Existem mais três novas garotas que se juntaram à resistência masculina, fora Clover e Katy. As três garotas, corriam atrás de Jake e naturalmente, se derretiam pelo loiro de olhos azuis que está agora embaixo de meu corpo, desnudo da barriga para cima, exibindo apenas para mim, o seu corpo perfeito.

Já é madrugada e estamos simplesmente alternando entre conversas tranquilas e beijos quentes do tipo que jamais sonhei em dar em Dylan. Aliás, me esqueço completamente de sua existência quando estou nos braços de Jake.

Eu não sei. Não sei.

Parecia que eu nunca mais deixaria de amar Dylan, ou que nunca mais pararia de doer o fato de que ele ama outra pessoa, e não a mim. Ou ama outra pessoa mais do que ama a mim, mas esse fato passa despercebido quando Jake toca meus lábios ou minha testa.

– Você está feliz, Tess? - Pergunta ele, inesperadamente. E também, inesperadamente, a resposta é positiva. Não só porque estou com uma pessoa que gosta de mim pelo que eu sou de verdade, não pela Tessa com o arco e flecha e tudo o mais, mas a Tessa que rosna dentro de um guarda roupa.

Porque Dylan não ama a Tessa fraca, que se recusa a enfrentar o mundo porque perdeu seu pai, mas a Tessa com arco e flecha. A Tessa que o resgata no farol. A Tessa que corre pela floresta ao lado de seu pai. A Tessa que é chamada de ameaça pela governadora. A Tessa que exerce seu poder autoritário feminino. A Tessa que atira uma flecha em sua própria mãe para defender um homem.

Mas Jake, não. Jake ama qualquer uma das Tessas, por mais que uma delas rosne para ele como um animal selvagem. Ele não se aproximou de mim durante todos esses meses, mas sempre esteve observando. Observando a Tessa com arco e flecha. A Tessa que perdia nas lutas corpo a corpo com George. A Tessa que chora desesperadamente quando seu amigo é capturado. A Tessa que cheira camisetas e que cospe a sopa oferecida pela madrasta. A Tessa que não aceita a independência do irmão. Bom, é essa Tessa que Jake conhece. Ele conhece todas as versões. Jake é um bom observador, porque captou todas as minhas expressões.

Ele numerou os meus sorrisos e também as minhas alterações de voz.

Concluímos que ou Jake me ama, ou é obcecado por garotas que cospem a sopa e se escondem em guardas roupas.

Mas a resposta dessa questão chega em seguida, quando seus olhos passam pelos meus e ele beija minha testa rapidamente.

– Acho que já ouviu isso de todos os caras possíveis aqui embaixo...caras muito melhores, mas eu amo você. Queria que soubesse.

– Eu diria que você é obcecado por me observar sem tentativas de aproximação durante meses.

– Na verdade, desde que pisou no convés do meu barco. - Diz ele.

– Não posso dizer que te amo. Não seria verdade.

– Não quero que diga. Quero que saiba que eu sim.

– Mas...Jake, não me faltam motivos para dizer que adoro você. Estou me sentindo viva, aliás, por sua causa. Fala sério, estou deitada em cima de você. As três garotas que estão aí, matariam entre si para estar em meu lugar. - Exclamo.

– Elas não são como você. Não estão nem aí. Não tem um real motivo para estarem aqui, a não ser que considere uma briga com a mãe guarda ou um amante escravo como um motivo considerável. Você tem um propósito aqui. Tem uma família aqui.

– É isso aí. - E de fato ele tem razão. - Tenho uma família aqui. Derek, meu pai. Jamie, meu irmão. Tenho Dylan. E tenho George. Tenho Clover...E tenho um tal de Jake obcecado por garotas que cheiram camisetas de pessoas que supostamente estão mortas.

Ele ri.

– Esse cara deve ser muito sortudo, já que a garota mais desejada da cidade está em seus braços.

