The Walk of The Valkyrie

Capítulo VII - O Resgate do Soldado Ryan


Hilde gesticulou com a cabeça em minha direção. Caspian passou o braço em volta do seu ombro e ao contrário de Hilde, ele não tentou esconder o sorriso. Passei os dedos no meu cabelo. Minhas chances estavam entre ruins e péssimas. “Eu deveria ter me oferecido para esperar o trem com ela!”. Me juntei a eles.

— Edmundo? Não está se sentindo cansado? Ouvi alguns homens de Frederick elogiando suas habilidades de luta. Treinou com Hilde? Ela não foi violenta demais, foi? - Caspian me atropelou com perguntas. Hilde deu-lhe uma cotovelada. Ele reclamou baixinho e ficou massageando o local atingindo.

Neguei com a cabeça.

— Estava tentando conversar com Hilde já que ela veio da minha terra natal, também - Suspirei. Desde que voltamos, estou tentando conversar com ela, mas nem utilizando a desculpa de conterrâneo tem funcionado em tirar mais que poucas palavras dela.

— Não ligue pra ele, Majestade. Não sou violenta coisa nenhuma! Ele que é um molenga! – Hilde protestou.

Eles discutiram alguns segundos. Fiquei observando nesse curto tempo. Eu invejei Caspian. Não importa o que ele falasse ou fizesse, ele sempre conseguia a atenção de Hilde. Completamente o meu oposto.

— Edmundo, a invasão será daqui a dois dias tem certeza que não vai ser arriscado? - Perguntou Caspian. Eu já sabia a posição dele. Ele questionou Pedro também.

— É arriscado! - Nem eu mesmo estava feliz com a ordem de Pedro, mas procurei pensar nos mínimos detalhes e tentar diminuir as chances de falhas o máximo possível. E não eram poucas

— Eu resumo para os dois a missão em algumas letras: S-U-I-C-Í-D-I-O. Pelo ou menos a burrice real não é passada de sangue. – Declarou, Hilde

— Obrigado! – por, enquanto o elogio era suficiente. Ou o quase elogio. Caspian saiu de mãos dadas com ela. Fui para minha tenda frustrado.

Lúcia tinha passado o dia conversando com o NCA (Nosso Caro Amiguinho), eles passavam todo o momento juntos desde que o salvamos dos thelmarinos. Assim como Lúcia, não duvidei da integridade dele. Os anões foram fiéis à Feiticeira Branca, assim como eu fui a certo momento. Lúcia entrou na minha tenda sorrindo como sempre. Ela queria me contar alguma coisa.

— Diga Rainha Lúcia... – Debochei. Ela cruzou os braços e alargou o sorriso.

— Edmundo, Hilde não gosta de meninos mal-humorados – senti minhas bochechas arderam.

— Como você...?

— Susana. – Ela contou. - Desde o dia que a gente a viu na estação, ela teve certeza. Não que você tenha escondido alguma coisa, tolinho! Susana disse que ela e Caspian nunca tiveram nada, você deveria falar com ela. – Sentou-se ao meu lado. Falar e levar um fora.

— Mas ela gosta dele. – sou realista. E, talvez, ele também goste dela. Senti minhas mãos suarem só por pensar nessa possibilidade, que não era tão distante.

— Sinto muito – ela descansou a cabeça em meu ombro.

[...]

Vesti minha armadura, já havia me esquecido do quanto é pesada. Peguei minha lanterna, suspirei me preparando para comandar as quimeras. Pedro queria essa invasão a qualquer custo, um pequeno erro e muitas vidas seriam ceifadas. Eu gosto de campos de batalhas, nunca tive problemas em estar neles, mas prefiro ações diplomáticas, mesmo que os floreios nas palavras entre governantes sejam tediosos, ainda poupam vidas. Uma das quimeras se ofereceu como minha companheira de batalha. Montar uma criatura mitológica não lembrava em nada meus cavalos.

No primeiro esquadrão estavam os centauros e os minotauros, logo atrás estavam os felinos e os cavalos com Caspian, Hilde e Pedro, e os anões e as pequenas criaturas. Meu esquadrão era o último devido ao tamanho das quimeras, embora o número de narnianos ainda fosse bastante pequeno em comparação ao nosso reinado.

Estiquei o pescoço tentando melhorar minha visão de Hilde, a armadura dela estava tão polida, que se fosse uma batalha a luz dia, seria chamativa devido ao brilho. Respirei fundo algumas vezes. As quimeras decolaram e ao contrário do que pensei não foi desconfortável. Se tudo ficar em paz, vou voar mais vezes.

[...]

Consegui pular, mas no pouso, cai por cima do soldado que estava de guarda. Perfeito! Economiza tempo e evita sangue derramado. Liguei e desliguei minha lanterna algumas vezes. O próximo grupo é do Ripchip. Hilde entraria junto com Caspian. Agora só preciso vigiar.

