– Ajudem! Ele está ferido. - Jake grita assim que o elevador para. Suas mãos pressionam o olho esquerdo de Wes e eles correm ao nosso encontro.
Wes geme de dor enquanto tenta falar algo.

– O que aconteceu? - Dylan pergunta. O simples fato de ele falar algo me irrita e pretendo sair de perto, caso Wes não estivesse ferido bem em minha frente.

– Ele foi acertado. Não consegue enxergar, idiota? - Jake grita. Penso que ele sairia no braço com Dylan, se não estivesse pressionando o olho de Wes, que mal consegue respirar.

– Por que não conta a eles a verdade, Jake? Tessa me acertou. - Wes diz em meio aos gemidos.

Jake parece não se importar mais com o quanto o olho de seu amigo mais chegado no subterrâneo doa. Ele solta o pedaço de camiseta que usava para estancar o sangue que jorra do lado esquerdo do rosto de Wes e se afasta dele, parando ao lado de Derek.

– Não era ela. Ou melhor, estão fazendo algo com ela. Estão forçando Tess a fazer algo contra nós. Eu não sei o que é mas eu preciso tirá-la de lá. Eu não sei. Eu. Não. Sei. - Sua voz fica embargada e lágrimas surgem em seus olhos.

– Jake, eu acredito em você. - Eu digo.

– Tinha que ser George para dizer uma besteira dessas. - Dylan se aproxima de Jake e pega em seu braço. - Não tente arrumar desculpas para o que ela fez. Foi Tessa. Ela era a traidora aqui no subterrâneo. Ela cegou seu melhor amigo, Jake. Acorde. Você está mais cego do que Wes. Está cego de amor por uma psicopata completamente louca e perigosa com um arco e flecha em mãos. Acorde.

– Não. Toque. Em. Mim. Nunca. Mais. - Jake afasta Dylan com um empurrão. - E como você tem a coragem de dizer algo assim de Tessa? Como você tem a coragem de dizer que ela é a traidora? Escute aqui, ainda bem que você foi babaca o suficiente para acabar com o relacionamento de vocês sozinho. Ainda bem que eu tive pelo menos uma noite com ela. Eu. Porque, cara, eu amo ela de verdade. De verdade. E ela também parece sentir algo, pois depois de ela ter cegado Wes eu a abracei. Ela pareceu confusa, e depois me nocauteou.

Dylan solta uma gargalhada.

– Jake, você é tão ingênuo quanto ela própria ao acreditar em qualquer palavra que eu disse sobre amá-la.

Derek revira os olhos e fecha os punhos. Não quero nem imaginar qual está sendo minha expressão, só espero que eu não rosne.

– Espere, Jake. Você disse que ela pareceu confusa. Confusa em que sentido?

– Certo, George. Ela parecia estar tentando se lembrar de algo. Como se estivesse sido dopada, sabe? Ou extremamente torturada. A ponto de seu cérebro ter danificado ou suas memórias terem sido apagadas. Eu não sei.

– Dopada. Memórias apagadas. - Repito.

– Sim. Sabe de algo sobre isso, George? - Derek pergunta.

Todos os olhares se voltam para mim.

– Lyniop. - Murmuro. - Lyniop.

– O que? - Jake questiona.

– Lyniop. Um tipo de veneno que causa esquecimento. As memórias são completamente apagadas, exceto as que são manipuladas pela primeira pessoa que vê a vítima quando ela acorda, o que suponho que tenha sido Bailee. - Digo em alto e bom som. - E o que significa que Tessa nos vê como inimigos agora. Não sei o que Bailee disse, mas deve ter sido forte o suficiente para abalar as emoções de Tess.

– George, deixe de ser estúpido. - Katy diz. Mas não me importo, porque agora tudo está se encaixando. Se eu quiser salvar Tessa, a oportunidade é agora. E só eu posso fazer isso, porque tenho um ponto com Bailee Mason. Um ponto a meu favor e um ponto que nenhum dos homens aqui do subterrâneo jamais terá.

Deixo todos falando sozinhos e embarco no elevador, porque assim com Tess foi ao farol para me salvar, eu vou mudar minha rotina para salvar minha melhor amiga. Bom, salvar minha irmã.

