P.O.V Arya

Fechei o tampo do piano e guardei minhas partituras. Meu quarto estava finalmente arrumado já que no domingo meu pai resolveu enfim trazer os móveis restantes para cá.

Chamei minha mãe que rapidamente apareceu na porta, os cabelos negros bagunçados deixavam à mostra alguns fios grisalhos e o vestido florido continha várias manchas de molho. Ela era assim. Sempre atrapalhada. Eu gostava disso, do seu jeito Atena de ser.

–O que foi querida? - Perguntou com um sorriso doce.

– Estou com dor de cabeça, acho que não vou descer pra jantar hoje - menti, mesmo odiando fazer isso com mamãe.

– Tem certeza? O seu pai vem hoje, ele deve estar com saudade de você.

–Tudo bem mãe, ele vai entender - respondi dando um fraco sorriso.

– Se você diz... - ela falou e também sorriu - Se precisar de algo é só chamar.

– Ok, obrigada.

Mamãe saiu e fechou a porta atrás de si.

Esperei alguns segundos até o som de passos sumir pela escada. Contei até dez mentalmente. Agora sim minha mãe havia descido.

– Ótimo... - murmurei e fui até o meu guarda-roupa e abri a portinha de onde ficavam os sapatos.

Lá no fundo da primeira prateleira, atrás de pares e mais pares de all-stars, sapatilhas e botas, estavam meus DVD's.

Sim, eu sei o que havia dito! Eu iria achar um vídeo cassete para assistir as fitas mas não encontrei nenhum, então apenas converti as fitas para DVD o que foi bem mais prático. E eu esperava que funcionasse.

Peguei as duas capinhas de CD e fui para o corredor que dava para a escada. Certifiquei-me de que mamãe estava ocupada o bastante para que não subisse novamente. Maravilha, ela estava.

Entrei no quarto dos meus pais e fechei a porta. Teria que assistir os DVD's ali já que meu quarto não tinha televisão. Pelo menos, até agora, tudo parecia conspirar a meu favor.

Liguei a televisão e o aparelho de DVD e coloquei o CD. Aguardava impaciente enquanto o filme carregava e, mesmo depois que carregou, tudo o que apareceu foi um chiado com som de estática. Xinguei e abaixei o volume.

– Por favor, funciona, por favor, funci - parei quando finalmente uma imagem apareceu.

Era um campo cheio de árvores com um poço numa clareira. Eu me lembrava vagamente daquele lugar: era onde eu e Samara costumávamos brincar quando criança, era onde Anna havia matado minha irmã e onde havia prendido seu espírito até hoje. Somente até hoje.

Sorri automaticamente quando estiquei meus braços e eles atravessaram a tela.

– Consegui... Eu realmente consegui! - murmurei soltando risadinhas e impulsionei meu corpo todo para a frente.

No momento em que atravessei do mundo real para o "Mundo de Samara" um arrepio percorreu minha espinha e o frio dominou meu corpo. Meus pés descalços entorpeceram em contato com a grama gelada. Apenas dei de ombros e fui até o poço.

Estava aberto pela metade, como imaginei. Mesmo assim eu queria abrí-lo mais, só para garantir. Joguei todo o peso do meu corpo magro e pequeno contra a enorme tampa de pedra, finalmente derrubando a no chão.

Apoiei as mãos na beira do poço e fitei a quase infinita escuridão abaixo de mim.

– Irmã... - sussurrei.

– Olá irmãzinha - disse uma voz distorcida e eu só tive o tempo de gritar quando uma mão fria e pálida agarrou meu braço puxando-me para dentro do poço.

P.O.V Aidan (alguns minutos depois)

Toquei a campainha e uma mulher gentil e sorridente atendeu.

– Você deve ser...

– Aidan Keller. Moro aqui na casa ao lado - respondi dando meu melhor sorriso e tentando esconder a preocupação e a pressa que tomavam minha mente.

– Ah, sim, filho da Srta. Rachel! Pois não?

–É que eu deixei um livro meu com Arya e precisava muito pegá-lo de volta - menti.

– Desculpe, Arya não está muito bem hoje, seria melhor deixá-la sozinha.

– Eu até entendo mas amanhã tenho prova de... de cálculo e eu preciso estudar senão ficarei de recuperação novamente. – Menti mais uma vez, balançando-me para a frente e para trás sobre os calcanhares.

– Se você insiste... – ela sorriu e gesticulou para que eu entrasse. – Arya é uma boa amiga, tenho certeza de que não se importará mas já aviso que não me responsabilizo por homicídios - disse brincalhona e eu suspirei.

Tô sabendo.

–O primeiro quarto depois de subir as escadas.

–Obrigado - eu disse e subi as escadas rezando mentalmente enquanto meu coração acelerava mais e mais a cada passo.