Capítulo 6:

Riscos

POV Ian:

Olho mais uma vez para o relógio. Já passaram dez minutos desde que Peg entrou naquela Instalação. Por que ela está demorando tanto?!

Os minutos pareciam não ter fim enquanto meus dedos batem num movimento cadenciado sobre o painel do carro. Tudo está tão silencioso. Posso ouvir apenas a minha respiração irregular, arfante, e o batimento acelerado do meu coração. Eu tentava pensar claro e me manter alerta a qualquer movimento na noite escura, mas tudo que eu quero é voltar pra casa com Peg, sãos e salvos.

Ela é tudo par mim. A minha vida. Quando ela chegou, trouxe para minha mim um motivo pra viver. Trouxe algo que eu havia perdido, felicidade e a vontade de viver.

Oh Deus, não permita que nada de ruim aconteça com a minha Peg! Eu jamais seria capaz de viver sem ela na minha vida!

Meus devaneios são interrompidos quando vozes exaltadas escapam da Instalação. Eu forço meus ouvidos a passarem por cima dos zumbidos e escutarem clareza.

São gritos. Gritos afoitos. Logo um alarme de perigo começa a soar da Estação de Cura e uma luz vermelha carmesim começou a piscar.

Sinto um líquido salgado cair sobre meus lábios e no mesmo instante me rendi às lágrimas. Lágrimas de dor. De puro desespero por estar simplesmente de mãos atadas enquanto Peg corria perigo. Corria perigo por nós, afinal Peg apenas arriscava sua vida por todos nós humanos brutos demais.

Pense Ian, pense! Você tem que salvá-la! Pense, pense, pense!

Minha mente repetira como um mantra.

Então, a arma guardada no porta luvas do carro me dá uma ideia. Era uma arma relativamente pequena, a Glock 9mm que eu tanto invejara, a arma que matara meu amigo Wes.

Mas agora aquela arma tão poderosa e mortal tinha um novo significado para mim e para Peg. Ela poderia ser a nossa salvação, o nosso passaporte de volta para casa.

Isso!

Nunca fez parte dos planos machucar alguém, humano ou alma, mas não posso e não vou deixar que tirem de mim a razão da minha vida. Não vou deixar que Peg que passe por tudo novamente, que seja enviada para outro planeta, que sofra por saber que todos os que ama não tem mais salvação.

Sorrio doentiamente para o plano que se forma em minha cabeça e me encho de coragem enquanto carregava a arma. Estava decidido, irei salvá-la, mesmo que isso custe minha própria vida.

POV Peg:

Ian!

Foi à primeira coisa que pensei quando me vi encurralada. Ian também corria perigo e meu coração martelava no peito por ele. Eu não me importaria morrer, de dar minha vida por Ian. Mas perdê-lo seria uma dor que eu não seria capaz de aguentar.

Se eu fosse pega provavelmente me colocariam em outro corpo. Um corpo condescendente que os ajudaria a ter as informações que os Buscadores precisariam para encontrar o restante da minha família. E a história se repetiria. Sofreria com os as lembranças de Ian, de seus olhos neve, safira, meia noite, de seu sorriso.

No fim, eu sabia que era a morte era uma marca iminente para nós dois agora.

Mas há uma saída.

É claro que há. Há um caminho. Não um caminho pra sobreviver, talvez, mas uma forma de vencer. Lembro-me da pílula de veneno que Jared havia me dado quando pegamos remédios para Jamie. Eu sempre trago ela junto comigo, em todas as Incursões.

Essa talvez seja a única alternativa.

Naquele momento me envenenar com a pílula de cianureto poderia ser considerado um final feliz. Eu sofreria as consequências pela minha negligencia, minha família ficaria a salvo, exceto por mim e Ian. Seriamos como Romeu e Julieta.

E por toda a minha família de humanos que eu aprendi a amar, eu sei que sou capaz de fazer isso. De entregar a minha vida. Por Jamie, pela Mel, por tio Jeb, por Jared, Doc e Ian.

