhar o rosto de Tessa. Observá-la era definitivamente atitude de Jake. Coloco minha mão no rosto de Tess e lanço um sorriso sarcástico para Dylan.

– Não seja ridículo. Deixe-me vê-la.

– Vá ver o túmulo de Katy. Sua namorada morta. Que eu matei. Que Tessa matou. Corra, Dylan, corra. O seu corpo está se decompondo. Tic tac. Tic tac. Tic tac. - Digo, com o intuito de aborrecê-lo.

Ele não ameaça me bater como espero que faça. Nem dá o mínimo indício de aborrecimento. Apenas acaricia os cabelos de Tessa, apesar de minha mão e meu olhar censurando-o.

– Eu a amo tanto. - Ele diz.

– Não posso acreditar que esteja dizendo uma coisa dessas depois de tudo que fez contra todos nós. O que há de errado com você, Fonkin?

– Tudo. Tudo está errado comigo, Mason. Ela era...era meu único apoio. Era a minha segurança. E agora está tudo acabado.

– Tess? - Questiono.

– Katy! Eu não falei sobre Tess em nenhum momento.

Solto uma risadinha de pura frustração.

– Você é tão repugnante. Eu tenho tanto nojo de você e ao mesmo tempo tanto desejo de que ao abrir os meus olhos, Jake estará aí no seu lugar e você estará morto no lugar dele. Tanto desejo que mal consigo respirar.

– Não fale assim, George, eu só...

– George! - Bailee grita, descendo as escadas numa velocidade em que ela está acostumada a andar. Correndo.

Tessa levanta-se do meu colo, jogando minha blusa de frio para o outro lado da sala, uma faca em suas mãos.

– Acalme-se. - Derek diz, assim que abre a porta da sala. Ele apanha a faca de sua mão e sorri para ela. Um peso nos ombros de Tess parece desaparecer quase que instantaneamente.

– O que aconteceu? - Pergunto.

– Um... - Bailee começa.

– Desastre. - Tess completa.

– Como você sabia? - Minha mãe pergunta, os olhos arregalados como sempre acontece quando Tessa abre a boca em nossas conversas.

Tess e Derek se entreolham. Eles abrem um sorriso um para o outro, deixando claro o que o comentário é particular.

– Eu...supus.

– Mas sim, um desastre. - Bailee confirma. - Mas por minha culpa. Ah, meu Deus, eu sinto tanto. Eu não deveria ter deixado que vocês chegassem ao ponto de dormirem com facas em seus punhos e George Mason, por Deus, o que esta arma está fazendo na sua cintura? Dê-me isto!

Tiro a arma da minha cintura e a entrego em sua mão. Ela agarra o objeto ao peito e morde os lábios, dando indícios de que irá começar a chorar.

– O que aconteceu? - Tessa se desvia do abraço de Derek e vem para o meu lado. Ela sabe que o que quer que tenha acontecido, tem a ver conosco e com nosso estado mental, pois Derek e Bailee se olham com a mesma frequência em que minha mãe morde os lábios para evitar que as lágrimas encharquem seu rosto.

– Para começar tudo, eu queria dizer primeiro que isso tudo foi para mantê-lo seguro. Manter todos vocês seguros. Eu não sei o que deu em mim de uns tempos para cá mas tudo o que tenho feito é tentar manter a segurança de todos vocês e isso me pareceu uma forma de ajudar no que quer que fosse o termo segurança. Não só para vocês, mas para ele também. E eu sinto muito se traumatizei vocês de alguma forma, deixando-os aqui e praticamente os mantendo prisioneiro. Eu só estava tentando deixar qualquer um longe de Jennette. Derek e eu estávamos. Todos sabemos do que ela é capaz. - Bailee recita cada frase bem devagar.

– Vá direto ao ponto. - Tessa diz, curta e grossa, como sempre. Olho para ela, agradecendo-a mentalmente por dizer exatamente o que eu desejava dizer.
Bailee começa a chorar e se senta no sofá.

