The Way Back Home

The Wedding – part II


Point Place

29 de maio de 1983

Dawn

A palavra bêbado talvez fosse um exagero, mas Hyde certamente se sentia estranho, tonto. Talvez ele tivesse bebido cervejas demais, mas era o casamento de Forman, droga! Ele estava feliz por ver seus amigos reunidos e se divertindo como a alguns anos atrás, quando a vida era boa e simples. Hyde também estava feliz por vê-la. Ele não via Jackie desde o casamento de Kelso. E isso fazia quase dois anos. Na época, ela não parecia tão segura e madura. Claro que ela fez de tudo pra transparecer estar super bem Chicago, mas Hyde a conhecia bem o suficiente para saber que ela não estava indo tão bem assim. E aquilo meio que o fez se sentir bem.

Mas agora... Droga, ela estava linda. Quer dizer, ela sempre fora linda, mas havia algo de diferente, algo que ele não soube classificar. Hyde riu, assistindo a ela dançar desengonçadamente (daquele jeito que apenas Jackie bêbada poderia dançar). Ele estava escorado no pilar enfeitado, com uma mão no bolso da calça e outra segurando sua cerveja.

Por alguns meses ele realmente achou que podia te-la de volta. Quer dizer, depois que ele "se divorciou" de Samantha, talvez ele tivesse mais uma chance. E mesmo quando ela e Fez começaram aquilo, Hyde sabia... Ele apenas sabia que não era real. Mas então ela foi embora e bem, a vida foi acontecendo e tudo já tinha ficado pra trás. Mas por mais que ele tivesse passado os últimos três anos repetindo para si mesmo que a havia esquecido, vê-la novamente só fazia com que ele se sentisse patético. Jackie tinha sido a melhor coisa em sua vida inteira e ele tinha estragado tudo, pra variar. Agora tudo que ele podia fazer era assisti-la dançar de longe.

— Dança comigo, dindo? - Betsy surgiu a sua frente, saltitante, com sua vozinha de bebê. Ela, na verdade, era a pessoa que mais se divertia naquela festa. As bochechas redondas estavam avermelhadas e seus cachos castanhos balançavam com seus pulinhos.

— Claro, anjo. - Ele a ergueu do chão e levantou sobra sua cabeça, impulsionando-a para cima algumas vezes. A risada infantil se sobressaiu à música.

Hyde rodou com ela em seu colo até o meio da pista, onde ficou se balançando pateticamente pelas próximas quatro músicas. Até que Betsy se cansou e quis descer para sair correndo em disparada. Já que estava ali, Hyde decidiu dançar um pouco e se juntar aos amigos.

Mas no minuto seguinte ele descobriu que ficar ali era impossível. Jackie não mais dançava de maneira engraçada, agora ela mexia o corpo pequeno em ondas lentas, rebolando o quadril enquanto seu cabelo balançava de uma maneira hipnótica. Ele não conseguia tirar seus olhos dela e por um momento ele se perguntou se ela não estava o seduzindo de propósito. Na verdade, ele tinha certeza. E aquilo meio que o enlouqueceu. É possível que ele tenha se aproximado mais, mesmo sem perceber. Ela estava muito sensual, merda, e seu perfume o estava deixando inebriado. Hyde se aproximou um pouco mais e teve que conter suas mãos para não a segurar na cintura fina. Cintura que uma vez ele tinha o poder de tocar. De segurar. Era um desastre, mais um pouco ele teria uma ereção, uma maldita ereção como um maldito adolescente. E depois deste pensamento horrível, ele decidiu sentar-se um pouco.

Já era tarde quando o salão começava a esvaziar. Fez dormia sobre a mesa e Brooke tentava enfiar Kelso bêbado dentro do carro, onde Betsy já estava adormecida no banco de trás. Donna e Eric conversavam em um pequeno sofá do outro lado do salão, Donna tinha as pernas sobre o colo do marido. Ambos pareciam exaustos, mas felizes. Hyde correu seus olhos pelo salão em busca dela, fazia algum tempo que tinha a perdido de vista.

Então ele a localizou, sapatos numa mão, uma garrafa de champanhe em outra, passos cambaleantes em direção a saída. Onde ela iria ficar, no Hotel? Será que iria dirigir? Hyde levantou-se num impulso e apressou seu passo para alcançá-la.

— Jackie? - Ele chamou quando se aproximava dela, já na rua. Ela virou seu corpo para ele, balançando os cabelos escuros e agora longos.

— Steven! - Jackie se jogou para ele, que mal teve tempo de apanhá-la. - Oh, Steven! – Riu sozinha. - Acho que estou bêbada.

— É? Bem, eu tenho certeza. - Ela riu ainda mais, cruzando os braços pequenos pelo corpo dele.

— Quer um pouco? - Estendendo a garrafa para ele.

— Claro, baby, me dê aqui. - O homem pegou a garrafa da mão dela e discretamente deixou sobre a mureta da entrada, ainda a mantendo sob seu braço esquerdo.

