The Rose Of Darkness

Capitulo 16 – O Garoto da Capa Vermelha.


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Capítulo Dezesseis

O Garoto da Capa Vermelha.

Música de abertura

“As folhas caiam naquele jardim, ao lado da rua, ao lado do parque, ao lado daquele chafariz que esbanja água bem alto.

Ao lado também daquela linda mulher, qual olhos coloridos pelo azul do céu pertence.

E então, eu lhe encontrei.

Criatura pequena e dócil, algo amável, alguém de que eu pudesse cuidar.

Estava perdido?

Sem ninguém?

Iremos descobrir,

Agora, me dê suas pequenas mãozinhas infantis,

Iremos para casa, pequena criança.

Diga-me oque pretende aqui,

Já que este não é teu mundo,

Já que você é especial.

Olhos tão negros quanto a noite e,

Uma capa tão vermelha quanto o sangue.

Talvez um sangue comum em minha memória, mas que agora, estaria no fundo do baú, enterrado, sufocado.

Pequena criança desconhecida,

Sua capa vermelha dá vida a essa rua morta,

E, as folhas caem amarelas ao chão.

Dá-me uma explicação,

Pois a linda mulher disse-me que este é um longo caminho agora.

Dê-me a mão, criança perdida,

Diz-me que és muito adulto,

Diz-me que és príncipe,

Diz-me que deseja tomar meus lábios,

Mas isso seria um pecado.

Vamos para casa agora,

Você pertence a mim,

Por apenas um segundo, minuto, ou quem sabe...

Uma eternidade.”

~~

— 6h45min AM — Em casa, SilentStreets.


O pé direito batucava com impaciência no chão da sala naquele momento de agitação enquanto as vidraças das janelas sentiam a pressão do vento matinal.



Mellanie estava extremamente irritada e, isso era bastante visível, bastava olhá-la nos olhos ou simplesmente no rosto preenchido por nervosismo.



Hikkaru apertou as unhas na mesa de madeira, mas não conseguia mais se manter no mesmo lugar, sentada naquela cadeira. Se levantou em um pulo para perto da amiga irritada. Os cabelos azuis bateram nos quadris.



— Mell-chan, não fique tão nervosa! Isso pode ser ainda pior. — a azulada disse agarrando ambos os ombros da morena, na tentativa de a fazer ficar mais calma.



Lunna soltou ar pela boca naquele momento. Também estava apreensiva, e muito. Kaien havia sumido também a procura de Zero, mas essa busca parecia não ter fim...



Com um estrondo as três olharam para frente, e a porta se abriu com ferocidade.



Naquele mesmo momento Kaien bufou, jogando o corpo de Zero — que antes estava em seus ombros — no chão.


Mellanie puxou ar para os pulmões na tentativa de não perder o controle, e então passou a mão pela testa. Esse era um sinal de que, ela estava prestes a perder o controle de si mesma. Estava prestes a matá-lo.

Ela olhou para o chão com os olhos raivosos, e ele estava lá, revirado, com apenas alguns gemidos. Estava dormindo realmente? O casaco estava sem dúvidas imundo e as mangas sujas de sangue.

Kaien não se encontrava em uma situação muito diferente. Seu casaco pesado também estava imundo, mas não sujo de sangue como o esbranquiçado. Seu estado ainda não estava deplorável.

— Droga, eu vou trazer uma xícara de chá! — Lunna ficou paralisada por alguns instantes, mas ao fitar a cara de poucos amigos do homem em pé frente à porta, só se viu correndo para dentro da cozinha.

A garota fofa e de cabelos azulados só faltava devorar de vez a ponta dos dedos, que por sinal já estavam vermelhos. Estava nervosa e aflita com toda aquela agitação. Que casa era aquela, afinal?

— Você... — os olhos verdes estavam em chamas, no mesmo momento em que ela virou o rapaz de cabelos cinzentos a força com o pé — Seu desgraçado... Sabe oque você merece agora? Você merece um belo soco no meio da cara. — ela ameaçou ao se ajoelhar próximo a ele, mas seus olhos estavam em alerta, e ela conhecia aquele tipo de alerta. O verde expressivo e vivo não estava mais nos olhos da baixinha naquele momento. Agora estavam embaçados e apagados pelas lágrimas. Lágrimas de preocupação, talvez. — Ei, seu idiota, abre os olhos. Eu sei que você pode me ouvir. Sabe o quanto eu fiquei preocupada quando acordei e não te vi no sofá ou por qualquer outro canto da casa, dormindo? Pensei que tivesse me abandonado, me deixado sozinha, como todos antigamente costumavam fazer. Sabe, eu pensei até que estivesse morto agora. Isso me deu medo. Não faça... algo assim novamente...

