NARRAÇÃO POR CATHERINE.


– Venha! – Dean disse em meio à gritaria em volta, mas eu mal o ouvia.

Minhas pernas bambas me derrubaram contra a parede, onde encostei-me tentando encontrar algum vestígio de força em meus músculos dormentes. Estava fraca, vulnerável, e para completar, havia perdido Dean de vista. Com a visão zonza, não era capaz de identificar nada ao meu redor. Foi quando, quase deslizando pela parede rumo ao chão molhado pela garoa, alguém me segurou firme.

– Você está bem? – ele perguntou. Sua voz grossa ecoava em minha cabeça, como se eu estivesse perdida dentro de uma caverna escura.

Tentei murmurar algumas palavras, mas elas saíram como sopros inúteis e sem sentido. Ele entrelaçou seus braços fortes em minha cintura e apoiou meu braço frágil em volta de seu pescoço.

– Te levarei para um lugar seguro, Catherine. – ele disse, carregando-me em seus braços em direção a algum lugar longe dali.

Pude ver tudo desaparecendo enquanto mergulhava em uma escuridão desconhecida.

+ + +

Enquanto despertava de meu desmaio, ainda recuperando minha consciência, pude sentir seu corpo em volta de mim. Suspirei ao ver as imagens ao meu redor começando a fazer algum sentido. Estávamos atrás de algum arbusto perto do colégio, e Damian... Damian me segurava em seus braços encostado a uma árvore.

– Está se sentindo melhor? – ele perguntou sussurrando bem perto de meu rosto.

Arrepiei-me com a sensação de seu hálito tocando minha pele.

– Sim, obrigada. Por que...? – tentei terminar minha pergunta, mas não sabia quais palavras usar, ou mesmo o que eu realmente queria saber.

– Algumas pessoas se aproveitam de momentos como esse. – ele disse.

– Ah, é mesmo? – eu disse, rindo baixinho

Levantei-me lentamente, afastando-me de seus braços.

– Perdoe-me por isso. Não foi minha intenção.

– Está tudo bem.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, enquanto ele se acomodava no tronco da árvore ao meu lado.

– Por que faz aquilo todos os dias? Por que está aqui?

– São muitas perguntas. – ele sorriu levemente.

– Preciso saber.

– Eu gosto dos seus olhos. – ele disse, encarando-me fixamente. – E você não estava protegida naquele lugar, em meio a toda aquela confusão.

– O que você quer dizer com isso?

– Ninguém sabe exatamente o que está acontecendo. É sempre bom ter alguém por perto, e Dean não estava lá dessa vez.

– Como assim “dessa vez”? – perguntei, confusa.

– Estava passando pela sua rua ontem a noite e...

– Você o viu chegando.

– Sim, eu vi. – ele disse, virando seu olhar para longe, e depois o trazendo de volta para mim. – Não quero que pense nenhuma besteira. Só estava mesmo caminhando.

– Você gosta de caminhadas? – perguntei, tentando fugir do assunto.

– Faço quase todas as noites.

Sorri para mim mesma.

– O que foi? – ele perguntou.

– Caminhadas a noite não me parecem muito seguras.

– Por que não seriam?

Engoli em seco. Não estava pronta para dizer a qualquer pessoa o que eu realmente pensava sobre os casos. Algo me dizia que eu não deveria, apesar de ter me aberto para William há tão pouco tempo.

– Dizem que existem lobos nas florestas...

Ele riu.

– Lobos não existem.

– Não existe uma espécie de lenda em Forks? Sobre lobos, vampiros...

– Nada disso é verdade. – ele me interrompeu. – Serve mais como uma arma secreta para que as crianças não queiram explorar as florestas, para que não se percam.

– Quando criança meu avô me contava essas histórias de Forks. Tudo o que eu queria era viajar até aqui para explorar as florestas e encontrar algum lobo ou vampiro.

– Ainda bem que a maioria das crianças tem medo.

– Acha mesmo que deveriam? E se eles não fossem tão ruins?

Ele riu novamente.

– Eles são monstros, assassinos.

São mesmo? – perguntei um pouco intrigada com sua afirmação.

– Os personagens. – ele disse, entendendo minha pergunta.

– Se vampiros existissem, iria querer ser um?

– Talvez.

– Por que não tem certeza?

– Imagine os anos se passando e seu rosto intacto como uma escultura de gesso... Toda a eternidade pela frente, com uma pedra estacada no peito? Eu iria querer morrer.

– O que é impossível. – brinquei.

– Por isso eles devem matar pessoas. Para eles a morte deve ser algo divino, uma dádiva.

– Isso me parece tão sombrio.

Seus olhos estavam perdidos no nada, pensativos.

– Quase uma escuridão. - ele disse por fim.

Virei-me em sua direção, mas ele parecia distraído com seus pensamentos. Sacudi minha roupa um pouco e comecei a me levantar.

Ele me fitou.

– Quer que eu a leve para casa? – ele perguntou.

– Acho que posso ir sozinha.

– Eu insisto. – ele disse, se levantando rapidamente.

+ + +

Caminhamos em profundo silêncio até minha casa.

Chegando lá, pude ver Dean sentado em frente a minha porta com a expressão preocupada. Ele se virou para mim, ainda sem acreditar no que via. Um sorriso brilhante completou o vazio de seu rosto.

– Cathy! – ele gritou, correndo em minha direção e me abraçando. – Você está bem?

Suas mãos deslizaram por meu rosto procurando qualquer arranhão ou machucado.

– Estou inteira, Dean. – eu sorri.

Percebi que Damian não estava mais ali, e me perguntei a que momento ele havia saído.

– Fiquei tão preocupado! – ele disse, e as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. – Cathy... A vítima...

Fitei-o preocupada.

– Era um amigo meu e de Brad... Josh.

Arregalei os olhos.

– Brad está no hospital, e preciso ir para lá também. Será que pode fazer um favor para mim?

– Claro!

– Fique em casa, não saia daqui. – ele disse, olhando diretamente em meus olhos.

– Não posso ir com você?

– Acho melhor não. – ele disse, meneando a cabeça.

– Você não tem escolha. - eu disse, séria. - Só preciso de um casaco. Espere aqui.


Continua...