Meu Ian, eu morreria sabendo que jamais o entregaria.

Aperto a pequena pílula em meus dedos com tanta força que eles ficam esbranquiçados pela falta de circulação.

– Eu acho que ela está entrando em choque, Luz!

Posso escutar de longe a voz da assistente do Curador soar alarmada.

– Não faça isso querida, não vamos machucá-la. Você não quer realmente engolir isso, não é? – Luz do Sol nos Cristais tenta me convencer com sua voz calma e macia que usava para acalmar seus pacientes. – Chamamos os Buscadores e vamos resolver isso com calma, querida.

– NÃO!

Grito com toda força que minha voz permite prestes a levar à pílula a boca. De repente, a porta de entrada Instalação é aberta com força fazendo a atenção de todos se voltarem para o novo visitante, inclusive a minha.

Ouço um ''click'' e mesmo que parecendo de eras distantes sou capaz de reconhecer como o som de uma arma e como se ganhasse vida própria meu rosto se virou para encontrar os olhos azuis decididos de Ian na porta.

Não, não, não, não!

Meu corpo trêmulo quase sucumbi a inconsciência por uns instantes quando vejo a arma em suas mãos. Com o enorme susto deixo cair à mochila, e todos os remédios se espatifam no chão e com eles a pequena pílula de cianureto escapou de minhas mãos.

– Humano!

Grita a mulher no balcão se encolhendo de pavor tentando alcançar novamente o telefone para provavelmente apressar a chegada dos Buscadores.

– NINGUÉM SE MOVE!

Exclamou com uma voz autoritária. Aquele não era o timbre que eu estava acostumada a ouvir sair de seus lábios, mas sabia que ele estava ali como meu salvador. Ele tentaria me salvar, é claro que tentaria, mesmo que isso custasse a sua própria vida e meu corpo tremeu ainda mais com essa conclusão.

Oh Meu Deus, o que ele está fazendo?!

– NINGUÉM CHEGA PERTO DELA OU EU ATIRO!

Ian me puxa pelo braço pra mais perto dele. Só estão percebo que suas mãos estão trêmulas ao segurar a arma e que lágrimas escorrem de seus olhos. Ele estava se sacrificando por mim. Estava entregando sua vida por mim e isso fez com que eu sentisse como se uma lâmina afiada sendo cravada em meu peito.

– Acalme-se, por favor! Abaixe essa arma filho, ninguém aqui vai machucar vocês... – Anui o Curador Luz, tentando acalmar Ian, aproveitando para se aproximar de nós com um rosto brando enquanto segurava um vidro branco de Pacificar.

Ian negou com a cabeça enxugando as lágrimas com as costas das mãos e me puxa com cuidado junto com ele, ainda com a arma em punho.

– Ninguém vai te machucar, amor!

Ele sussurra como uma promessa. Meu coração bate cada vez mais descompassado como se fosse capaz de sair do peito e com toda a minha experiência das minhas dez vidas eu sabia que nunca daria certo e como numa sentença de morte agora as minhas lágrimas caiam sem impedimento.

Como você pode ver através de meus olhos como portas abertas

Conduzindo você até meu interior.

Onde eu me tornei tão entorpecido;

Sem uma alma.

Meu espírito dorme em algum lugar frio,

Até que você o encontre e o leve de volta pra casa.

Tudo passava em minha mente como um borrão. Os olhares assustados de todos na Instalação, o Curador tentando convencer Ian a abaixar a arma. Passava com um filme, em ritmo acelerado e lento, ao mesmo tempo enquanto eu era a mesma espectadora desse filme macabro.

Não consigo falar, nem mesmo mover um centímetro do meu corpo. Estou estática como uma estátua. Eu quero correr, fugir daqui com Ian, mas o meu corpo em completo desespero não obedece aos comandos da minha mente. Então o som ainda distante da sirene da polícia me dispersa do choque.

–Peg, você confia em mim?

Ian sibilou enquanto mantinha a arma apontada com a sua mão direita. E tudo que eu fui capaz de fazer foi assentir.