Faço uma careta

– É isso aí, de fato ele tem muita sorte por estar com essa garota e ela não rosnar. Aliás, desculpe por aquilo no guarda roupa, de novo. Pensando agora, foi extremamente constrangedor.

– Eu amei. Deveria fazer isso para Bailee. Talvez ela corra.

– Bailee? Não. Não quero que ela fuja. Quero que ela venha até mim. Se a armadilha dela foi George, preciso arrumar uma armadilha para ela. Não vou simplesmente rosnar, Jake. - Explico.

– Acabo de nomear uma das Tessas. - Diz ele calmamente.

– Me conte. - Digo

– Mortífera.

E sei que ele tem razão.

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As três novas garotas foram nomeadas nesta tarde publicamente. A loira de olhos claros chama-se Kimmie. A morena de cabelos longos e unhas pintadas de vermelho, que não deixa de passar lápis de olho nem um dia desde que chegou chama-se Polly e a terceira é sua irmã e se chama Anna. Anna é mais nova que Polly e aparentemente mais amigável, pois contou que sua mãe colocou o nome das duas de Polly e Anna em homenagem a uma personagem literária.

As três me fuzilam com os olhos assim que saio do Compartimento de Jake e por um momento penso que Kimmie irá rosnar para mim.

– Acho que já sabemos porque Jake não se rendeu à mim naquela noite. - Ouço-a cochichar. Ela não deve saber que minha audição é extremamente aguçada ou fez questão de que eu ouvisse. - Seria menos dolorido caso não fosse Tessa. Caso fosse uma garota ao menos apresentável e FEMININA. - Ela enfatiza a última palavra e faz com que eu continue meu trajeto até o Compartimento de George dando gargalhadas sozinha.

No caminho até lá, encontro Dylan. E Katy, claro.

Tento desviar para outro ponto da cidade, mas ele me cerca antes que eu tenha tempo de pensar em para onde eu deveria ir.

– Oi. - Ele diz. - Quanto tempo.

– É.

– O que anda fazendo? E por que está vindo de uma direção oposta de onde seu Compartimento fica? É claro que acabou de acordar.

– Estava com Jake.

– Com Jake? - Ele questiona, suas sobrancelhas se juntam num misto de desaprovação com indignação.

– É.

– Hmm...Jake é um gato. - Diz Katy, com um sorriso amistoso nos lábios. Penso em dizer que não estava pedindo sua opinião, mas desisto, mordendo os lábios.

– É. - Dylan concorda. - Ele é bem apessoado. Olhos azuis e tal.

– George também tem olhos azuis. - Digo.

– Sim. - Diz Katy. - Eu amo os olhos dele.

– Hmm. Certo, preciso ir. Foi bom ver vocês. - Respondo e me viro para deixá-los, quando Dylan agarra meu braço.

– Foi bom ver você também. - Ele solta meu braço lentamente, acariciando-o um pouco. Talvez tivesse a intenção de me fazer sentir algo. Mas não sinto. Não sinto nada. Nada.

Passo por eles, pretendendo não encontrar mais ninguém além de George no dia de hoje. E Derek no fim do dia.

George me encontra antes que eu o encontre. Ele acordou cedo o suficiente para me caçar em meu Compartimento, no refeitório, na escola de Jamie, novamente no refeitório e novamente em meu Compartimento, na floresta e por fim voltou ao refeitório e me encontrou passando, por acaso.

– Por onde você andou? - Questiona ele, impaciente.

– Eu estava no Compartimento... - Respondo.

– Não estava. Eu passei lá primeiro.

– No Compartimento de Jake... - Digo, como se fosse algo absolutamente normal.
Sua boca faz o formato de um O e ele de repente se interessa pelo meu status de relacionamento. Digo que não tem nada entre mim e Jake. Ele diz que Jake não me deixará em paz até que possa me apresentar aos amigos dele como sua namorada, mas sei que ele está errado.

Jake sabe o quanto tudo é complicado e não me forçará a nada.

