Nos capítulos anteriores:

Lucy, Tenente da base a sudoeste de Magnólia, viveu outra dolorosa tragédia em sua vida. Teve que abandonar os amigos e toda a base em que viveu por longos anos, em meio a erupção do vulcão Phoenix. O comandante Jellal confiou-lhe a urgente missão de avisar Erza sobre o despertar do filho do Dragão de Fogo. Ela percorre todo o trajeto, agarrando-se ao desejo de cumprir o último pedido do comandante.

Ela encontra uma albina durante o caminho que estava instalada em uma moradia precária no meio da floresta. As duas chegam num acordo, no qual ambos os lados sairiam recompensados. Lucy precisaria conquistar a confiança de seu terrível inimigo, Dragneel — quem havia matado todos os conhecidos de Lucy, e esta jurara vingança — e entregar a pedra misteriosa, que este possui, para a albina, Lisanna.

Tirando proveito do rosado, que de alguma forma conhecia Layla, a loira faz um trato de entregar a caixa que sua mãe guardara algo valioso, se ele a levasse até o outro lado do penhasco. Dias passam, e eles caminham lado a lado, a relação entre os dois continuava péssima, e os perigos que a garota passava só a deixavam mais exausta. Agora, eles estão prestes a travessar a vila que separa duas enormes montanhas.

Enquanto isso, em outros arredores, Wendy que fugira de casa, fora perseguida por soldados do Conselho, mas em meio a tudo, uma salvadora aparece e a resgata. Seu nome era Levy, a vice-tenente da base sudoeste.

. . .

Seventh Zone.

(Sétima Zona)

Atualmente – Sexto dia – Noite.

O pequeno momento de descontração se passara tão rápido quanto acontecera. Duas horas de pleno silêncio fora tudo o que se sucedeu. O Sol já partira, dando lugar a Lua decrescente que ora aparecia na negritude do céu, ora escondia-se atrás das rasas nuvens. Aproximava-nos da vila iluminada pelas luzes das cabanas e pelas tochas que algumas pessoas seguravam enquanto conversavam fora de suas casas, para assim aproveitarem aquela bela noite.

Eu sentia que a tontura se intensificava a cada minuto, e desejava não desmaiar no meio do caminho. Suor brotava dos poros do meu corpo como se eu fervesse por dentro, e um cheiro de carne crua no ar me causava náuseas e enjoos. Aquilo tudo era consequência do veneno? Meu organismo queria repelir aquela substância estranha de qualquer maneira, mas não conseguia. Aquele líquido fez com que minha imunidade ficasse debilitada, e agora todas as frutas que comera a pouco, ameaçavam sair. Segurei com força as mãos ao redor da barriga, apertando-a com os braços, como se assim eu pudesse resistir melhor. Entretanto, quando ouvi um mugido seguido de um som asqueroso de abate bovino, fora o suficiente. Corri na direção oposta que seguíamos, procurando um lugar onde a grama era mais alta, caí de joelhos e despejei tudo que tinha no estômago.Argh, aquilo era horrível, mas uma sensação de alívio preencheu-me ao livrar-me daquela ânsia. Escutei o rosado suspirar logo atrás de mim. De imediato um calor aflorou em minhas bochechas ao reparar na situação constrangedora em que me encontrava. Tive vergonha de virar o rosto e encará-lo, então fechei os olhos esperando um comentário maldoso, que me deixasse ainda mais envergonhada, partir dele.

— Você está realmente péssima.

— Ah, obrigada. – Fui sarcástica.

Ele bufou.

— Tem um estabelecimento na vila com receitas de ervas e medicamentos. – Mencionou. Estava de costas em relação a ele, mas imaginava como estaria sua expressão ao dizer aquilo. Tentei traçar um semblante preocupado em seu rosto, mas tudo que vinha na mente era uma fisionomia indiferente e um olhar frio.

— Eu não tenho dinheiro, você tem?

— Pareço ter? – Falou com tom de deboche.

— Então como… – Levantava-me devagar, equilibrando o peso nas duas pernas fracas, quando percebi que falava com Dragneel, aquele quem se aproveita utilizando as ameaças. – Oh.

— Passou seis dias comigo, e a senhora ainda não conhece minhas táticas?

— Pois é, que burrice a minha. Deve ser a idade, senhor. – Ele revirou os olhos.

— Vamos logo. – Concluiu, sem paciência. – Senhora. – Irritou por fim.

— Eu só tenho dezoito anos e nem sequer namorei, dá pra parar de me chamar de senhora? – Já andava atrás dele em passadas lentas, e observava Happy sobre a cabeça do rosado, bagunçando todo o cabelo.