As lágrimas já haviam marcado as bochechas coradas como ferro naquele instante. Mas, de qualquer forma, não adiantava muito tentar prendê-lo. Ele era algo incompreensível, e principalmente, apesar de ter um verdadeiro lobo preso em seus olhos violetas, ela sabia que o coração pertencia a um grande e teimoso felino. Duas almas misturadas e perigosas, mas que ao mesmo tempo teimavam em a proteger.

Lunna chegou finalmente na sala, com a xícara de café nas mãos finulas e pálidas. Entregou para o homem com cara amarrada. Algo realmente raro vindo dele.


— Oque aconteceu gente? Ele fugiu? Tentou se matar? Ou... — foi-se vista uma cara de horror se formar no rostinho angelical de Hikkaru antes que concluísse sua fala — ... ele tentou matar, torturar alguém...?



Kaien suspirou.



— Ele pulou a janela de madrugada, eu mesmo o vi fugir quando ia até a cozinha. — Kaien explicou.



— Mas porque ele fugiria? Não me diga que está com aquela idéia maluca de ir atrás daquelas pessoas novamente? — Lunna perguntou,



— Não, Lunna. — ele respondeu — Há algo muito mais preocupante que isso. Algo que devemos dar o máximo de atenção.



— Algo preocupante? — Mellanie perguntou ao levantar a cabeça para Kaien.


— O transtorno voltou. — ele começou — Mellanie, acho que você deveria saber... de algo como isso que ele tem... de vez em quando.

A baixinha arregalou os olhos com receio, oque seria dessa vez? Bom, seja oque fosse, estava farta de “bombas”. Mas nenhum segredo entre eles seria aceito, então pretendia escutar abertamente.

— Kaien, é oque eu imagino? — Lunna o viu assentir.

— Você sabe da fera que se esconde dentro dele, mas não sabe das conseqüências da hospedagem que ele permite. O transtorno, como eu prefiro dizer, é um descontrole de personalidade, e de vez ou outra isso vem e volta nele, e atinge principalmente a mente. E oque parece é que isso está se tornando cada vez pior. Do mesmo modo que ele fugiu daqui e foi em direção da floresta e se feriu, ele poderia ter matado você, eu ou qualquer um dessa casa, quem não diga de outro lugar. O descontrole de personalidade o deixa inconsciente por apenas alguns minutos, então não afeta tanto a mente quanto a transformação, mas não deixa de ser arriscado. — ele explicou detalhadamente.

Mellanie olhou para o lado preocupada com oque a amiga iria pensar de toda aquela situação e conversa, mas ela não estava mais lá. Provavelmente havia saído mais uma vez para a casa do detetive esquisito.

— Descontrole de personalidade? — ela pareceu ainda mais nervosa — Isso pode machucá-lo? Quero dizer... Machucá-lo com mais intensidade? Ele está com ferimentos leves agora, mas você acha que ele pode se matar?!

Kaien abaixou os olhos na direção do chão, onde o rapaz encontrava-se estirado em sono profundo.

Aquilo queria dizer sim.

— Quando eu cheguei na parte afastada do parque, onde se concentra a maior parte da floresta da cidade, eu o vi em cima de um dos galhos da árvore, uma árvore alta. Seus braços estavam cortados, talvez pela intensidade dos saltos pela região. Os olhos estavam marcados por vermelho, assim como em seu estágio predador. O estágio da fera, quando toma seu corpo. Quando eu o chamei, mandei que descesse, ele pareceu sair do transe, os olhos púrpura voltaram mas no mesmo momento ele perdeu o controle do próprio corpo e caiu lá de cima, foi quando eu peguei ele e o trouxe para cá novamente. Ele disse algumas coisas incompreensíveis em meu ombro e, desmaiou. — o homem terminou por fim de explicar.

Mellanie levou as duas mãos na boca, tampando a mesma em estado de choque.

Lunna suspirou,

— Kaien, pelo quê eu andei pesquisando sobre o corpo e os ancestrais de Zero, há um modo de domar a Ookami-oni e regular os estágios dos transtornos. Há uma forma! — a tia da garota se viu com a esperança na ponta da língua, e aquilo pareceu tocar a baixinha.

— Isso é verdade, Kaien?!

