KRIS

A antessala ainda está cheia de fumaça quando nós entramos nela, é um ambiente consideravelmente grande também, bem menor do que a área vazia na qual estávamos, também era um lugar bem largo e amplo, mas não muito comprido, haviam quadrados pretos nas paredes que por algum motivo faziam o nome “monitor” pipocar em minha mente, talvez seja esse o nome, ao olhar para o chão a palavra “piso” veio à mente dessa vez, era lustroso, mas havia uma camada de pó fazendo o preto ficar cinza.

As paredes eram brancas, mas a última mais distante era inteira de metal e se dividia no meio em duas placas de metal, uma do chão até o meio e outra do teto até o meio.

— Agora eu vou precisar de uns minutos... para fazer o elevador descer até aqui... – Luhan comentou parecendo perdido em pensamentos olhando de um lado para outro – Aqui... a-há, achei! – Ele comemorou depois de apalpar um monitor perto da parede de metal e ele se acender e logo abaixo dele uma placa da parede virou dando lugar a vários botões que ele logo começou a cutucar um por um fervorosamente.

— Quanto tempo até conseguir fazer esse elevador vir nos buscar? – Eu pergunto olhando para o monitor hipnotizado com as imagens e letras que começam a aparecer nele conforme Luhan bate os dedos de botão em botão, minha mente parece coçar tentando se lembrar de alguma coisa, mas seja lá o que for não consigo.

— Não me apressem... faz um bom tempo que não trabalho com esses códigos... é um milagre eu ainda lembrar deles.

— Estou com a impressão cada vez maior de que esse plano não é cem por cento seguro. – Baekhyun aponta sarcástico.

- Era isso ou algum outro plano de vocês e considerando que ninguém conseguiu bolar nada antes e o tempo ridiculamente curto que eu consegui bolar tudo isso e me lembrar de tanta informação com a qual eu não trabalhava já há alguns bons anos, eu acho que estamos nos saindo muito bem.

A velocidade com que essas palavras saíram da boca de Luhan enquanto ele não tirava os olhos do monitor só não foi maior que a velocidade com a qual ele batia os dedos nos botões à frente dele.

— Então eu te peço, por favor, me deixe trabalhar em paz porque pode não ser o melhor ou mais seguro plano, mas é o único que temos e já chegamos bastante longe considerando todas as dificuldades e todas as olhadas tortas e ameaças que sofri nas últimas horas.

Baekhyun disse absolutamente nada, apenas ficou com a boca aberta com qualquer resposta ou comentário que tivesse pendurados e perdidos no meio do caminho.

Eu tenho que reconhecer que isso é um fato muito difícil de acontecer, alguém conseguir calar o Baekhyun não é algo que vejo todos os dias, quando vejo que ele ameaça ir na direção de Luhan com as mãos fechadas eu o seguro e balanço a cabeça negativamente, ele entende e sai de perto de nós, e senta-se no chão de braços cruzados e cara fechada.

Kyungsoo, Suho, Chanyeol, Sehun e eu ficamos observando apreensivos enquanto letras e números não paravam de aparecer e subir na tela conforme Luhan trabalhava, ele nem mesmo piscava enquanto seus dedos se mexiam rapidamente.

Depois de não sei quanto tempo ouvindo apenas minha respiração e som dos dedos de Luhan batendo nos botões, ele deu um último golpe com força em uma tecla maior, algumas palavras apareceram muito rápido no monitor e uma luz começou a piscar dentro da antessala e uma voz de mulher soou de algum lugar.

— Plataforma acionada, mecanismo disponível para transporte até a superfície em trinta minutos.

— Deu certo? – Eu pergunto sem entender direito o que a voz disse, mas convicto de que era algo bom e pelo sorriso aliviado que ele deu quando a ouviu, não tem como não ser coisa boa.

— Deu muito certo, - ele suspira aliviado – agora só precisaremos esperar o elevador descer, trinta minutos até ele chegar aqui, estamos muito fundo no subsolo.

Eu olho para Chanyeol ao meu lado, não faço ideia de qual expressão devo ter no rosto agora, mas se for parecida com a dele, é um misto de surpresa, alegria e alivio.

Chanyeol me abraça pela cintura e nós ficamos pulando no lugar comemorando, parece algo tão surreal, imaginar que estamos mais perto do que nunca de irmos embora daqui, de acabarmos com esse pesadelo e esse sofrimento.

— Eu nem acredito nisso! – Chanyeol bradou a plenos pulmões – Nós vamos sair daqui mesmo!

— Funcionou?! – Baekhyun corre até nós parecendo muito mais animado agora.

Eu o abraço e o tiro do chão e pulo algumas vezes com ele, não consigo controlar minha felicidade e esperança – Deu certo, deu certo, deu certo, Baek, deu muito certo, o elevador está vindo até nós!

Quando o coloco no chão ele começa a pular de um lado para o outro rindo à toa também, o pessoal que estava mais afastado também se aproxima e começa a pular quando Suho conta que estamos perto de sairmos daqui.

Nem parece verdade.