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Tudo ainda está silencioso quando passo pelo portão dos prédios que cercam o farol. Está silencioso, porque agora elas tem um cão de guarda que avança silenciosamente pelo muro que não possui grade, e que tem um arco e flecha nas mãos. Ela se dispôs a morrer por mim quando veio me tirar do farol, então morrer pelas mãos dela não me parece uma alternativa muito ruim.

– Tessa, pare! - Grita uma voz que desce esbaforida as escadas do prédio direito. Ela aparece em meu canto de visão sacudindo as mãos e tremendo como uma viciada com abstinência. - Ele não é um deles. George ajudou no seu resgate.

Tessa desce de seu poleiro dando um salto ao estilo Stolpeen de descer de algum lugar alto e percorre lentamente o trajeto até nós.

– Ajudou no meu resgate? - Ela pergunta, com um pingo de desconfiança na voz.

– Sim, ele ajudou. - Bailee diz. Ela olha para mim com raiva e ao mesmo tempo com satisfação, porque estou aqui. Estou aqui para propor algo a ela, depois de treze anos sem qualquer notícia.

– Podemos conversar? - Digo a ela.

Bailee faz que sim com a cabeça e nos afastamos de Tess, que ainda me olha desconfiada. Quero abraçá-la, mas temo que ela veria isso como uma espécie de ameaça e acertaria a flecha em mim.

– Eu sei o que fez com ela. - Começo.

– Eu não tive escolha. - Ela rebate. - E eu sabia que seu rancor por mim aumentaria em cem por cento caso eu a matasse. Eu tinha que fazer algo. Tenho uma reputação a manter.

– Certo, bela reputação de monstro. Adoraria ter uma assim também e aliás, acho que já tenho. Mas isso não vem ao caso, Bailee, estou aqui para lhe propor algo.

– Bem, eu lhe proponho algo antes. Lhe proponho o conhecimento de que não deveria me chamar de Bailee, deveria me chamar de mãe, porque George, eu sou sua mãe você queira ou não. Você é um Mason.

– Bom, vamos dizer que eu não me importe com isso. Não me importo desde os meus quatros anos. E não, eu não sou um Mason. Para ser sincero, estou mais para um Ripling ou um Stolpeen do que para um Mason. Eu não quero ser como você. - Retomo a conversa. - Vim lhe propor um acordo. Deixaremos vocês em paz e não planejaremos mais qualquer ataque contra à aldeia ou o farol, caso...

– Eu libere Tessa? - Ela sugere.

– Quer me deixar falar, por obséquio?

– Certo, prossiga.

– ...caso eu possa ficar aqui, com Tessa e Clover. Caso contrário, mamãe, invadiremos isso aqui. Botaremos isso a baixo e passaremos Tess por um processo de desintoxicação, e lhe garanto que ela voltará com ainda mais ódio de você. Sabe que nem o Lyniop dura para sempre. E ela tratá consigo, Derek Ripling, consegue se lembrar? Isso mesmo, ele não está morto. E está com tanta raiva de você que poderia explodi-la com a força da mente. Ainda mais agora que capturou a filha dele. Mas não estou surpreso, porque fazer monstruosidades e realizar atos que causam dor em massa é a sua principal fonte de poder.

– George, eu só queria que soubesse que não importa o que você fale. Você ainda é meu filho. Sangue do meu sangue. E não importa o quanto tenha repugnância disso, ainda consigo ver seus olhos sempre que me deito antes de dormir. Eu pedia tanto para que um dia pudesse vê-lo e inesperadamente, você se tornou exatamente o que achei que se tornaria. Se tornou um homem diferente.

