The Way I Loved You
Remembering You
Long Island, 2005.
Rachel estava sentada na varanda de sua casa folheando uma Vogue francesa. Seus cabelos grisalhos estavam cortados rente ao queixo num corte chanel muito elegante; seu terninho de tweed perfeitamente costurado estava coberto por um longo casaco bege Burberry e seus pés estavam calçados com uma sapatilha de bico fino.
Jesse estava atrasado, como sempre; nos últimos anos seu esposo estava vivendo num ritmo cada vez mais lento – o que a deixava preocupada. Até aquele momento, o passar dos anos nunca a tinham assustado tanto: no auge de seus oitenta e sete anos, ele começara a confundir os nomes dos netos, dos filhos e até chegou a se perder enquanto fazia sua caminhada matinal na beira da praia, a quinhentos metros de sua casa.
Enquanto folheava sua revista, sua neta, Carolyn, apareceu nos degraus da porta da frente junto com seu noivo, Brandon. Não soube dizer o que de imediato, mas aquele rapaz lembrou-lhe certo alguém de sua juventude. O que era muito estranho, já que tinha visto Brandon muitas vezes e isso nunca lhe ocorreu; talvez não houvesse reparado da primeira vez. De repente sua vida em Ohio – que parecia ter acontecido há um milhão de anos – tomou sua mente; um sorriso com covinhas povoou seus pensamentos naquele instante, e o mundo pareceu parar de girar.
“O que foi, Nana?”, indagou a garota, que lhe chamava carinhosamente assim desde que se conhecia por gente.
“Hã? Nada, nada... É que você” – disse apontando seu dedo fino e enrugado para o rapaz – “me lembra alguém que eu conheci”.
Brandon sorriu e chegou mais perto para lhe apertar a mão. “É um prazer revê-la, senhora St. James”, disse ele.
“Gostaria de felicitá-los pelo casamento”, disse Rachel enquanto chegava perto de Carolyn e Brandon e os abraçava calorosamente. “A união de vocês me faz muito, muito feliz”.
“Obrigada, Nana” - disse a neta em um sussurro. “Sua aprovação é muito importante para mim”.
“Muito obrigada, senhora St. James” – disse Brandon.
Rachel sorriu diante da cena e se conteve para que lágrimas não rolassem pelo rosto. Carolyn era sua neta mais velha; não era a única, mas com certeza era a mais próxima dela. Os gêmeos de sua filha caçula, Harmony - Mason e Madison - eram muito jovens e barulhentos, e Rachel não os compreendia muito bem. Já Carolyn sempre esteve por perto – até fez faculdade em Nova York para não ficar longe da família. Vê-la crescer e se tornar aquela mulher admirável era um sonho que se tornou realidade para Rachel.
“Como está o vovô?” - indagou Carolyn. Brandon estendeu o braço para Rachel e ela aceitou de bom grado.
“Ah, cada vez mais lento” – respondeu-lhe a avó com um tom rabugento na voz. “Estou a uma hora esperando ele se arrumar”.
“Não tem problema, ainda temos tempo” – respondeu sua neta. “Ah, oi vovô!”
Rachel olhou na sala de TV e viu Jesse sentado em sua poltrona assistindo a um jogo de futebol.
“Jesse! Eu estou a uma hora te esperando lá fora, morrendo de frio!” - exclamou Rachel em um tom raivoso.
“Ué, querida, por que não entrou? O aquecedor está ligado” – respondeu ele num tom que beirava a cinismo enquanto se levantava para cumprimentar as visitas.
“Quanto mais velho, mais cara de pau” – rebateu Rachel parecendo nervosa enquanto Carolyn ria e Brandon se aconchegava no sofá para assistir ao jogo.
“Vá tomar banho ou vamos nos atrasar” – exclamou Rachel tentando parecer irritada, mas Jesse sorriu e lhe beijou a testa enquanto ria baixinho.
“Velho cínico” – sibilou ela. Quase no mesmo instante, lembrou-se o porquê havia ligado para sua neta pedindo carona ao invés de chamar por sua filha mais velha, Marley – mãe de Carolyn –, que morava a poucas quadras dali.
“Querida” – chamou ela, como se lembrasse de algo. “Lembra-se, ao telefone... Eu disse que tinha um presente para você. Vamos lá no meu quarto, eu vou te mostrar”.
“Claro!” – exclamou Carolyn surpresa e acompanhando a avó pelas escadas.
Um minuto depois ambas estavam no quarto no andar de cima da casa. Carolyn sempre ficava encantada com o quarto da avó: aquelas de fotos de suas apresentações na Broadway sempre a deslumbrava, como se fosse a primeira vez que as visse. Lembrou-se de quando era pequena e brincava de ser como sua avó, usando suas joias e vestidos por horas a fio. Recordou-se também de uma vez que estava mexendo em suas coisas quando encontrou um lindo colar de ouro com pingente em formato de coração; quando abriu, a foto de um rapaz jovem e bonito lhe chamou a atenção. Ela não fazia ideia de quem era aquele estranho, e ao indagar a avó, esta desconversou e pediu-lhe encarecidamente para não mexer mais ali. Não entendeu o porquê, mas obedeceu prontamente. Por mais que fosse amorosa, sua avó era muito firme e sua pessoa a intimidava. Quando crescesse, não sabia o que seria ou o que aconteceria ao seu futuro, mas tinha certeza de que queria ser igual a ela.
“O que foi?” – indagou Carolyn sentando-se na beirada da cama. Rachel sorriu para ela e colocou em sua mão aquele mesmo pingente que ela se lembrava de suas recordações infantis.
“Nana... mas por que...?” – perguntou com incredulidade e surpresa.
“A pessoa que me presenteou com esse pingente me fez prometer que um dia eu o daria a alguém especial. Bem, esse dia chegou”.
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