Kaien assentiu desanimado,

— É um treinamento árduo e duro, tanto para ele quanto para seu domador. Mas há uma grande barreira em tudo isso; o domador só poderá ser realmente ser um domador se o coração da fera o escolher. Essa é a única condição. O coração da fera escolhe quem deve domá-lo. — Kaien avisou, e os olhos da garota desabrocharam.

— Ninguém mais poderia ser o domador do que você, Kaien-san! Só você pode. — ela sorriu, e ele balançou a cabeça de um lado para o outro.

— Sinto muito meu pequeno botão de chá, mas isso seria impossível. Já faz algum tempo que tentei domá-lo antes de vir para cá proteger você, pensei que seria simples fazer tal coisa, mas não é tão fácil. Necessita de mais coragem que domar um leão faminto. E, como eu disse, o seu coração escolhe seu domador. E como esperado, eu não fui o escolhido para tal missão. — terminou ao colocar a xícara de chá em cima da mesa.

Mellanie piscou algumas vezes, confusa.

— Mas... então... quem poderá ajudá-lo?

Lunna sorriu ao abraçar a sobrinha de lado.

— Ora, sua boba... — ela riu sutilmente — Você.

Mellanie arqueou os olhos verdes,

— Oque? Eu? — estava surpresa — Mas, eu... nós mal nos conhecemos e... Não. Nunca seria eu.

Kaien sorriu ao abaixar a coluna e esticar os braços fortes na direção do rapaz esbranquiçado no chão. O jogou em um segundo nas costas novamente.

— Pois bem, veremos isso amanhã. Amanhã à tarde faremos o teste, e veremos se você é realmente a dona do coração dessa fera... — ele sorriu provocante pronto para continuar — ...e desse rapaz...

Mellanie sorriu alegre, sentindo seu coração se completar por felicidade e esperança. Sim! Ela poderia salvá-lo se fosse possível, se seu coração fosse dela ela o libertaria daquela peste que habitava dentro dele, ou pelo menos a mandaria de volta para a caverna e escuridão.

Lunna limpou a garganta, despertando a garota do transe.

— Pelo jeito perdeu a escola hoje. Vão morrer sentindo sua falta lá... baixinha. — ela provocou ao passar pela garota direto para a cozinha.

Mellanie revirou os olhos,

— Ninguém vai sentir minha falta... Aliás... Hoje tem aula de história no terceiro horário... — ela sorriu boba — Espero que se comporte, demônio dos cabelos vermelhos.

Castiel havia invadido seus pensamentos naquele momento, mas oque mais importava era o rapaz desacordado no andar de cima.

Algo muito importante estava em suas mãos e responsabilidade agora. O coração de um lobo.

Abriu a porta e saiu, batendo-a atrás de si...



**



O vento parecia mais gélido do lado de fora. As folhas velhas e amareladas chocavam-se contra seu rosto pálido. As mãos foram levadas para os lábios, e os tocou, sentindo o pouco da sensação quente esbanjar deles e, aquela sensação a invadiu novamente. A sensação gelada de que algo se aproximava. O medo a tomou então, misturando-se com o vento carregado por indecisões e... lembranças.



Suspirou e se arrepiou ao ouvir o murmúrio de palavras doces;



— Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir.



Mellanie deu um pulo e se virou para o lado, e seus olhos puderam enxergar a linda criatura. Saritcha, com seus cabelos cor de pérola sobre os ombros e a capa azul reluzente.


Ela correu na direção da mulher sensitiva.

— Saritcha! Não vi você aqui, pensei que tivesse sumido novamente... — a garota sorriu feliz, enquanto ficava de frente para ela.

A mulher sorriu também, segurando as duas mãos da garota sobre as suas.

— Quando você pensa que não há saída... e ninguém compreende... a esperança vai mostrar o seu sorriso novamente.

A voz da mulher saia de seus lábios como melodia calma e confusa.

Mellanie apertou os olhos.

Oque aquilo queria dizer?

— Então essas são suas palavras para mim hoje? — Mellanie agradeceu sorrindo de novo.

— Seus olhos estão tristes. Conte-me oque ouve.

As duas se sentaram na margem do chafariz.

— Zero apareceu ferido novamente, não faz muito tempo. — ela respondeu sentindo a pontada atingir seus olhos mais uma vez.