HILDE

Robert é um lindo cavalo árabe, em Londres, eu só o veria em um desfile da Família Real. Já montei até no Frederick,o meu desconforto é com a situação. Não consegui descansar o um minuto sequer. Essa invasão me deixou apreensiva. O desconforto dos meus pensamentos não se reflete no meu corpo, isso eu aprendi durante as aulas de montaria que tive Caspian e com alguns soldados thelmarinos. Uma única respiração errada em cima do cavalo e o cavaleiro ou a amazona estão sujeitos a uma queda tão fatal quanto a espada do inimigo encravada no peito. Toquei o punho da minha espada, procurando me concentrar, se algo der errado ela é minha amiga mais confiável, depois de Caspian.

— Mantenham a formação! - embora minha voz tenha saído baixa, tentei passei firmeza. Ninguém grita durante uma invasão em plena madrugada, tem que ser muito idiota. Se bem que tudo isso começou por causa de alguns reis idiotas e infelizmente não se restringe aos thelmarinos. INFERNO,Pedro! Tem dois planos que preciso seguir, o genocida dos antigos Reis e o meu. O segundo é ainda pior. Consiste em não deixar o Caspian fazer besteira, e essa besteira é ele tentar matar Miraz sozinho; o que não duvido. Não sei se fui eu que suspirei ou se foi Robert, independente de quem tenha sido o autor, o sentimento é o mesmo: tensão. Caspian se posicionou a minha direita e aguardamos o sinal do Rei Edmundo para entrar no castelo.

— Hil… Você acha que o plano de Pedro é seguro mesmo?- sussurrou Caspian. Apenas balancei a cabeça em negativo. Como Subtenente, eu sei que enviar tropas para uma batalha com o moral baixo é garantir a primeira derrota, a derrota da esperança de voltar para casa. Apontei com o queixo para que ele olhasse para frente. Felizmente, Caspian é inteligente para entender o recado. Assim que a lanterna piscou, eu assumi a frente do nosso pelotão.

(...)

Assim que desembainhei minha espada, um soldado veio correndo em minha direção e antes que ele se aproximasse de mim e de Robert, Finn, um leão da montanha, rasgou a garganta do thelmarino. A imagem era horrível, mas estranhamente, não pensei na minha frieza quanto ao sangue derramado, mas me senti em obrigação de ser grata com Finn. Nem mesmo pude convidá-lo para um chá e outro soldado veio correndo para o nosso lado,dessa vez fui que rasguei a garganta com minha espada. O mesmo aconteceu com Caspian, e assim foram dois, três, quatro soldados. E assim cada esquadrão foi entrando. Dispensei Robert para que me esperasse lá fora, ou Caspian,caso eu não voltasse viva.

Minha visão estava turva de tanto suor que caia nos meus olhos, poderia ter sido pior se eu, raramente não usasse minha trança. Meu joelho direito começara a doer, ao subir aos aposentos reais, fui ajudar com os guardas que estavam de vigia e um dos patifes, aproveitou para acertar o cabo da besta no meu joelho. Pelas estrelas, isso dói como no inferno. Óbvio que não fiquei em pé, mas antes que Caspian pensasse em baixar a guarda para me ajudar; chutei a virilha do infeliz, eu cuspi nos seus olhos quando se agachou urrando de dor e enfiei minha espada no seu peito.

(...)

Situação: Joelho e cabeça doendo. Não, eu não machuquei minha cabeça. Só. Não sei. Peso na consciência. Meu tio se sentiu assim na Guerra? Matei cinco homens e a sensação é de que dizimei uma nação inteira. O quinto foi o pior. Sempre imaginei que o problema é só primeiro inimigo que você “abate”, mas na verdade piora a cada vida que você ceifa. O último era um menino não muito mais velho que Caspian e eu, mas alguns séculos mais novos que os Reis e Rainhas. Ou seria a mesma coisa?!

—Hilde! – Caspian acabou chamando minha atenção- Você está bem? O seu joelho... - o sangue do meu joelho escorria até a bota da armadura, tingindo a prata em fios vermelhos. Sorri.

— Não é nada demais! Fred deve ter alguma erva que estanque o sangue o suficiente para gritar comigo porque sou desajeitada. - pisquei. A mentira soou fraca até para os meus ouvidos, o joelho tava com uma aparência de que ia inflamar, mas eu sabia que não era grave, afinal foi o cabo e não a lança do besta que o soldado me acertar, mas ainda assim, cavalgar acabara de se tornar uma nova missão.

— Você mente muito mal - acusou.

— Cala a boca, Caspian! - guardei minha espada e continuamos subindo às escadas.