– Eu não queria isso, Derek.

– Nós sabemos, Bailee.

– Opa opa...não, nós não sabemos de nada, literalmente. Querem explicar que diabos está acontecendo aqui? - Respondo.

– Não temos como explicar qualquer coisa, George. Precisamos mostrar para vocês dois.

– Três. - Dylan corrige.

– Dois! - Tess e eu dissemos em uníssono.

Ele bufa e se retira da sala.

– Obrigado por ter a sensibilidade e percepção de que ninguém quer você aqui, Fonkin. - Grito, na esperança de que ele tenha ouvido.

Derek senta-se no sofá ao lado de Bailee e coloca a mão em seus ombros, num gesto de apoio.

Tess e eu estreitamos os olhos para a cena.

– Que diabos...

– Vamos para um lugar novo. Um lugar onde o segredo que estamos escondendo há semanas está escondido. É pequeno, mas é o suficiente para que vocês vejam e que para após isso, nós nos retiremos da casa.

Seguimos Bailee para fora de casa e também seguimos o carro que Derek guia.

Paramos em frente à uma casebre que parece apertado no meio de tantas casas aconchegantes do Continente Feminino. A tinta da parede descasca pelo excesso de chuva que tomou e não há qualquer vestígio de repintura por ali. O pequeno portão está trancafiado com um cadeado cheio de graxa e demonstrando que não tem sido usado durante semanas.

O segredo está sendo guardado de Tess e eu durante semanas. Com certeza foi a última vez que Bailee pisou no pequeno estabelecimento.

Subimos a escada para empurrar a porta que está aberta e dar liberdade de visão para o local.

A sala de jantar no andar térreo é um aposento esquálido e antiquado, com vigas pesadas e teto baixo. O quarto da frente não é melhor: um lavatório equilibra-se de modo precário em uma base frágil, uma cômoda exibe as marcas de uso descuidado e o papel de parede é desbotado e descascado. O piso irregular encontra duas janelas altas e estreitas que dão vista para uma floresta de chaminés pretejadas por fuligem das casas arrumadas do Continente Feminino.

– O que estamos exatamente fazendo aqui? - Pergunto, embora não receba nenhuma resposta.

Enquanto caminhamos, Bailee acende as luzes da casa que sem a iluminação elétrica, parece sombria e sem vida.

Ela coloca Tess e eu no quarto e chama Derek para um canto quando chuto algo.

Agacho-me para localizar uma seringa com um resto de líquido em seu interior. Esquicho o líquido incolor para fora e o pego com meus dedos. Sinto o odor e passo a seringa para Tess, que faz o mesmo que eu.

Eu já senti esse cheiro antes, mas o sino bate primeiro para Tessa. Ela encara-me, aterrorizada, e agarra meu braço.

– Lyniop. - Leio seus lábios.

– O quê? - Continuo dizendo na base da leitura labial.

– O que eles estão fazendo? - Ela responde.

Eles se viram para nós no exato momento em que jogo a seringa na cama, sem qualquer demonstração de que encontramos algo.

– Bem...eis o segredo.

Uma figura caminha para fora da porta do banheiro que ficava no corredor. Ele para ao lado de Derek e olha fixamente para mim e para Tess, talvez tentando se lembrar de quem somos.

Tessa agarra o meu braço e dessa vez agarro o dela também. Analizo a expressão pensativa de Derek e os lábios de Bailee sendo mordidos pela própria na antiga tentativa de não chorar.

Não quero que ela chore. Aliás, não sei se quero. Tessa engole em seco antes de beliscar meu braço para que eu volte para a realidade. Belisco o dela para que isso aconteça à ela também.

Não temos nenhuma reação a não ser beliscar um ao outro. Porque nossa loucura, nossa insanidade, foi toda em vão. Não temos qualquer motivo para nos sentirmos enlouquecidos ou culpados.

Não temos nenhuma reação, a não ser o tremendo alívio e satisfação, porque Jake Neigh está parado bem ao lado de Derek. São e salvo.