The Week

Sexta-feira - Gravadora


POV TAYLOR

Acordei com um raio de luz que insistia em tentar perfurar meu olho. Eu não queria levantar, então puxei as cobertas mais pra cima e virei para o outro lado, fugindo da luz do sol. É então que eu arregalo os olhos e a ficha começa a cair. Não tem ninguém ali. Essa não é a minha cama. A foto do Ronnie criança me encara e me faz lembrar de tudo, absolutamente tudo , da noite anterior.

Puta que pariu, eu dormi com Ronnie Radke.

Porra, porra, porra.

Ferrou.

Te fodeu, Taylor! Fez exatamente o que não era pra ter feito! Eu deveria levar o prêmio de idiota do ano pelo meu feito. Ou até do século.

Como eu pude? Como? Era tão fácil, bastava eu resistir. Ok, não era tão fácil assim. Mas, caralho, eu nem tentei! E não era só a parte da ‘transa de uma só noite com o parceiro de trabalho’ que me incomodava, era os sentimentos – que eu nem mesma entendia – que eu tinha pelo Ronnie. A noite foi incrível, eu tenho que admitir, mas minha consciência não aceitava isso como desculpa.

Eu ainda estava nua e na cama do Ronnie, – sublinhe a porra dessa linha - então, aceitando a realidade, levanto e começo a catar minhas roupas pelo quarto e a colocá-las em mim de qualquer jeito, querendo sair de lá o mais rápido possível. Acho minha jaqueta atirada na poltrona e saio do quarto colocando-a e procurando as chaves nos bolsos. Até que eu chego na cozinha e me deparo com um Ronnie completamente despenteado e usando apenas uma boxer vermelha, sentado em frente à mesa com uma xícara fumegante de café na mão. Sexy, extremamente sexy, eu tenho que admitir. Mas eu ainda estava irritada e completamente insatisfeita com a minha atitude impensada, sem contar na grande parte de mim que insistia em trazer à tona uma tristeza infundada e idiota, então passo reto por ele em direção à porta de entrada.

- Bom dia! Espera, aonde você vai?

Argh! Eu queria muito evitar uma conversa, mas se eu saísse por essa porta agora ele poderia me seguir até meu apartamento e gritar tanto na porta que eu iria querer arrancar meus ouvidos só de raiva. Imbecil. Respiro fundo e viro lentamente pra ele.

- Pro lugar de onde eu nunca deveria ter saído.

- Você quer dizer pra barriga da sua mãe, então? – Ele faz um sorriso fraco, odiando o próprio comentário e forçando uma felicidade que não chega aos seus olhos. Então ele percebe a expressão de ódio mortal estampado no meu rosto e o sorriso some imediatamente. – Achei que seu humor era melhor quando você acordava, Taylor. Parece que eu me enganei.

- Talvez o meu humor não tenha nada a ver com eu ter acabado de acordar e o motivo na verdade seja você, Radke. Já parou pra pensar nisso? Ou só consegue pensar se você vai contar primeiro pra imprensa ou pros seus amigos imbecis que você transou comigo?

- Ei, calma aí, eu não –

- Por favor Ronnie, só... Me deixa ir. – E então eu inicio uma difícil luta contra as lágrimas que queriam escapar por meus olhos. Ao que parecia, eu estava vencendo. – Eu vou gravar a música hoje com você, eu vou fazer todos os shows e vou cumprir com tudo o que estiver no contrato, só... Me deixe. – Eu termino a frase quase sussurrando, temendo que tivesse de implorá-lo a não fazer nenhuma gracinha e nem tentar argumentar.

Eu só queria sair dali, e ele parece ter entendido. Fechei a porta sem esperar ele falar algo, mas não antes de vê-lo com uma expressão estranha no rosto. Nenhum sorriso, nenhum brilho de vitória no olhar, só... Culpa? Ah, tudo o que eu precisava era ter um cara culpado por ter transado comigo! Não podia culpá-lo, em nenhum momento eu pensei em culpá-lo. A idiota era eu por ter caído na dele, ele só estava sendo... ele. O Ronnie Radke garanhão que levava pra cama qualquer uma que aparece na sua frente. Eu que fui uma puta de uma idiota e me comportei como uma vadia. Vai ver eu merecia isso, afinal das contas. A fama que todos esperavam que eu tivesse, mais uma que foi pra cama com Ronnie Radke. Incrível como uma noite estava prestes a estragar minha vida.

Fui para o meu apartamento e não me lembro de ter fechado a porta ou de como tinha chegado lá, mas quando eu percebi estava sentada no chão do Box do banheiro com água fria escorrendo pelo meu corpo. E então eu lembrei. Um detalhe insignificante que era o que faltava para os soluços passarem por minha garganta e lágrimas descerem freneticamente pelo meu rosto: A caneca branca com os pedaços de chocolate pintados já desbotados estava em cima da mesa no meu lugar de sempre, com uma fumaça clara indicando que algo quente estava lá dentro. Ele esperava que eu ficasse então. Eu só não consegui definir se isso era uma coisa boa ou ruim, ou se isso realmente fazia alguma diferença.

