As coisas estavam espalhadas dentro de várias caixas de papelão pela casa. Não queria nem pensar em arrumar tudo aquilo, estava cansada demais depois da viajem. Mas finalmente eu estava em Forks.

Desci as escadas ao lado do quarto e voltei à cozinha para beber um copo d'água.

A campainha tocou. Resmunguei bem baixinho antes de pegar as chaves. Elas estavam na mesinha da sala, ao lado do vaso de flores que um dos vizinhos mandou de boas vindas.

Abri a porta.

- Olá. - forcei um sorriso.

- Você deve ser a novata.

Olhei-o confusa.

Sua pele era cor de areia, seus cabelos eram lisos e bagunçados, e seus olhos castanhos esverdeados me lembravam o mar.

- Moro nessa rua. - ele deu uma risada sem graça. - Meu nome é Dean.

- Prazer, eu sou Cathy. - estendi minha mão.

Ele a agarrou firme sem cerimônias e a soltou.

- Soube que veio estudar no conservatório de música de Forks.

- Ah, perdão, você quer entrar?

- Pensei em te oferecer um tour, o que acha? - ele sorriu.

- Tudo bem. - devolvi o sorriso.

Saí para perto dele e tranquei a porta. Não coloquei as chaves no bolso para não ficar com as mãos abanando. Eu poderia ficar mexendo nas chaves, apesar daquilo ser meio irritante.

- Então você é musicista, certo?

- Ah, sim, eu sou.

- O que você toca?

- Piano.

- Deve amar o que faz.

- Bom, acabei de me formar. Tenho muito que aprender.

- Você tem 18 anos?

- Na verdade, 19.

- Você repetiu algum ano?

- Não, não. - ri comigo mesma. - Eu só fiquei um ano parada depois da formatura. Precisava de um descanso.

- Claro. - ele sorriu levemente.

- O que vai me mostrar em Forks?

- O que você quer ver?

- Algo que não tenha nos folhetos e propagandas.

- Ok, então vamos lá. Que tal a melhor lanchonete de Forks?

- Já visitou todas?

Ele jogou-me um olhar.

- Só estou checando se é mesmo a melhor.

- É a melhor que eu conheço.

- Aposto que nunca saiu daqui.

- Nunca. - ele riu.

Eu ri também.

Demoramos poucos minutos até chegar à lanchonete.

- Aqui. - ele disse, subindo os três degraus que ficavam na entrada.

Folhas de jornal enquadradas ficavam espalhadas por todos os lados. Todas eram artigos que citavam o nome da lanchonete.

As cadeiras, mesas e bancos eram em estilo meio retro, e todos os salgados e doces ficavam nas vitrines encarando os clientes e implorando para serem comprados.

- Eu não sei o que eu vou querer.

- Ótimo, porque eu não ia pedir que escolhesse.

- Nossa. - eu o encarei. - Obrigada.

Ele riu para si mesmo.

- Eu sei o pedido perfeito, confie em mim.

- Eu tenho escolha?

- Não mesmo. - ele sorriu.

- De novo, obrigada.

Ele riu novamente.

- Dois sucos de melão, Liz. - ele disse para a mulher atrás do balcão. Era uma senhora, provavelmente a dona, afinal aparecia em todas aquelas folhas de jornais.

- E se eu fosse alérgica a melão? - eu perguntei.

- Não tem cara de quem é alérgica a melão.

- Existe uma cara para isso?

- Acho que sim.

- E como seria?

- Seria, tipo... - ele fez uma careta. - Mais ou menos isso.

Eu ri.

- Tá.

Sentamos nos bancos e esperamos em silencio.

- Prontinho, Dean! - a senhora atrás do balcão disse.

- Obrigada, Liz. - ele sorriu para ela.

- Quem é a bela moça? - ela perguntou.

- Essa é a Cathy.

- Catherine?

- Isso. sorri levemente.

Terminei meu suco e saímos. Caminhamos por algumas horas, e Dean me falou dos lugares que me mostraria nos próximos dias. Os melhores lugares de Forks.

Não cheguei muito cedo de viajem, portanto já estava escurecendo enquanto voltávamos para minha casa. A rua era tão vazia quanto a calçada, e alguns arbustos ficavam ao lado de nós. Ouvi um barulho e parei.

- O que foi? - ele perguntou.

- Ouviu alguma coisa?

- Não, nada. - ele observou em volta. - Deve ter sido o vento.

Continuamos a andar, e eu me senti sendo seguida e observada. Dei passos lentos e silenciosos para ver se notava algum barulho anormal. Senti o "seguidor" mais próximo de nós.

Parei novamente.

- Tá tudo bem com você, Cathy?- ele parecia assustado.

- Xiiu. - eu sussurrei, fazendo sinal de silencio. - Eu acho que tem alguém aqui.

Algo se moveu nos arbustos.

Comecei a andar novamente, agora meu passos eram firmes. Estava quase correndo, e Dean vinha ao meu lado tentando me acompanhar.

- Espere! - ele gritou, segurando meu braço tentando fazer com que eu parasse.

Ele conseguiu, e logo que paramos um gato saiu dos arbustos a nossa frente.

- Era só um gato, você precisa relaxar. - ele disse. - Estou com você, pode ficar tranquila.

- Eu devo estar cansada, só isso. - forcei um sorriso.

- Tá tudo bem, ok? - ele disse colocando sua mão em meu ombro.

Observei sua mão, mas algo me tirou a atenção. Uma sombra, um vulto. Havia um homem atrás de nós, um pouco distante.

Virei-me de repente para pegá-lo de surpresa, mas ele não estava mais lá. Tinha algo muito estranho naquilo tudo, algo que estava começando a me assombrar.