The Week

Sábado Parte II - Expectativas


POV RONNIE

Era uma vez um cara bonito com uma voz maravilhosa, músculos definidos, abdômem sarado... Que tinha uma banda que começava a fazer sucesso. Aí ele se torna um ícone, uma minúscula parte de algo enormemente grandioso chamado Rock ‘n’ roll. Ele almeja ser uma parte mais significante, quer se tornar lendário, uma peça chave ao invés de alguém apenas inspirado em uma... Mas gosta do que tem. Amigos fodões, todas as mulheres que ele quiser ter, dinheiro, reconhecimento... E então ele se envolve com as drogas. Ele descobre as fodidas drogas e se torna dependente delas. E quando ele achava que nada, além disso, poderia estragar sua carreira, eis que algo acontece. Uma briga, um tiro disparado, um rapaz morto. E, mesmo não sendo ele o causador da briga e muito menos quem apertou o gatilho, ele é preso. Ele aprende a ser mais humano. Ele começa a dar mais valor à música. Ele se trata.

Dois anos depois e ele sai da prisão. Várias músicas prontas, uma banda formada, uma saúde impecável. Os fãs não o abandonaram, pelo menos não uma boa parte deles. Ele se torna o símbolo da superação. Descobre que as mulheres ainda o desejam. Alguns hábitos nunca morrem, e, depois de dois anos detido ele quer é aproveitar a vida da melhor maneira possível. Sexo e Rock ‘n ‘ Roll, as drogas ele deixava para quem era fraco o suficiente para querer usá-las.

Poucas vezes disse que amava alguém e quando o disse (para as poucas mulheres com quem havia realmente namorado), achava ter sido honesto. Mas nenhum relacionamento deu certo e ele percebia que havia se enganado novamente. Não fazia diferença, não é mesmo? Todas eram iguais.

Eram, essa é a palavra perfeita. Tudo estava perfeito, a vida dele estava ainda melhor do que estava antes de ir para a prisão... E então ele assinou a porra de um contrato. ‘Algo inovador, ousado e que só tinha a acrescentar na sua carreira’, seu agente disse. E então ele aceitou. O que seria uma semana de elaboração da letra, gravação e show com uma garota qualquer? Era só uma semana. Ele podia fazer isso. E é claro que seria extremamente burrice dele se envolver com ela. Desconhecidas eram mais fáceis de lidar. Ele não iria ferrar com a sua carreira, não dessa vez, não por causa de uma garota. Não importava o quão durona seu agente dissesse que ela era, ele sabia como ela reagiria. Ele a magoaria quando dissesse que não a namoraria, que não a amava e que só tinha sido uma noite. Ela contaria para a imprensa. Ele seria o culpado da história. E todos teriam certeza do que já suspeitavam: Ronnie Radke era um cafajeste.

O único problema é que ele não era um cafajeste. Sabia que muitos não concordariam e não os culpava por isso. Mas ele nunca havia forçado ninguém a fazer nada com ele, ele nunca disse que algo teria futuro quando ele sabia que não teria, e ele nunca falou que amava alguém sem achar que isso realmente fosse verdade. Ele sempre foi muito claro. Ele nunca enganou ninguém. Aparentemente isso o livrava do título de cafajeste.

Mas então a ‘garota qualquer’ revela ser uma pessoa totalmente diferente de quem ele pensava que ela era. Ela o encanta. Ela o seduz provavelmente sem ter essa intenção. Ela pensa como nenhuma outra, ela age de um jeito própriamente encantador. Ele sente-se atraído por ela até quando ela está simplesmente respirando. Ele tenta resistir, até o momento em que a encontra dormindo em seu sofá da sala. Ele a beija. E então o desejo de resistir a ela vai pros quintos dos infernos e ele só quer tê-la só pra si. De todas as maneiras fisicamente possíveis.

Em uma situação não premeditada, eles transam. Ele descobre que aquele momento pelo qual tanto esperou e relutou era melhor do que poderia imaginar. Mas a tal garota sai do quarto pela manhã parecendo estranha e trata-o de forma indiferente pelo resto do dia. É bobo, mas ele vê que se importa com isso.