— Isso é realmente um problema, certo? — Saritcha suspirou e apertou ainda mais as mãos da baixinha — Há poucos dias ele fez algo sem pensar, não é? Fugiu sem seu consentimento e se enfiou na floresta a procura daqueles monstros. Aquele acontecimento deve ter deixado-a confusa, aliás, tudo está deixando-a confusa, não é verdade? Mas saiba que isso não foi nada. Muitos acontecimentos terríveis chegarão. Seja forte e enfrente-os, está bem? Você é pequenina no tamanho, mas tem um grande coração.

Mellanie limpou os olhos com o pulso.

— Zero está marcado pra sempre por uma maldição, se é assim que devo chamar aquela criatura horrível que saiu de dentro dele... Eu fiquei com medo no começo de tentar trazê-lo de volta a si naquele dia, mas nada me deteu e o medo foi embora quando o vi ferido e acompanhado por uns mortos vivos... monstros... que o queriam matar. Não sei oque fiz exatamente, mas consegui libertá-lo da fera. Saritcha, estou confusa e acho que você é a única pessoa que pode me ajudar agora.

— Ajudá-la, pequena criança?

— Sim, você. Estou com medo. Medo de perder as pessoas que amo, e eu sei que sou a presa do perigo maior, mas oque exatamente é que está vindo atrás de mim? Oque é exatamente que está machucando todos e... quem foi que matou Alexy? — e da boca da baixinha em menos de segundos jorrou questionamentos.

Saritcha sorriu,

— Me sentiria muito honrada em ajudá-la, criança, e acredite, eu estou fazendo isso a todo o momento, dês de que chegou aqui. Certas pessoas não irão aprovar que eu tome conta de você, mas o principal a se fazer é tomar cuidado e se cuidar. A situação é delicada, e agora o topo de suas preocupações deve ser o garoto, o descendente dos grandes Kiryuu’s. Pelo quê vejo, a Ookami-oni está o matando por dentro com mais ferocidade, e a única pessoa que pode ajudá-lo é você. Tem que domar a maldição que habita dentro dele, assim será mais fácil de prosseguir.

Mellanie escutava com atenção. Tudo que se referia a Zero era importante agora, principalmente o fato de ajudá-lo e livrá-lo do demônio. Isso era realmente importante.

“Zero... um descendente dos... Kiryuu’s...”

— Kaien explicou que tem de haver um domador para a fera que habita dentro dele. Mas, nem ele mesmo, que é como se fosse seu mestre conseguiu domá-lo. Ele disse que o coração da fera é quem escolhe seu domador. Mas... não sei oque fazer agora... isso está me deixando louca. Eu quero ajudá-lo, é tudo que mais quero, livrar ele dessa dor infernal...

Saritcha afagou os cabelos da menina.

— Aquele homem está certo, criança. O demônio é quem faz a escolha, e eu tenho certeza que ele já escolheu quem será dono do coração do rapaz, e do próprio coração do lobo. Depois de tudo isso, se o domador escolhido conseguir, ele estará liberto, caso contrário, se falhar, a fera morrerá carregando a alma de seu refém... no caso, Zero. — a mulher terminou a explicação, e aquilo tudo fez com que a garota se arrepiasse ainda mais.

Engoliu em seco,

— Não o deixarei morrer. Isso é uma promessa, Saritcha.

— Oras, não fique tão assustada com oque poderá acontecer... apenas faça que aconteça, e tudo ficará bem no final. — disse — Ou, quase tudo.

Mellanie suspirou,

— Você acha que o domador... poderia ser eu?

— É você. Eu não tenho que achar nada.

Mellanie se levantou em um pulo, agarrando a mulher pela cintura e a abraçando em seguida.

— Obrigada. — a garota disse soltando-se do agarro — Onde está a baixinha rabugenta?

Saritcha riu e apontou com o queixo para trás, e lá estava a menina Mayuri agachada no chão, bem próxima do chafariz. Os cabelos curtos tapando o rosto “angelical”.

A garota se aproximou,

— Vou dar uma volta, e sei que está acordada. Não quer vir comigo?

— Saia de perto de mim, garota humana. Pode me passar más vibrações. — a menina disse aparentemente irritada.

Mellanie riu com diversão. Talvez estivesse se acostumando com aquele jeitinho meigo da garotinha.

— Tudo bem, tudo bem. Mas não pense que irá escapar de mim mais tarde. Chamarei você para algo divertido, então não aceito não como resposta. Será as 15hrs ao fundo da minha casa. Tem lindas flores lá, e um gramado bem verde. Minha tia é boa com isso, e tenho certeza que você vai gostar. — ela disse e então se afastou de Mayuri.