— O.k. – Desistiu facilmente, fazendo-me estranhar. – Virgem.

Grunhi inconformada, xingando-o várias vezes e ele desatou a rir.

[. . .]

A rua era feita de pedras, da entrada até o fim da vila, seguindo em uma única linha reta, porém longa, sem mais ruas se entrecruzando. Apenas no meio que se encontrava um formato redondo, onde supostamente era uma pequena praça, envolta de construções de tijolos e cimento. Deduzi ser ou moradias mais ricas, ou mesmo o comércio, diferenciando-se das casas. Ao centro da praça, havia uma torre de aproximadamente cinco metros de altura, um pouco desgastada pelo tempo. Cada lado da enorme rua que se estendia da entrada até a praça, e desta até o fim da vila, possuía cabanas de madeira, todas construídas igualmente, a única coisa que as diferenciava eram as variadas tonalidades de cores. Alguns habitantes colocavam suas tochas em cima de troncos, cortados nas duas extremidades, presos com cimento ao chão e altos o suficiente para que crianças atrevidas não se queimassem. Na entrada da vila, uma enorme placa fincada ao chão, indicava seu nome e algumas informações, no qual, imediatamente pus-me a ler.

Era chamada de Vila do Kondor.

Kondor. Derivado da ave condor que aparece como uma divindade do Sol, na mitologia inca. Considerado o senhor dos Andes por seu voo altaneiro que roça os limites do céu. Muitos acreditam que esta leva os jovens até o mundo das estrelas, em uma jornada tão longa que eles chegarão envelhecidos. Símbolo de sabedoria, e é um mensageiro divino dos espíritos. Há certo sentido em chamarem-na de Kondor, pois é uma ave que sobrevoa altas montanhas, como as duas que cercam a vila.

Havia dois grandes campos antes do afilamento das gêmeas, como eram conhecidas as montanhas por serem muito parecidas, – provavelmente eram as duas partes de uma mesma montanha que se rachou ao meio por consequência de terremotos – num campo concentravam-se plantações de milho e cevada, no outro, criação bovina e ovina.

Desde o momento em que colocamos o pé dentro das propriedades de Kondor, seus moradores pararam imediatamente seus afazeres e trataram de entrar nas casas, principalmente as mulheres e crianças. Já os homens, na maioria altos e musculosos, continuavam seus trabalhos – carregando lenha, utensílios, carnes abatidas – entretanto, com olhares irados em nossa direção. Especialmente, a certo rosado, que correspondia com a mesma fúria nos olhos.

Aquele clima sombrio que pairava no lugar, onde até tempo atrás alguns jovens tocavam instrumentos produzindo melodias agradáveis, fez-me encolher os ombros levemente amedrontada. Encaminhamos assim até pararmos de frente ao estabelecimento que Dragneel citara anteriormente. Olhei para cima da porta da cabana e encontrei cinco palavras grafadas na madeira: Taberna e Armazém da Kinana. Fios de tecido roxo e verde suspensos da parte de cima do batente. Caía até um pouco abaixo dos joelhos, como uma cortina. O híbrido foi o primeiro a entrar, e quando o mesmo sumiu junto a Happy naqueles fios coloridos, soltei uma bufada de ar, e enxuguei a testa suada com o dorso da mão, exausta. Por algum motivo eu não queria entrar. Balancei a cabeça afastando aquela sensação incômoda, e adentrei.

O ambiente era simples e pequeno, mas animado. Havia várias mesinhas dispostas no espaço, e todas as elas encontravam-se ocupadas. Grandes grupos de amigos, famílias ou até mesmo, homens de meia idade, divertiam-se bebendo e comendo, enquanto conversavam sobre os assuntos mais alheios e banais. Atrás ficava um balcão de madeira, onde uma moça de, no máximo, vinte anos servia seus clientes com um sorriso simpático estampado no rosto. Assim como as cores da cortina da porta, ela possuía cabelos curtos de um roxo escuro e trajava um vestido básico verde combinando com a cor dos seus olhos. Ao notar a presença de novos clientes, voltou a atenção para o saguão para saber de quem se tratavam. Seu sorriso desmanchou-se na mesma hora. O rosado caminhou até a bancada a passadas largas, batendo a palma sobre a superfície de madeira, demostrando autoridade. Aquilo fez a tábua tremer e consequentemente os copos que estavam sobre ela caíram, derramando todo o conteúdo alcoólico. Alguns xingamentos por parte dos fregueses foram ouvidos, e a garçonete respondeu, que logo iria servi-los novas bebidas e limparia a sujeira, sem desgrudar o olhar dos orbes ônix do provocador daquele pequeno infortúnio. Percebi que suas mãos tremiam levemente, mas a mesma encheu os pulmões e indagou com a sua voz mais firme:

— Pois não? O que deseja?