E então como se nada disso bastasse, ele percebe que não quer que ela suma de sua vida. Ele luta contra esse pensamento, mas sabe que é inútil. Ele quer descobrir a porra do motivo que a está afastando dele e pensa que seriam poucas as coisas que não faria para tê-la consigo novamente. Ele pensa que isso talvez seja algo da cabeça dele e vai até o apartamento dela pra vê-la e só depois tomar alguma atitude. E então ele a vê e se lembra do porquê de ter feito tudo o que fez. E, além de gostar do que vê, não resiste e conta a ela o que ele guardava tão seguro dentro de si que nem ele mesmo tinha percebido. Ele gostava dela, ele se importava com ela, ela não era qualquer uma. Ela não acreditou e ele quis provar. Mas provar algo a ela não significa que ele a teria para ele, e então ele inicia um jogo de sedução. Ela precisava admitir que gostava dele também. E então de repente ele não fazia idéia do que seria de seu futuro e agora ele estava fodidamente ferrado porque tinha que provar algo à alguém, e não fazia idéia de como fazer isso. Ou porque se importava tanto em fazê-lo.

Esse poderia muito bem ser o resumo da minha vida. Percebe-me subindo degrau por degrau depois de ter caído tão fundo que nem eu mesmo esperava conseguir me levantar? Percebe agora eu afundando de novo? Uma pequena parte do meu cérebro consegue perceber isso, mas o resto dessa massa cinzenta e imbecil que é a outra e maior parte dele insiste em achar que eu tenho sentimentos profundos com relação àquela garota. Taylor Momsen, ela tinha um nome. E só de pensar nela com aquele moletom cinza eu tinha vontade de voltar lá e arrancá-lo dela. O que vinha depois, bom, já dá pra imaginar.

Que diabos estava acontecendo comigo? Eu sempre ria dos meus amigos quando eles faziam algo para provar algo à alguma garota e lá estava eu, tentando provar para a Taylor que eu realmente me importava com ela. Apenas uma parte disso eu estava apreciando e era fazê-la admitir que sentia algo por mim, à minha maneira é claro. Isso ia ser bem divertido. O que ia ser de nós dois depois disso era algo incerto. Mas isso eu deixaria pra pensar quando chegasse a hora.

POV TAYLOR

Estamos no palco, Ronnie Radke, eu, Jacky, Ronnie Ficarro, Derek, Ryan, Ben, Jamie e Mark e eu sei o que a platéia viu. O show tem dois lados e só quem estava do meu lado do palco sabia o outro lado de tudo. A platéia nos via interpretando perfeitamente os personagens que eles queriam que interpretássemos. Os fãs do Ronnie não esperavam nada menos do que ele tentar se aproveitar da mulher bonita que estava no mesmo palco que ele. Meus fãs tinham certeza que eu me esfregaria nele e o seduziria. Bom, estávamos indo muito bem. Mas era tudo real, e isso só nós sabíamos.

Nós só tínhamos uma música nossa e, apesar de cantar ela mais de uma vez (a pedido dos fãs, eles queriam aprender a cantá-la), isso não fazia um show. Cantamos juntos algumas músicas dele e algumas minhas, e quando a música só podia ser cantada por uma pessoa o outro fazia alguma performance a ver com a música, ou então só pegava algum instrumento para tocar, seja próprio ou arrancado à força de um dos membros das duas bandas. Cantamos Seven Nation Army dos White Stripes por escolha minha e Ronnie escolheu a música Closer da banda Nine Inch Nails. As fãs foram à loucura e eu escutei alguns membros das duas bandas assoviarem. Eles ficaram tão chocados quanto eu. Mas eu sabia o verdadeiro motivo de ele ter escolhido essa música tão... Explícita. Ronnie havia dito que iria jogar sujo. Eu não achava que esse plano idiota dele começaria justamente no show, mas ele era imprevisível.

Agora, por exemplo, eu tenho vontade de entrar embaixo de um chuveiro gelado e me masturbar até não poder mais. Não, na verdade eu tenho vontade de fazer outra coisa, mas essa opção é a única que acabaria com meu problema sem me meter em outros. Eu estava ficando louca. Não, era Ronnie quem estava louco. E eu juro que se eu tivesse a mínima noção do que ele queria dizer pela manhã quanto a jogar sujo, eu nunca teria entrado naquele palco. Ronald Joseph Radke conseguiu fazer de uma coisa super simples que era provar para alguém o quanto você se importava com ela, um jogo de sedução sem limites que estava acabando comigo. Acabando mesmo.

Digamos que se eu não fosse cantora e tivesse mil e um motivos para ficar ofegante do nada, nada mais explicaria meu estado quando voltei do pequeno intervalo do show. O primeiro deles:

- Cinco minutos! – O produtor grita pra mim e pro Ronnie, passando apressado por nós enquanto checava cada setor e cada responsável por esse setor. Ele ficava tão tenso em dia de show que eu não sei como ele ainda não tinha tido um infarto. E eu já tinha dito isso pra ele, mas e ele por acaso me ouviu?