A menina levantou o rosto e olhou para o lado ao canto dos olhos, observando a garota sair andando pela rua e, se afastando... se afastando... lentamente... se afastando...

Então sorriu.

— Será divertido, querida. Você irá. — Saritcha disse aparecendo do lado da menina como um fantasma silencioso.

Mayuri revirou o rosto fingindo uma cara de “tô nem aí”.

Hump, não ligo pra nada que essa humana diz. É maluca e lhe falta parafusos.

Saritcha sorriu, abraçando a menina, oque a fez se calar e arregalar os olhos em surpresa.

Um abraço... aquilo era realmente um abraço...

— Não seja tão boba, pequena. Irá ser divertido.

— Di...vertido? — ela gaguejou confusa meio aquela demonstração de carinho — Não me lembro de ter feito algo divertido. Talvez eu... nunca tenha tido momentos de diversão, nunca...

O sorriso meigo da mulher desapareceu, e então a soltou e a olhou nos olhos, bom, pelo menos no único olho descoberto pelo tapa-olho de couro preto.

— Não pense em coisas ruins do passado. Pensei ter conversado com você sobre isso antes, há muito tempo.

— Eu sinto muito. — lamentou-se — Mas é que... as vezes quando aquela garota chega perto de mim me trás lembranças de meu passado. Aquela garota...

— Aquela garota irá ajudar você a encontrar o seu caminho para a luz, então fique tranqüila.

Mayuri abaixou os olhos e pegou algumas cartas.

— Isso é impossível. E de coisas impossíveis minha cabeça está cheia. — terminou a menina com a voz sarcástica.

Saritcha sorriu,

— Me pergunto se algum dia você poderia amar alguém... — sussurrou.


**



Ruas vazias, ruas sozinhas, deixadas por todos e abraçadas pelo vento.



Esse pequeno trecho de poema pertencia à seus pensamentos naquele momento enquanto andava a passos leves pelo canto da rua, chutando as pequenas pedras no chão empoeirado. Olhou para baixo e arqueou uma sobrancelha. Abaixou-se no chão. Levou as mãos para lá e pegou algo que havia encontrado. Um medalhão dourado. Analisou o objeto com atenção. Oque era aquilo e oque fazia ali, jogado no meio da rua? Seu formato era de uma estrela de Sete pontas, e no meio daquele medalhão uma espécie de espelho estava cravado.



— Mas oque... isso... — ela murmurou para si mesma ao se levantar sutilmente do chão, e se arrepiou ao sentir o vento se agitar bem na sua frente.



Alguém estava ali.


Ela levantou a cabeça com rapidez, mas teve que abaixá-la apenas alguns centímetros para ver de fato quem era.

E, um pequeno garotinho atingiu sua visão. Com os olhos negros inocentes direcionados para ela. Se vestia estranhamente — novidade —, com uma camisa de manga longa perfeitamente branca e por cima uma capa vermelha, tão vermelha como a cor do sangue. Por cima dos ombros e costas, a capa estava devidamente amarrada abaixo do pescoço em um laço. Pele pálida.

Ela mantinha os olhos bem abertos em cima do garotinho que deveria justamente bater na altura próximo ao busto da garota, ou quem sabe menor.

— Mas que plebéia insolente você é. — ele disse entre dentes, oque deixou Mellanie de orelha em pé.

Quem era aquele pirralho para falar assim com ela?

— Oque você disse baixinho? — ela se aproximou do garoto que continuava com o nariz em pé.

— Está me chamando de quê, sua plebéia abusada? Olhe para si mesma e pense novamente sobre sua ofensa.

Ela arqueou novamente a sombracelha.

“Deus, se você tem piedade de mim, por favor não me mande mais um maluco...”

— Crianças devem ficar em seu devido lugar, ouviu pirralho? — disse ela encenando uma cara brava ao mesmo tempo em que dava um beliscão na bochecha do garoto com ar superior.

Ele bufou,

— Quem você pensa que é afinal? — resmungou — Atrevida, insolente...

— Qual é baixinho, quer mesmo me encarar? — ela riu.

Tsc. Apenas fique quieta e devolva oque roubou. — ele estendeu as mãos pálidas na direção da garota, que mantinha uma cara risonha.

— Como é que é? — ela olhou para as próprias mãos quais seguravam o medalhão curioso, e olhou novamente para ele com irritação — Eu não roubei nada, baixinho. Eu achei isso no chão!

Ele sorriu, cruzando os braços.