POV RONNIE

Eu estava me sentindo um idiota completo. Eu não sabia nem que sentimento dominava minha mente pra que eu me sentisse tão perdido. Culpa? Talvez, mas não era esse o problema. Felicidade? Eu estava mais feliz quando acordei. Arrependimento? Não, de jeito nenhum. Tristeza? Era isso? Eu estava triste pela reação dela? Diabos, sim! Mas saber o que me atormentava definitivamente não fez bem algum pra minha situação.

Porque eu deveria me importar com o que ela pensa? Ela fazia parte do trabalho e quando ele acabasse cada um seguiria sua própria vida. Mas era fato que eu estava triste. Era fato também que eu queria correr atrás dela e pedir desculpas, nem sei exatamente por que. O que eu havia feito de errado, afinal? Nada! Dormi com ela sim, mas eu não via problema nisso. Quer dizer, ela não parecia ser do tipo que ficaria atrás de mim, não é? Era a única coisa que poderia estragar nosso trabalho, eu ser o motivo de uma desilusão amorosa de Taylor Momsen. Era por isso que eu quis evitar que algo acontecesse entre nós.

Mas ela parecia apenas arrependida, então era só o tempo de ela pensar um pouco e na hora da gravação ela estaria ignorando meus comentários idiotas e mostrando aquele sorriso infantil. Era isso, ela só precisava de um tempo. E isso foi a única coisa que me impediu de bater na sua porta e implorar seu perdão. Não, era piegas demais.

Na gravadora tudo voltaria a ser como era antes, melhor pra mim, melhor pra ela. Não é como se meu coração fosse bater mais forte quando a visse. Ou aquelas porra de borboletas no estômago que tanto falam. Isso não existe. O que existe é amizade, atração sexual e sexo. A amizade era o próximo passo. Nós poderíamos ser bons amigos. Eu podia viver com isso.

****

Eu disse que podia conviver com isso? Pois eu estava fodidamente errado. A Taylor e a sua frieza não-natural estão acabando com os meus nervos. Já explico.

Estava eu bem sorridente (quase isso), quando chego ao estúdio na hora marcada e encontro uma Taylor de óculos escuros e cigarro entre os dedos com as pernas cruzadas, sentada em um banco alto na frente do microfone. Ela está sexy. Quero dizer, extremamente sexy. E eu sou um imbecil por pensar nisso com tantas outras coisas pra pensar. E aquelas borboletas no estômago? Bom, isso definitivamente não existia, mas tinha algo no meu estômago sim. Era estranho, entretanto. E muito irritante.

Ela parece notar que eu cheguei e apaga o cigarro no mesmo segundo, colocando o cinzeiro bem longe do banco ao seu lado, que é o meu lugar. Aceno para os meus parceiros de banda que estão sentados logo atrás e para três caras do lado deles que parecem ser os integrantes da banda da Taylor. Respiro fundo e me sento no banco, tentando deixar o clima o mais natural possível.

- Achei que tivesse parado. – Ela olha pra mim e eu aponto o cinzeiro do outro lado do balcão. Ela pigarreia.

- Eu tinha. – Ela olha para o outro lado. Mas eu não posso saber o que ela está olhando ou a sua expressão porque a porra desses óculos não me deixa!

- Mas então...

- Isso não é da sua conta, Ronnie.

- Olha Taylor, se você quer conversar sobre o que aconteceu ontem...

- Nós não temos nada pra conversar, Ronald. E se eu fosse você pegaria já a folha com a letra e colocaria os fones no ouvido, porque só estávamos esperando você pra começar a gravar.

- OK, ok. – Pego meus fones e então nós começamos a cantar. Às vezes juntos, algumas partes separadas, exatamente como era pra ser. A música ficou melhor do que esperávamos. Melhor do que todos esperavam, na verdade. Meu agente se aproxima de nós, a felicidade estampada no rosto.

- Parabéns, a música ficou ótima! Estão liberados pra sair e comemorar ou algo do tipo. Agora é a nossa vez de trabalhar. – Ele aponta para o pessoal do som e sorri. – Bom trabalho. – Acena pra nós e vai se sentar junto com os outros. Viro-me para a Taylor e tento organizar meus pensamentos.

- Ah, Tay-

- E aí garota! – Um homem com cabelo cacheado e óculos escuros se aproxima de Taylor e lhe dá um tapinha no ombro. Meu lado possessivo é alertado e eu tenho vontade de socá-lo só por ter encostado nela. Ela não parece se importar e abre um sorriso.

- E aí, cara. Achei que só eu ia trabalhar nessa banda! Como está a Kelly?

- Ótima. Disse que está esperando você visitá-la na casa nova.

- E você disse que eu iria, não é? Assim que eu puder vou visitá-la. Eu teria ido essa semana se não estivesse ocupada... Ah, Ben, esse é o Ronnie. Ronnie Radke. – Ela diz, apontando para mim.

