Alexia’s POV

Ok, eu admito, fui uma completa idiota por pensar que poderia adiar isso por tanto tempo, talvez para sempre. Eu fui, acima de tudo, irresponsável e inconseqüente. Eu deveria saber que algum dia um monstro sentiria o meu cheiro e me encontraria, afinal, eu sou uma meio sangue. Filha de quem? Não faço ideia.

- Está pronta, Lexi? – perguntou a voz do meu pai que estava na cozinha.

- Estou – respondi – Eu só estou...

- Absorvendo o choque? – ele perguntou, parecendo preocupado.

Ele estava se referindo ao ataque que havia sofrido hoje na escola e que me convencera que eu no podia mais ficar em casa sem colocar a vida de alguém em risco. Eu precisava ir para o Acampamento Meio-Sangue.

- Não, eu só... Estou pensando nela. O que ela pensaria de mim hoje.

Meu pai sabia melhor do que ninguém que quando eu falava “dela” eu estava me referindo a minha mãe.

- Eu não sei dizer, Lexi... – respondeu ele, cabisbaixo – Eu mal a conheci. Estive com ela apenas uma vez.

- Eu sei, você me contou – falei – Você a salvou de um monstro, não é?

- Sim, eu estava perseguindo um cervo numa floresta em Nevada e a encontrei lutando contra alguma coisa e a ajudei. Ela pareceu surpresa e ao mesmo tempo insultada por ter sido salva por mim. “Como um homem se atreve a interferir em minha caçada?” ela dizia. Mas acho que no final das contas ela ficou agradecida, pois ela me deu você.

- Ótimo – Falei emburrada. – É bom saber que para ela eu não passo de uma simples recompensa, um agradecimento.

- Não pense assim. Eu é que sou agradecido a ela por ter me dado você. Não se esqueça disso.

- Obrigada, pai. Não vou esquecer.

Ele olhou para a mochila em minhas costas

- Bom, já podemos ir?

Ei, esperem por mim, ainda não peguei a minha bola!”

Olhei para trás e vi Sam, o meu cachorro carregando com a boca uma pequena bolsa de pano cheia de tralhas. Ah sim, foi graças ao Sam que descobri que sou uma meio sangue. Eu o ganhei de presente da minha avó quando tinha 13 anos e por algum motivo inexplicável eu podia entender toda e qualquer palavra que aquele enorme labrador babão dizia (ou latia) em claro e bom som. Meu pai acha que esse é sem duvida, um dos poderes que herdei da minha mãe. Mas tanto faz.

- Ah não! Você não vai de jeito nenhum! – falei para o cachorro – Eles nem devem aceitar animais lá...

“É claro que aceitam.” disse ele fazendo aquela carinha de cachorro que caiu da mudança “Eu sou adorável.”

- Você não vale nada mesmo. – falei indignada – Vamos logo antes que eu mude de ideia!

Segui meu pai para fora do apartamento e chamei o elevador, após alguns segundos de espera as portas se abriram e de dentro dele saiu ninguém menos que minha detestável madrasta, Layla. Ela me odeia tanto quanto eu a odeio, mas quando meu pai está perto ela finge que me adora e, pelo meu pai, eu tento que engolir esse teatrinho calada.

- Oi, Alexia. – ela falou com aquele tom doce e fingido, me chamando pelo meu nome inteiro, coisa que só ela faz – Vocês vão a algum lugar?

- Vamos sim, querida – disse meu pai, rapidamente inventando uma mentira – Lexi vai passar alguns dias na casa da minha mãe.

- Isso é ótimo, você vai se divertir muito. – disse ela e em seguida olhou para Sam – E o que vão fazer com o cão?

Meu pai então nos deixou sozinhas, dizendo ter se esquecido de pegar as chaves do carro, foi o suficiente para começarmos a brigar.

- Não se preocupe, detestável, – falei com raiva – o cão vem comigo.

- Acho bom mesmo, garota insolente. – respondeu ela, soltando farpas – Porque não aproveita e fica para sempre com a sua vovozinha? Não vai fazer falta nenhuma

- Talvez, se eu não tiver que ver essa sua cara nojenta nunca mais.

- Por que você não se olha no espelho então? – ela disse, emanando ódio – Você não passa de uma garota selvagem e disléxica, imbecil a ponto de conversar com um cachorro! Deve ser por isso que sua mamãe abandonou você e nunca deu as caras, ela deve ter tanto orgulho!