– Sabe o quanto suas palavras são inúteis, não sabe? Você é como Dylan. Você tem um poder bastante intenso com palavras, o suficiente para fazer de você governadora do Continente Feminino aos dezenove anos. E eu ainda consigo me lembrar, todas as noites também, de suas palavras antes de me enviar naquele maldito navio para esse maldito local. Você disse exatamente: "Vai ficar tudo bem, George.". Eu esperava que ficasse tudo bem, já que sentia sua falta na primeira semana. E na segunda. E depois, percebi que nunca iria ficar tudo bem, quando comecei a ver meus colegas da aldeia serem mortos e expostos para nós como exemplo. Serem eletrocutados até perderem a consciência. Ficarem deformados por água quente. Serem surrados. Serem mortos, bem em nossa frente. Na frente de crianças de quatro ou cinco anos, Bailee. Crianças. Não homens. Crianças. E depois, quando finalmente pensei que estava acabando, quando completei meus dezessete anos, eu fui mandado para servir uma mulher. Para servir. Katy não me dava choques ou me surrava porque eu nunca fazia nada de errado. Eu fui muito bem treinado aqui e agradeço a você por isso. A você e as suas mulheres, que me ensinaram o sentido da palavra "lealdade" quando meu amigo mais próximo morreu eletrocutado aos oito anos, por assumir a culpa do prato que eu quebrei. Josh morreu por mim e estou disposto a morrer por Tess se for necessário. E quero que saiba mais: nem ela, nem Derek, nem eu somos sua principal ameaça. Você é a sua principal ameaça. Você e sua obsessão por poder e por controlar dores alheias. Ali, bem ali, na aldeia, você mata crianças. Você tortura crianças, física e mentalmente. E eu a odeio por isso. Odeio você tanto quanto você mesma se odeia.

– George... - Ela choraminga. Tenta tocar em mim e eu me afasto rapidamente.

– Ai, não me toca. Pode ser que tudo o que você é, passe para mim num simples toque e essa ideia me deixa angustiado.

Ela coloca o rosto entre as mãos e começa a chorar convulsivamente. Aproximo-me de Tess e seguro suas mãos. Ela não se afasta e até sorri para mim.

– Adivinha? - Digo.

– O quê? - Ela responde.

– Vou morar bem aqui. Com você.

Ela olha para Bailee, que ainda está chorando. Meu objetivo principal está alcançado. Consegui fazê-la sentir dor. Da mesma forma que ela está fazendo com que Jake sinta. Com que Derek sinta.

– Isso é ótimo. Parece que te conheço de outras vidas. - Tessa sussurra.

– Sabe que eu também? - Digo a ela. É como se eu estivesse conversando com uma criança. Uma criança perigosa, que ainda tem uma aljava cheia de flechas pendurada nos ombros.

– Por que ela está chorando? - Ela sussurra.

– É que tem pessoas que não aguentam ouvir...verdades. Simplesmente são fracas demais para tal coisa.

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A notícia de que George morará conosco rapidamente se instala no prédio. Todas as mulheres lançam-lhe olhares hostis, e são severamente repreendidas por Bailee, e até mesmo por mim em algumas vezes. Porque não importa o quanto minha memória falha diga que estou errada, acredito que lhe conheço mais profundamente do que apenas quando ele ajudou no meu resgate.

É como se eu lhe conhecesse por uma vida que já foi minha e que escapou de meus dedos como areia fina.

Pergunto a ele sobre sua vida e ele se dispõe a responder qualquer coisa assim que estivermos longe de Bailee ou qualquer outra mulher, que não seja Clover. Aliás, não a vi desde que acordei. Ouço gritos no quarto ao lado, então imagino que ela esteja sedada ou que foi atingida por um homem.

Finalmente, chego a uma questão com George que todos tem dúvidas a respeito.

– Por que está aqui?

– Pela mesma razão que você. Porque sou obrigado a ficar.

– Obrigado por quem?

– Pela minha lealdade. À minha melhor amiga por toda a vida.

Sorrio.

– Ela deve ser muito sortuda por ter um amigo como você, George. O que ainda está fazendo aqui e perdendo tempo comigo? Vá ficar com ela.
Ela sorri para mim.

– Eu já estou com ela, Tess. Mas é claro que não se lembra disso.

– Sou sua melhor amiga? - Pergunto.

– É isso aí.

– Onde está Derek? - Pergunto. Preciso saber do paradeiro dele.

Os olhos de George se arregalam.

– Consegue se lembrar de Derek? De alguma coisa a seu respeito? Tess, você tem que se lembrar.

– Ele...matou meu irmão e minha mãe. Estou certa?

– Tess. Não. Derek não matou seu irmão. Seu irmão é filho dele, assim como você. Derek é seu pai. E você o ama mais do que qualquer outra coisa. Apenas acredite em mim.

– Então...quem matou minha mãe?

– Você. - Ele responde, apesar de eu já saber a resposta.