POV. Ian

– Ian... Nós... Nós vamos ter outro bebê. – Peg disse mordendo o lábio, sua expressão se voltando para uma de medo, de puro pavor. Senti o choque espalhado por todo seu rosto. Logo entendi sua apreensão. - Eu estou grávida novamente.

Naquele momento, meus olhos se encheram de lágrimas. Meu coração não se decidia em parar ou disparar. Sorri para ela com o maior sorriso que eu poderia reunir antes de beijá-la ternamente.

– Essa é a melhor noticia que você poderia me dar, meu amor.

– É sério Ian? Você não está com medo? Sabe, não vai ser nada fácil cuidar de outro bebê por aqui.

– Eu sei amor, mas enquanto tivermos um ao outro, tenho certeza que tudo vai ficar bem.

– Eu já disse que você é o parceiro mais perfeito do universo? – Peg disse sorrindo, envolvendo seus braços em torno do meu pescoço.

– Perfeição não existe, meu amor.

– Pois pra mim você é perfeito, Ian O'Shea!

– Eu já disse que te amo mais que tudo nesse mundo? – Disse pegando Peg em meus braços, beijando-a com todo carinho e amor do mundo – Eu sou o homem mais feliz do mundo ao seu lado, Peg.

– Eu te amo, Ian. Para Sempre.

– Eu te amo, minha Peregrina. Para Sempre.

Eu estava procurando

Você estava em uma missão

Depois nossos corações combinaram

Como uma colisão de estrelas de nêutrons

– Mamãe?

Chamou à voizinha de Joy, sonolenta. Seus olhinhos Neve, Safira, Meia Noite, se focalizaram em mim e em Peg e um imenso sorriso abriu-se em seus pequenos lábios rosados.

– Elas me amam, não é. – Peg sussurrou no meu ouvido, dando uma leve mordida no lóbulo da minha orelha antes de ir até nossa filha, que já estava sentada na cama.

– Mamãe está aqui, meu amor. Está tudo bem. – Peg disse, pegando nossa pequena Joy no colo.

Fiquei ali, apenas observando de olhos marejados a cena. Peg cantava com uma voz melodiosa uma canção de ninar para que Joy voltasse a dormir. E naquele momento, não tive dúvidas. Peg era a melhor mãe do mundo inteiro. E aquele bebê que crescia lentamente em seu ventre, era o melhor presente que poderíamos receber. Um presente de Deus.

POV. Peg

– Joy, Jullie, a mamãe tem uma novidade para vocês – Falei sorrindo. Os pequenos olhinhos Safira das minhas filhas brilharam, esperando que eu começasse a falar – A mamãe vai ter um bebê. Vocês vão ganhar um irmãozinho, ou uma irmãzinha.

– Tem um bebê aqui dentro, mamãe? – Joy perguntou passando as pequenas mãozinhas rechonchudas na minha barriga, ainda sem sinais de gravidez.

– Sim meu amor. – Falei, beijando sua mãozinha.

– E agente vai poder blincar com ele? – Jullie perguntou, muito animada com a noticia. Minhas pequenas eram mesmo muito espertas para garotinhas de quatro anos.

– Claro, mas tem que tomar cuidado minha linda. O bebê não vai ser brinquedo – Ian falou sorrindo, apertando suavemente a minha mão.

– Vocês gostaram da noticia? Não estão com... Ciúmes do bebê? – Perguntei intrigada.

– Não mamãe, vai ser muito legal! Agente vai poder ajudar blincar com ele, cuidar dele e ploteger ele das pessoas más... Agente pode escolher o nome? Ele pode dormir com agente? – Jullie falou, me abraçando pela cintura. Logo as duas não paravam de tagarelar, planejando a chegada do mais novo membro da família.

– Elas estão bem animadas – Ian falou, me abraçando ternamente, sorrindo.

– É. Parece que as coisas finalmente voltaram aos eixos.

– Sabe Peg... Eu estou muito feliz.

– Eu também. Muito feliz – Beijei Ian ternamente, aproveitando a distração das nossas filhas. Eu estava mesmo muito feliz. Feliz como nunca havia me sentido.

– Mama, posso fazer uma plegunta? – Jullie disse toda dengosa, ri do seu jeitinho meigo de falar. Ela falava perfeitamente as palavras, mas às vezes trocavas algumas letras, como ''R'' pelo ‘''L''.

– Claro meu amor. – Falei sorrindo e Ian me olhava com uma cara de ‘'Lá vem bomba''.

– Como os bebês vão palar dentlo da baliga das mamães? – Ela perguntou com uma carinha inocente, olhando curiosa para minha barriga ainda sem volume. Ian parecia congelado no lugar e eu sentia minhas bochechas corarem fortemente. – Como meu irmãozinho foi palar na sua baliga mamãe?

– Eu, ahn, bem... – Engasguei. Porque nós pais na maioria das vezes não estamos preparados para falar sobre isso, sendo uma coisa tão natural... Da vida? Então, ouvimos um baque surdo na porta.

– Entre... – Ian e eu dissemos em uníssono. Salvos pelo bongo. Ou melhor, pela Mel.

– Mel? Tudo bem? Você está pálida! – Perguntei, preocupada. Mel abriu um enorme sorriso e parecia alheia as minhas preocupações.

– Peg eu... Estou esperando outro bebê!

– Oh meu Deus, isso é... Ótimo! – Falei abraçando minha irmã. - Parabéns!

– Bom... Nós também temos uma novidade... – Ian falou me abraçando, envolvendo seus braços em minha cintura. Mel arqueou as sobrancelhas, como se nos questionasse qual seria tal novidade.

– Eu também vou ter outro bebê Mel – Confessei com os olhos marejados. Finalmente, a nossa família estava completa, e tudo estava nos eixos novamente.

# Meses Depois #

– Ian, eu estou grávida e não doente, meu amor.

Reclamei enquanto Ian me carregava no colo até o nosso quarto. Sim, desde o inicio da gravidez, Ian me enchia de mimos e cuidados, pois segundo ele, não pode aproveitar a gestação das nossas pimpolhas, por isso, agora queria aproveitar ao máximo antes do nascimento da nossa outra princesa, ou do nosso pequeno príncipe, já que não sabíamos o sexo do bebê.

– Nada disso Peg, você já se esforçou demais hoje! Precisa descansar e seguir as orientações de Doc direitinho!

– Eu posso andar sozinha, esqueceu que Doc disse que seria até melhor eu andar, que o bebê se sentiria melhor acomodado?

Lembrei, tentando revidá-lo, mas não adiantou, ele continuou andando comigo no colo pelo corredor. Eu sabia que aquilo traria prejuízos a ele, afinal, eu tinha ganhado quase dez quilos desde o inicio da gestação e não estava mais tão leve quando ele estava acostumado.

– Ian, me põe no chão amor. Você pode machucar a sua coluna, não estou tão leve assim, estou com quase dez quilos a mais.

Não há como negar, meu corpo mudou muito. Além do peso e da barriga elevada, meus seios estão o dobro do tamanho e extremamente doloridos, meus pés incham com facilidade, meu quadril está mais largo...

– Pra mim você continua leve. É como carregar um anjo. – Ele disse docemente e mesmo tentando conter as lágrimas começaram a brotar dos meus olhos.

– Chegamos amor – Ele disse sorrindo abrindo a porta do nosso quarto com o pé e me pousando com cuidado na cama. Sorri ao ver que nossas filhas dormiam profundamente em suas caminhas ao lado da nossa, depois de tanto brincar. Elas estavam cada dia mais lindas e mais espertas. Minhas princesas.

Enquanto Ian trocava de roupa, olhei para a pequena muda de pequenas roupinhas. As roupinhas do nosso bebê que eu havia última incursão. Acariciei minha barriga elevada pensando que logo meu bebê estaria nos meus braços, eu me sentia eufórica. Esperei que ele ou ela desse algum sinal ao meu toque, mas não. Devia estar dormindo tranquilo dentro de mim. Essa semana ele estava calmo, não havia chutado muito. Será que eu devia me preocupar?

