The Way Back Home

The Feeling of Familiarity


Point Place

11 de janeiro de 1984

Madrugada

Estava frio, então Hyde se cobriu com uma manta velha enquanto preparava o baseado. Depois de vomitar terrivelmente, Jackie despereceu. Ele imaginou que ela tivesse ido dormir, por isso ele se surpreendeu quando viu os pequenos pés descendo as escadas até o porão.

—Te trouxe um chá. - Ela disse, estendendo para a ele a caneca fumegante.

—Chá?

—Sim, Steven. Chá. - Jackie se aborreceu. - Agora, beba.

Era melhor beber, de qualquer forma. Deus, ele tinha esquecido como ela era mandona. Jackie sentou-se ao lado dele no sofá e ele a cobriu com a outra ponta da manta. Eles ficaram quietos um momento, enquanto ele bebia o chá. Quando terminou, ele deixou a caneca sobre a mesa em frente ao sofá. Havia um clima de estranheza e familiaridade no ar, e isso era igualmente bom e ruim. Depois de acender e tragar algumas vezes, ele passou o cigarro para ela.

—Deus, como senti falta disso! - A morena falou, soltando a fumaça devagar. Era uma visão e tanto. - Não consigo nem lembrar a última vez que fumei.

—Sério? Cara, eu não conseguiria viver assim. - Jackie sorriu, ela parecia cansada. E linda.

—Você, definitivamente, não conseguiria. - Tragou mais uma vez. - Wow, esse negócio é mesmo bom, Steven.

—Bem, é melhor do que aquilo que costumávamos fumar.

Eles fumaram em silêncio por mais um tempo.

—Alguma coisa mudou depois que eu saí? - Ela assentiu, trazendo as pernas para cima do sofá e se acomodando mais fundo nele.

—Kitty acordou. Ela estava bem quando vim pra cá.

—Isso é bom. - A voz de Hyde saiu engraçada, por ele estar mantendo a fumaça. - E Brooke?

—Oh, ela ainda estava em trabalho de parto quando Michael ligou. - Jackie sorriu. - Jessica deve chegar a qualquer momento.

—Duas meninas! - O homem riu. - Kelso realmente está pagando suas dívidas.

Yeah... - A morena tinha um sorriso preguiçoso e nostálgico no rosto. - E Betsy está ficando muito boa com suas queimadas.

—Claro que ela está! Ela é um tipo de Kelso melhorado. - Ambos riram, um tanto letárgicos.

Silêncio, enquanto o baseado era passado mais um par de vezes.

—Hey, Jackie... Obrigado por... me ajudar antes. - A voz dele saiu mais grave.

—Eu estou aqui por você. - Ela o olhou, com aqueles grandes redondos olhos, um pouco avermelhados e cheios de sono. E então Hyde viu aquela mesma faísca de esperança que ele tinha visto nos olhos dela no casamento de Forman.

—Você devia descansar. - Ele disse.

Yeah. - Ela suspirou, tornando seu olhar para frente novamente. - Você vai ficar bem aqui?

—Claro, não se preocupe.

—Acho que vou subir então.

No entanto, ela não se moveu e Hyde notou que ela dormira ali, com a cabeça no braço do sofá e as pernas encolhidas. Ele certamente deveria acordá-la e dizer para que deitasse em uma cama. Mas, de novo, havia algo de familiar naquilo. E ele realmente queria manter aquela sensação o máximo que pudesse. Então ele esticou as pernas dela sobre seu colo (ela era tão pequena que foi muito simples acomodá-la) e se ajeitou melhor entre o sofá e a mesa, arrumando a manta de forma que cobrisse os dois. Não demorou muito para que o sono lhe atingisse também.

**

Point Place

11 de janeiro de 1984

Manhã

A dor no pescoço foi a primeira coisa que ela notou ao acordar. Jackie dormira no sofá por algumas horas, pelo menos o suficiente para amanhecer o dia. Steven não estava em qualquer lugar para ser visto, então ela apenas levantou. Ao abrir a porta que dava pra cozinha, ela sentiu um cheiro maravilhoso.

Hey. Você acordou. – Hyde estava de pé em frente ao fogão, empilhando uma quantidade considerável de panquecas. Ele parecia bem e... Bonito. – Tem café na térmica.

—Obrigada. Hamm, acho que eu apenas adormeci no sofá.

Yeah. – Ele sorriu um daqueles antigos sorrisos. – Eu também.

— Você também? – O homem assentiu. – No sofá? Oh Deus, deve ter sido terrível.

— Na verdade não. – Ele deu de ombros, colocando uma panqueca quente no prato na frente dela. O que aquilo queria dizer? – Eu pensei em levar algumas panquecas pro hospital.

— Parece bom. Huum, o gosto também é bom. – Ela disse de boca cheia. – Tudo que você faz na cozinha é bom.

Oh! Jackie corou com a lembrança instantânea deles transando, bem ali sobre a bancada da pia. E talvez Steven tenha tido a mesma lembrança, por que agora ele ria com a cabeça baixa. Mesmo constrangida, ela só pôde sorrir quando viu ele sacudir os ombros, tentando não demonstrar que estava rindo.

— Ok! Ok! Pare de rir, seu canalha.

Hyde a olhou com aqueles olhos azuis e ela podia jurar que havia qualquer coisa de diferente neles.

— Hamm, eu vou tomar um banho rápido e podemos ir.

— Ok. Eu te espero.

Eles foram no carro dela e de repente toda aquela intimidade estranha que eles dividiram na casa dos Forman se evaporou, sobrando apenas um grande desconforto enquanto eles iam em silêncio até o hospital.

