[FLASHBACK]

Forks, 2003.


– Esse lugar é assustador.

– Por quê? – ela perguntou me encarando com as suas sobrancelhas franzidas.

– Está tarde, e essa biblioteca seria uma escuridão se não fossem por essas pequenas luminárias. Você não acha assustador ficar aqui sozinha?

– Não. – ela sorriu. – O que acha que irá acontecer? Um serial killer irá aparecer em meio a escuridão e me matar cruelmente? – ela brincou.

– Não gosto nem de imaginar.

Ela deu enfim sua risada alta e gostosa. Seu jeito era delicado, seu sorriso doce e seus gestos leves, mas sua risada chegava a me fazer rir de tão escandalosa que era. E eu estava sorrindo naquele momento, enquanto ela também sorria para mim. Eu sabia que jamais ela olharia para meu sorriso como eu olhava para o dela. Ela jamais se sentiria como eu me senti bem ali ao seu lado na biblioteca do colégio.

Eu a amava. Eu amava seu sorriso, seus lábios, seus olhos, a forma como seus cabelos caíam sobre seu rosto, suas mãos, seu toque... Tudo. Amava até mesmo a forma como ela ria escandalosamente. Não havia som melhor no mundo do que o da sua risada, ao não ser pelo som da sua voz. Ela era a pessoa mais incrível que eu conhecia, e eu gostaria de passar cada minuto dos meus dias ao seu lado.

– No que está pensando? – ela perguntou.

– Nada demais.

– Mesmo? – ela olhou diretamente em meus olhos.

Meneei a cabeça positivamente.

– Admita. Você está quase molhando as calças de medo, Damian.

Eu ri, e dei-lhe um pequeno empurrãozinho.

– Ei! – ela gritou.

– Não se grita em uma biblioteca, Sarah. Têm pessoas estudando aqui. – eu disse, voltando a encarar um livro sem ler sequer uma linha.

Ela me empurrou. Encarei-a com a expressão séria.

– Faça melhor, ainda não conseguiu me irritar.

– Está bem. – ela disse.

Voltei a encarar o livro, de repente, quando o coloquei de volta na mesa e me estiquei para longe, Sarah jogou um pouco da sua latinha de coca no livro da biblioteca do qual eu estava cuidando.

– O que? O que você fez Sarah? Está louca? Esse livro é da biblioteca! – eu gritei, enquanto tentava arrumar o estrago que ela havia feito.

Ela ria sem parar ao meu lado.

– Existem pelo menos uns cinco livros iguais nessa biblioteca, mas você pagará caro por esse. – ela disse, ainda rindo entre as palavras.

– E você ri?

– Você pediu por isso, Damie.

– Eu não me lembro de ter dito “Sarah, jogue coca no livro da biblioteca, por favor”.

Ela sorriu.

– Desculpe, está bem? – ela disse antes de voltar a rir.

– Você gosta de rir, então...

Agarrei-a e a enchi de cócegas sem parar nem por um segundo. Nós nunca rimos tanto quanto naquela noite. E eu nunca a desejei tanto quanto naquele momento.


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NARRAÇÃO POR WILLIAM


– Precisamos descobrir quem fez isso, Will. – Emily disse.

– Eu sei. - respondi com a cabeça baixa, pensativo.

– Quem pode ter transformá-lo?

– Talvez estejamos falando de uma mulher.

– Aquela mordida não era sutil como a de uma mulher.

– Vampiros não são sutis, Emily. – debochei de sua observação.

– Eu sou.

– Não estamos tratando de alguém que está preocupado em ser sutil.

– Você está certo. – ela disse. – Alguma teoria?

De repente, uma lembrança atingiu como uma pedra minha mente.


[FLASHBACK]


Forks, 2004.


– Não! – eu me lembrei de ter ouvido uma voz de homem gritar, mas não parecia ligar naquela hora. O corpo da bela garota estava esparramado pelo chão. Ela estava morta, mas sua expressão serena havia permanecido. A garota que eu jamais esqueci.