– O que tanto pensa meu amor? – Ian sussurrou me aconchegando em seus braços, me tirando dos meus devaneios.

– Nada demais amor. Só que logo nosso bebê vai estar aqui com agente. – Falei dando um sorriso fraco tentando esconder a minha preocupação. Por mais que eu NÃO fosse mãe de primeira viagem, eu sabia que um parto nunca é fácil, e não queria que nada saísse errado. Queria que fosse perfeito. Eu já o amava tanto.

Doc disse que a partir de agora devíamos ficar alertas, tanto pra mim, como pra Mel, já que os bebês podem nascer a qualquer momento.

– Eu te amo, sabia? – Ian sussurrou no meu ouvido – Me desculpe Peg, sei que eu posso estar exagerando nos cuidados, e que talvez isso possa estar te incomodando, mas é que...

– Shh – Sussurrei colocando meus dedos em seus lábios impedindo que ele terminasse a frase – Eu sei que você está tentando nos proteger meu amor. Não precisa se desculpar, e sabe de uma coisa... Eu adoro os seus mimos. Acho que estou ficando mal acostumada sabia senhor O'Shea.

Ian beijou minha testa com carinho, e sua mão pousou em minha barriga elevada.

E na maioria da vezes, a noite terminava assim. Dormíamos abraçadinhos um ao outro. Ás vezes eu acabava acordando no meio da noite com os chutes do bebê, que às vezes acertavam minhas costelas, o que doía bastante. Muitas vezes também, eu não conseguia dormir, por que o bebê estava muito agitado, Ian conversava com ele, até cantava, e ele acaba se acalmando dentro de mim, apenas por ouvir a voz do pai. Ele sempre estava ao meu lado, não importa o que acontecesse. Quando eu sentia dor, quando eu me sentia insegura, quando nossas filhas estavam doentes ou quando eu precisava de um ombro amigo. Ele sempre estava ali comigo.

Foi naquele momento que eu percebi o quando nós havíamos amadurecido desde que eu acordei no corpo da Pet, no inicio da minha décima vida. Tantas coisas haviam passado e ainda permanecíamos ali, mais apaixonados do que nunca. Além de marido e esposa, somos amigos, parceiros, cúmplices, amantes e agora... Pais. Enquanto tivéssemos um ao outro, eu sempre teria a certeza que tudo daria certo.

– Eu te amo Ian. – sussurrei baixinho, com os olhos semicerrados, quase sendo vencida pela inconsciência.

– Eu te amo, Peg.

Nosso amor seria para sempre. E se morrermos, morreremos juntos.

E mentira, eu nunca disse. Porque o nosso amor seria para sempre.

# 3 Dias Depois #

Mel e eu estávamos lavando legumes na cozinha. Conversávamos animadas sobre a chegada dos nossos bebês. Ambas estavam prestes a completar os nove meses de gestação.

A barriga da Mel estava linda e maior que a minha, bem mais pontuda. Tanto ela como eu não víamos a hora de ver o rostinho dos nossos lindos bebês.

Doc, é claro, quase teve um colapso quando soube que tinha duas grávidas nas Cavernas para que ele pusesse tomar conta, mas logo ele se tranquilizou, afinal, ambas tinha sido tranquilas na medida do possível. Sorri ao me lembrar que ele disse que se continuássemos assim acabaríamos montando um time de futebol nas Cavernas.

Outra coisa incrível era o que acontecia sempre que Mel e eu chegamos uma perto da outra. Tanto o bebê de Mel quanto o meu, chutavam animados. Até parece que sabiam que o priminho a caminho estava ao lado!

– Peg, não seria incrível se os nossos bebês nascessem no mesmo dia? – Mel disse sorridente, enquanto cortava os tomates.

– Seria mesmo, mas acho meio impossível que isso aconteça – Falei sorrindo de orelha a orelha – Doc teria um colapso. – Completei e Mel deu um risinho, concordando comigo. Doc realmente teria um colapso.

Fui puxada para a realidade ao sentir uma pontada forte em meu ventre roubando-me o ar. Benditas contrações de Braxton-Hicks! Doc explicou-me sobre elas, é como se meu corpo estivesse se preparando para o parto, por isso a tensão na barriga. Mas começou a doer com bastante intensidade de ontem pra cá. Procurei ignorar as pequenas pontadas, continuando a lavar e a cortar os legumes. Aos poucos, a dor foi sumindo, quase que completamente, restara apenas um leve desconforto.

De repente, mais uma pontada, que me fez parar completamente o que estava fazendo, segurando-me na pia. Um dor muito mais forte do que todas as outras anteriores. Parecia que todos meus músculos se atrofiavam e tencionavam ainda mais sem um milésimo de segundo de relaxamento. A dor se intensificava, já não conseguia ver mais nada a minha frente, minha respiração ofegante já não era mais o suficiente, minhas mãos pressionavam meu ventre na busca incessante ao alivio por mínimo que seja.

– Aiiiiii. – Gemi baixinho acariciando minha barriga tentando conter às lágrimas que queriam cair por causa da dor.

– Peg, o que foi? – Ela me olhou pasma e depois seu olhar se voltou para sua barriga elevada. Ela também gemeu. – Aiiii!

– Mel... Acho que... O BEBÊ. VAI. NASCER!

– Não Peg... Isso é impossível – Ela disse segurando a barriga – É o meu bebê que está nascendo!

Entrei em pânico. Mel olhou para mim desesperada. Sua roupa estava molhada e uma pequena poça d’gua estava abaixo dela. Naquele instante, senti um líquido quente escorrer pelas minhas pernas. Minha bolsa também havia estourado! E agora?!

–Ai meu Deus, Peg! Sua bolsa também estourou!.

– Peg, Mel, o que foi? – Perguntou Jamie, aparecendo na porta após ouvir os nossos gritos após a primeira contração.

– OS. BEBÊS. ESTÃO. NASCENDO! – Mel eu gritamos, em uníssono. Era chegada a hora, depois da tantas expectativas, nós finalmente iríamos trazer nossos filhos ao mundo.

– O que... O que eu faço? – Jamie perguntou completamente desesperado, ele estava mais pálido que uma folha de papel.

– Vai pedir ajuda Jamie... Por favor. – Mel disse ofegante.

Jamie saiu correndo da cozinha e cerca de 40 segundos depois, Ian e Jared entraram na cozinha com expressões completamente assustadas e confusas. Logo Ian me pegou em seus braços, e saiu a toda em direção ao Hospital do Doc. Jared fez a mesma coisa com Mel.

– Está... Doendo muito Ian... Estou... Com... Medo... – Falei ofegante enquanto Ian me ajeitava melhor em seus braços. - Tenho medo que algo... Dê errado.

– Vai ficar tudo bem meu anjo. Eu estou aqui. Não tenha medo.

# Tempo depois

POV. Ian

Eu apertei os olhos ao ouvir mais um grito agudo ecoar pelo correndo, que parecia meio claustrofóbico para mim. O grito foi seguido pela voz da minha irmã Sophia, que incentivava as futuras mães a fazerem mais força.

– Ian se acalma cara. Vai acabar furando o chão desse jeito. – Jared resmungou, enquanto eu andava de um lado para o outro no corredor de pedra.

– Eu queria estar lá com ela. Eu prometi que estaria! – Senti um frio percorrer minha espinha quando ouvi novamente os gritos dela e de Mel ecoarem.

– Eu sei, eu também queria. Mas nós estávamos muito nervosos cara, provavelmente iríamos atrapalhar se estivéssemos lá. Acho que Doc fez certo.

– Eu sei, é que eu estou aflito só isso, Jared. É horrível ouvir esses gritos e não poder fazer nada. – Falei derrotado.

Foi naquele momento que um choro forte e estridente ecoou pelo corredor. Meus olhos brilharam de ansiedade e meu coração pulava no peito. Meu bebê havia nascido.