— Quero uma dose medicinal para enjoos. – Proferiu secamente.

— Qual erva? – Pegou uma prancheta abaixo do balcão, folheando as páginas até chegar na referente a ervas medicinais.

Pensou um pouco, e responder por fim. — Paeoniis II.

A garota procurou a erva citada na folha e ao encontrar, e sem despregar a visão do papel, murmurou temendo o que se prosseguiria. — 4,185.73 ienes¹, senhor…

— Oh. – Aproximou a face da dela, tornando impossível o olhar amedrontado da garçonete não se cruzar com o seu. – É mesmo? – Ironizou, puxando-a pelo vestido, pronto para ameaçá-la como achasse necessário.

Era hora de eu interferir.

— Serve isto? – Estendi um pequeno cordão de ouro, com o símbolo de uma onda, que sempre carregava comigo. Era uma lembrança da infância, usava-o como amuleto da sorte, pois ele fora o primeiro prêmio que recebi ao vencer a competição de mergulho. Esta era uma das provas que apenas os melhores eram considerados aptos a tornarem-se soldados, pois um agente do reino precisa estar sempre preparado aos desafios propostos pela natureza. Por mais que fosse nostálgico, ou tenha ficado maravilhada ao ganhá-lo, já estava na hora de me desfazer daquilo. Só trazia recordações da minha vila, pois foi onde ocorreram todas aquelas competições.

A garota aceitou sem ao menos pensar, afinal de contas, ela não tinha escolhas muito melhores. Foi até um compartimento pequeno, e voltou minutos depois com um potinho em mãos. Durante este tempo, Dragneel observava-me de relance pelo canto dos olhos inquietamente, mas não me atrevi a perguntar o motivo e continuei calada.

— Isso foi um erro. – Interrompeu o silêncio.

Franzi o cenho, não entendendo, e quando me preparava para abrir a boca, a moça – que agora notava que havia um crachá com nome Kinana em seu uniforme – apareceu de frente a nós, e entregou-nos a dose. Era um líquido estranhamente esverdeado. Analisei aquilo minuciosamente, balançando o pote. Tinha uma textura grossa e exótica. Fiz uma carranca de nojo.

— Do que isto é feito?

— Leite misturado a erva Paeoniis tipo II, ostras e ovos de peixe.

Minha boca deveria ter formado um círculo perfeito. Como aquilo poderia melhorar meu enjoo? Só de saber do que a mistura era feita já me trazia ânsia!

— Beba logo. – Ordenou indiferente.

Hesitando um pouco, retirei a tampa e cheirei o conteúdo. Um forte cheiro de peixe levemente adocicado. Olhei para o rosado, que inclinou a cabeça assentindo, já com os braços cruzados de impaciência. Suspirei. Encarei aquela dose mais uma vez, e engolindo em seco, taquei goela abaixo. Ao descer pela garganta, fechei fortemente os olhos, sentindo vontade de jogar tudo para fora.

— Água. Preciso de água... Por favor... – Balbuciei com a mão sobre a boca.

Kinana rapidamente pegou uma jarra e despejou no copo mais próximo que encontrou, trazendo para mim a toda velocidade. Bebi tudo em um só gole, neutralizando aquele gosto horrível de amargo misturado com o salgado do mar, um grande alívio prosseguiu-se.

— Vamos. – O híbrido virou-se em direção à saída. Concordei e quando pus-me a dar o primeiro passo, um forte empurrão lançou-me para o lado oposto, quase me fazendo cair.

— Hey! Por que me empurrou? – Retruquei atordoada, recuperando-me daquela situação inesperada.

— Fique quieta! – Enfureceu-se, agarrando meu pulso e conduzindo-me de volta ao balcão. – Quero um whisky! – Exigiu à barwoman, raivoso, e esta nem ousou contrariar, já indo atrás da bebida.

— O que deu em você? Não estou entendendo mais nada!

— Apenas fique quieta!

Bufei inconformada. O que diabos estava acontecendo com ele?

A mulher chegou às pressas e colocou a taça à frente de Dragneel, que virou a bebida inteira na boca, como se sua vida dependesse disso, e bateu o vidro sobre o balcão, nervoso. Vê-lo tomando um whisky numa taberna como um jovem comum era de fato algo inimaginável. Se meus olhos não estivessem vendo, eu nunca acreditaria. Como alguém que caça feito um animal e que vive numa floresta a muitos anos pode conhecer os costumes humanos?