— M-e-n-t-i-r-o-s-a. — o garoto falou calmo letra por letra, movendo os lábios bem devagar. Queria irritá-la.

Ela cerrou os dentes,

— Não vou te dar isto até ter certeza de que é realmente seu. — ela pausou com olhar desafiador — Entendeu?

Ele suspirou,

— Plebéia teimosa.

Ela o olhou mais uma vez, analisando o rosto angelical.

As aparências realmente enganam.

— Porque está aqui sozinho? Não me diga que se perdeu da mamãe...

Ele a olhou sério,

— Não tem possibilidade de se perder de algo que não está mais conosco. — respondeu.

Ela apertou os olhos. Havia falado demais.

Oque ela estava pensando afinal? Discutindo com uma criança...

— Eu sinto muito. — lamentou — Oque aconteceu com ela?

— Ela está morta.

Mellanie engoliu em seco olhando os olhos negros e pequeninos se desmancharem em tristeza.

— Está perdido?

— Bom, creio que sim. — ele respondeu.

Ela abaixou frente a ele, e sorriu.

— E será que posso saber o nome do pequeno garotinho?

— Oras, garota insolente, não me trate como se eu fosse uma mera criança! — ele a repreendeu ao limpar a garganta — Já sou um homem, e muitas vidas dependem de mim.

Ela abafou um riso com a enorme autoridade e confiança do garoto.

— Muito bem pequeno homem responsável, como se chama?

— Alam Henry Kamui.

Ela sorriu com um olhar surpreso.

— Nome interessante. — elogiou — Então, já que está perdido e não sabe para onde ir, quer vir comigo?

— Ir com você? Tsc, e para onde? — ele questionou com olhar superior.

Ela sorriu,

— Para minha casa, baixinho.

— Em outras circunstâncias eu recusaria, mas admito ter uma pequena curiosidade em saber como seria o interior da residência de um plebeu.

A garota riu e o segurou pela mão, que em instantes o fez arregalar os olhos e se esquivar.

— Você é estranho, eu em.

— E você... não me toque. — ele bufou e começou a andar ao lado da garota, que segurava nas mãos o estranho medalhão.

— Não estamos muito longe, então quantos anos você tem? Talvez cinco? Seis?

Ele bufou mais uma vez.

— Idiota. — murmurou — Tenho Oito anos.

— Uau, realmente é um homem. — ela ironizou.

— Não consegue ficar quieta nem por um segundo? Grr, você é irritante! — ele resmungou ao acompanhá-la com passos rápidos.

“... Você é irritante... Eu... Já ouvi isto de algum lugar...”

E em instantes uma enxurrada de mechas ruivas atingiram seus pensamentos. Claro, o demônio com nome de anjo já havia lhe falado palavras semelhantes como estas. Pôde se lembrar da “agradável” tarde no museu abandonado, o castigo de limpar tudo aquilo com o garoto mais perturbado da escola inteira. Como poderia ter se esquecido daquilo?

E, o lenço... que ele havia dado para ela por ter ferido o pulso estava agora dentro de sua escrivaninha, bem guardado na gaveta ao lado da cama.

Sorriu,

— Não importa, já estamos chegando... — ela disse ao libertar os pensamentos para longe, e então completou; — ... Henry.

Ele a olhou com surpresa. Os olhos angelicais e o pequeno corpo infantil.

Continuaram o caminho em silêncio.

Afinal, quem seria aquele pequeno desconhecido? Não importava se trocassem farpas pelo resto do dia, ela só precisava achar a família daquele garoto e tudo ficaria bem.

Não encontrou Saritcha próximo de sua casa como antes, apenas entrou em casa tranquilamente.

Ela fez um sinal com a mão e o menino entrou também.

Ela sorriu ao fitar o rostinho hipnotizado do garoto que olhava todos os cantos da casa,

— Bom, meus guardiões já devem ter saído, e não faço a mínima idéia de onde está Hikka-chan, então me siga, vamos pro meu quarto! — ela puxou o garotinho pela manga branca da camisa, que se irritou à principio, mas a seguiu pelas escadas para cima.

Estava silenciosa demais.


Nem os murmúrios das paredes era possível se ouvir, ou talvez os pequenos chutes do rapaz hunter dormindo em algum cômodo da casa.



Suspirou,



O medalhão pareceu bilhar nas mãos da garota que não percebeu, e o pequeno Alam sorriu.



Sabia muito bem oque aconteceria mais tarde, e tudo o que ele queria era arranjar um jeito de sair daquele lugar desconhecido e com pessoas estranhas. Precisava de seu protetor.