Estava pronto pra correr a toda no dentro da sala, quando Sophia apareceu. Ela estava ajudando Doc, e vinha em nossa direção.

– E então?

Perguntei ansioso.

– O bebê de Mel e Jared nasceu! – Ela disse sorridente. Aquele era o chorinho do filho deles, constatei. Meu sobrinho, ou sobrinha. – É uma linda menina, forte e saudável, parabéns! Se quiser, por ir vê-las Jared.

– E o meu filho Sophia? Por que ele ainda não nasceu? Como Peg está? Deixa-me entrar lá, por favor, não aguento mais ouvir os gritos dela.

– Hey Ian, se acalma irmão. O caso de Peg é um pouco complicado. Ela não teve dilatação suficiente pra o parto normal, mas não dá esperar mais. A pressão dela subiu de repente e Doc acha melhor fazermos uma cesariana de emergência... Ou a vida de Peg e do bebê corre perigo... - Respirou fundo - Sinto muito.

Aquilo soou como um estrondo em meus ouvidos. Tentei dizer alguma coisa, mas nada saia de meus lábios apenas o pesar da revelação ecoando em meus ouvidos atormentando-me. Lágrimas intrusas escorriam pelas maçãs do meu rosto, até meus lábios.

Entrei a todo no Hospital. Pude ver de relance Mel com sua linda menininha nos braços, aconchegada nos braços de Jared. Tudo passou com um borrão, meu coração palpitava, parecia que eu estava prestes a ter um ataque.

E lá estava Peg, encolhida na outra maca, completamente assustada e amedrontada. Assim que seu rosto encontrou o meu, pude ver que seus olhos estavam vermelhos por causa do choro. Seu rosto estava suado e sua pele pálida e fria.

– Ian... O nosso bebezinho – Ela choramingou, apertando minha mão com força.

– Tente se acalmar meu amor. Eu estou aqui com você. Nada de ruim vai acontecer com você e o nosso bebezinho.

– Eu te amo. – Ela sussurrou e logo Doc colocou um pequeno comprimido de Sem Dor em sua boca, para começar a operação.

Ambos ficamos em silêncio, não sabia o que dizer e tinha duvidas se minha voz sairia forte o suficiente para ajudá-la. Eu estava tão assustado, não tinha a mínima ideia do que fazer. Mas o que eu sabia, era que permanecia ali ao seu lado, não importa o que acontecesse.

POV. Peg.

Eu estava com medo. Muito medo. Medo do que pode acontecer daqui pra frente. Medo que algo aconteça ao meu bebê.

– Tente ficar calma Peg. Vai ficar tudo bem. – Ouvi Doc falar baixinho. Eu apenas assenti.

Meu corpo estava banhado em suor, calafrios faziam todos meus ossos tremerem, sentia as batidas do meu coração em meus ouvidos. Tive a vontade de sorrir, pois em breve o coração que eu escutaria não seria mais o meu, ele poderia até parar porque um muito mais frágil e muito mais importante logo continuaria a bater em plena força.

Nada, absolutamente nada me tiraria da letargia que me alcançava, todo meu organismo trabalhava em prol do nosso bebê. Do me filho que logo estaria nos meus braços.

Em nenhum segundo consegui desviar meu olhar dos olhos de Ian. Meus portos seguros que me davam força pra seguir em frente. Eu podia sentir sua mão de Ian segurando a minha e lágrimas escorrendo pelas maçãs do meu rosto.

Aos poucos eu sentia o Sem Dor fazer efeito. Eu sentia uma estranha dormência em meu corpo, mas ao mesmo tempo, tinha consciência de tudo a minha volta.

Um grande corte foi feito em meu ventre, eu sei por que eu senti quando a lâmina fria do bisturi tocou em minha pele, mas não senti dor. Apenas um leve desconforto.

Procurei os olhos de Ian com os olhos mesmo tendo as pálpebras pesadas, quando encontrei seu reflexo embaçado tentei sorrir. Sentia que tudo se esvaia de mim menos a certeza que eu o amava mais que tudo, igualmente como eu amava nosso filho. Sentia-me tranquila ao saber que ele cuidaria do nosso pequeno anjo da melhor forma possível. Que daria sua vida por ele.

Então, mesmo muito distante eu pude ouvir um choro fraco e audível cortar o Hospital.

Meu bebê havia nascido. Senti como se um enorme peso tivesse se esvaziado. Eu tinha conseguido, meu bebê, meu filho havia nascido. Ian beijou ternamente minhas testa, tirando uma mecha ensopada do meu cabelo do meu rosto. Seus olhos safira, neve, meia noite brilharam ao ver nosso bebê pela primeira vez.

– É um menino! – Revelou, extasiado – É o nosso reizinho, Peg!

Completou, colocando o pequeno pacotinho de vida em meus braços, ainda ensanguentado e com o cordão umbilical.

– Ele é lindo, Ian! – Murmurei emocionada, beijando a pequena testa do nosso menininho, com lágrimas nos olhos. Ele era lindo. Meu pequeno Ian. Tinha pele branca e espessos cabelos dourados, sedosos. Nosso pequeno rei.

– Diga ''Oi'' pra mamãe filho. – Ian falou sorrindo. Acaricie com carinho as bochechas vermelhinhas do nosso bebê. Ele era perfeito. Uma perfeita mistura minha de Ian.

De repente, senti uma forte fraqueza me dominar. Tudo parecia passar como um borrão, fora de foco. Eu respirava com dificuldade, como se o meu pulmão estivesse parado de funcionar. Todas as imagens estavam embaralhadas, as vozes confundiam-me, não conseguia me focar em nada.

POV. Ian

– Diga ''Oi'' pra mamãe filho. – Falei sorrindo. Peg acariciava com carinho as bochechas vermelhinhas do nosso bebê. Ele era perfeito. De repente, tudo correu muito rápido.

Senti as mãos de Peg soltarem as minhas lentamente e seus olhos perderam o foco, se fechando lentamente. O corpo de Peg começou a se contorcer na cama, se debatendo fortemente, como se estivesse sendo eletrocutado com uma corrente de 2000 volts. Todo esse tempo, o seu rosto estava vazio – inconsciente.

Doc costurava os cortes os cortes com destreza e grande rapidez, Peg perdia muito sangue em pouco tempo, ver o líquido vermelho escuro se esvair de seu corpo.

O nosso pequeno bebê chorava assustado, se remexendo inquieto em meus braços.

– Doc, o que está acontecendo? – Perguntei desesperado enquanto Doc verificava seu pulso, conferindo suas pupilas. Ele iluminou-as com uma lanterna seus olhos inconscientes e observou suas pupilas dilatarem. Ele encostou o ouvido na caixa torácica de Peg.

– Ela está tendo uma eclâmpsia Ian!

–Não fale difícil comigo, homem! O que é isso? É perigoso?

Mas ele não respondeu. Só continuou dando voltas no catre fazendo isso e aquilo, coisas que não conseguia identificar o sentido, e nem conseguia identificar. Tudo o que conseguia ver era Peg deitada convulsionando a minha frente e eu sem poder fazer nada. Nosso menino se agitou nervoso no meu colo, provavelmente sentindo a agonia da mãe. Sophia veio até mim e me puxou pelo braço.

–Vem, vamos sair daqui.

Tentei resistir.

–Não! De jeito nenhum vou sair de perto dela agora!

Ela me puxou de novo.

–Não tem nada que possa fazer aqui, só vai estressar o bebê.

Ela tinha razão, mas isso não fazia com que eu quisesse estar longe de Peg. Não sabia o que era aquele negócio. E se fosse o fim? E se Sophia estivesse me levando para longe para que eu não a visse morrer? Não podia ser. Depois de tudo tínhamos passado para que ficássemos juntos, depois de passar por todo aquele drama com Cassie, depois Espectro de Fogo, e as meninas. As meninas... Que deviam estar enchendo a paciência de Jeb para saber do novo irmãozinho. Agora estariam sozinhas? Não. Não podia ser.