– Venha comigo, rapaz. – outra voz disse em meio à escuridão de desejo em que eu me encontrava naquele momento esquecido por anos que agora parecia tão nítido.

– Quem é você? O que são vocês? – o homem gritava em meio a lágrimas.

– Você verá. Logo, logo. – a segunda voz respondeu em tom malicioso.


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Foi quando tudo ficou muito claro.

– Morgan. – sussurrei para mim mesmo.

– O que você disse? – Emily perguntou.

– Nada, só estava pensando alto.

Ficamos em silencio por alguns minutos enquanto começávamos a caminhar lentamente. O céu estava nublado, o que provocaria muitos comentários do tipo “como o tempo está feio esta tarde”, e pela centésima vez eu discordaria daquelas pessoas. Era ridículo focar meus pensamentos naquilo agora, mas era o meu único refúgio para o que havia acabado de descobrir.

Não conseguia acreditar. Tentei me convencer de que tudo se passava de minha imaginação, mas não havia como negar. Eu sabia que estava certo, e precisava fazer algo sobre aquilo.

– William! – ouvi sua voz gritar meu nome, vindo de algum lugar atrás de mim.

Virei-me.

– Vejo você depois. – Emily disse, virando em uma das esquinas e sumindo dali.

Não havia mais como impedir que ela me deixasse sozinho com Catherine. Era tarde demais.

– Como você está? – ela perguntou.

– Estou levando, e você? – minha voz soava fraca, tremula.

– Está mesmo tudo bem? Você parecia estranho ontem no hospital, mesmo antes da coisa toda. – ela disse.

– Acho que estava um pouco estressado com tudo o que estava acontecendo. – forcei um sorriso.

– William – ela disse.

– Sim? – perguntei, virando meu olhar em sua direção.

– Você acha que possam existir vampiros em Forks?

Engoli a seco. Obviamente, afinal não possuía saliva.

Infelizmente, minha piadinha não conseguiu me descontrair.

– Por que está perguntando isso?

– Dean não queria me contar o que vocês viram naquela sala, mas eu ouvi Brad explodindo na minha cozinha com Dean. Ele falava sobre uma mordida no corpo de Josh. Não acho que um animal seria tão minucioso. Quero dizer, ele não escolheria vítimas.

– Você acha que ele está escolhendo suas vítimas? – franzi a sobrancelha.

– Então você concorda comigo? – ela me rendeu.

Sorri desejando poder morrer naquele momento. O que diabos eu estava fazendo?

– Não acha isso muito... Improvável? – perguntei.

– Você sabe que posso estar certa, você viu a mordida. Se fosse um animal, arrancaria um pedaço de Josh e não daria uma tola mordida.

– Catherine, eu posso te pedir uma coisa?

– Claro. – ela respondeu, com a expressão confusa.

– Não diga isso a mais ninguém.

– Por que não? – ela deu uma leve risada. – Não vou parar em um hospício, William.

– Se você estiver certa, qualquer pessoa pode ser... Qualquer pessoa pode ser um vampiro. É um ótimo motivo para desconfiar de todos.

– Até mesmo de você?

Sorri.

– Se eu fosse matá-la, já o teria feito.

Quando me dei conta do que havia dito, meu corpo se paralisou. Talvez Marcus estivesse certo. Eu ainda queria matar Catherine?

– Está tudo bem? – ela perguntou.


[FLASHBACK]


– Mate-a.

– Não precisa me pedir que faça isso.

Ele riu.

– Se você não matá-la, Morgan irá. – foi a última coisa que Marcus disse.


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– Eu preciso ir a um lugar. – eu disse.

– Está bem.

Comecei a andar para longe dali.

– Catherine – eu a chamei pela última vez.

– O que?

– Prometa que não dirá aquilo para mais ninguém.

