KYUNGSOO

— As ordens são para captura-los vivos!

Essa é a única frase que consigo entender entre toda a bagunça e barulho além da proteção de pedra que eu ergui ao nosso redor, tanta coisa acontece ao mesmo tempo que nem sei como consegui erguer essas pedras tão rápido, é tanta informação ao mesmo tempo que me sinto perdido.

Não sei em que momento, mas palavras e nomes simplesmente pipocaram em minha mente que parece mais alerta do que nunca, sei que estão atirando em nós com rifles de assalto, o som que ouço é dos tiros, as placas de pedra que estão ao meu redor, são placas de concreto que eu levantei do chão, e sei também que eles não serão proteção por muito tempo.

— Quem consegue usar seus poderes ainda? – Suho pergunta urgente.

— Eu consigo, mais ou menos, mas consigo. – Chanyeol responde, mas eu ouço as chamas farfalharem e sumirem, não sei se ele está mesmo apto a isso.

— Eu também consigo, mas não sei se será muito útil, eu não consigo ver nada e não conheço nada aqui. – Kai responde inseguro.

— Meus raios estão muito instáveis, não sei se conseguiria controlar alguma coisa. – Chen responde e logo em seguida ouço o barulho de eletricidade de suas mãos, um raio chega a voar e acertar uma placa de pedra. – Desculpe.

— Acho que eu e o Chanyeol somos os únicos – Me apresso a falar, me sinto eufórico, não estou com o controle totalmente completo, sinto energia demais para controlar de certa maneira, mas acho que sou o único assim.

Pode ser por estarmos aqui fora, talvez, mas talvez o cansaço seja o que está pesando em todo mundo.

Sehun foi curado pelo Lay lá embaixo e conseguiu fazer o que ele fez, eu fui curado pelo Lay e sou um dos únicos que ainda tem força.

— Péssimo dia para me esforçar tanto. – Lay ofega se apoiando nos joelhos e isso está começando a me preocupar de verdade, esse cabeça oca nunca ficou tão esgotado depois de curar alguém.

— Você fez o seu melhor, não exija demais de você. – Suho o tranquiliza.

— Pessoal, não quero apressar ninguém, mas precisamos de um plano rápido, não sei se esses pedaços de concreto irão segurar por muito tempo. – Eu digo depois de ver uma rachadura notavelmente grossa se esticar depois de uma saraivada de tiros.

— Cessar fogo! – Ouço uma voz falar do lado de fora das pedras, muito alto, intensificado, nenhuma pessoa poderia falar naquela altura.

Os tiros param imediatamente.

Nós ficamos calados por um momento longo demais, nem mesmo nos atrevemos a respirar, imaginando que eles poderiam ouvir qualquer coisa que disséssemos, não que tivéssemos um plano ou algo do tipo, mas o medo nos paralisou no mesmo instante.

Olhamos uns para os outros, eu vejo medo, insegurança, pavor, não faço ideia de que expressão eu posso estar externando, mas em meu íntimo, não devo estar muito diferente de Suho, perdido.

Nós estávamos contando e confiantes na ajuda e no comando do Luhan que saberia o que fazer aqui fora e para onde ir.

— Objetos de estudo do projeto EXO, - a mesma voz volta a ecoar de maneira amplificada, porém ainda assim distante – em nome do governo de Kim Heechul, não resistam, pois essa é uma operação que visa a paz, vocês são pessoas que ficaram durante anos reclusos da sociedade, não sabem como o mundo está e nem tampouco como viver nele mais.

“Nosso governante, Kim Heechul, quer apenas ajuda-los a encontrar uma nova vida, vocês são muito valiosos e importantes para nosso governo, assim como o HD que vocês, de maneira ilegal orientados por um cientista rebelde e mentiroso, se apoderaram. ”

Eu nem mesmo me lembrava mais desse HD e de sua existência, nos últimos momentos em que estivemos dentro do labirinto eu vi a morte tão de perto que apenas imaginar já me faz sentir uma queimação no corpo.

Saímos tão rápido do elevador que não vi ninguém pegá-lo.

— Alguém está com o HD? – Eu pergunto e quando vejo todos se olharem confusos e percebo que nenhum deles está com ele, sinto meu sangue ferver dentro das minhas veias, agora além de termos que fugir e lidar com soldados armados com rifles enquanto nossos poderes tão bagunçados, temos que voltar e pegar o HD.

— Não vamos conseguir fugir todos juntos. – Tao afirma, de repente, como se tivesse acabado de perceber a coisa mais óbvia. – Simplesmente, não vai dar certo.