Sophia continuava me puxando para fora. Olhei uma última vez para Peg na cama, tão indefesa quanto nosso bebê. Mas não podia alcança-la onde estava agora. Mel olhava para todos em busca de uma resposta para o que estava acontecendo e quando seus olhos pararam em mim dei de ombros. Eu não sabia de nada. Estava no escuro.

No momento que entramos no quarto, Joy e Jullie se jogaram em cima do bebê que não fez nada a não ser dormir, ou olhá-las com olhos que não entendiam nada. Mas então o tempo passou, o encanto delas diminuiu e elas notaram finalmente que havia algo errado.

–Papai, porque mamãe não veio com ‘ocê? - Joy perguntou.

–Ela está bem? - Jullie perguntou subindo no colo de Sophia. Troquei um olhar com ela, e o seu disse que cuidaria disso.

–A mãe de vocês está muito cansada. Ficou tão cansada por tirar o seu irmão de dentro da barriga que vai ficar com o tio Doc por uns dias. Tudo bem para vocês?

–Mas a tia Sharon não vai ficar com b’ava? - Perguntou Joy desconfiada.

–Não. Ela vai entender porque a sua mãe... Ela está... – Fiquei esperando para o que ela ia dizer. Doente? Em perigo? Apenas com dor? Mas ela não terminou a frase, vendo o desespero em meus olhos – Está ótima. Não se preocupem. Tia Sharon vai entender.

Fiz que sim agradecendo que não dissesse nada às meninas. Eu não aguentaria que minhas menininhas ficassem infelizes. Se elas se sentissem tão mal quanto eu me sentia, eu não poderia me aguentar em pé. Doía não ter Peg ali ao meu lado.

Você é a única que conheci

Que me faz sentir desse jeito, sozinho não consigo

Eu quero ficar com você até ficarmos velhos

Você tem o amor que precisa bem na sua frente

Por favor, venha para casa

Mais tarde, as meninas dormiram e o menino também, nosso reizinho. Mas eu não poderia dormir, jamais. Eu não sabia o que estava acontecendo naquele hospital naquele momento e por mais que Sophia tentasse me explicar tudo o que a Alma Sophia sabia sobre aquilo, nada entrava na minha cabeça. Tudo o que conseguia pensar é que a taxa de mortalidade era alta. Toda vez que eu queria sair, Sophia se colocava a minha frente dizendo que eu tinha que esperar e que tudo o que eu faria seria me estressar mais e deixar o bebê sozinho.

Ah, o nosso bebê. Pequeno e rosadinho... Como Joy e Jullie tinham sido, mas um pouco maior. Perfeito como a mãe. Não queria estragar seus primeiros dias de vida, mas tinha certeza que ele devia ficar perto da mãe. Uma hora não aguentei mais e pedi para que Sophia levasse o bebê e fosse ver como as coisas estavam. Se não me deixava ir, que fosse me trazer notícias. Ela fez que sim, aninhando o bebê nos braços.

–Vai dar tudo certo, irmão. Você vai ver.

Ela disse antes de sair. Será? Eu só podia esperar, torcer e rezar. Esperar que ela estivesse certa, torcer para que Peg se recuperasse e rezar para que não a levassem para longe de mim.

Quando Sophia voltou, no meio da noite, o bebê não estava mais com ela. Era um bom sinal, certo? Sinal de que Peg estava com ele. Certo? As meninas ainda dormiam, mas eu não consegui pregar os olhos, não conseguia sequer pisca-los sem lembrar-me de Peg se remexendo no catre, como se tivesse pegado em um fio elétrico. Sophia entrou lentamente. Não poderia dizer se ela estava sorrindo. Era como se estivesse confusa sobre o que demonstrar.

–Oi. - Ela disse.

–E então? - Perguntei, louco demais para formalidades.

–Eu tenho boas notícias, mas uma má também.

Fiz que sim, suspirando e esfregando o rosto. Estava tão cansado de más notícias.

–Diga as boas, só Deus sabe o quanto eu preciso de boas notícias.

–Bem, a boa notícia, é que Peg está bem, e sobreviveu, apesar da seriedade do problema.

Soltei todo o ar que estava preso no meu pulmão, tão rápido e aliviado que chegou a doer. Peg estava viva! Meu amor estava bem! Graças a Deus!

–Outra boa notícia! Por favor! Ah como eu adoro boas notícias!

Disse gargalhando, mal dando atenção à má notícia que viria a seguir. Nada mais importava! Peg estava viva, respirando, e com nosso filho nos braços, e logo estaríamos juntos! O que poderia estragar aquele momento perfeito? Sophia fez um rosto como se tivesse pena da minha alegria.

–Bem... O bebê já está no Hospital sendo alimentado.

Suspirei. Agora tudo ficaria bem e voltaria aos eixos certos.

–E a má notícia... – Ela disse sentando-se na cama ao lado das meninas. Felizmente, elas tinham sono pesado como eu. – Ele não está sendo alimentado pela mãe. Mel está cuidando disso. Por enquanto.

–P-p-p-p-porque? O que há de errado com os seios de Peg? Os bicos racharam ou algo assim?

–Não. – Disse fazendo que não. Por algumas vezes abriu a boca mas nenhuma palavra delas saiu. Ela parecia não saber como colocar em palavras o que tinha para dizer. Tinha um mal pressentimento sobre aquilo – Peg está... Bem. Mas... Ela está... Em coma.

–Coma? Coma. – Fiz que sim. – Coma. - Disse, desolado.

–Ela está viva, isso é o que importa certo?- Disse Sophia vindo até mim – Não sabemos quanto tempo vai demorar, essas coisas não dá para prever. Mas de qualquer modo, achei que você devia saber, mesmo no meio da noite.

–Tudo bem. – Disse esfregando o rosto novamente – Obrigada por me avisar.

–Vai dar tudo certo. Ela vai voltar. Ela é forte. - Disse acariciando meu ombro.

–Eu sei. Esperança é a última que morre certo? - Ela fez que sim e me abraçou antes de ir embora. Rolei na cama por hora aquela noite, até que finalmente acabei sendo vencido pelo cansaço e cai na inconsciência.

Quando acordei as duas meninas já tinham acordado e estavam brincando juntas com as bonequinhas que Peg tinha trazido para elas. Quando abri os olhos para a cruel realidade de que Peg não estava ao meu lado na cama, elas vieram para cima de mim, pedindo para que as levasse para ver a mãe. Bem, eu precisava fazer isso, mais cedo ou mais tarde. E quanto mais cedo fizesse, mais cedo esperava que Peg voltasse para mim... Para nós. Nós, sua família, seu marido e suas filhas, sua irmã e seu irmão, que há essa altura deviam estar como eu. Desesperados. Peguei as duas pela mão depois de me vestir e as levei até refeitório para tomar café e só então rumamos ao Hospital.

Mel ainda estava lá, e nos recebeu quando chegamos. Doc tinha acabado de sair. Sarah, a filha já batizada de Mel e Jared, e nosso filho estavam deitados no catre ao lado, dormindo. As meninas foram cutucar os bebês e eu e Mel ficamos conversando.

–Foi assustador. Então simplesmente acabou. Ninguém me diz nada para que eu não estresse a nossa Sarah. Bem, só podemos esperar.

Fiz que sim e fui até o lado de Peg sob o olhar de Mel. Não parecia nada com a imagem que ficou repassando a minha cabeça a noite toda, de todo o seu corpo se remexendo. Comparada ao dia anterior, Peg parecia o mesmo anjo que decorava nossa cama e minha ida todos os dias com seu sorriso. Parecia dormir com calma. Os olhos fechados levemente, os braços estendidos ao lado do corpo, os cabelos caindo em cascatas pelos ombros, ainda sujos devido ao suor da noite passada. Mas nada daquilo importava, porque quem eu amava, a Alma pequena e prateada estava adormecida na nuca daquele corpo.

–Mamãe!

