Quando eu tinha 18 anos, a minha mãe contou a história da minha família, melhor dizendo a história de algumas mulheres da minha família. Ela dizia que algumas delas tinham a chance de poder escolher entre ser uma mortal ou imortal, que isso tudo aconteceu por causa de um favor que a Deusa Calipso pediu a uma das mulheres de minha família, favor esse que ninguém sabe a não ser a própria Deusa.

Calipso pediu esse favor e a mulher que ajudou quis algo em troca. Ela pediu para que as futuras mulheres de sua família tivessem a escolha de se tornar uma imortal. Eu ainda acho que tem muita coisa mal contada nessa história, mas tudo que todas as mulheres sabiam, era isso.

—O que iremos precisar para o processo da imortalidade? - Perguntei. Já era noite e eu estava sentada na cama do quarto que eu iria ficar por um tempo.

—Não se preocupe criança, eu tenho tudo. Fiz esse ritual várias vezes. - Valquíria falou acendendo a lareira que tinha no quarto.

—Tem certeza que não vai precisar de algo? Que não está faltando nada?

—Eu acho que você está muito nervosa. Tem certeza que quer fazer esse ritual? - Valquíria olhou para mim e caminho até a cama.

—Sim, eu tenho certeza. Passei anos querendo fazer isso.

—Tudo bem. Mas eu só tenho uma coisa para te dizer e quero que você pense muito bem sobre o que eu irei te falar. Existem coisas que sempre precisamos pagar um preço em troca e no ritual isso não é diferente, todas as mulheres que fizeram ele tiveram que pagar, para algumas foi nada de mais, para outras foi algo difícil; quando acabar esse processo acabar, todo o corpo passa por mudanças e a mais séria entre elas é essa. - Ela falou apontando para a minha cabeça. - Sua mente apaga tudo o que viveu e depois elas vão voltando. Você pode acordar e não lembrar de algumas coisas.

—O que? Minha mãe nunca me disse isso. - Falei assustada.

—Talvez isso tenha sido apagado da memória dela. Quando este processo acontecer, você vai ficar dormindo. Chamo essas coisa de efeito colateral.

—Por quanto tempo vou dormir?

—Isso depende de você. Algumas demoraram um ou até mesmo cinco meses para acordar. Você tem certeza que quer continuar com isso? - Perguntou novamente. Eu estava perdida e com medo do que poderia acontecer, quando eu iria acordar, isso se eu acordasse. Eu posso acordar e ninguém vai estar aqui, Margot pode estar morta, minha mãe, Valquíria, Elisa, Will... Todos. O meu silêncio entregava a minha dúvida.

—Eu darei um tempo para você pensar sobre isso, mas faça direito querida, quando o ritual começar, você não vai poder voltar atrás. É melhor você descansar um pouco. Boa noite Kiara!

Era uma escolha mais que difícil, eu realmente quero isso, mas com todas essas consequências... Ficava difícil de decidir. Resolvi dormir, era muita coisa para pensar, minha cabeça estava ao ponto de explodir a qualquer momento e eu odiava ficar assim. Deitei na cama e poucos minutos depois, o sono chegou.

"Eu estava em uma espécie de floresta, usava um vestido dourado que ia até os joelhos, não tinha ninguém além dos animais, andei pela floresta e ouvi um barulho de água, segui o barulho que me levou a uma linda cachoeira. Vi uma mulher em pé perto da água, ela estava de costas para mim.

—Minha querida Kiara, nem tudo é como você pensa. - Ela falou de repente, ela ainda continuava de costas para mim.

—Do que você está falando? - Me aproximei dela, mas a mesma continuava parada.

—Você não conhece nem metade da sua história. Você tem muito que aprender.

—Quem é você? E o que você quer dizer com tudo isso?

—Eu? Eu sou a resposta para todas as suas dúvidas. Mas para isso você tem que fazer o ritual e me achar.

—Eu não posso fazer o ritual, não saberei quando vou acordar, de quem ou do que vou me lembrar.

—Esse é o preço para ter as suas respostas minha querida. É sua escolha, não irei obrigá-lá a fazer o ritual.

—Voce pode me garantir que eu não irei ficar muito tempo dormindo?

—Claro! Pode ficar calma que você não ficará.

—Então eu farei.

—Boa escolha. - E sumiu sem mostrar o rosto."

Acordei um pouco assustada, olhei para a janela e vi que ainda era noite, e seria melhor se eu tentasse dormir mais um pouco. Quando estava praticamente dormindo senti que alguém estava colocando algo gelado em minha cabeça, senti mãos passando pelos​ meus​ braços​, minha mão estava sendo cortada, eu tentava levantar, gritar, pedir ajuda, mas o meu corpo não reagia, não conseguia me mexer, muito menos falar. Do nada, tudo que eu estava sentindo parou e estava começando a dormir.

Tempo depois...

Acordei respirando fundo, abri os olhos ainda deitada, eu estava confusa, não sabia onde estava, olhei para os lados e vi uma senhora.

—É muito bom ver você acordar depois de tanto tempo. - Ela falou aproximando da cama.

—O que? Como assim? - Coloquei a mão na cabeça, ela começava a doer.

—Kiara, você lembra de mim? - Olhei para ela e fiquei tentando buscar alguma lembrança.

—Valquíria.

—É, você lembra de mim. - Sorriu. - Você provavelmente deve estar sentindo uma dor de cabeça - Ela me deu um copo com algum líquido estranho para beber.

—Por quanto tempo eu dormi? - Perguntei e bebi o líquido que estava no copo, o que me fez fazer careta.

—Voce dormiu bastante tempo.

—Bastante tempo quanto?

—Kiara, você dormiu por 1 ano.

—O que? 1 ano? Eu não estou entendendo, o que aconteceu? - Eu estava completamente confusa.

—Quando você falou com Calipso que ia fazer o ritual, ele começou.