— Para de falar besteira, nós vamos dar um jeito. – Chen o censura.

— Quem está falando besteira é você, cabeça de fagulha, faça as contas, soldados, armas, nós estamos indefesos e ainda temos que voltar para pegar uma coisa que todos fizemos o favor de esquecer e que é importante.

— Foda-se o HD! – Xiumin sibila irritado e todos nós ficamos curiosos com o que ele quis dizer, essa palavra ainda não tinha voltado para mim, pelo menos não ainda. – Nosso foco é fugir daqui!

— Mesmo que queiramos apenas fugir, ainda não vai dar certo. – Eu também me dou conta.

Um grupo de dez pessoas com três impossibilitados de correr, nunca conseguirá fugir, conseguiríamos, caso tivéssemos controle de nossos poderes ou se não estivéssemos tão esgotados, simplesmente não tem como.

— Qual a ideia, Tao?

— Entreguem-se de maneira pacífica e nenhum confronto desnecessário acontecerá – a voz ecoou mais uma vez – vocês estão em menor número, em uma área que não conhecem e ainda estão com problemas para usarem seus poderes, todo o meu pelotão está atualizado quanto a situação de todos vocês.

— Nos dividirmos. – Tao trava o maxilar com tanta força depois que me responde que é possível vê-lo tensionado enquanto olha para a direção da voz.

— Sem chance, isso não é uma opção. – Suho contesta categoricamente e cospe sangue no chão.

— Seria necessária uma distração de quem ficasse. – Eu tento continuar a ponderar e planejar com Tao.

— Eu acho que conseguiria fazer alguma coisa...não estou com o controle pleno...mas desacelerar alguns dos soldados é possível. – Tao faz o mesmo.

— Tao, não vamos nos separar de jeito nenhum. – Suho contesta novamente limpando os ferimentos na camiseta que já está com manchas por todos os lados.

— Eu poderia manter uma parede erguida nessa direção, - aponto na direção de onde a voz está vindo – imagino que eles estão daquele lado, os tiros vieram daquele lado também, uma parte de nós sai e tenta distrair os soldados enquanto os outros...

— Kyungsoo eu não aceito isso! Não vou deixar ninguém para trás! – Suho me agarra pela camiseta em pura fúria esbravejando.

Nunca o vi tão irado em todo esse tempo em que o conheço.

— Não tentem entrar em conflito com meu pelotão, vocês sairão perdendo, minhas ordens são leva-los vivos, vocês estão esgotados e feridos, precisam de tratamento. – O soldado nos adverte do lado de fora.

— Me larga, Suho.

Por trás desse ataque de fúria, eu sei que no fundo ele está assustado e não quer perder mais ninguém, dois de nós acabaram de morrer na nossa frente.

— Perdemos o elemento surpresa. – Tao continua planejando.

— Nós não vamos nos separar. – Suho contesta mais uma vez.

— Suho, - eu chamo sua atenção – eu sei que ver dois companheiros morrer tão rápido é assustador e que você deve estar se culpando por isso, mas é a única solução possível, melhor isso do que todos serem capturados.

— Tem que haver outro jeito. – Ele já se deu conta de que realmente é a única solução, é visível no rosto dele.

— Olha em volta, ninguém consegue fazer nada, não temos chance nenhuma. – Eu argumento. Todo o peso da realidade parece atingi-lo de uma vez, eu odeio isso tanto quanto ele, mas não temos escolha. – Temos que pegar o HD com a possível cura e fugir, já que existe essa possibilidade.

— Eu não posso pedir que nenhum de vocês faça isso. – Ele suplica e é visível em seu rosto o quanto isso o destrói.

— Você não está pedindo para ninguém, nós escolhemos ficar. – Tao responde.

— Eu não conseguiria fugir. – Baekhyun responde sentado no chão – Mesmo que saísse pulando e mancando, não iria muito longe, seria apenas mais um atraso.

— O Kyungsoo pode precisar de ajuda para conseguir fazer alguma distração. – Chanyeol dá um tapinha em meu ombro. – Eu consigo atrasar eles um pouco pelo menos.

— Eles disseram que têm de nos levar vivos. – Lay ofega.

— E mesmo assim mataram o Luhan. – Suho aponta de volta.

— Ele era odiado pelo tal cara que está controlando tudo isso, ele deve ter mandado isso. – Eu respondo pronto para dar um fim nisso – Nós vamos ter que fazer isso, olha o estado do Lay, ele não vai conseguir suportar por muito tempo, não temos outra escolha, mesmo que todos consigamos chegar aos túneis, eles estariam em bem atrás de nós, alguém precisa ficar e atrasá-los para dar tempo de uma parte conseguir fugir.