Joy e Jullie disseram ao mesmo tempo quando me viram parado ao seu lado. Correram até nós e apoiaram os bracinhos em cima do catre. Joy tocou o braço da mãe.

–Acorda mamãe! - Pediu ela sorrindo, mas logo seu sorriso murchou quando viu que a mãe não acordava.

–Porque mamãe não acolda? - Jullie perguntou depois de alguns segundos. Joy também levantou os olhos do rosto da mãe para procurar uma explicação. Sorri tranquilizador.

–Mamãe está... Cansada. Mas vai dar tudo certo. Ela vai acordar. Só vai demorar mais um pouquinho.

Mais tarde Jared veio trazer café para Mel e ver Sarah e quando a hora do almoço chegou, pedi que ele levasse as meninas até lá. Mel amamentou os bebês e a ajudei na tarefa na medida do possível. Ela tirou um cochilo e eu fiquei ao lado de Peg.

–Sinto falta de você. Nosso reizinho também. Volta para nós. Por favor.

E enquanto eu estiver vivendo,

Estarei esperando

Enquanto eu estiver respirando,

Estarei lá

POV. Peg

Sentia todo meu corpo leve. Não havia nada, nenhuma dor, nenhum som. Eu apenas conseguia ouvir a minha própria respiração, calma e compassada. Era como se meu corpo estivesse flutuando.

– Peg, por favor... Volta pra mim. Volta pra nossa família. Nós precisamos de você aqui meu amor. – Ouvi uma voz chorosa e carregada de dor me chamar. Ela parecia distante, mas aos poucos foi se tornando mais clara, mais audível. – Peg, eu amo você meu amor, não me abandone... Abra os olhos, por favor...

Senti uma mão quente tocar meu rosto e uma corrente elétrica percorreu meu corpo. Naquele momento uma enxurrada de lembranças inundou minha mente. Ian! Ian estava falando comigo.

Eu queria falar com ele. Queria falar que eu estava bem, que estava ouvindo tudo que ele dizia, mas meu corpo parecia não responder aos comandos da minha mente.

Aos poucos minha mente foi captando todos os pedaços confusos das lembranças; primeiramente as fortes contrações em minha barriga enorme, Mel e eu estávamos entrando em trabalho de parto. Os olhos de Safira de Ian me confortando, o choro insistente de uma criança, meu corpo sendo tomado por espasmos e depois, escuridão. Então, como todas as memorias se encaixaram como num quebra cabeça, eu tive certeza. Finalmente eu havia me situado, eu tinha dado a luz ao meu filho. Meu lindo filhote que se formava dentro de mim finalmente tinha vindo ao mundo.

Senti meu coração bombear o sangue com mais força, minha respiração se tornar mais alta, mais rápida. Meu bebê. Onde ele está? O que terá acontecido? Então com todas as forças que restavam em meu corpo, eu apertei levemente a mão de Ian, que segurava a minha. Ouvi-o segurar a respiração, surpreso.

– Doc, ela está acordando! Ela apertou minha mão!

Ele disse, em um misto de espanto de extrema felicidade.

Minha garganta estava seca e minha cabeça doía intensamente, respirei fundo fazendo uma força enorme para abrir os olhos e depois de muito esforço consegui realizar. Então me deparei com aquele lindo par de olhos Neve, Safira, Meia Noite me fitavam marejados, como se vissem uma miragem e não algo real.

– I-Ian? – Falei com a voz rouca pela falta de uso e não demorou muito pra perceber que eu ainda estava no Hospital. Mas o que eu ainda estava fazendo ali? E se eu estava ali, porque não conseguia encontrara meu bebê em lugar algum?

– Peg! Meu amor, você voltou! - Ian disse acariciando meu rosto, examinando-o, procurando sinais de desconforto como sempre fazia.

–Onde eu tinha ido? - Perguntei, completamente confusa e desorientada.

– Você voltou pra nós! - Ele disse apertando a minha mão. – Peg, eu tive tanto medo de te perder... Tanto medo...

– O que... O que aconteceu, Ian? Porque fica repetindo isso? – Perguntei ansiosa tentando me levantar sem sucesso. Todo o meu corpo parecia feito de chumbo. E eu estava cansada, tragicamente cansada Não conseguiria erguer meu próprio peso.

– Você... Entrou em coma depois do parto. – Ele disse meio hesitante. Toquei meu abdômen agora liso, sentindo apenas os pontos recém-costurados na minha pele fina, lembrando-me da hora do parto, revirando minhas memórias atrás da veracidade do que ele dizia. – Você está aqui há quase uma semana Peg.

Aquelas palavras pareceram girar na minha mente. Uma semana... Uma semana... Uma semana... Estivemos separados por uma semana completa? Eu, meu marido e meus filhos? Separados pelas cortinas da inconsciência. Mas meu filho estava há todo esse tempo sem comer?

– Senti tanto a sua falta – Ian disse acariciando meu rosto, distraindo-me dos meus pensamentos perturbadores. Fechei os olhos apenas apreciando seu carinho.

–Onde nosso bebê está? – Perguntei ansiosa, já não conseguia mais suportar a curiosidade dilacerante, se ninguém me trouxesse meu pequeno, eu mesma iria a sua procura e nem mesmo meu corpo pesado me impediria. Nada me impediria.

–Está no quarto dormindo. Parece um anjo. Ele é perfeito amor! Como a mãe, é claro.

Acrescentou com um sorriso.

Por mais que tentasse não conseguia me lembrar do seu rostinho, que observara por apenas curtos segundos. Mas sabia que devia ser como Ian dizia. Mais uma criança cheia de vida, e olhos brilhantes como os dele.

–Eu quero vê-lo. - Pedi. Ele sorriu, beijando meus lábios alegre, com os olhos brilhantes de felicidade.

–Vou trazê-lo para você. Eu dei o nome a ele, se não se importa.

Estreitei os olhos para ele, sorrindo. Gostara de Jullie, quando ele havia sugerido da primeira vez o nome da nossa princesa, que nome lindo ele tinha guardado para o nosso meninão agora?

–E qual é? - Pergunte curiosa.

–Ryan. Significa Pequeno Rei.

Sorri novamente e passei os braços pelo seu pescoço trazendo-o para perto.

–É perfeito. Nosso pequeno rei. - Sussurrei no seu ouvido. – Ryan O’Shea.

>>>

– Olha só quem veio ver a mamãe – Ouvi a voz de Ian chamando minha atenção. Levantei-me meu rosto e o vi entrando pela porta do Hospital, com um pequeno embrulho azul nos braços. O nosso bebê, o pequeno fruto no nosso amor repousava em seus braços. Não pude evitar abrir um imenso sorriso ao vê-lo.

Ian se aproximou da maca com o nosso pequeno, e eu tinha certeza que meus olhos brilhavam radiantes naquele momento. Um dos momentos mais incríveis da minha vida.

Ian colocou nosso pequeno rei com cuidado em meus braços. Ajeitei-me na maca pra poder segurá-lo com segurança, e Ian colocou alguns travesseiros nas minhas costas.

– Oi meu amor. – Sussurrei baixinho acariciando as bochechinhas rosadas do nosso bebê. Ele estava acordado e seus pequenos olhinhos me fitavam confusos. Mas não demorou muito pra ele estar completamente à vontade em meus braços. Ele era realmente perfeito. – Mamãe te ama muito, meu menininho.

Ryan começou a se mexer inquieto em meus braços, suas pequenas mãozinhas de bebê puxaram o vestido que eu usava. Coloquei um dedo na mãozinha dele e ri bobamente quando ele o segurou.

– Acho que ele está com fome. – Ian disse sorrindo ao ver um pequeno bico se formar na boquinha de Ryan.

Logo seu choro forte e audível começou a ecoar pelo Hospital. Afastei com cuidado as alças do vestido que eu estava usando, deixando meu seio esquerdo de fora. Ajeitei Ryan melhor em meus braços, de modo que ficou um pouco de lado, com a boquinha próxima ao meu seio, então Ryan começou a sugar avidamente e foi se acalmando aos pouquinhos.