Continuamos conversando, mas sobre outro assunto, enquanto vamos até o

Compartimento de Derek e Jamie, onde Clover já o está aprontando para ir à escola.

– Eu supus que deveria levá-lo, mas deveria saber que vocês estavam a caminho. - Ela diz, um pouco envergonhada por estar exercendo o papel de mãe. Mãe de um menino. George sorri disfarçadamente para que o desconforto de Clover a respeito da situação não piore.

Pegamos Jamie e o deixamos na escola, depois saimos para caminhar mais um pouco.

– É difícil resistir aos encantos de um garoto de nove anos, Tessa. Ela seria muito dura, caso conseguisse essa proeza.

– Bom, ela era uma guarda, George. Não duvide dela no quesito dureza. - Mas sei que ele tem razão. É difícil resistir à ingenuidade e pureza de meu irmão.

– Eu era um rebelde, aparentemente, nato. Até me colocarem de babá no subterrâneo e agora, olhe só para mim. Prefiro passar horas ajudando um garoto de nove anos irritantemente doce a fazer sua lição de casa à atirar em alguém.

Encontramos Dylan em um certo ponto do caminho e ele encara George com firmeza. Ainda sinto raiva por saber que ambos brigaram por Katy, mas não deixo transparecer.

Sinto mais raiva ainda por saber que Dylan bateu em George.

– Posso saber aonde vocês estão indo? Ou será que eu posso acompanhá-los? - Diz Dylan.

– Estamos indo ter o momento Tessa/George. Acho que já respondi sua segunda pergunta. - Responde George, rápida e rispidamente.

– Acho melhor voltar antes que Katy perceba que sua sombra desapareceu. - Lanço-lhe um sorriso amarelo e George e eu continuamos o percurso até o elevador. Percebo que ele está nos seguindo pouco antes de a porta se abrir.

– Bom, a floresta não é fechada para os dois. Posso acompanhá-los.

Reviro os olhos e George faz o mesmo movimento no mesmo tempo.

– Então...você e Jake... - George diz, mas para provocar Dylan. Não tenho muita certeza de que ele se importa.

– Só nos beijamos. Muito. E depois conversamos. E dormimos juntos. Só isso.

– Só isso. - Dylan repete.

– Ah, você ainda está aqui? - George diz com sarcasmo.

– Esperava que eu tivesse entrado nas paredes? Bem que eu preferia isso à ouvir sobre Jake/Tessa.

– Ótimo. Deveria ter ficado com a sua sombra, já que esse será o assunto do dia. É por isso que se chama momento Tessa/George.

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Está claro que Dylan odeia George, mas ele não se importa nem um pouco. Tem um pouco de soberania em George que me é extremamente familiar. E também está claro que Dylan deixaria George morrer caso eu não percebesse o ataque e recuássemos para dentro do subterrâneo de forma bastante ligeira.

Katy tinha se lançado para fora assim que a primeira onda de bombas começou a perfurar o solo. Ela ficara desesperada com a falta de Dylan na cidade e subira para verificar se ele estava em segurança. E assim, ela se tornou um alvo fácil para o helicóptero e para as guardas armadas até os dentes.

Precisei voltar na chuva de tiros para recuperá-la e agora ela simplesmente não me parece mais uma ameaça. Parece mais com alguém que eu devo proteger igual protejo os outros.

Descemos o elevador em silêncio, ouvindo o som das pedras próximas caindo pela pressão da bomba.

– Estamos muito no subterrâneo. Nenhuma pedra moverá na cidade. - Comenta Katy.

– Eu sei. - Digo para tranquilizá-la. Ela ainda está em pânico.

Assim que botamos os pés na cidade, tudo está normal. George e eu nos encaminhamos até a escola onde Jamie está e encontro-me com Jake mais tarde. Logo após, vou até a ala hospitalar onde encontro com meu pai. Tudo parece normal e exatamente da forma como pedi para que estivesse.

Mas nada se tranquiliza e nem se normaliza para a Rainha do Desastre.