Ele sentou-se em um banco desocupado, e ficou encarando algum ponto distante. Sem saber o que fazer apenas observei Kinana indo e vindo, atendendo os clientes, até que uma voz masculina animada soou no saguão, chamando a atenção de todos.

— Olha se não é o Natsu-san!

Olhei por trás do ombro e vi um grupo de pessoas, ou melhor, de garotas bêbadas, rodeando um único homem. Um jovem de cabelos loiros rebeldes e olhos safiras que trajava elegantes roupas brancas e douradas, poderia até dizer que era a personificação de um príncipe de contos de fadas. Ele estava perto da porta, e fitava numa direção próxima a minha. Desvencilhando-se das mãos das mulheres que tentavam puxá-lo de volta, partiu adiante, aproximando-se.

— Ora, por favor, não me ignore. Eu sei que você está ouvindo muito bem.

Procurei ao redor, em busca da pessoa com quem falava. Quem era o tal Natsu?

Ninguém respondeu, e comecei a estranhar. Será que era doido?

— Por que anda por aqui? Pensei que ainda estivesse hibernando naquele vulcão. – Soltou uma risada.

Paralisei. Vulcão? Voltei minha atenção a Dragneel. Lampejos vermelhos saiam de seu corpo. Seus punhos estavam fechados apertadamente sobre o balcão, como se estivesse lutando contra a vontade de dar um murro na cara do outro.

— Vire-se logo. Sei que é você, seu cabelo rosa é inconfundível. – O loiro cruzou os braços, estando a dois metros de onde o híbrido permanecia sentado. – Ou será que é um covarde? – Caçoou.

Ao final daquela frase, como um raio, o rosado enfurecido, seus punhos em chamas, voou sobre o rapaz desferindo socos em uma velocidade que meus olhos jamais poderiam acompanhar. Por mais que fosse veloz, o loiro conseguia desviar de todos os ataques, e apenas ria da situação, irritando o adversário cada vez mais. Percebendo que não chegariam a lugar nenhum, Dragneel foi sagaz pois, vendo que o rapaz estava atento aos seus braços, investiu pelas pernas, dando uma rasteira. Aquilo não foi o suficiente para fazê-lo cair, mas foi o bastante para que se distraísse e um punho choca-se com força contra o abdômen do loiro, tacando o mesmo diretamente nas mesas – agora vazias, já que os fregueses tinham todos fugido com medo de serem atingidos pela luta. – e terminando com a perna de uma cadeira fincada na lateral de suas costas. Ele grunhiu de dor e sua fisionomia enraiveceu-se.

— Maldito! – Rosnou.

— Quantas vezes mais você vai insistir? Não entendeu ainda? – Sibilou, fitando-o com desgosto.

— Você que não entendeu, Dragneel! Vou insistir até te ver morto! – Levantou-se, fazendo uma careta de dor ao arrancar o pedaço da madeira. Sangue espirrou pelo chão com a ação. Seus olhos, antes claros, pareciam ter enegrecidos com a ira. – Você roubou o meu lugar!

— De novo essa história? – Rangeu os dentes, inconformado. – Vê se cresce!

— Crescer?! Tem ideia do que você me causou?! Minha zona está morrendo por sua culpa, Sétimo! – Exaltou-se, correndo até ele, pronto para atacar.

— Tudo o que vocês primeiros fazem é culpar minha existência! – Estralou os dedos preparado para o contra-ataque.

— E tudo o que você faz é esconder-se da verdade! Você só olha para o seu próprio umbigo enquanto vidas estão morrendo! – Uma luz branca ofuscante emanou dos punhos, iluminando a taberna com uma claridade de arder os olhos.

— Ouse pronunciar isso mais uma vez, Sting! – Agora, uma luz alaranjada misturou-se a outra. O fogo reproduzindo sua raiva. – Vocês não conhecem a verdade! – A medida que falava, o calor intensificava-se, como se os seus sentimentos estivessem transbordando do corpo. Sentimentos de dor.

Quando a temperatura tornava-se insuportável, consegui sair do transe. O suor escorria pelo rosto. Não sabia se era pela quentura, ou pelo calafrio que senti ao ouvir aquela conversa. Sting, Natsu, zona, Sétimo, culpa, mortes, verdade. Tudo rodopiava na minha cabeça. Nada mais fazia sentido. Eu estava na ignorância, não sabia de nada, não entendi nada. O que diabos estava acontecendo?

