The Second Noah Clan

Primogênitas Degoladas


Bem, fazia uma semana desde que Bianca havia acordado definitivamente. Graças ao (primeiro) bom remédio fabricado pela Ordem, com base no sangue de Kanda Yuu, eles haviam criado um remédio que acelerava em cerca de 70%, dependendo do paciente, o nível de regeneração de certas partes do corpo como músculos e pele. Bem, graças a esse remédio, Bianca já havia recebido alta. No dia seguinte, ela já podia voltar a realizar missões. Porém... A história sobre os Segundos Noahs ainda deixava um denso clima de insegurança e tensão no ar. Sem falar que, Mitsuki havia coletado uma pequena esfera de matéria negra no corpo de Bianca. A pedra estava sendo examinada pela Divisão de Ciências, mas quando perguntaram como Mitsuki havia retirado aquilo do corpo dela, a Noah apenas deu de ombros afirmando que utilizara seu poder. Bem, isso é praticamente um resumo do que havia acontecido até ali. Também houve o “assalto bovino”, como foi chamado um dos eventos que ocorreram nesse meio tempo. Que eu me recuso a descrever.

De qualquer modo, era um dia comum na Base. Como sempre, nos reunimos na hora do almoço. O cheiro de diferentes tipos de comidas de uma vez só era extremamente agradável. Os Noahs, exceto Tyki e Mitsuki, haviam sido enviados para uma missão contra Akumas de altíssimos níveis em alguma região mexicana. Sim, me refiro a vários Akumas nível 4. Bem, voltando. Katherine tentava acertar a mão de Bianca com um garfo e Bianca tentava desviar dos rápidos movimentos de sua mestra. Tyki e Mitsuki conversavam sobre alguma coisa que eu não tenho a mínima ideia do que poderia ser. Júlia comia um pedaço de chocolate, Kanda (eu não sei porque ele estava ali... Ah é. Mitsuki e Tyki) bebia um copo de chá, eu acho. E eu estava falando com Allen sobre como seriam as missões daqui em diante.

– Ai! Ai! – Bianca resmungava, tirando um garfo da mesa que havia cortado seu dedo de raspão. Ela colocou o dedo na boca. – Você chama isso de treinamento?

– Você é um arqueiro. – Ela respondeu, pegando o garfo. – Tem que possuir movimentos rápidos e precisos.

– Então, não deveria ser eu que tentava acertar você com o garfo? – Bianca rosnou em retorno, colocando suas luvas de couro. Aquele tipo de luva que não cobre os dedos, até hoje não sei o nome desse treco. – Não é?

Elas ficaram se encarando por alguns instantes, lançando olhares ameaçadores uma para a outra. Komui veio andando pelo corredor com uma expressão preocupada em seu rosto. Ele fez um gesto para Katherine que dizia: Venha aqui. A Exorcista pulou sobre a mesa e correu em direção a ele. Ele falou algumas coisas que não pude ouvir, pois eles estavam longe da mesa. Assim que ele acabou, Katherine assentiu e voltou para a mesa no mesmo processo que usara para sair, agora sua expressão estava mais séria. Ela apoiou o rosto em sua mão.

– A filial norte-americana foi roubada. – ela rosnou. – Não exatamente roubada, um arquivo muito importante de lá acabou de desaparecer. De acordo com o que Komui me disse, quando os alarmes da área confidencial, quero dizer, o local onde são guardados arquivos importantes, bem quando chegaram lá o cofre já tinha sido arrombado. Esse intervalo de tempo fora menor que um minuto. – Katherine começou a brincar com o garfo. – Como eu já disse, apenas um arquivo sumiu, e este fora sobre a localização e histórico da Base.

– Um minuto, Kath? – Mitsuki perguntou. Ela olhou para os lados. – Por falar nisso, onde está Lavi?

– Missão na Escócia com o Bookman. – Katherine resmungou em resposta e em seguida, assentiu. – Um minuto.

– E o que tem isso? – eu perguntei. – Um arquivo importante foi roubado sobre a Base, certo. Mas por que está nos avisando sobre isso?

– Não sei. – A general deu de ombros. Ela começou a brincar com seu broche dourado. – Não faço a mínima ideia.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Bem, eu achei que aquilo não tinha significado nenhum. Katherine voltou a tentar acertar a mão de sua discípula com um garfo, como se nada tivesse acontecido.

– Isso é estranho, tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo... – resmungou Mitsuki.

– Não importa. – cortou Júlia. – Coisas são roubadas da Ordem e das pessoas que trabalham para ela o tempo todo. Tipo agora, Bianca teve a dignidade roubada ao ser espetada por um garfo.

– Ora, sua... – Bianca resmungou de volta.

Eu dei uns risinhos. Bem, ficamos conversando lá por mais algumas horas. Acho que duas horas, ou algo próximo disso. No dia seguinte, as missões supostamente voltariam ao normal, então estávamos descansando enquanto o tempo nos permitia. Esperanza e Louise, as gêmeas que havia nos torturado com tratamentos de beleza, apareceram alguns minutos depois. E dessa vez, o alvo delas foi Bianca. Elas começaram a passar as mãos pelos cabelos da garota.

– Você não cuida desse treco, não é? – resmungou Louise, a de cabelos curtos. – Dá agonia de ver.