- Então Taylor, estou curioso. – Ronnie se escora ao meu lado na parede, comendo uma barra de cereal enquanto eu tomo um copo d’água.

- Sobre o quê? – Pergunto, tentando soar indiferente.

- Sobre o que você fez depois que eu saí do seu apartamento. – Sorri enquanto morde demoradamente a barrinha.

Ok, ele conseguiu me pegar de surpresa. Eu não respondo e é como se eu tivesse CULPADA estampado no rosto. Porque Ronnie sorri divertido e seu olhar brilha vitorioso.

- Não adianta mentir. Ou omitir. Já tenho a resposta que eu queria. Ainda sim eu adoraria que você dissesse.

- Não sei do que você está falando e não me lembro de ter que dar satisfações a você.

- Ah, qual é Taylor. Eu conheço você.

- Não, você não conhece. Você me conhece a menos de uma semana e não sabe quase nada sobre mim.

- Como o quê, por exemplo? Você curte Nirvana, ensaia no camarim com Killing In The Name Of e ouve The White Stripes e Audioslave? Que você às vezes levanta a blusa e mostra os seios apenas com X feitos de uma fita preta? Eu sei mais sobre você do que você imagina.

Encaro-o surpresa. Não era muito, qualquer fã saberia essas coisas. Mas Ronnie não sabia nada sobre mim antes, eu tinha certeza. Ele tinha pesquisado um pouco sobre mim então. Isso já era algo absolutamente anormal, vindo do Ronnie.

- Você não sabia nada há uns dias atrás. Andou pesquisando meu nome no Google, Radke? Isso se chama stalkear.

- Eu tenho contatos Taylor, sei descobrir alguma coisa quando eu quero. Mas é claro que há coisas que eu não sei e que só você poderia me contar. – Sorri maliciosamente.

- Como o quê, por exemplo? Achei que você já soubesse o suficiente sobre mim nesse sentido.

- Oh não, tem coisas que eu ainda não sei. Como, por exemplo, o que você pensa quando eu faço isso. – Ele chega mais perto de mim e coloca as duas mãos na parede, uma de cada lado da minha cabeça, se aproximando lentamente do meu rosto. Eu estou presa e isso não é algo com o qual eu ficasse confortável. Não quando era ele fazendo isso. Eu sabia o que havia acontecido da última vez em que ele havia me prendido, e não estava disposta a repetir.

- Você vai levar a sério mesmo esse plano infantil de tentar me seduzir?

- Acho que ficou bastante claro quando eu cantei com você a música que eu escolhi sem nem olhar para a platéia. E eu sei que você gostou.

- Sou uma boa atriz Ronnie, já te contaram?

- É, eu estou sabendo disso. Mas eu sei que você não atuou lá no palco. Pelo menos não na maior parte das vezes.

- Porra Radke, admita que está blefando! Eu sou atriz e se você não percebeu ou não ainda não sabe, eu me comporto assim em todos os shows que faço. Só porque você descobriu alguma coisa sobre mim não quer dizer que me conheça!

E então ele me beija. Essa atitude me pega de surpresa, e eu não tenho tempo de empurrá-lo ou coisa do tipo. Não, na verdade eu não queria empurrá-lo ou coisa do tipo. O beijo dele é desesperado e eu deveria estar respondendo da mesma forma. Droga! Eu não queria pensar a respeito, e meu pedido é atendido quando com uma das mãos ele segura meu cabelo rudemente, mas não de uma forma ruim, só possessiva e extremamente sexy. A outra ele coloca na minha cintura, me trazendo para tão perto como era possível. Depois do que me pareceu ser um longo tempo, paramos devido à falta de ar e eu percebo que minhas mãos seguram tão forte seus cabelos que eu não me surpreenderia se tivesse arrancado alguns. Alguém pigarreia ao nosso lado e eu solto seu cabelo no mesmo segundo, me comportando como uma criança que foi pega fazendo arte. Descubro que quem pigarreou foi o Ryan, e ele parece sem jeito.