Eu sempre confiaria em Ian, confiaria minha vida a ele. Com um giro rápido Ian me virou de costas para ele e segurou firmemente em meu rosto um pano embrído com um líquido com cheiro forte.

Clorofórmio. O pano está cheio de clorofórmio.

– Ian. Por que. Fez. Isso?!

Queria falar, mas as palavras parecem presas em minha garganta. Em segundos o clorofórmio já começa a fazer efeito, deixando meu corpo mole, dormente. Tudo em minha volta começa a girar, e a minha visão começa a escurecer.

– Desculpe, me desculpe.

Ele murmurou com a voz cheia de culpa.

Eu podia ver a dor me seus olhos azuis. Essa foi à última coisa que eu ouvi antes de apagar completamente, caindo desfalecida em seus braços.

Acorde-me.

Acorde-me por dentro.

(Eu não consigo acordar.

Salve-me.

Chame meu nome e salve-me da escuridão.

Obrigue meu sangue a fluir.

Antes que eu me desfaça.

Salve-me do nada que eu me tornei.

* POV Ian:

O barulho da sirene da polícia parece estar cada vez mais próximo e me tira dos meus devaneios. Peg parece completamente em choque. Como eu queria poder aconchegá-la em meus braços e dizer que vai ficar tudo bem, mas sei que estarei mentindo.

Não há saídas.

Porém há uma maneira de amenizar o sofrimento de Peg. Conhecendo Peg e seu intenso altruísmo, eu tinha a certeza de que ela seria capaz de morrer do que nos entregar. Sabia como a palma da minha mão que ela preferiria a morte. Mas eu não permitiria que ela fosse pega.

–Peg, você confia em mim?

Pergunto sentindo o desespero tomar conta de cada músculo do meu corpo, de cada célula.

Ela assentiu veementemente.

Com um movimento rápido eu há giro de costas para mim, e seguro firmemente um pano embrido de clorofórmio que eu tinha encontrado no carro, alguns instantes antes de invadir a Instalação. Segundos depois o clorofórmio começa a fazer efeito em seu corpo. Peg tenta balbuciar algo, mas as palavras parecem presas em sua garganta. Pouco depois ela cai desfalecida em meus braços e eu a coloco protetoramente em meu peito.

Desculpe, me desculpe

Eu murmuro para ela cheio de culpa.

Nós humanos temos um senso de sobrevivência que as almas nunca irão compreender. Sempre lutamos por nossas vidas. Eu sobrevivi tantos anos após a Invasão e não posso desistir agora.

O som da sirene parece cada vez mais próximo. Três ou quatro quadras daqui, no máximo. Logo eles estarão aqui e me separarão pra sempre de Peg e isso fez com que a minha respiração ficasse ainda mais arfante.

Meus neurônios pareciam uma grande locomotiva trabalhando freneticamente para tentar encontrar uma saída diante da fronte do inimigo. E como se ganhassem própria, meus olhos saltam do rosto sem expressão de Peg para uma placa próxima a escada que levava ao segundo andar.

Alarme de incêndio. Dizia a placa brilhante em tom prateado contornos violeta que me traz uma ideia ariscada a mente.

– Nós vamos ficar bem, Peg.

Digo dando um rápido beijo na testa suada de Peg.

O Curador percebeu meu movimento e parou bruscamente no movimento de tentar se aproximar de Peg. Seu olhar era preocupado quando encontrou o meu, me acusando claramente de ter machucado a alma em meus braços.

Mas eu sou mais rápido que ele, então aproveito sua distração momentânea e num rápido movimento aponto a arma em punho para o alarme de incêndio. Num tiro certeiro acerto o grande e alaranjado botão do alarme.

Uma névoa branca começa a tomar conta da Instalação, tornando difícil enxergar apenas um palmo a minha frente enquanto agua caia com a intenção de apagar o fogo inexistente naquele momento.

– ATENÇÃO! AMEAÇA DE INCÊNDIO, SAIAM TODOS DO PRÉDIO IMEDIATAMENTE!