Layla interrompeu a si mesma quando meu pai voltou com as chaves e voltou ao seu teatro habitual.

- A propósito, querida – ela começou – eu peguei o correio hoje e isso é para você.

Ela me entregou um pequeno pacote de papel pardo no qual eu pude ler o endereço do remetente:

Monte Olimpo

600o andar

Edifício Empire State

Nova York, NY

Rapidamente percebi que não poderia deixar Layla ler aquele embrulho com atenção e o guardei no bolso da calça para abri-lo mais tarde. Depois de nos “despedirmos” de Layla, meu pai, Sam e eu entramos no elevador e quando chegamos à garagem, todos entramos no carro.

Deixei minha mente vaguear enquanto meu pai dirigia. Pensei em como seria o acampamento, os campistas, como seria bom ficar longe de Layla e como sentiria falta do meu pai. Depois de algum tempo, meu pai parou.

- Já chegamos? – perguntei

“Até que enfim!” resmungou Sam

- Estamos bem perto – meu pai respondeu – Que eu me lembre é só subir essa colina e você encontrará o acampamento.

- Ok, então é aqui que nós descemos, Sam. – falei, abrindo a porta e saindo do carro

- Espere! – meu pai chamou pelas minhas costas – Eu vou com você até lá.

- Você não pode entrar no acampamento pai. – respondi, casualmente – Não se preocupe, eu posso chegar lá sozinha.

- Se você prefere assim, então adeus filha.

- Tchau pai, se cuida – nos abraçamos e depois fiquei olhando o carro até que desaparecesse no horizonte.

Ajeitei a mochila nas costas e me virei para Sam.

- É companheiro, agora estamos por nossa conta e risco.

“Vamos nos dar bem, tenho certeza.” Ele falou e então começamos a caminhada, que eu pensei que seria breve. Não foi.

Mal havíamos começado a andar quando ouvi alguém se mexer entre as arvores. Olhei ao redor, não vi nada e continuei a andar. Foi então que algo saltou para cima nós. Não precisei nem pensar para concluir que era um monstro. Uma criatura estranha com cabeça e corpo de mulher e asas e patas de ave. Sam foi mais rápido do que eu, saltou rapidamente e tentou morder o monstro mas foi atingido por uma de suas garras e lançado para longe. Tentei correr até ele, mas a criatura me prendeu contra o chão, pronta para me matar. Fechei os olhos com força, me preparando para o golpe.

Mas algo aconteceu e o monstro me largou. Ele tombou no chão e então pude ver que havia uma adaga de bronze enterrada em suas costas antes dele se desfazer em pó.

- E então? - Perguntou a voz de um garoto encostado presuncosamente em uma árvore e com uma adaga igual a que estava ao meu lado nas mãos. – Você vai me dizer quem diabos você é?

Theodore’s POV

Mesmo eu tendo a ajudado, a garota me respondeu com impertinência:

- Eu não tenho que te dizer droga nenhuma, ok?

Eu ri, analisando-a. Ela era bonita, tinha cabelos castanho avermelhados e olhos tão cinzentos que quase chegavam a ser prateados. Mas o mais estranho é que ela não parecia assustada por ter acabado de ser atacada por uma harpia furiosa, o que seria normal para pelo menos 70% das garotas que eu conheço.

- Não, não tem. Mas devido ao simples fato de que eu acabei de salvar a sua vida eu acredito que tenho o direito de fazer algumas perguntas.

Ok, agora ela ficou irritada.

- Acontece que, pra seu governo, eu tinha tudo sob controle.

- Não do meu ponto de vista – respondi.

- Então abra os olhos! – Ela gritou de volta, se levantando e correndo em direção ao cachorro que estava caído a alguns metros. – Sam! Sam, pode me ouvir?

O labrador rosnou baixinho e ela pareceu aliviada. Eu caminhei para perto dela e ela saltou rapidamente, colocando-se na defensiva.

- Calma! – exclamei – Eu só quero a minha adaga de volta, posso?

Pela primeira vez, quem pareceu me analisar foi ela.

- Quem é você? – Ela perguntou, desconfiada.

- Se você não vai me dizer o seu nome então não tenho que dizer o meu também.