- Ben Phillips. – Ele estica a mão para mim e eu aperto a sua. – É um prazer, cara. Ouvi falar muito de você. Vocalista do ano, hein?

- Foi o que me disseram. – Eu rio. – O prazer é meu. E então, o que vocês vão fazer pra comemorarem? Eu estava pensando em irmos ao... –Taylor olha ligeiramente para Ben e fala antes que eu possa terminar.

- Na verdade Ronnie, eu estava pensando em sair só com a minha banda. Sabe como é, nós não nos vimos a semana inteira. E talvez os rapazes já tenham algo programado pra noite de vocês. Agente pode combinar alguma coisa outra hora, não é Ben? – Ben pigarreia e olha da Taylor pra mim e de mim pra Taylor, tentando descobrir o motivo disso tudo, imagino.

- Claro, podemos combinar outra hora. E conhecendo bem a Taylor, garanto que ela não vai ser uma boa companhia hoje. Se ela chegar em casa acordada já vai ser algo histórico. – Ele sorri. – Tchau cara, agente se vê no show. – Ele dá um tapinha no meu ombro e joga um olhar rápido para a Taylor enquanto vai em direção aos outros caras das banda.

- Ok... – Eu digo, tarde demais.

- Err, Ronnie, até amanhã então.

- Claro. Ahn, Taylor, por que os óculos? – Eu digo sorrindo. – Andou brigando essa tarde? Garotas com um olho roxo são um charme, você sabe. - Eu podia jurar que ela revirou os olhos com meu comentário idiota. Mas eu não podia ver por causa da porra dos óculos!

- Tchau, Ronnie. – Ela acena pra mim com a mão coberta pela manga comprida demais do moletom cinza, o mesmo do primeiro dia em que ela foi ao meu apartamento. ‘Quando as coisas eram mais fáceis’, eu lembro com um suspiro.

E então eu a deixei ir. ‘Pela segunda vez no dia’, meu cérebro insistia em lembrar. Era tempo o que ela queria, não era? Não podia ser outra coisa. Eu daria o tempo que ela quisesse, e então tudo voltaria ao normal.

Eu estaria completamente satisfeito com isso se não fosse algo estranho em meu estômago dizendo que eu estava enganado. Eu me neguei a ouvi-lo e deixar isso me perturbar. Eu não tenho intuição, porra! Quem tem isso são as mulheres, não tinha porque eu me preocupar com algo idiota como isso.

Mas é claro que aquilo não me deixou em paz nem ao menos um minuto e depois de uma hora de comemoração com os caras da banda, eu fui embora. Yeah, isso aí. Eu não queria conseguir pensar essa noite e o som altíssimo da boate que eles tinham escolhido parecia ser exatamente o que eu precisava. Mas o barulho excessivo não fez nenhum bem e logo eu estava com a cabeça latejando da bebida, do som alto e dos pensamentos que eu não conseguia organizar. Não queria explicar pra eles o porquê de eu querer ir pra casa então só disse que ia dormir. Nem sei se eles ouviram ou se estavam bêbados demais pra isso, mas eu não liguei. Eles saberiam se virar sem mim por uma noite.

POV TAYLOR

Não, eu não sei que porra de dia foi esse. Ben estava certo quando disse que eu não seria uma boa companhia essa noite, porque especialmente hoje eu não era uma boa companhia pra ninguém. Nem pra mim mesma, aliás. Depois de chorar feito uma garotinha que recém terminou com o namorado, peguei aqueles óculos escuros idiotas que eu nem usava mais porque eu não tinha trazido meus óculos favoritos. Meus olhos desacostumados a receberem tantas lágrimas de uma só vez, ficaram mais inchados do que os olhos de qualquer outra pessoa ficaria. Isso só pra piorar meu dia um pouco mais.

E então lá estava o Ronnie, me tratando como se nada tivesse acontecido. Eu não podia esperar mais vindo dele, ele pelo menos falou comigo. A maioria das minhas amigas que já tinham ‘saído’ com ele, disseram nunca mais conseguir entrar em contato. Mas elas não trabalhavam com ele, então ele não era obrigado a conviver com elas. Acho que elas tiveram mais sorte do que eu, pelo menos Ronnie não tinha sido falso com elas.

Mas é claro que minha intuição tinha que se meter e ficar dizendo que ele não tinha sido falso comigo. Que ele havia falado comigo porque realmente queria falar comigo e perguntado da nossa saída porque realmente queria sair comigo. Me fazendo pensar, inclusive, que havia algo que ele queria falar pra mim mas que não tinha tido a chance de me dizer. Mas de quê adiantava ter esse tipo de pensamento? Minha intuição estava embaçada por minha vontade de querer que isso fosse verdade. Então eu liguei o ‘foda-se’ e mandei a minha intuição pro raio que o parta. Eu tinha que tirar o Ronnie da minha cabeça, e eu iria fazê-lo. Mas seria consideravelmente mais fácil se não tivéssemos dois shows marcados nos próximos dois dias. E um contrato a cumprir, claro. Maldita hora que meu agente me fez assinar a droga daquele papel.