Repetia uma voz feminina completamente computadorizada.

Todos pareciam em pânico e tossiam fortemente tentando usar as energias para chegar à porta de saída. Eu podia ouvir a recepcionista tentando acalmá-los e ajuda-los a encontrarem a saída de emergência. Mas isso não me interessava. Que as almas cuidassem dos seus agora.

Aproveitando a confusão, eu carrego Peg em um de meus braços, enquanto ainda mantenho a arma apontada e saio correndo pela porta dos fundos.

– Hey, espera! – Gritou o Curador saindo da Instalação a passos duros – Volte aqui! O que vai fazer com ela?!

Ele estava ofegante e tentava a todo custo me alcançar antes que eu chegasse ao nosso carro, que está a cem metros da Instalação. Para nossa sorte ele não era um bom corredor e teve de parar no meio do caminho para tomar uma longa respiração enquanto se curvava sobre os joelhos dobrados.

O peso de Peg não era nada comparado com a enorme vontade que crescia em meu peito. Vontade de salvá-la. Assim que alcançamos o carro, coloquei Peg no banco traseiro com cuidado, fechando o cinto em torno de sua cintura e voltei a ocupar meu lugar no banco de motorista, sem olhar para trás.

Com as mãos trêmulas girei a chave no contato. O motor roncou. Pisei firme no acelerador, e me concentrei na estrada. Temos que sair daqui antes que a policia chegue. O que não irá demorar muito.

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* POV Peg:

Acordei atordoada. Todo meu frágil corpo e a minha cabeça doem latejando com força. Eu gemi. Minha cabeça toda aérea e desconectada. Meu estômago se apertava me fazendo sentir nauseada.

Tento abrir meus olhos com dificuldade, piscando sobre as pálpebras até eles conseguirem focalizarem. Ainda grogue tateio com as minhas pequenas mãos em volta e posso reconhecer o assento macio do nosso carro.

E eu estava certa.

Me ajeitei rapidamente no banco olhando pela janela claramente reconhecendo a pista que nos levava para nossa casa. A pista Ina estava completamente vazia somente alguns carros passavam ao nosso lado direito.

Olho para o assento do motorista vendo Ian dirigir com mãos firmes no volante e seus óculos Ray-ban sobre os olhos azuis.

Ian conseguiu!

Minha mente de repente fica lúcida demais e como num flash back, lembro-me de tudo que acontecera antes na Instalação de Cura onde quase fomos pegos.

– Ian!

Murmuro com voz rouca sentindo um misto se sensações crescendo em meu peito. Alegria. Alívio. Amor. Gratidão.

– Oi – Ian fala com voz serena tomada por alivio, me olhando pelo espelho retrovisor para se certificar que eu estava bem – Que bom que você acordou, amor.

– Como você conseguiu... – Perguntei ansiosa, sentindo um bolo se formar em minha garganta – A última coisa que me lembro, é de desmaiar por causa do clorofórmio.

– É uma longa história. – Ele diz pausando com um longo suspiro – Eu tive que assustá-los. Eu realmente não queria ferir ninguém, mas precisava tirar você de lá, então, eu atirei no alarme de incêndio.

Meu coração se apertou.

– Essa foi por pouco – Murmurei soltando o cinto e ocupando meu lugar de acompanhante ao lado de Ian passando pelo vão entre os bancos. – Muito pouco.

– Eu tive tanto medo de te perder, que não vi mais nada. Só queria tirar você de lá. – Disse apertando minhas mãos ainda frias – Não me importaria de morrer se isso a salvasse.

– Você arriscou a sua vida. Poderia ter sido pego – Falei sentindo um frio na minha espinha ao pensar no que poderia ter acontecido. – Tem noção disso, não é?

– Eu preferia morrer a viver sem você Peg. – Ele falou suspirando. – Eu te amo Peg e não importa o que aconteça, sempre lutarei pra ter você ao meu lado.