Aos poucos meu bebê deixava fraca a pressão em meu mamilo. Seus olhinhos tremeram, quase se fechando, suspirei quando sua boca soltou meu seio. Não demorou muito para que seus olhinhos se fechassem completamente e ele dormisse em meus braços.

– Como fizeram para alimentar ele enquanto eu... – Pausei respirando sentindo um bolo se formar em minha garganta – Enquanto eu estava em coma...

– Mel o amamentou durante esse tempo.

– Falando de mim? – Ouvi a voz de Mel adentrar o hospital. Ela estava parada na porta nos olhando com os olhos marejados, segurando um pequeno embrulho rosa nos braços.

– Mel!!!

– Oi, irmã. – Ela disse com um sorriso que poderia se traduzido com uma palavra: Alivio. – Tem alguém aqui que quer te conhecer Peg.

Ela se aproximou lentamente do catre onde eu estava deitada com Ryan nos braços, e aos poucos o pequeno rostinho da bebê envolta no cobertor foi ficando mais e mais claro. Era uma linda menina, de pele rosada e escassos cabelos castanhos. Uma mistura perfeita me Jared e Mel. Minha sobrinha linda.

– Ela é linda, Mel. – Disse toda orgulhosa.

– Diga Olá pra tia Peg, Sarah. – Mel disse carinhosamente acariciando o rostinho da filha.

– Eu vou deixar vocês conversarem a sós. – Ian disse dando um beijo no topo da minha cabeça. Não sei quanto tempo se passou depois disso, mas Mel e eu ficamos horas conversando. Ela me contou detalhadamente tudo que acontecera depois que eu entrei em coma até hoje. Contou o desespero que ela sentiu ao pensar que iria me perder novamente.

Amamentamos nossos filhotes, nos abraçamos, rimos, choramos, e logo Ian voltou pra o Hospital com uma ótima noticia: Eu estava finalmente liberada, podia sair do Hospital.

Depois Ian voltou novamente pra me ajudar a voltar para o quarto, já que teria de ficar de repouso por causa da cessaria, só que desta vez ele não estava sozinho. Minhas princesas, Joy e Jullie, estavam com ele. Elas correram para o meus braços e ficaram babando o irmãozinho.

Finalmente, naquele momento, ao ver minha família toda unida, eu me senti completa. Depois que tudo que passei pra chegar até aqui, me senti realizada e não tenho duvidas que se precisasse, passaria por tudo de novo pra chegar até aqui.

Eu sem duvida sou a alma mais sortuda de todo o universo!

* Meses Depois*

POV. Peg:

– Isso... Isso tudo é pla gente mamãe? – Jullie perguntou incrédula quando viu a Sala de Jogos completamente decorada com bexigas e chapeuzinhos coloridos, línguas de sogra, e uma mesa repleta de docinhos, tudo necessário para uma festa infantil.

– É sim meu amor. É pra você e pra Joy. Todo mundo aqui ajudou o papai e a mamãe a preparar essa festa de aniversario pra vocês. – Falei beijando a bochecha de cada uma das minhas princesas. – Ou você acha que nos esqueceríamos do dia do nascimento das nossas princesas?

– Obrigada mamãe! – Joy disse sorridente – Eu te amo.

– Eu também te amo filha. Agora vai lá aproveitar a festa.

Sorri ao ver minhas pequenas felizes e saltitantes, brincando, pulando, sorrindo. Senti meu coração de encher de fagulhas e mais fagulhas e felicidade. Tudo estava novamente em perfeita paz.

Todos estavam ali, na Sala de jogos, sorrindo, conversando, se divertindo. Minha família. Eu não podia querer mais que isso. Era tudo que eu jamais pensei em ter quando cheguei a Terra... E que tanto tempo tenha se passado, depois de tantas reviravoltas, finalmente havíamos chegado ao nosso final feliz. Ian entrou na Sala de Jogos naquele instante, interrompendo meus devaneios. Ah, ele estava mais lindo, com aqueles olhos Neve, Safira, Meia Noite que sempre me hipnotizaram e os cabelos molhados, indicando que ele havia acabado de sair do banho.

Nosso pequeno rei, Ryan, estava em seu colo. Assim que me viu, meu pequeno abriu um imenso sorriso que mostravam seus primeiros dentinhos. Ele estava lindo com uma blusinha xadrez e um pequeno shortinho azul claro e com os cabelos penteados pra trás. Sorri. Aquilo com certeza era coisa de Ian, o pai mais coruja que eu já conheci na face da terra.

– Oi meus amores – Falei sorrindo quando Ian se sentou ao meu lado, me dando um selinho. Nosso filho começou a balbuciar algumas coisas fazendo-me rir, como se ele estivesse respondendo ao meu cumprimento.

O tempo passou rápido, as meninas pareciam estar se divertindo muito. Senti-me satisfeita, afinal, aquilo era um pouco da vida humana normal que elas nunca teriam, enquanto a terra fosse dominava pelas almas. Logo chegou a hora dos parabéns e todos se juntaram em torno da mesa improvisada que onde estava o belo bolo que Truddy havia preparado. Em cima do bolo tinha uma velinha em forma de três.

Todos cantaram animados em coro os parabéns para minha filhotas e eu beijei a bochecha de cada uma delas. Então, elas se prepararam para soprar à velinha.

– Não se esqueçam de fazer um pedido antes se soprar a velinha. – Ian disse sorrindo tocando a ponta dos narizes delas.

As duas fecharam os olhinhos fazendo seus pedidos e todos esperaram elas soprar as velinhas.

– Eu quelo assoplar a velinha!

Jullie resmungou, cruzando os braços.

– Ah não! O aniversario é meu também! Também quero assoprar a velinha! – Joy falou fazendo bico.

– Ei, não briguem meus amores. Que tal vocês assoprarem ao mesmo tempo? – Elas me olharam com expressões de incrédulas como se eu fosse um gênio. Elas sorriram pra mim e logo depois assopraram a velinha ao mesmo tempo e todos bateram palmas. Então, cortei o primeiro pedaço de bolo.

– Para quem vai o primeiro pedaço de bolo, meus amores? – Perguntei curiosa.

– Bom... Se agente der o primeiro pedaço pra mamãe, o papai vai ficar b’avo, e se agente der para o pai, a mamãe vai ficar b’ava – Joy começou a se explicar. De onde ela tinha tirado aquilo? É claro que nem eu nem Ian ficaríamos bravos. – Então, o primeiro pedaço pro nosso irmãozinho, o Ryan.

Senti meus olhos ficarem marejados. Minhas princesas eram tão espertas a cada dia ficavam mais lindas. Eu só tinha a agradecer por aquelas preciosidades.

– Obrigado – Ian sussurrou no meu ouvido, enquanto observávamos nossas filhas brincarem, alegres.

– Por?

– Por tudo Peg. Por me dar uma família tão linda, filhos maravilhosos, por ser minha esposa, por estar sempre comigo, por não ter desistido. – Ele disse com a voz embargada – E principalmente por ter aceitado ficar comigo, aqui.

– Eu te amo, Ian. Nunca seria capaz de viver sem você. – Falei unindo nossos lábios num beijo calmo e cheio de amor.

Ian suspirou de depois voltar a olhar para nossas filhas.

– Elas estão ficando cada dia mais lindas. – Falei sorrindo. – Se prepare senhor O’Shea por que essas mocinhas vão dar muito trabalho pra gente.

– Eu não te contei?

– O que? – Perguntei curiosa.

– Elas vão ser freiras quando crescerem. – Ele disse sério, mas logo um sorriso maroto surgiu em seus lábios.

– Bobo! – Falei sorrindo dando um leve safanão em seu ombro.

– Ai Peg, isso dói. – Ele disse fazendo careta. – É só que... Eu não sei se estou pronto pra vê-las crescer.

Como podia ser tão grande e parecer tão forte e ser tão sensível por dentro? Entrelacei minha mão com a dele e deitei minha cabeça em seu ombro.