Jackie sentia uma agitação em seu estômago e por mais que ela repetisse pra si mesma que nada estava acontecendo, ela não conseguia parar de pensar que alguma coisa estava acontecendo.

O café da manhã que Steven preparou foi mais que bem recebido e Eric, Donna e Kitty comeram praticamente tudo. Red estava na mesma situação, então Eric levou sua mãe para descansar um pouco em casa. A manhã passou lenta e silenciosa. Quando a fome reapareceu, Donna e Jackie deixaram o hospital para procurar uma lanchonete próxima.

—Hyde parece melhor. - Donna falou entre uma mordida e outra no seu hambúrguer. Jackie concordou, mordendo seu próprio lanche. - Eu estava preocupada com ele.

—Ele teve um daqueles episódios em que não consegue respirar, sabe?

—Jesus, ele estava mal assim? - A morena assentiu mais uma vez. - O que aconteceu?

—Oh, eu o acalmei e depois ele vomitou.

Donna prendeu um riso na garganta. - Oh, Hyde.

Elas ficaram em silêncio, ocupadas em mastigar. Jackie nem reparou que a amiga a encarava fixamente.

—Vocês conversaram... ou sei lá?

—Ah, só o normal.

—Claro. - A morena levantou os olhos e achou que Donna parecia tramar algo.

—Mas me conte sobre Andrew.

Andrew. Ela se deu conta de que não havia sentido falta dele ainda.

—Oh, você já o conhece.

—Sim, Jackie. Mas vocês vão se casar. Quer dizer, ele vai ser parte da gangue agora.

Aquele pensamento não tinha lhe ocorrido até o momento.

—É, eu acho. - Jackie limpou a garganta e encarou a amiga. - Ele é realmente ótimo. Nós estamos muito felizes. - Aquilo soou estranho, mas ela não entendeu por que.

—Claro que estão, é o seu sonho, certo? - Por que ela se sentia tão desconfortável falando sobre isso com Donna? Quer dizer, ela tinha conversado com Fiona um monte de vezes.

—Certo. Você terminou?

—Hã? - Donna parecia perdida.

—De almoçar, terminou?

—Oh, sim. Sim.

— Então vamos!

— Jackie? – A ruiva segurou sua mão sobre a mesa, antes que ela pudesse levantar. – Você tá esquisita.

— Não, não estou.

— Você tem certeza sobre o casamento? – Mas que inferno!

— Claro, Donna. Seus pés gigantes estão drenando todo sangue do seu cérebro?

— Bem... OK, certo. Me desculpe.

...

— Mas você o ama?

Ela amava Andrew?

— Com certeza.

A mente da garota era um tumulto de pensamentos. E por mais que a saúde de Red estivesse no topo, ela constantemente se pegava pensando em sua conversa com Donna mais cedo. Quer dizer, é claro que ela amava Andrew. Ele era doce e bonito, tinha uma ótima família e a tinha colocado em primeiro lugar. Ele arriscou a chance dele para conseguir um emprego pra ela apenas para que eles pudessem ficar juntos. Deus, o que mais ela podia querer?

Laurie chegou no início da noite, como se tivesse vindo direto de uma festa ou coisa assim. Tudo ficou meio bagunçado quando todos estavam no hospital ao mesmo tempo e Jackie escapou de fininho. Ela dirigiu em modo automático, sem registrar o caminho. Da mesma forma, tomou um banho quente e vestiu roupas mais confortáveis. Bem, confortáveis sem ser bregas, é claro.

Sua mente era um caos e seu coração parecia pequeno em seu peito. Mas ela não queria saber por que. Apenas a desconfiança já a machucava demais.

Quando desceu as escadas para a sala, Steven e Laurie chegavam juntos.

—Jackie? - A loira se surpreendeu em vê-la ali.

—Ah, Jackie está ficando aqui por enquanto. - Hyde esclareceu.

—Ah. Ok. - Laurie deu de ombros. - Eu vou subir, estou muito cansada.

—Só... eu tenho algumas coisas no seu quarto. Eu vou buscar.

Jackie subiu as escadas rapidamente e logo em seguida as desceu carregando sua mala consigo.

—Você tem onde ficar? - A irmã mais velha perguntou, com uma cara de quem não se importa de verdade.

—A gente dá um jeito. - Steven respondeu, atraindo o olhar de ambas.

—Tudo bem então.

—Está com fome? - Hyde perguntou depois que Laurie desapareceu das escadas.

—Sim. - Jackie sorriu, cruzando os braços em frente ao corpo.

—Vou preparar algo pra gente. - Ele disse ao cruzar a porta para a cozinha.

—Eu posso comer um sanduiche. - Ela o seguiu.

—Tudo bem, eu não me importo. - Respondeu, começando a remexer na geladeira.

Jackie sentou na mesa e ficou ali o assistindo cozinhar. Ele tinha uma maneira muito específica de se movimentar, um jeito de usar as mãos. Era meio hipnótico. Quando ele se sentou na mesa com ela, a comida cheirava bem. Steven sempre fora bom nisso de cozinhar. Qualquer coisa que ele cozinhava, mesmo simples, tinha o dom de ser delicioso. E agora, aquele mac'n'cheese parecia ser a melhor coisa que ela já comera em anos.

—Oh meu deus, Steven! - Ela suspirou de olhos fechados. - Eu realmente senti saudade da sua comida.

—E eu realmente senti saudade de você.

O sorriso que ela tinha no rosto desapareceu lentamente conforme ela abriu os olhos devagar. Steven a olhava com aquela mesma intensidade de mais cedo. E ela sentiu o desconforto de ter seu coração se revirando dentro do seu peito. Batendo no ritmo daquela mesma canção de sempre.

Ela estava ferrada.