Ela cruzou os braços, parecendo ainda mais emburrada. Mas acabou cedendo.

- Alexia Wicket. – falou ela – Satisfeito agora?

- Muito. – respondi com um sorriso – Meu nome é Theodore Cooper, mas meus irmãos me chamam só de Theo.

- Legal – respondeu ela com desinteresse, examinando o cachorro no chão.

De repente ela se levantou e se virou rapidamente para mim.

- Espere um pouco! Você é um meio sangue?

Eu já havia adivinhado que ela era uma de nós, afinal, monstros não atacam pessoas por esporte e principalmente, não atacam qualquer pessoa. Então respondi sem receio:

- Líder dos filhos de Apolo a seu dispor. E você?

- Eu o quê? – devolveu ela.

- É filha de quem? – respondi, revirando os olhos.

- Ahnn... – ela pareceu desconfortável – Eu não sei quem é a minha mãe. Por isso estou aqui, eu esperava que alguém no acampamento pudesse me dizer.

O quê? Como ela pode não saber quem é sua mãe olimpiana? Há anos o acampamento não recebe semideuses não reconhecidos, graças a uma pequena cortesia de Percy Jackson. ”Isso é muito estranho.”

Eu olhei ao redor e em seguida chamei-a.

- Vamos sair daqui. Estamos Além dos limites do acampamento, não é seguro para nós. – comecei a andar de volta de onde tinha vindo. – Pelo menos uma dúzia de monstros já devem ter sentido nosso cheiro.

Ela correu até o cachorro.

- Sam, temos que sair daqui. Vamos! Levante.

Não pude conter uma risada enquanto o labrador se levantava e nos seguíamos até a entrada do acampamento.

- Você fala com ele como se ele realmente pudesse entender.

Ela pareceu um pouco ofendida. E surpresa.

- Ele pode. Como poderia responder se não entendesse?

- Você consegue entendê-lo? – perguntei, franzindo o cenho. Nunca tinha ouvido falar de nenhum meio sangue que falasse cachorrês.

- Você não? – ela estranhou – Meu pai sempre achou que esse era um dos poderes que herdei da minha mãe. Achei que todos os semideuses podiam.

O cão latiu algumas vezes, me olhando com hostilidade.

- O que ele disse agora? – perguntei

- Eu não vou traduzir. – ela falou, rindo – Não foi educado, mas se eu fosse você dormiria de portas trancadas essa noite.

Não pude deixar de rir também, me perguntando se levaria o aviso a sério. Foi quando atravessamos a entrada do acampamento que eu percebi.

- Alexia, tem alguma coisa caindo do seu bolso.

Ela pegou o objeto do bolso e o analisou

- Ah, é só o meu... sei lá. O que você acha que pode ser isso? – ela perguntou, estendendo-o para mim.

Eu o peguei e constatei que era um pequeno pacote, endereçado do Olimpo.

- Ei, isso veio do Olimpo! – falei com empolgação – Talvez nos ajude a descobrir quem é sua mãe.

Ela pegou o pacote da minha mão, abriu e tirou o que havia dentro. Era um colar todo de prata com um pingente que me chamou a atenção. Tinha a forma de um arco com uma flecha atravessada.

- É lindo! – ela falou, enquanto colocava-o no pescoço – pelo menos a minha mãe sabe dar presentes, não é?

- É, acho que sim. – Falei. Ela não parecia uma filha de Apolo e ela havia dito que sua mãe era uma deusa, mas então, porque um arco? – O que será que ele faz?

- Como assim? – ela pareceu curiosa

- Um colar num pacote vindo do Olimpo? É obvio que é um objeto mágico.

Pensei um pouco e então, com um rápido puxão, arranquei o pingente do pescoço dela.

- Ei! Por que você... – Ela começou, mas parou quando deixei o pingente cair no chão e lá ele cresceu até se transformar em um arco de verdade, todo de prata e cravejado de cristais e uma aljava completa de flechas do mesmo material.

- Incrível! – ela exclamou, pegando o arco e a aljava do chão enquanto o cachorro latia como um doido ao seu lado – É maravilhoso! E esquisito, ao mesmo tempo.

Sim, era muito esquisito mesmo porque, para mim, não havia mais a menor duvida:

- Alexia, você é filha de Ártemis!