–Acho que temos algum tempo antes de isso acontecer. - Sussurrei.

Jullie puxou minha manga e pediu mais um pedaço de bolo. Cortei-o de coloquei um pratinho. Ela agradeceu e foi até Benji. Entregou para ele e lhe deu um beijinho na face. Ele limpou carrancudo com a mão, mas não reclamou, além disso, provavelmente com medo de perder o bolo. Troquei um olhar com Ian.

–Talvez nem tato tempo... - Ele disse.

# Algumas Semanas Depois

POV. Jamie



–Jamie, você anda tão ansioso desde que voltou daquela incursão... – Alysson disse enquanto estávamos a caminho, de mãos dadas ao refeitório – Tem certeza que está tudo bem?



Perguntou, virando a cabeça de lado, como um cão que não compreende o seu dono. Será que eu havia deixado algo escapar? Talvez durante o sono? Eu falava de noite? Será que tinha me descuidado com alguma coisa. A última das últimas coisas que eu queria era preocupa-la. Principalmente às vésperas do que poderia ser o dia mais importante de nossas vidas.



–Tenho sim.



Disse fazendo que sim e sorrindo nervoso, e apertando ansiosamente a caixinha azul-marinha no meu bolso com força. Eu havia conseguido depois de me esgueirar para fora do hotel durante a noite na última incursão que tínhamos feito. Custara-me muito até escolhê-la e escondê-la de tudo e todos. Alysson continuou me encarando, ainda desconfiada.



–Se tivesse algo te incomodando, você me contaria. Não contaria?

Ela achava que algo estava me incomodando! Ficaria tão surpresa!!!

–Mas é claro que contaria.

Eu disse dando de ombros, sorrindo para ela. Ela estreitou os olhos e semicerrou-os e ela me examinou de cima abaixo, felizmente não notando o que eu escondia no bolso, apesar de estar tão desconfiada quanto estava na primeira pergunta que fizera. Ela se colocou a minha frente e passou o braço pelo meu pescoço fazendo-me olhar fundo nos olhos avelã;

–É bom, porque eu te amo – Ela disse baixando um braço e arrumando a gola da minha camiseta. – E se quiser que isso dure, tem que ser honesto e 100% sincero.

Fiz que sim beijando seus lábios, segurando seu rosto minúsculo.

–Eu sou.

Ela fez que sim, dessa vez mais confiante na minha palavra. Não era do meu feitio mentir para ela, e tecnicamente eu nem estava mentindo e não faria isso nunca mais em toda a nossa vida, mas era por uma boa causa. Eu estava com um bom pressentimento sobre aquilo.

Era hora. Não havia escapatória, não havia saída. Era o momento certo, o que eu estava esperando, não podia adiar mais, senão tudo iria pelos ares e eu não teria mais coragem para fazer. Nunca mais. E eu precisava. Minhas mãos suaram e minha respiração se acelerou. Alysson, sentada ao meu lado, notou.

–Jamie, qual o problema? – Perguntou pegando minha mão, exigindo uma resposta, deixando o gênio forte que herdara do pai transparecer – Há algo errado?



Olhei-a fundo nos olhos.



–Tem uma coisa que eu preciso fazer. - Disse decidido.

POV. Peg

Eu, Mel, Ian, Jared e as crianças estávamos almoçando e ocupávamos uma mesa inteira. Ian estava fazendo caretas para convencer Joy a comer o Chilli do seu pratinho de plástico, mas ela de cara fechada, estava determinada que não iria comer nada. Jullie, ao contrário da irmã, esbaldava-se com a colher na mãozinha gorducha, mas apenas um terço da comida chegava à boca, e os outros dois caiam sobre as pernas, a camiseta, ou ficavam espalhados nas fartas bochechas rosadas. Já tinha desistido de tentar limpá-la ou tirar a colher da sua mão.

–Porções menores filha. Sua bochecha não come e nem a sua roupa. - Eu disse, tirando seu cabelo do meio da lambança.

Benji, ao contrário da prima, comia direitinho, sem derrubar quase nada e quando derrubava, ele mesmo procurava o guardanapo para se limpar, e Mel e Jared ficavam todos corujas em cima dele, enquanto ele tagarelava por entre as colheradas.

–Papá é boom. É Chilli mamãe! É marrom – Ele dizia as gargalhadas.

–É marrom papai! Quer?

Perguntava de vez em quando empurrando a colher na direção de Jared que sorria e docilmente recusava. Ás vezes também oferecia a Sarah no colo da mãe, mas ela mal desviava os olhos do seio a sua frente. Ryan diferentemente da prima com quem dividia o aniversário, fitava tudo com olhos curiosos, mas principalmente meu rosto. Às vezes, distraía-se, soltava o seio e tentava tocá-lo, então reclamava e eu tinha que guiar sua boca novamente de encontro ao meu corpo. Ao olhar para os seus olhinhos, que ficavam mais claros e parecidos com os do pai e das irmãs a cada dia, não podia deixar de pensar como fizera já um milhão de vezes, o quanto era sortuda.

E foi quando Jamie subiu na mesa naquele dia e chamou a atenção de todos. Parecia nervoso, mas claramente tentava esconder. Alysson corou e perguntou baixinho o que ele estava fazendo, mas ele não respondeu.

–Oi gente. Desculpem incomodar, mas tem uma coisa que eu realmente preciso dizer e... Eu acho que todo mundo aqui merece ouvir. – Todos observaram interessados. Eu e Mel olhamos uma para outra, perguntando-nos o que ele estava fazendo. Seria por isso que agira estranho durante a ultima incursão? Jamie se ajoelhou na mesa, virando-se para Alysson, ficando de costas para nós. Eu e Mel trocamos outro olhar, dessa vez surpreso. Ele ia pedir a mão de Alysson em casamento!

– Alysson – Ele disse pegado sua mão, olhando diretamente nos seus olhos – Já faz alguns anos que estamos juntos e cada segundo que passo, só quero ficar mais e mais perto de você. Quem diria não é? Em um dia, você está conhecendo uma garota tentando realizar a fotossíntese na Praça Central e no outro, está em cima de uma mesa na frente de um refeitório lotado. Mas acho que isso é o legal da vida. São as surpresas.

Mel chegou mais perto de mim e entrelaçou nossas mãos livros, com os olhos castanho esverdeados brilhantes de lágrimas de puro orgulho.

–Nosso menino... - Disse baixinho.

–Alysson Marie Parker - Disse pausada e docemente - Você aceita se casar comigo?

Todos explodiram em palmas emocionadas, antes que ela pudesse responder, o que era completamente compreensível, já todos naquele lugar tinham visto Jamie crescer. Olhei para Alysson, para ver sua reação quando dissesse sim. Mas onde esperava encontrar paixão, emoção e lisonjeio, só encontrei um rosto vazio de emoções, rubro como um tomate olhando para todos os lados, menos para o futuro marido. Compreendi antes que todo o resto o fizesse. Ela iria dizer não. Diferente do que pensei e do que todos pensaram, não disse não, e nem sim. Apenas pulou o banco e saiu correndo em disparada.

O silêncio flutuou de repente pela sala, tenso, esperando que ela voltasse e dissesse que era brincadeira e que aceitava, mas os segundos se passaram e nada aconteceu, e Jamie continuou em cima da mesa, com a mão tremendo no ar no lugar em que a mão de Alysson estivera, e onde ele tinha esperado que para sempre ficaria. Dei Ryan a Ian e pedi que ficasse com ele um segundo, Mel fez o mesmo com Jared e me seguiu. Fomos até ele, e eu peguei sua mão, para que descesse da mesa.

–Ela... Ela saiu... Mesmo correndo?

Perguntou perdido baixinho, mas soou alto no silêncio da sala, e era como se ele não reconhecesse o mundo a sua volta. Mel pegou outra mão e juntas o guiamos para fora, para longe dos olhares incrédulos e indiscretos. Ele, de uma hora para a outra, com a respiração acelerada, ainda com o ar perdido. Mel apoiou-o na parede e forçou-o a se sentar.