— Isso pode ser interessante, afinal...



As palavras saíram menores que um sussurro, e então a porta de madeira se foi aberta pela garota, desvendando um quarto de paredes estranhamente negras e uma enorme sacada quais cortinas quase transparentes balançavam com ferocidade.


Ele saiu como um vulto para dentro do quarto,

“Mamãe, me pergunto oque foi que a senhora me mandou desta vez... E principalmente você... Alexy... Está de parceria com ela aí em cima, não é? Porque... essa idéia só podia ter sido sua...”

Os pequeninos olhos negros pareciam estar em um mundo distante enquanto olhavam as infinitas árvores do outro lado daquela sacada. O vento batia nos cabelos curtos de raspão e ele se deliciava com aquilo, sim, ele estava adorando. As bochechas levemente coradas e as perninhas empoleiradas no parapeito de concreto. A garota sorriu boba. Quem era aquele menino?

Os pensamentos foram cortados com brusquidão pelo telefone tocando lá em baixo, na sala. Ela olhou o garoto que parecia em transe e desceu correndo.

Chegou bem rápido na sala e agarrou o telefone nas duas mãos. Colocou no ouvido direito.

Mell? É você? — uma voz feminina soou do outro lado da linha.

— Sim tia, sou eu, oque foi?

Oh, querida, só liguei pra avisar que chegarei daqui meia hora, tudo bem? Kaien está comigo, disse que quer falar com você sobre aquele assunto...

— Ele não foi pra cidade hoje? — a menina estranhou.

Ele disse que queria passar a tarde toda com você e Zero hoje, então ficou aqui comigo no meu trabalho e assim que eu terminasse iríamos juntos em seu carro pra casa. — a voz de Lunna pareceu irritada, talvez resmungona ao citar que o homem estaria com ela no trabalho de jardinagem — Querida, onde está Zero agora? Por favor, fique de olho nele e me ligue caso qualquer coisa estranha aconteça.

Mellanie arregalou os olhos verdes,

— Coisa estranha... Tia, você acha que pode acontecer aquele transtorno de novo com ele?

A mulher suspirou do outro lado da linha.

Tudo pode acontecer, principalmente no estado em que ele anda ultimamente, com os nervos a flor da pele e a cabeça quente... — a mulher respondeu — Bom, mas não se preocupe tanto com isso. Chegaremos em meia hora, isso se esse idiota não ficar no meu pé o tempo todo... Até mais querida.

A garota riu divertida. Lembrava-se muito bem da implicância que os dois tinham um com o outro, era uma situação cômica atrás da outra. Se perguntava se eles já eram assim há alguns anos atrás, antes da baixinha nascer.

— Tchau tia, vou esperar vocês. — se despediu e colocou por fim o telefone no gancho.

Apertou os punhos.


Precisava procurá-lo, já que dês que havia chegado não havia o visto em canto nenhum da casa.



Ela bufou preocupada ao imaginar em mais um surto e fuga de seu cão de guarda mal-encarado.



Subiu as escadas rapidamente, talvez como um raio de luz.



Abriu todas as portas e cômodos daquele corredor. Ele não estava nos quartos, nem em baixo das camas ou dentro dos guarda-roupas. Nada. Não conseguia encontrá-lo em lugar nenhum.



Parou de costas em frente à porta de seu próprio quarto e se escorou lá. Sua cabeça estava começando a doer. Já imaginava na confusão que aconteceria naquela casa se seu guardião não achasse seu pupilo.



E então, um barulho veio de dentro do quarto, semelhante como algo se debatendo e uma cama rangendo.



Virou-se tão depressa quanto subiu as escadas e abriu a porta em um baque. Arregalou os olhos ao ver que, na verdade, aquele barulho todo era realmente algo se debatendo, mas se debatendo na cama.



O pequeno garoto que havia deixado no quarto estava sobre sua cama, agitando os braços com violência e as pernas também na tentativa de se livrar do corpo adulto e pesado sobre si.



Zero estava por cima enquanto segurava os dois pulsos do menino com força oque o impedia de sair. Os olhos friamente violetas encaravam como em um impacto os negros de Alam,



— Oque está acontecendo aqui?! Ei! — ela gritou com toda as forças dos pulmões,



O rapaz se virou com o susto, mas não soltou de jeito nenhum o garoto na cama, que parou de se debater ao ver a garota baixinha na porta.