– Eu te amo, sempre vou te amar. – Falei sentindo meus olhos marejados, sentindo a sensação de perda voltar com força total. – Eu te devo a minha vida.

Todo esse tempo.

Eu não posso acreditar que eu não pude ver.

Me mantive no escuro.

Mas você estava lá na minha frente.

Eu tenho dormido há 1000 anos, parece.

Eu tenho que abrir meus olhos para tudo.

Sem um pensamento.

Sem uma voz.

Sem uma alma.

Nos entreolhamos voltando apertar nossas mãos como se para certificar que estávamos bem. Ian trocou a marcha do carro e voltou a olhar para mim relaxando no banco.

– Acho vou pensar em uma forma de você me pagar.

Disse com um riso maroto.

– No que está pensando hum, senhor O’Shea?

Pergunto sentindo minhas bochechas corarem.

– Surpresa – Ele responde tirando uma mecha dos meus cabelos dourados que agora estavam mais crescidos – Agora vamos para nossa casa, amor.

Casa. Finalmente voltaríamos em segurança pra nossa casa. Para o nosso lar. Um lugar que eu demorei nove vidas para encontrar. Aqui era meu lugar, e depois de experimentar o medo novamente de perder tudo isso, agora eu estava ainda mais certa disso.

– Você acha que os Buscadores conseguirão nos seguir?

Pergunto preocupada.

– Creio que não. Estamos na estrada há quase uma hora, muito longe para sermos alcançados. – Ian responde dando de ombros e isso faz com que meu corpo relaxe mais no banco.

– Durma um pouco, Peg. – Ian pede, seus olhos atentos na curva que se seguia na estrada – Eu acordo você quando chegarmos, está bem?

Foi quase como se seu pedido fosse uma ordem, apertei mais meus olhos e em seguida os suspirei, sentindo o cansaço invadir meu corpo e o torpor me levando para o mundo dos sonhos.

Porém meu sono não durou tanto quanto gostaria, sou despertada pela voz de Ian me chamando distante, parecendo urgente demais. E isso fez com que meus olhos se abrissem imediatamente.

– Buscadores... – A voz de Ian soa desesperada demais quando ele me vê acordada – Estão logo à frente.

No momento que suas palavras passam a fazer sentido para mim meu ar parece de repente ficar escasso nos pulmões, que parecem trabalhar com mais dificuldade.

– Oh não!

Sussurrei, meus olhos prateados se arregalando assim que a sombra escura a apenas cem metros de nós foi se tornando mais clara, revelando o carro belíssimo cromado habitualmente usado pelos Buscadores. Ele estava milimetricamente estacionado no acostamento e com toda certeza não era para acidentes. Esse era um veiculo feito para perseguições.

Ao todo eu poderia contar cinco Buscadores cercando em volta das imediações da pista.

– Eles estão muito perto, Ian!

– Estão nos procurando? Não estão?

A pergunta de Ian soou rápida, sem rodeios.

– Sim.

Respondi com um soluço.

Meus olhos captaram quando um dos Buscadores, o mais baixo dele e de cabelos castanhos escuros, quase negros, percebeu nossa presença na pista e fez um sinal com as mãos para o outro carro em nossa frente, uma Mercedes C180 conversível, parasse no acostamento.

Pelo espelho pude ver um casal de almas descerem de mãos dadas do veículo, seus olhos prateados, o reflexo prateado de seus olhos na estrada.

Mas nós não paramos, é claro.

– Eu vou tentar despistar eles. Fica calma, está bem?

Eu assenti, meu corpo se encolhendo contra o banco.

Ian pegou minha mão com força e seu pé apertou mais firme o acelerador enquanto dava ré no carro nos afastando do perigo a frente. Eu engoli seco tentando me segurar quando o velocímetro do nosso carro atingiu os 90 km/h, meus olhos brilhantes eram um talismã em meio às lágrimas.

O som da sirene nos tirou de nossos devaneios.

Estávamos sendo seguidos.

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Congelada por dentro, sem o seu toque,

Sem o amor, querido.

Só você é a vida entre os mortos.