— Qual o plano? – Ele se dá por vencido suspirando a contragosto.

SUHO

Eu odeio estar nessa situação de não poder ajudar todos, chegarmos tão longe para apenas nos entregarmos? Nos dividirmos? Isso vai de mal a pior, quando Kyungsoo termina de falar o que ele pensou sinto um gosto amargo na boca, chegamos tão longe e parece que foi inútil, estamos morrendo um a um.

Sinto meus olhos pesarem, minhas pernas fraquejam um pouco e não paro de cuspir sangue, minha boca rasgou um pouco, mas foi suficiente para deixar o ferimento aberto, ótimo.

— Último aviso – o soldado ecoa novamente – rendam-se pacificamente e não será usada a força.

— Todo mundo entendeu? – Kyungsoo pergunta uma última vez e eu assinto, mesmo odiando isso. – Ótimo.

Sehun acordou, está desnorteado e parece muito cansado, mas escutou todo o plano e está preparado.

— Eu acho que entendi pelo menos, - Kai resmunga – algumas palavras são familiares, mas não sei ao certo o porquê.

— Nós iremos nos rever pessoal, todos nós, isso não é o nosso fim. – Eu falo mais para assegurar a mim mesmo do que os outros.

— Encontrem o Clan X, eles vão nos ajudar.

— E ainda acho que eu deveria ser capturado e...

— Você é nosso líder, Suho – Kyungsoo me interrompe – os rapazes vão precisar que você os guie.

— Eu não sei para onde ir. – Eu confesso.

— Vai saber. – Kyungsoo coloca a mão em meu ombro.

— Preparem-se para...

— Tudo bem, tudo bem! – Kyungsoo grita e então o plano começa – Nós...nós vamos nos entregar. – Ele levanta um pilar de pedra abaixo dele e deixa apenas os olhos de fora da parede de pedra. – Nós nos entregamos, temos pessoas feridas aqui e...já entendemos que não temos chance.

Isso parece tão errado, ele estar se sacrificando assim, era eu que deveria estar falando com esses soldados agora.

— Iremos sair de dois em dois, por favor, não nos machuquem, estamos fracos e queremos colaborar. – Kyungsoo mantem seu tom firme e calmo, educado, cuidadoso, precisa parecer estar colaborando realmente.

— Muito bem, façam isso. – O soldado aceita. Tudo indo como planejado.

— Eu vou afastar as placas de pedra um pouco para esse lado, - ele aponta devagar para a esquerda – eu não estou com o controle pleno de minhas habilidades, então não estou conseguindo usá-las direito.

— Afirmativo.

Mentira, ele está no controle pleno e eu diria até maior que antes, vagarosamente o que era um círculo de pedras ao nosso redor começa a se desfazer e é então que me sinto pesado por dentro.

As placas se afastam devagar e formam um muro na frente de Kyungsoo – Cobaia, abaixe as placas de concreto imediatamente.

Kyungsoo projeta seu braço direito para frente, o concreto voa para frente com toda a velocidade, ele pula do pilar de pedra e ao pisar no chão pisa com força com o pé esquerdo, estacas sobem, projeta os dois braços para frente e elas voam.

Eu começo a correr, Chen, Xiumin, Kai e Sehun, que conseguiu se recuperar de seu surto de ataque, estão ao meu lado, não espero ver se os ataques de Kyungsoo deram certo, mas os pipocos dos tiros recomeçam, ouço o som de pedras sendo mexidas, gritarias, o fogo queimando o ar entra na confusão, quando conseguimos voltar ao elevador, ouço outra explosão que atinge meus ouvidos, a palavra granada surge em minha mente e agora eu sei o que eram as esferas de metal que havia visto antes.

Nenhum de nós fala uma única palavra, quando alcançamos o elevador a caixa preta e lustrosa que era o HD me salta à vista, está encostado na parede, perto do corpo de Luhan que está deitado em um ângulo estranho por cima de seu braço direito, a mão quase apontando para o HD.

Conseguimos o HD, agora a parte mais complicada, chegar aos túneis do metrô.

Quando olho para fora do elevador, me sinto culpado novamente e sem esperança, além da proteção de pedra erguida por Kyungsoo, uma parede de fogo serve como outra barreira protetora, porém as chamas estão fracas e instáveis.

Lay e Baekhyun estão sentados e encolhidos mais para trás, ouço várias granadas explodindo além da parede de pedra e a vejo estremecer e rachar, Kyungsoo precisa reforça-la, mas não parece que aguentará muito tempo.