Edmundo

Dizer que a invasão foi um fracasso é ser otimista. Fui salvar Pedro e acabei com cinco guardas disparando flechas na minha direção. Pedro tomou a decisão de recuar, tarde demais. Maldição! Tive que continuar correndo pelas escadarias da torre. Dois guardas estão quase me encurralando.

— Você não tem pra onde ir, moleque! – constatou o guarda. O seu companheiro começou a rir. Dei três passos em direção à parte mais alta. Os guardas ficaram surpresos quando subi. Acho que eles esperavam que eu me rendesse e fosse levado como prisioneiro de guerra. Fiquei um pouco trêmulo quando olhei para baixo. Poucos segundos. Abri um sorriso e pendi minhas costas. Pisquei. Senti meu corpo cair suavemente no dorso da minha companheira de batalha. A quimera que me trouxera até o castelo soltou um pio.

— Na hora certa! – corrigi minha postura e me segurei nas penas do seu pescoço. Ela ganhou mais altitude e acenei com a mão direita para os meus algozes, que gritavam atordoados me vendo voar em uma criatura que, tecnicamente, deveria estar extinta, ou nunca tem existido. Me dei conta que não sei o nome dela. Quando voltarmos às ruínas, vou procurar me apresentar de maneira correta. Ambos poderíamos ter sido mortos, ela sabe da minha família por conta do nosso período de reinado, mas eu ia morrer sem ao menos saber quem esteve comigo no campo de batalha.

Sobrevoamos toda a fortaleza do castelo. Os narnianos foram dizimados. A Quimera fez um piado estranho, talvez lamentasse pelos companheiros mortos. Os corpos todos empilhados. Todas as espécies tiveram alguma baixa. Avistamos os cavalos de Caspian e Pedro. Quando pousamos procurei por Susana e Hilde. Susana não sofrera nenhum ferimento. Poucos arranhões. Hilde xingava horrores.

Felizmente não estava ferida gravemente. Nunca vi alguém falar tantos palavrões. Ela esperneava com Pedro. Acho que se ela não estivesse em cima do cavalo, no mínimo já tinha espancado meu irmão. Por isso Frederick vive no pé dela!

— OKAY,SUA MAJESTADE! Onde. Está. O. Frederick? – um felino se sentou ao lado de Hilde. A trança estava frouxa e os fios grudavam em seu pescoço devido ao suor e ao sangue. Sim, sangue! Tinha cortes por volta do nariz, queixo e olhos. Ao contrário de Suzana,Hilde não luta á distância. Um centauro veio acalmá-la e contou que estavam ajudando Frederick. O centauro fraturou o ombro e tinha que tirá-lo rápido dali. O castelo já havia sido trancado e após Caspian apontar o seu antigo mestre, Hilde se calou,corrigiu a postura e saiu seguindo o leão da montanha.

(...)

Caspian e Pedro acusaram um a outro pelo o fracasso da missão. Na verdade a culpa de fato é de Pedro. Nos o avisamos sobre os riscos. Até Lúcia o advertiu. Os próprios narnianos ficaram divididos com a idéia. Em parte a culpa também é minha. Se tivesse estudado mais, talvez não tivessem morrido tantos em vão... Lá se vai minha chance de ter algum tipo de empatia de Hilde. Ela até ajudou nos curativos de Frederick e ajudou a segurá-lo, enquanto tentavam colocar o ombro no lugar para preparar a atadura.

Nem com Caspian ela trocou uma palavra, desde que o Professor Cornelius chegou. Que para a minha não tão surpresa assim, é um narniano. Meio – anão. Suspirei. Fui até a tenda improvisada que fizemos de enfermaria e fui visitar os feridos.

— Hil...como ele está? – diminui o tom da voz para não acordar Frederick. Hilde nem se deu o trabalho de olhar para o meu rosto.

— Vivo... Agradeço ao seu irmão pela tentativa de matá-lo. Nunca diga que foi acidente. Você mesmo planejou os pontos para o “Grande Rei” – lavou as mãos. Ao contrário de Pilatos, ela deixou bem clara a magoa sobre nós. Eddie, seu idiota!— Lucia trouxe o presente do Papai Noel, a fratura já está cicatrizando, ele só dormiu de exaustão. Assim que o dia nascer, ele vai está a postos para outra batalha inútil, majestade – completou. Ela nem ao menos percebeu que a chamei pelo o mesmo apelido que Caspian.

— Me perdoe – fui à única coisa sensata que pude falar. Sentei-me ao lado dela e me ofereci para separar o material para os outros feridos.

Meus queridos, amigos! Mesmo quando bem estudada todo campo de batalha é uma instancia de violência, percebem que o nosso querido Justo se viu como responsável por cada narniano que entrou no castelo? Peço lhes um pouco de paciência com os Pevensie’s e com nossa Subtenente Phelps. Logo, Hilde poderá ter uma boa vida em Nárnia, também.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.