- Cara, juro que não era minha intenção atrapalhar vocês, mas... Acabou o intervalo, entramos em menos de um minuto. – Ele passa a mão no cabelo. – Vou dizer pros caras esperarem vocês lá, só... Procurem não se atrasar. – E então ele sai e eu empurro Ronnie, não encontrando resistência. Logo alcanço Ryan, sabendo que Ron está me seguindo por causa dos barulhos irritantes que o sapato que ele colocou fazem. Espera aí, eu o apelidei de Ron? Oh meu deus.

O resto do Show foi mais ou menos a mesma coisa de antes, letras de sexo explícito dedicadas à minha pessoa e contato físico demais. Não, acho que não foi a mesma coisa de antes. Foi pior. E tudo por causa daquela porra daquele beijo que ele me deu, que fez com que eu quisesse agarrá-lo mais vezes do que o normal. O normal já era muitas, então... Eu estava começando a duvidar da minha capacidade de resistir a ele. Não importando se ele sentia algo por mim ou não, eu sentia algo por ele que era impossível ignorar, então eu estava começando a acreditar ser impossível resistir a tudo isso. Mas eu não entregaria o jogo tão facilmente. Eu iria resistir até ter certeza absoluta de que não conseguiria mais. E então eu veria o que fazer da minha vida depois que eu não fosse mais um divertimento. Talvez ele cansasse antes de conseguir o que queria. Mas eu duvidava muito que isso acontecesse.

***

Ouço três batidas na porta do meu apartamento e coloco um de meus moletons cinzas (eu tenho uma coleção, a propósito) e nem me preocupo em colocar um sapato. Dia de show eu quase não agüento meus pés por causa daquelas botas enormes. Eu amo todas as minhas botas, mas as mais bonitas são as que mais machucam. Era um preço a pagar. Ouço três batidas na porta novamente.

- Já vai! – Bufo e abro a porta para a pessoa impaciente que estava do outro lado. Como hoje quando acordei, levo um susto quando vejo um Ronnie em trajes simples passando por mim apressado e sentando-se no meu único e enorme sofá da sala. Coloca uma pilha de DVD’s na mesinha e segura um grande pacote de pipoca enquanto sorri pra mim.

- Viu um fantasma, Taylor? Porque você está quase transparente. Vai ficar aí ou vai vir me fazer companhia? – Me recuso a fechar a porta.

- Pode me explicar que porra é essa? Porque eu não lembro de ter chamado você para uma festinha do pijama!

- Ei, calma aí. Achei que você fosse querer escolher o DVD, mas se não quiser eu já escolhi por você. – Ele sorri, mas eu continuo parada encarando-o. – Ok, achei que você iria gostar de relaxar essa noite, foi um show e tanto. – Ele sorri maliciosamente. – Lembra da parte do ‘provar que eu gosto de você’? Pois então. Eu sei fazer coisas normais que as pessoas fazem. Não é minha maneira preferida de passar a noite, mas eu não farei nada que você não queira. Promessa de escoteiro.

Lembra aquela carinha que ele fez pra me convencer a mudar a letra da música? É irresistível, pô! Nem parece aquele cara todo machão e cheio de si que fala e pensa em sexo provavelmente vinte e três horas por dia. A outra ele deve reservar para escrever as músicas. Suspiro demoradamente e fecho a porta, sentando ao seu lado no sofá e vendo seu sorriso se abrir. Descubro que adoro vê-lo feliz, então sorrio também. Uma atitude completamente idiota da minha parte.

- Ok, o que vamos ver? – Digo, tirando o enorme pacote de pipoca das suas mãos e descobrindo que é doce. Adoro pipoca doce, me lembra de casa, me lembra minha mãe. E então, mesmo sabendo que ele não tem como saber de tudo isso, sei que ele ganhou um ponto comigo. Mais um. Eu não sabia quantos ainda faltavam pra eu admitir que estava apaixonada por ele. Muitos, eu esperava.

- O iluminado. É meu filme favorito.

- É aquele com o Jack Nicholson não é? Gosto dele.

No filme inteiro ele não tentou me agarrar, mesmo estando a centímetros de mim. O filme é bom, então nós dois prestamos toda a atenção a ele. A pipoca acaba e a posição em que estamos começa a se tornar desconfortável. Ele se recosta no braço do grande e fofo sofá e eu me recosto nele. Difícil acreditar, mas ele não tenta absolutamente nada e eu me sinto confortável com isso. Ficamos assim o filme inteiro e quando ele acaba, colocamos algum filme aleatório que eu escolhi pela capa. Não gosto de admitir nem pra mim mesma, mas eu estava gostando desse outro lado dele. E eu continuava me achando uma completa idiota por gostar dele cada vez mais.