— Onde estava indo? - Perguntou.

— Como assim? - Ela pareceu confusa. - Estava indo para casa.

— Chicago?

— Oh! - Jackie afastou-se dele e encarou a rua escura por um tempo, na direção da antiga casa dos Burkharts, soltando um longo suspiro.

— Está tudo bem, baby. Vem, vamos até a casa dos Formans.

Hyde a puxou levemente pela mão e ambos caminharam pela calçada. Jackie deixou seu peso cair sobre o corpo dele e o homem a acomodou novamente sob si, acariciando levemente a pele do braço desnudo dela com a mão.

— Steven? - Ela o chamou baixo, depois de alguns minutos em silêncio.

— Sim.

— Eu sinto sua falta. - Jackie suspirou, fazendo as entranhas do homem se revirarem. - Tanto.

— Também sinto sua falta, Jackie.

Silêncio.

— Eu gostaria que pudéssemos voltar, sabe? No tempo, quero dizer. - Ela começou.

— Yeah. - A voz dele estava rouca e grave, como se alguma coisa incomodasse sua garganta. - Eu sei.

Silêncio.

— Mas você está bem, cara. - Ele a trouxe mais perto, movimentando a mão mais energicamente.

— Não, eu não estou.

— Qual é, Jackie?

— Estou sozinha. Steven, eu estou totalmente sozinha.

— Hey! - Ele parou de caminhar e a fez olhar para ele, tocando levemente seu queixo. - Você tem Kelso e Brooke, não tem?

— É, eu acho. Mas eles são uma família. - Hyde ficou em silêncio um instante, então ela perguntou, com a língua enrolada. - Entende?

— E os seus amigos, você sabe, da tv? - Ele arriscou.

— Eles são um bando de idiotas... E eu gostaria que... eu... - Ela desviou seus olhos dos dele, calando-se.

— O quê? - Hyde levantou seu rosto novamente. Os dois ficaram se olhando por um longo momento. Já começava a ficar difícil para Hyde manter a respiração controlada, manter as mãos longe dela.

Jackie se aproximou lentamente dele. Steven percebeu com clareza o que ela pretendia quando a mulher elevou seu corpo, ficando na ponta nos pés e se inclinando para ele. Hyde se aproximou mais e baixou um pouco a cabeça, e esperou. Ela não parecia ter certeza, mas ainda o mirava no fundo dos olhos, fundo na sua alma. E Hyde apenas esperou. Até que a pequena tocou a boca em seu lábio inferior com um beijo delicado e em seguida se afastou um pouco, sem descravar seus grandes olhos dele. Jackie estava esperando por ele, agora.

Então Steven a beijou. Com as duas mãos, ele segurou a face dela com firmeza e carinho e a beijou devagar. Saboreou lentamente cada gosto dela. E foi como voltar para casa depois de uma longa e terrível viagem. Parecia tão certo. Ele nunca pensou que fosse sentir aqueles lábios novamente. Eram doces e bem desenhados. Eram deliciosos. Exatamente como ele recordava. O beijo se tornou mais profundo e ele desceu suas mãos para o pescoço dela. Jackie largou os sapatos que segurava com uma mão e o tocou, subindo as mãos delicadas pelos seus braços e as deixando em seus ombros. Seu toque era como fogo e acendeu partes dele que estiveram adormecidas por muito tempo.

— Eu quero você, Steven. - Ela sussurrou contra os lábios dele. E aquilo o ascendeu como gasolina em fogo baixo.

Com o braço direito ele a circulou pela cintura e a levantou do chão, caminhando depois. Jackie riu, deixando a cabeça pender sobre seu ombro.

—Oh! Meus sapatos! - Steven olhou para trás e viu os pequenos calçados deixados na calçada.

Ele deu meia volta e caminhou até eles, colocando-a no chão para apanhá-los e a erguendo novamente depois. A casa dos Formans não estava longe e ele andou com ela erguida em seu braço até lá. Mesmo que Jackie protestasse e pedisse para por ela no chão, seu riso leve lhe dizia ao contrário. E quando o corpo dela ficou amolecido e a cabeça pesou em seu ombro, Hyde soube que ela havia adormecido.

Ele a ajeitou melhor em seu colo e subiu as escadas com ela. O antigo quarto de Laurie já estava ocupado então ele foi direto para o de Eric. Hyde a deixou na cama e pegou um edredom para cobri-la.

— Stev? - Ela o chamou com um tom manhoso, enrolando a língua e afundando-se mais no edredom.

— Hm? - Ele sussurrou de volta, sentando-se na beira da cama e afastando os cabelos do rosto delicado.

Ela tinha os olhos fechados e o semblante sereno. Jackie ficou tão quieta que ele teve dúvidas se ela estava realmente acordada.

— Eu ainda... - Balbuciou, mas as palavras ficaram no ar e foram desaparecendo a medida em que ela adormecia de vez.

— Ainda o quê? - Ele perguntou, mas ela já tinha adormecido.