– Catherine? – virei para ver quem me chamava.

– Você é? – perguntei tentando ser mais educada o possível.

Havia um homem a minha frente. Seus cabelos grisalhos denunciavam sua idade que com base nos traços de seu rosto, devia ser mais de 50 anos. Seu rosto não trazia um sorriso, mas sim uma expressão fria que eu era incapaz de ler.

– Meu nome é Jeffrey Nepburn – ele disse, depois fez uma pequena pausa antes de continuar. – Eu era amigo de sua mãe Karoline.

– Era... – repeti, ainda confusa.

– Será que podemos conversar em um lugar onde você possa ficar confortável?

Não entendi o porquê da sua sugestão, mas mesmo assim o convidei para entrar, afinal já estava pegando as chaves quando ele apareceu de repente.

Abri a porta sem pressa e depois dei caminho para que ele entrasse antes de mim, assim eu poderia trancar a porta.

– Aceita um chá? – perguntei.

– Seria ótimo, obrigado.

Deixei então que ele se sentasse na sala enquanto eu ia em direção a cozinha para ferver a água do chá. Peguei no armário o primeiro que vi, sem me importar em perguntar a ele qual era de sua preferência. Estava calma, mas ansiosa para saber o que aquele homem fazia ali. Será que estaria em busca de minha mãe? Seu rosto estava assombrado de um sentimento que eu não fazia idéia de qual era, mas que com certeza não tinha ligação alguma com o desejo de ver uma antiga amiga. Tudo era muito estranho.

Sentei ao seu lado na sala mantendo uma distância saudável do desconhecido enquanto ele começava a falar. Ele contou-me que minha mãe estava indo na noite passada para sua casa visitá-lo, e depois começou a falar sobre uma tempestade. Ele foi muito detalhista.

De repente, meu mundo caiu.

– Eles queriam que eu te desse a notícia, mas achei que seria muito insensível de minha parte te dizer isso por um telefonema.

Minha mãe havia morrido em um acidente de carro na estrada, em meio à tempestade. A última ligação dela havia sido para Jeffrey, por isso ele foi o primeiro a receber a notícia.

– Eu não sei exatamente o que dizer, ou o que fazer. Eu... – perdi as palavras.

– Sinto muito mesmo, Catherine. Imagino que a dor de sua perda seja ainda pior do que a minha. Sua mãe era uma grande amiga, era muito importante para mim. – ele disse.

Percebi que a água do chá estava pronta e me levantei devagar para prepará-lo na cozinha. Não conseguia sequer pensar, muito menos emitir uma palavra. Estava perdida no caos dentro de mim mesma. O que de pior poderia acontecer agora?

Indo até a cozinha, percebi meu celular vibrando dentro do bolso. Não teria nem o pegado se não soubesse que era apenas uma mensagem. Minha mão chacoalhava. Apertei o botão para ouvir a mensagem de voz, sem ler de que número ela vinha.


“Cathy, como estão as coisas em Forks? Eu sinto muito a sua falta, espero que possamos conversar.”

Meus olhos então encharcaram de água ao perceber que era a voz de minha mãe.


“Ficarei em casa a noite inteira, espero sua ligação.”

Parei por um momento para absorver suas palavras; algo me incomodava. Apertei então todos os botões sem paciência, até descobrir que a mensagem de voz era de ontem à noite. Exatamente no mesmo horário que Jeffrey havia afirmado que fora o acidente. Tudo estava ficando cada vez mais estranho.

Desliguei a água que estava quase evaporando no fogão e me equilibrei atrás da parede tentando observar Jeffrey sem que ele percebesse.

Seja lá quem fosse aquele homem na minha sala de estar, ele estava mentindo. Jeffrey Nepburn poderia ser qualquer pessoa, menos amigo de minha mãe. Então o que ele fazia ali?


+++

Alguém batia na porta.

– Cathy? – gritou.

Ofereci rapidamente o chá a Jeffrey e fui abrir para Dean.

Havia algumas gotas de chuva em sua camiseta azul. Estava garoando lá fora apesar do sol estar batendo na janela da sala. Dean entrou cumprimentando Jeffrey, depois jogou um olhar confuso para mim. Pela sua expressão ao me encarar, ele havia percebido que algo estava errado.

– Qual o seu nome rapaz? – Jeffrey se dirigia a Dean, que havia sentado ao seu lado no meio do sofá.

Fui à cozinha preparar um chá para Dean. Ainda era possível ouvir a conversa deles de onde eu estava.

– Dean Caleson. – ele respondeu.

– É um prazer. – Jeffrey disse.

– Desculpe perguntar, mas você é...?