– Realmente. Devia raspar a cabeça. – Esperanza suspirou. Bianca ficou sem palavras com os comentários simpáticos das gêmeas. A mulher de longos cabelos cacheados negros tirou um prendedor de cabelo do bolso e começou a amarrar o cabelo de Bianca. Assim que ela terminou um rabo-de-cavalo apertado, ela lançou um sorriso doce para a garota. – Assim que comermos alguma coisa, prometo que ajeitarei pra você, tá? Por enquanto, fique com isso.

Bianca suspirou profundamente, provavelmente tentando controlar a raiva. As gêmeas em vez de irem em direção ao self-service, elas se voltaram para a entrada do refeitório. Elas encaravam a entrada com os olhos arregalados.

– Um vulto... – murmurou Esperanza.

Logo após ela dizer essas palavras, os alarmes da Base começaram a berrar em meus ouvidos. 1, 2, 3 alarmes consecutivos... Um volume estridente... Alarme nível três, esse nível de alarme era especial...

– As Innocences! – eu gritei, me levantando rapidamente da mesa. – Três toques! É o alarme do compartimento mais profundo!

Maldição! Meus pensamentos berravam em minha cabeça. Todos nós da mesa nos levantamos praticamente pulando em desespero. Innocences são dificílimas de conseguir. No compartimento provisório da filial sul-americana havia cinco Innocences. Isso é um número altíssimo levando em conta que o número de Innocences estava um pouco abaixo de cem naquela época. Esperanza e Louise impediram que todos nós fossemos em direção ao elevador, pulando nas nossas frentes.

– Se acalmem. – Louise rosnou. – Se o invasor foi até o último andar, ele com certeza usou as escadas. Para atingir os últimos andares da Base é necessária uma senha que é compartilhada entre um pequeno grupo de pessoas. Se o intruso realmente chegou naquele andar, ele foi pelas escadas. Porém, levasse horas para descer aquelas escadarias e elas são muito bem escondidas...

– Não importa! – Katherine cortou-a. – Temos que ir até lá o último andar agora!

– Nos sigam. – disseram as gêmeas, ainda impedindo a passagem. – Conhecemos o caminho para a escadaria.

Não tivemos escolha a não ser segui-las. Elas eram rápidas, nos guiando por corredores que nunca cheguei a ver. As paredes, em vez de serem acinzentadas e feitas de rochas, eram brancas como as paredes do hospital. Depois de uns vinte segundos correndo como loucos (todo o grupo que estava na mesa e as gêmeas), acabamos chegando num corredor esquisito. Não era nem que ele era diferente, é que... Ele tinha um clima esquisito, parecia que estávamos num lugar diferente da realidade. O ar ficou um pouco pesado. Nós diminuímos o ritmo até pararmos. As luzes começaram a falhar, um verdadeiro clima de filme de terror. De repente, tudo ficou escuro. Não podíamos ver nada... Estava um breu tenebroso que deixou minhas mãos arrepiadas. Intruso infernal.

– Maldição... – resmunguei. – Louise?! Esperanza?! Esse lugar não tem luzes de emergência, não?

Silêncio por dois milésimos de segundo. Um som agonizante de carne sendo rasgada preencheu meus ouvidos, enquanto resquícios de um líquido denso e quente respingaram contra minha bochecha. Eu fiquei paralisada. Senti minha circulação nas mãos parando.

– Uma... – disse uma voz que eu desconhecia. Era fina, mas obviamente pertencia a um garoto. – Duas, três, quatro...

– Cinco Innocences... – disseram duas vozes sincronizadas em um tom obscuro. Ambas eu desconhecia.

– Não é possível que eles... – A voz de Bianca rosnou na escuridão.

Foi naquele momento que as luzes de emergência se acenderam, enchendo o corredor branco com luz vermelha. As luzes iluminaram os rostos dos donos daquelas vozes. Duas crianças. Elas se encaixavam perfeitamente na definição de Bianca dos gêmeos Hawthorne. A menina que provavelmente seria Elizabeth estava com o cabelo amarrado num rabo-de-cavalo de um jeito esportivo, porém os gêmeos usavam as mesmas roupas. Um tipo de roupa justíssima preta que ia do pé até o pescoço, só que a do garoto tinha um bolso enorme. Porém isso era o de menos. No chão havia dois corpos degolados banhados em uma poça de sangue a alguns centímetros dos meus pés. Nas mãos dos gêmeos havia duas cabeças decepadas. Louise e Esperanza... Eu estava em choque. Não consegui me mover.

– E duas cabeças! – Elizabeth riu de um modo doentio com risadas agudas. – Haha! Isso foi suficiente para nos levarem a sério?!

– Mais brinquedos para minha coleção. – disse o menino, que não me lembro muito bem o nome. Ele lambeu os beiços e deu tapinhas em seu bolso.

– Devíamos usar a cabeça dessa aqui como saco para carregar as Innocences? – riu Elizabeth, fixando os olhos na cabeça de Esperanza em sua mão.

Sua língua se enfiou embaixo do globo ocular de Esperanza. Se aprofundando em sua cavidade, ela fincou os dentes. Eu só consegui recuperar minha consciência para desviar o olhar enquanto Elizabeth arrancava o olho da mulher com a boca.