Os pipocos dos tiros são constantes e ensurdecedores, Chanyeol atira bolas de fogo sem rumo, torcendo para acertar alguém e Tao está sem ação apenas observando sem saber o que fazer.

— Suho, temos que ir – Kai fala ao meu lado.

Eu não respondo.

Eu não posso deixá-los aqui e se sacrificarem, simplesmente não posso. Coloco o HD nas mãos de Kai e começo a andar em direção a eles, Kyungsoo será o líder do pessoal que fugir, mas eu não vou deixar meus companheiros se sacrificarem, já vi muitas mortes.

— Onde você pensa que vai? – Sehun agarra meu braço. – Você ouviu o Kyungsoo, temos que ir em direção aos túneis.

— Eu não vou deixar eles se sacrificarem por mim. – Respondo sem olhar para ele.

— Você não tem que deixar nada, Suho, eles escolheram isso – ele me vira para olhar para ele - escolheram nos dar essa chance, então mete isso na sua cabeça, se eles querem que você vá para os túneis com a gente é porque eles sabem que você é a nossa maior esperança agora que meu irmão se foi. – A intensidade e seriedade em seus olhos é algo que nunca vi nele até agora. – Não deixe que meu irmão tenha morrido em vão, nós vamos para os túneis e você vai nos liderar lá.

Ele tem razão, confiaram e estão confiando em mim, não posso deixar seu esforço ser em vão.

Começamos a correr, Kai se teletransporta, mas não consegue chegar perto de Chanyeol como era o plano e acaba caindo no meio do caminho, mas isso não nos detém e nem a ele, continua correndo até conseguir falar com ele.

Ouço o assobio que as chamas de Chanyeol fazem ao criar o manto de fogo ao seu redor, viro o rosto e vejo a fênix, mas está menor e com alguns buracos aqui e ali, eu até mesmo chego a ver seus pés em um momento.

O pássaro de fogo se empoleira encima do muro de concreto e começa a cuspir labaredas finas e magras, mas suficientes.

Continuo correndo, mas paro antes de virar a rua à esquerda.

Um muro de pedra, de um lado, meus companheiros, do outro, fogo, soldados vestidos de preto e capacetes lustrosos cobrindo seus rostos, buracos no chão, destruição, só volto a correr quando Kai me alcança e me puxa pela mão.

Mais uma vez estou correndo por entre corredores, é estranho pensar que mesmo estando fora do labirinto que eu me acostumei a ver, nesse exato momento, me sinto tão preso e perdido quanto antes.

A cada passo que dou o som da batalha se afasta mais e mais e logo ouço apenas o eco dos meus pés atingindo o chão com força, minha respiração ofegante debaixo de um Sol escaldante queimando minha pele e ferindo meu nariz com o ar seco e cheio de poeira.

Vejo outra placa com a palavra metrô e uma seta indicando para a direita, nós corremos nessa direção e quando viramos a direita eu vejo um portal de metal como o nome metrô mais uma vez e...e...eu não sei ao certo o nome daquilo, algo como retângulos descendo...o nome está na ponta da língua, mas não consigo lembrar.

— PARADOS! – Uma voz masculina brada atrás de nós me tirando de meus pensamentos.

Olho para trás e três soldados estão nos seguindo, rifles apontados mirando em nossas costas.

— Se abaixa Suho! – Chen esbraveja.

Um raio sai retorcido acima da minha cabeça e acerta o soldado do meio em cheio no peito o jogando longe. Os outros dois não se abalam e disparam seus rifles.

Uma rajada de gelo fina voou pelo ar e paralisou as balas no meio do caminho, as peças de metal caem não muito longe de mim.

Chen grita com raiva e mais um raio atinge o soldado bem na cabeça, eu não acredito quando a vejo estourar, sangue e pedaços voam para trás e o corpo cai inerte.

Uma pancada de ar e o último soldado é arremessado longe também, quando ele cai, seu corpo fica torto da mesma maneira que Luhan estava e ele não se mexe.

Ainda sinto meus joelhos tremerem quando fico em pé e continuo a correr em direção aos túneis.

Nós cinco descemos o que eu lembrei se chamar escada com rapidez, os sons agora estão tão afastados que não os ouço, ou talvez a batalha tenha acabado.

Nós não nos permitimos uma pausa e continuamos a correr, o local tem pouca luz, mas conforme Chen corre tudo que funciona a base de eletricidade começa a funcionar, eu não me preocupo em entender o que estou vendo, apenas continuo correndo.