Respirei fundo antes de voltar a sala.

– Sou um amigo de anos da mãe de Catherine. Meu nome é Jeffrey. – ele respondeu enquanto eu andava em direção a Dean com uma xícara fervendo nas mãos.

– Obrigado. – ele sorriu levemente para mim.

Sentei-me ao seu lado, onde estava há pouco tempo. Uma distancia perfeita de Jeffrey. Não conseguia ignorar a desconfiança que ainda me incomodava em relação a aquele homem. Estava feliz por Dean estar ali, e eu não ter que ficar sozinha com Jeffrey.

– Onde está Brad? – tentei quebrar o clima pesado que nos rodeava.

– Parece que ele está doente, ou algo do tipo.

– O que exatamente ele tem? – perguntei preocupada.

– Andou tendo dores de cabeça, ouvindo vozes. – explicou.

– Deve estar abalado com o que houve. – eu disse.

– Desculpe me intrometer, mas... O que houve com seu amigo? – Jeffrey entrou na conversa.

Não sabia exatamente o que fazer apesar de sua pergunta ter sido clara e simples.

– Um amigo nosso faleceu. – Dean respondeu.

– Eu sinto muito por isso. – Jeffrey disse educadamente antes de tomar outro gole de seu chá.

– Cathy, você por acaso viu William ainda hoje? – Dean perguntou, finalizando então o assunto anterior.

– Não. – estranhei a pergunta.

Jeffrey parecia não ouvir mais o que falávamos. Perguntei-me se ele se sentia incomodado com o fato de estar praticamente sobrando em meio a nossa conversa.

– Então você também não o viu? – ele perguntou, seu olhar parecia confuso.

– O que você quer dizer com isso? – franzi as sobrancelhas.

– Emily está atrás dele por todos os cantos. Pediu que eu perguntasse a você sobre ele. – explicou.

– Falei com ele ontem à tarde. – eu disse.

– Ele falou para onde ia depois?

– Não foi específico. Só disse que... – dei uma pausa antes de continuar. Algo dentro de mim me dizia que aquela conversa deveria ficar comigo. – Disse que precisava ir.

Jeffrey tomou um gole de seu chá novamente. Não conseguia parar de observar seus gestos e olhares discretos.

– Sobre o que vocês conversaram? – Dean perguntou.

– Não foi uma conversa importante, nada demais. – respondi.


+++


– Está tudo bem?

Era Damian. Ele se aproximava do banco para sentar-se ao meu lado. Estávamos em frente a uma lojinha simples que ficava perto do colégio. Havia passado algumas vezes ali com Jenn e me apaixonado pela tranqüilidade do acento ao lado. Era um ótimo lugar para pensar, e nesse momento era tudo o que eu precisava fazer.

– Estou tentando fingir o máximo que posso que estou.

– Eu sei que não deveria, mas ouvi você falando com Dean. – ele disse. – Sinto muito pelo o que houve. – completou.

Sorri pelo canto dos lábios.

– Eu sei como se sente.

– Mesmo? – perguntei para ter certeza de que aquilo não era nenhum clichê de funerais.

– Perdi uma das pessoas mais importantes da minha vida há alguns anos.

– Ah sim, ouvi falar. Seu melhor amigo ou algo do tipo, certo?

– A mulher que eu amava. Minha melhor amiga, que infelizmente nunca soube o que eu realmente sentia por ela. – ele lamentou fitando o chão.

– Tenho certeza de que ela sabe agora.

– Gostaria de poder ver sua cara ao descobrir.

– Quem é que não gostaria disso? – perguntei, sorrindo levemente.

– É difícil continuar vivendo... – ele deu uma pausa. - Continuar com a dor, sabe? É como uma bagagem que eu levo para todos os lados.

– Precisa deixá-la ir, Damian.

– Você por acaso já deixou sua mãe ir? – calei-me rapidamente. – Desculpe, não queria...

– Tudo bem. – eu disse. – Acho que vai levar um pouco de tempo, mas sou capaz. Você também é.

Ele voltou a fitar o chão.

– Quero me vingar de quem fez aquilo com ela. – ele murmurou.

– Ela não morreu da tal doença? – perguntei olhando para ele confusa. Eu sabia que não se tratava exatamente de uma doença, mas não esperava que ele também soubesse.

Damian se aquietou.

– Eu a vi morrer, Cathy. – ele disse. – Não foi uma doença. Foi um monstro.

– Um lobo, talvez?

– Lobos não matam humanos.

– Damian, não estou entendendo aonde quer chegar. – seu olhar estava focando em direção ao nada.

Ele virou em minha direção para me encarar.

– Você acredita em vampiros, Cathy?