… Eu corria.

Corria, sem parar por um segundo sequer.

Perdida na floresta, deparei com algo. Era ele.

– Olá Cathy – ele disse antes de tudo se tornar plena escuridão.

NARRAÇÃO POR CATHERINE.


– Existem tantas maneiras de fazer isso… – ele sussurrou em meu ouvido antes de descer lentamente por meu pescoço e suspirar de prazer.

– Jeffrey – saiu como um murmúrio.

– Meu nome é Morgan – corrigiu-me.

– Por favor – minha voz falhava levemente.

– Suponho que queira uma explicação. – ele sorriu com malícia.

Apenas assenti com um olhar, já que todos os meus sentidos pareciam falhar naquele exato momento.

O homem que antes eu conhecia por Jeffrey me encarava quando de repente sua pele passou a empalidecer lentamente, como se uma escama fosse retirada de todo seu corpo. Aos poucos, os fios de cabelo escureciam e se moldavam em perfeito ondulamento. Seus olhos, dourados como jamais havia visto, e seus traços… Mudaram completamente. Era outra pessoa.

Meus olhos estavam arregalados.

– Como pôde perceber, eu não sou um ser humano. – ele disse, ainda com um sorriso estúpido estampado no rosto.

– Você é um vampiro. – deduzi bravamente.

Seu olhar parecia concordar com minhas palavras.

– O que sabe sobre William? – ele perguntou objetivamente.

O sorriso desaparecera de seu rosto.

– Não sei muita coisa. – respondi.

– Não me faça de tolo.

– Estou dizendo a verdade.

– Ele está aqui? Você o viu? – ele perguntava puxando-me para perto.

Rapidamente me lembrei do recado que havia enviado naquela manhã para Damian. Era disso que ele falava? Provavelmente não. Não podia ter descoberto aquilo.

Seus olhos procuravam pelos meus, mas recusei-me a encarar aquele dourado monstruoso com o qual o diabo parecia ter pintado sua íris.

– William não é minha preocupação. Não sei de nada que vá ajudá-lo. – virei-me para encará-lo – Pode me soltar agora?

Ele soltou uma risada.

– Você está fugindo?

– Solte-me e eu te mostro o que é fugir. – o desafiei.

Ele riu novamente.

– Adivinhe só! Eu leio mentes, e você está mentindo. – ele disse. – Diga-me o que sabe.

– Não tenho nada a afirmar.

– Você o sentiu.

Encarei seus olhos novamente.

– Eu o senti. – admiti. – Mas pode ter sido apenas uma sensação qualquer, um engano.

– Ou um desejo. – ele sorriu maliciosamente.

Ignorei sua insinuação.

– Já que está tão disposta a provar a si mesma que não se importa, que tal isso…? – ele fez uma pausa se aproximando de meu ouvido. – Corra para o meio da floresta. Ele virá para te resgatar e eu o matarei.

Parte de mim não queria fazer aquilo, mas era minha única escolha. Não estava jogando fora minha humanidade, pois estava colaborando para a morte não de um humano, mas de um monstro.

Em pouco tempo eu corria.

Corria, sem parar por um segundo sequer.

Perdida na floresta, deparei com algo. Era ele.

– Olá Cathy – Damian disse antes de tudo se tornar plena escuridão.

+++

NARRAÇÃO POR WILLIAM.


Corri.

Não demorou muito e eu estava ali, vendo suas garras e dentes tocando a pele dela.

Era tarde demais. Seu corpo já era jogado em meio a terra e as folhagens perto das árvores. Catherine se contorcia deitada tentando lutar contra o veneno que invadia subitamente suas veias. Ela gritava de dor com as mãos em punho, e eu podia ouvir de longe o seu coração saltar. Logo logo ele pararia.

Por um instante questionei a mim mesmo o que fazer. Daria as costas, ou iria atacar? A escolha era no final das contas muito simples. Se não fizesse nada agora, viveria com aquela dor para sempre. E aquilo seria pior do que a própria morte.

Decidi de vez avançar.

+++

NARRADO POR DAMIAN.


Morgan estava próximo de mim novamente. Havia visto a mensagem de Catherine em meu celular, e agora uma seriedade sem intervalos invadia seu rosto. Parecia pensativo.

– Ele estará lá. – disse.

Continuei em silencio.

– Mas não é esperto o bastante. – completou.

– Acha que ele está com a adaga?

– A adaga é especial para matar-nos, mas ele não saberá usá-la da forma certa, e se você matar a garota rapidamente, tudo que ele pode fazer é tentar sugar estupidamente o veneno. Mas ambos de nós sabemos que William é muito fraco.

Assenti com um olhar.

– Você sabe o que precisa fazer. – jogou-me um olhar.

– Tem certeza disso? – perguntei.

– Nunca estive tão certo.

+++

NARRAÇÃO DE WILLIAM.


Coloquei as mãos nos bolsos da jaqueta onde estava a adaga. A única adaga que algum dia conseguiu matar um vampiro. Pelo menos era o que a lenda dizia, ou o que Morgan dizia.

– Estava esperando por você. – Damian disse, sorrindo maliciosamente.

– Não poderia perder isso.

– Ah, é mesmo! Um espetáculo grandioso, não? Morgan me ensinou alguns truques…

– O espetáculo ainda não acabou.

– E você sabe como ele termina?

Esperei por sua resposta.

– Eu ganho. – ele disse antes de avançar sobre mim.

– NÃO! – ouvi Catherine gritar em meio ao som da adaga perfurando o estomago do homem que a deixara morrer lentamente na floresta.

Parecia que havia usado todas as suas forças para protestar que eu o matasse enquanto seus olhos se dirigiam a ligeira luta que tivemos. Agora caído, Damian morria em meio as árvores.

Rapidamente me movi até o corpo de Catherine, que olhava em minha direção, mas parecia não me ver. Ela estava fria, e seus olhos se reviravam sem foco, oscilando por todos os lados.

– Damian… – ela resmungou sem força.

– Era o que ele sempre quis. – eu disse, passando minha mão em seu rosto pálido quase sem vida.

O que eu faria para salvá-la?