Aquelas magias eram incrivelmente poderosas, mesmo alguém estando a vários quilômetros, com certeza, conseguia senti-las. Eu podia prever o desastre que seguira caso elas se chocassem. Uma descarga mágica que destruiria grande parte da vila e mataria muitas pessoas. Enxerguei Kinana encolhida num canto. A garota tremia apavorada enquanto presenciava tamanha monstruosidade. Não poderia permitir que aquela luta continuasse, então num ato imprudente, corri para o meio dos dois, estendendo os braços em ambos os lados.

Parem agora! – Gritei.

Fechei os olhos, temendo que o ataque viesse mesmo assim. Porém, para o meu alívio e sorte, ele não veio. Levantei as pálpebras devagar. Os dois encaravam-me um pouco mais calmos. Dragneel estava sério, enquanto o outro me olhava confuso. Suspirei.

— Se querem brigar, que vão para um lugar apropriado! Não envolvam pessoas inocentes em seus problemas! – Repreendi-os, mesmo sabendo que minha queixa pouco importava para eles, eu não era ninguém para criticá-los.

— Quem é você? – O loiro, que Dragneel chamara de Sting, perguntou com a sobrancelha arqueada.

— Sou da família Heartfilia. – Limitei-me em apenas dizer o sobrenome.

— Nunca ouvi falar. – Foi indiferente.

— Também nunca ouvi falar de você. – Joguei na mesma moeda.

— Bem, era provável que não. Pessoas aleatórias como você nunca saberiam sobre as zonas. – Sorriu presunçoso.

Senti uma pontada de raiva, ele conseguia ser pior que o rosado.

— E pelo visto quem conhece consegue ser bem arrogante. – Cruzei os braços, mantendo a postura de quem não se rende.

— Ora, a garota tem garra… – Aproximou-se visivelmente interessado. – Conheço todas as mulheres de Kondor, mas nunca vi a senhorita por aqui…

Senhorita? Agora ele resolveu ser educado? Mas é um interesseiro nato.

— Só de passagem. – Arrumei o cabelo sobre a orelha, provocando-o. Ele sorriu com o gesto – “Falso”. – Pensei, sentindo repugnância.

— Para qual destino? – Deu um passo para mais perto.

— Magnólia.

— Que engraçado, eu estava indo exatamente para lá… – Deu um pequeno riso, demostrando caninos parecidos com os do híbrido, mas um pouco menores. – Gostaria de companhia?

— Desculpe-me, mas já tenho um acompanhante. Não é mesmo… – Segui o olhar para Dragneel que estava atrás de mim, quieto. – Natsu? – Proferi suavemente, sorrindo. Ouvi um “quê?” incrédulo por parte do príncipe, e senti-me satisfeita.

O rosado surpreendeu-se um pouco com aquilo, ainda mais chamando-o de Natsu. Não esperava que o nome do filho do dragão de fogo fosse tão bonito e ao mesmo tempo tão humano, e até eu fiquei surpresa ao perceber a afinidade que aquela palavra soara. Um desconforto surgiu, talvez eu não devesse ter chamado-o assim. Ao menos ele pareceu entender que eu estava dando um fora no loiro, e ajudou a prosseguir com isto.

— Claro. – Sorriu abertamente. – Ninguém mexe com ela, além de mim. – Encarou Sting com seriedade, puxando-me pelo pulso.

Fui sendo arrastada, sem reação com o que acabara de ver. Eu estava besta, ou melhor, perplexa. Meus olhos só podiam estar me iludindo. Era a primeira vez que via o rosado sorrir, portanto era óbvio o espanto, mas foi muito mais inacreditável do que eu pensava. Eu sabia que era apenas um sorriso falso, então por que era tão caloroso? Nunca vira um sorriso tão belo ao ponto de me deixar sem fôlego. Não era possível. Não eram a mesma pessoa. Não podia ser. Aquele quem destruiu minha vila, e matou a todos. Aquele a quem jurei vingança em nome de todos os meus queridos amigos mortos. Este sorriso não podia lhe pertencer!

É falso, Lucy. Apenas esqueça.

No momento em que atravessávamos o batente da porta, Sting que estava de costas para nós agora, olhou por cima do ombro. Uma sombra negra pairando sobre os olhos.

— Se você soubesse quem ele realmente é, não pensaria duas vezes ao escolher a minha companhia. – Riu sem humor. – Você é mesmo uma pobre garota.

Minha cabeça rodava, sem saber no que ou quem acreditar. Apenas ignorei o aviso por hora. Era muita informação para eu absorver de uma vez.

¹ 4,185.73 ienes equivalem a 105 reais.