–É melhor sentar querido.

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Ela disse, e estava certa. Ele parecia prestes a desmaiar a qualquer momento.

–Ela realmente... Fugiu? - Perguntou devagar, do mesmo jeito que fizera no refeitório, e era como se não reconhecesse a língua que falava. Mel fez que sim acariciando seus cabelos.

–Infelizmente sim.

–Por quê? – Ele perguntou olhando para mim como se eu detivesse a resposta – Ela disse que me amava hoje de manhã.

Abaixei-me ao lado dele e de Mel.

–Eu não sei. Ela tem a resposta para isso. Talvez só não esteja pronta ainda, só isso.

–É. – Concordou Mel – Não perca a esperança. Alysson te ama. Vai dar tudo certo.

POV. Jamie

Eu caminhava até o quarto que Alysson dividia. Não nos deixavam dividir um quarto ainda, mas eu passava a maior parte do tempo lá de qualquer jeito. Sabia que ela devia estar lá. Mesmo sabendo para onde eu ia, era como se estivesse sem rumo e sem chão. Eu decidira fazer aquilo do nada, fora um estalo que dera na minha mente, durante um dia de trabalho. Eu estava pensando o que faria quando a guerra acabasse. Eu queria levar Alysson voltar à casa no rancho Stryder e passar o resto dos nossos dias lá.

Mas então pensei, porque ela viria comigo? Não éramos casados nem nada. Seria livre para ir para longe como fosse o seu desejo. Mas então pensei, e se FÔSSEMOS CASADOS? E se tivéssemos uma razão para nos manter juntos, um elo no quarto dedo da mão direita, para que jamais tivéssemos que nos separar? Então pus a mente para funcionar. Conseguir a permissão para ir na incursão foi moleza e conseguir o anel também. A mulher da loja até me deu umas dicas. Mas no fim, todo aquele tempo e trabalho fora por água abaixo. Ela não estava pronta, ou não queria aquilo. Todos os planos malucos que eu fizera para o Rancho Stryder e nosso casal de filhos jamais se realizariam.

Por alguns pouco segundos, eu jurava que ela ia dizer sim, mas então ela olhou em volta e seu olhar se modificou.

Talvez eu convidasse tio Jeb para morar comigo e seríamos como uma matilha de lobos solitários. Ou talvez não. Mas agora não queria fazer planos só para quebra-los novamente. A porta era tapada por uma antiga porta de box de plástico fajuto que estava se desgastando pelo uso. Passei por ela e lá estava Alysson. Minhas irmãs tentaram me convencer a me acalmar um pouco antes de ir falar com ela, mas eu não quis. Se fosse para terminar, que fosse de uma vez. Como arrancar um curativo. Alysson estava sentada na cama, com as mãos unidas a sua frente nervosamente. Seria um mau sinal?

–Tinha deixado alguma coisa no fogo? - Perguntei, fazendo gracinha. “Piadas para disfarçar a dor, isso é doentio, Jamie Stryder,”, Pensei para mim mesmo. Ela bufou e fez que não.

–Então é sério? Não quer casar? Eu só... – O que ia dizer? Fiz planos para o nosso futuro? Isso só a faria ficar com pena de mim. Não queria que ficássemos juntos por pena. – Se não estiver preparada, ou só não quiser... É só dizer, e eu vou embora.

Ela sorriu e levantou-se de braços cruzados, como se me desafiasse.

–Não e sim.

– O que? Não tem meio termo Alysson, isso é algo...

–Não seu bobinho. – Ela disse se aproximando – Não para mais cedo. Sim para agora.

Fiz uma careta sem entender.

–Como assim?

Ela suspirou.

–O nosso relacionamento se baseia em momentos curtos, lindos e principalmente íntimos, como agora. Não para mais cedo, porque era o lugar errado, na hora errada, porém com as palavras certas.

–Ainda não entendo.

Ela sorriu compreensiva e descruzou os braços que eu trazia rígidos e me abraçou pela cintura, deitando a cabeça em meu peito. Cauteloso passei os braços ao seu redor. Não entendera nada do que ela dissera para não pensar de que aquela poderia ser a ultima vez que passaria as mãos pelos seus cabelos castanhos.

–Quando você me pediu, no meio de toda aquela gente, por um momento, pareceu que éramos só nós dois, as únicas pessoas da terra, que é o que sinto quando estou com você. Mas então todos aplaudiram e era como se a coisa toda fosse um espetáculo. Eu me senti exposta, não estava certo. É por isso que naquela hora, não disse nada. Queria dizer sim na hora certa, onde não me sentiria tímida, onde estivéssemos só nós dois.

–Então o que está dizendo é...

–Que aceito me casar com você – Ela disse levantando o rosto de feições miúdas – Que aceito, aceito e mil vezes aceito.

POV. Peg

Já era hora do jantar e nada de Jamie e nem de Alysson. Justo quando eu e Mel estávamos prestes a convocar uma busca atrás dos dois, eles entraram no refeitório de mãos dadas, trocando olhares cumplices. Ela disse algo baixinho e ele revirou os olhos. Subiu numa mesa novamente, colocou as mãos ao redor da boca como um megafone e anunciou a todos.

–ELA DISSE SIM

[...]

– Está feliz? – Ian sussurrou no meu ouvido, me aconchegando melhor em seus braços. Aquele tinha sido um dia cansativo, Ryan estava bastante agitado, principalmente agora que aprendera a engatinhar. Mas não podia negar. Eu estava muito feliz exultante. Tudo estava nos eixos novamente. Todos estavam felizes, seguros, e Jamie iria se casar em alguns meses.

– Exultante. – Respondi sorrindo depositando um pequeno selinho em seus lábios.

– Eu também. Sou o homem mais feliz da face da terra. Sabe eu nunca pensei que depois de tantas coisas, estaria aqui. Abraçadinho com você, com nossos filhotes lindos. Com a minha mulher perfeita. – Ele disse sorrindo.

– Nunca vou me arrepender de ter decidido ficar aqui. Foi a melhor decisão que poderia tomar, sabia? Obrigada por nunca ter desistido de mim.

– Sabe de uma coisa? – Ele sussurrou fazendo meus pelo eriçarem – Eu nunca seria capaz de viver sem você. Se você tivesse realmente partido aquela noite, eu teria me matado.

– Ian!

– É verdade Peg. Minha vida não faz sentido se você pequena.

– Não se preocupe, eu nunca, nunca vou abandonar vocês.

– Nunca?

– Nunca.

– Posso te contar uma história, Peg?

– Claro, amor – Falei , bocejando. Eu estava exausta, quase dormindo.

– Era uma vez... Um casal que viveu por muito tempo em mundos diferentes... Mas um dia então, eles se encontraram num planeta chamado Terra. – Ele sussurrou baixinho, sorrindo. – E eles se apaixonaram perdidamente. Viveram uma linda história de amor... Passaram por muitas dificuldades, mas sempre estiveram dispostos a lutar pelo amor, que aos olhos da maioria parecia ser impossível, mas não importa o que venha acontecer, prometeram um ao outro nunca se separar... A história deles nunca terá fim.

– Não tem final? Nada de final feliz? - Falei, com um sorriso maroto, me dando conta de que Ian estava contando a nossa história..

– Não, e essa é a melhor parte... Ela só está começando.

– Sabe de uma coisa – Falei, beijando-o ternamente – Isso é o que torna nossa história ainda mais perfeita.

– Eu te amo, Peg! Sempre vou te amar

– Eu te amo, Ian!

Essa é a minha história. A história de uma alma que deixou os seres da minha própria raça, para encontrar o amor verdadeiro no coração de um humano que me ensinou o verdadeiro sentido de amar. Ian O’Shea.

Neutron Star CollisionMuse

I'll Be Waiting – Lenny Kravitz



Fim ou... O começo de uma longa história.