Pude ver em seus olhos a resposta.


+++


Entrei em um dos arbustos que davam para a floresta e logo comecei a correr. Mal podia sentir o vento de tão rápido que meu corpo passava contra ele, desviando das árvores que estavam a todo o meu redor. As lembranças continuavam vindo bruscamente à minha memória, sem parar. Não sabia como controlar meus pensamentos, não sabia o que deveria fazer. Mas eu tinha certeza de que precisava de uma confirmação. E estava indo em busca dela.

Não demorou muito para que eu chegasse à mansão onde Morgan e os outros viviam. Eu sabia que ele estava lá, e sabia que havia recebido as informações de Marcus sobre os novos casos.

– O que faz aqui, Will? Sentiu saudades do seu vampiro favorito? – ele disse, vindo de braços abertos em minha direção, e por fim me abraçando.

Um sorriso maligno com uma pitada de malicia estampava seu rosto, até que Morgan finalmente percebeu algo de errado em meu olhar.

– O que houve William? – Marcus apareceu atrás dele, sua expressão era preocupada.

Emma vinha bem atrás dele em um vestido vermelho provocante que ia até os seus joelhos mostrando cada curva que possuía. Ela sorriu de forma sedutora para mim, sem se importar com minha expressão perturbada, a qual escondia mais coisa do que aqueles dois saberiam.

Percebi que Morgan os tiraria dali quando ele jogou aos seus guardas um olhar. Aqueles homens trabalhavam para ele em troca de ter poupado-lhes suas vidas. Não sabia quantos deles existiam, mas pareciam ser muitos. Era uma espécie de proteção da espécie, mesmo nós obtendo força o suficiente para enfrentar qualquer coisa. Morgan dizia precisar de homens que cuidassem de seus prisioneiros (pessoas que colocavam em perigo nosso segredo).

Todos saíram da sala e Morgan tornou a uma expressão séria e impaciente.

Ele tirou seu casaco de veludo preto e o entregou a uma mulher a qual nenhum de nós sabia o nome, aquela que limpava e tratava de cuidar da mansão. Era uma bruxa, e ele sinceramente jamais mostrou obter confiança naquela mulher, mas a mantinha ali para não ter o trabalho de encontrar alguém melhor para aquilo.

A entrada da mansão mais parecia um grande salão de festas. Uma recepção estonteante coberta de pinturas de ouro feitas pelos antigos construtores que abandonaram a casa. Mortos. Mortos por Morgan.

– Podemos ir a minha sala? – ele perguntou.

– Posso falar aqui mesmo, não há necessidade disso. – eu respondi confiante.

– Diga logo porque está aqui, William.

Ficamos em silencio por algum tempo até que eu encontrasse as palavras certas.

– Eu sei quem é o assassino. – declarei.

– Isso me parece ótimo. Agora podemos finalmente matá-lo! – ele comemorou, dando novamente seu sorriso cinico.

– Acontece que não é só isso que eu sei, Morgan. – eu disse.

– E o que mais sabe? – ele perguntou, encarando-me sério novamente.

– Sei também que você o transformou.

Ele riu, depois voltou seu olhar em minha direção.

– Nunca imaginei que diria isso um dia, mas... – ele deu esperou um pouco antes de finalmente dizer. – Guardas!

– Você sabe muito bem quem deveria estar prendendo! – eu gritei em sua direção, sem fazer força para que me largassem.

– Levem-no. – ele disse, sem se importar com o que eu dizia.

– Damian! Damian Harmon! – eu gritei antes de ser cercado por mais guardas.

– William – ele disse – Apenas uma última coisa...

Rapidamente os guardas abriram espaço para minha visão.

– Ela terá uma morte bela. – ele disse.

Pude sentir uma sensação nova correr por todo o meu corpo, um ódio que jamais eu sentira.

– Será minha grande obra prima! – ele gritou antes de os guardas lutarem contra minha força me levando dali.