— Que bom que você apareceu, assim já posso acabar com esse pequeno invasor. — o esbranquiçado disse ao livrar uma mão, levando-a para dentro do casaco,


Tirou de lá sua pistola hunter e, pressionou-a na cabeça do garoto que arregalou os olhos.

Mellanie avançou um passo em desespero, agarrando o casaco de seu protetor, ameaçando puxá-lo para trás.

Eles a encararam,

— Ficou maluco, Zero?! — ela o repreendeu — Ele não é um invasor, é só um garoto de Oito anos! Eu o achei perdido perto daqui e o trouxe pra cá... Agora, abaixa essa arma...

Ele encarou o garoto por uma ultima vez e abaixou a pistola devagar antes que o soltasse por completo.

— Esse maluco me atacou, plebéia! — o menino gritou assustado e avançou para a cintura da baixinha, abraçando-a forte.

Ela o olhou sorrindo,

— Ele não vai te machucar, foi só um susto, ouviu baixinho? Ele é nosso amigo agora. — ela disse.

Hunf, não quero ser amigo desse selvagem. E quem lhe disse que já somos amigos? Só aceitei vir até aqui porque preciso da ajuda de alguém deste mundo para voltar pra casa. Então não venha com intimidades... — disse ao se soltar dela com um empurrão.

Mellanie riu divertida com o jeitinho típico do baixinho moreno, e então se sentou na cama.

Viu ele correr novamente para a sacada e subir no parapeito mais uma vez... os cabelos sendo carregados pelo vento...

Ouviu Zero resmungar. Ele estava escorado na parede enquanto a olhava friamente.

— Oque deu em você? — ele disse grosseiro,

Ela arqueou uma sombracelha.

— Como assim oque deu em mim? Eu só tô ajudando ele, oque tem de mais nisso? Se eu estivesse perdida em um lugar onde não conheço também aceitaria ajuda. — ela respondeu.

Ele contudo, continuava com o semblante sério.

— Não concordo com isso. Livre-se dele.

Ela revirou os olhos verdes,

“Duas crianças não dá”

— Não vou fazer isso, seria crueldade. — revidou — Aliás, crueldade mesmo era oque você ia fazer com ele. Iria mesmo estourar os miolos de uma criança? Nossa, estou orgulhosa de você, Zero. — disse irônica enquanto o via se aproximar e sentar-se na cama também.

— Sabia que há demônios que se escondem em corpos de criançinhas para fazer o mal? — ele falou sorrindo. Queria deixá-la assustada? — Demônios são cruéis, e a qualquer momento podem se esconder nas almas de qualquer mortal, inclusive desse garoto, que por sinal é muito suspeito.

Ela o olhava inconformada com tais palavras tão absurdas.

— Não acredito que você tá me falando isso, Zero. Ele é uma criança, sim, um pouco irritante, mas é uma criança. E que história é essa de demônios?

— Mellanie, não importa. Uma criança ou um adulto, eu mataria qualquer um que ameaçasse perigo à você. — respondeu ao tornar-se sério novamente — Não me importo de matar quantos for por você. Esse é meu dever agora, protegê-la. Não me importo se você me ofender ou me chamar de assassino, isso está em meu sangue. É isso que eu sou.

Ela se viu abaixar os olhos e apertar os dedos no short jeans desbotado. Aquilo tudo era tão absurdo mas ao mesmo tempo era tão real. Ele estava ali por ela ou para ela, afinal? Era diferente, de ambas as formas. Protegê-la era seu caminho agora, ou apenas sua obrigação?

— Matar nunca será o certo, Zero. Mesmo que seja de seu sangue, mesmo que seja seu dever ou obrigação... mesmo que... o demônio-lobo esteja em seu coração... — ela pausou para respirar, e então continuou — ... Matar sempre será a escolha errada.

Ele sorriu ao canto dos lábios, e pela primeira vez os olhos cor-púrpura pareceram tornar-se vivos...

— O lobo nunca estará em meu coração Mellanie, porque... — pausou — ... você é quem está.

Os olhos verdes entraram em transe e então novamente se apertaram normalmente. Ela agarrou o rosto dele com ambas as mãos pequeninas. Olhou-o nos olhos violetas, que não estavam tipicamente mortos, mas sim alegres.

Quando havia sido mesmo a última vez em que os viu alegres?

— Eu vou ajudar você, Zero.



Continua,



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[Música de Encerramento - Careful]

[Imagem Extra do Capitulo ~ Alam Henry Kamui]

[Imagem Extra do Capitulo ~ Saritcha]