Todo mundo está pulando gritando e se abraçando em alívio, todo mundo menos Luhan, ele fica parado apenas nos observando e isso me dá sentimentos mistos.

Ele nos colocou aqui, mas será que ter sido colocado junto com a gente e passar pelo que ele passou nos últimos dias já não o deixava igual? Já não era uma punição boa? Eu me aproximo dele e lhe dou um abraço rápido e agradeço por nos ajudar.

Em seguida, um a um, todos ficam ao redor dele e o agradecem pela ajuda, mesmo Baekhyun que era um dos mais irados com ele, o agradeceu, sério, de cara fechada e quase a contragosto, mas agradeceu.

Quando Sehun o abraçou todos ficaram calados por alguns segundos, os irmãos estavam se reconciliando, talvez?

— Você conseguiu. – Sehun o parabenizou e o abraçou forte pela cintura e começou a pular com ele comemorando.

— Se acalmem, pessoal, por favor, se acalmem. – Luhan tenta se fazer ouvir por cima das comemorações, mas é inútil, ninguém está prestando atenção no que ele fala, estamos eufóricos demais.

— Pessoal, escutem o que o Luhan tem a falar. – Suho podia ainda ter alguns problemas com Luhan, mas estava tentando seu máximo para não o tratar mal, dava para ver.

— Nós ainda não saímos, teremos de esperar alguns minutos pelo elevador e ainda podem haver ameaças então continuem atentos, - ele tenta passar uma imagem contida e preocupada, mas ele não consegue parar de sorrir – quando chegarmos à superfície, ainda podem haver alguns perigos para nós por lá, então estejam preparados e...

— Para de ser estraga prazer, deixa a gente ter pelo menos esses minutos de felicidade, você nos deve isso. – Baekhyun resmungou irritado.

Eu concordava com ele, se estamos aqui é por causa do Luhan e ninguém mais, eu nunca me senti tão bem, tão feliz e leve como estou me sentindo agora e é tudo culpa dele de ambos os jeitos.

Mas a expressão de desconcerto que o Luhan ficou quando ouviu isso me fez sentir uma ponta de empatia por ele. Não é só porque o Baekhyun sentia aquilo que ele deveria ter dito talvez.

— Deixa ele falar, Baekhyun. Ele está preocupado com a segurança de todo mundo. – Chen o cortou em defesa de Luhan, algo que eu nunca esperaria que acontecesse.

— Não, não, ele tem razão, quando o elevador chegar teremos algum tempo para discutirmos isso, até lá acho que podemos...

Com toda a comoção que se instalou quando soubemos que estávamos perto de sair daqui ninguém mais se preocupou em vigiar a porta para possíveis ameaças, exceto Kyungsoo.

Eu estava olhando para Luhan que continuava perto do monitor onde ele apertou os botões com tanta velocidade, todos estavam meio bagunçados, mas Kyungsoo era o único que estava olhando diretamente para fora esse tempo todo, ao meu lado, de braços cruzados.

Eu só consegui processar o que houve por que estava ao lado dele.

Em questão de um segundo, Kyungsoo me empurrou de lado, deu passos largos para tomar a frente do grupo, uma pisada forte no chão e os dois braços erguidos com as palmas das mãos para frente e uma parede de pedra quebrou o piso e se colocou na nossa frente.

Um barulho de algo líquido atingindo a pedra e então um chiado muito alto, na nossa frente, vemos um enorme buraco se fazer na pedra, derretendo uma abertura totalmente irregular e enorme e lá fora, uma criatura que eu nunca vi antes.

Eu sou o primeiro a vê-la lá fora, só quando a pedra começa a derreter é que todo mundo parece se dar conta do que ele acabou de fazer, de que ele acabou de nos salvar.

A alegria e euforia que sentimos nesses poucos momentos, agora dava lugar a velha sensação de ameaça, tensão, medo, a dor nas veias pulsando conforme a injeção de adrenalina banha nossos sistemas.

Nós estávamos perto, muito perto de sair daqui, mas ao que parece, ainda teríamos de lutar uma última batalha antes disso e eu estava pronto para o que fosse, daria tudo de mim, nada vai me impedir de sair daqui depois de chegar tão perto.

LUHAN

Quando eu não achava possível ser surpreendido por Kim Heechul, ele dá mais uma cartada.

Quando foi que ele teve tempo de criar algo tão horrendo e monstruoso desse jeito? Um Frankenstein moderno versão animalesca, ou talvez uma quimera reimaginada de laboratório?

O cheiro causticante do ácido e da pedra derretida parece queimar minhas narinas e respirar fica difícil, começo a tossir descontroladamente, meus olhos chegam a lacrimejar conforme olho através do vapor que sobe, por sorte, Sehun pensa rápido e ventila o ambiente com uma grande lufada de ar.

— O que...aquilo...? – Suho tem dificuldade em perguntar por debaixo de sua tosse.

Em que lugar e com qual tempo e recurso essas criaturas foram feitas está além de mim.

A cobra gigantesca? Eu nunca vi sequer um projeto ou nada, como conseguiram deixa-la daquele tamanho está além do meu poder de compreensão e análise, mesma coisa com essa...essa quimera que estou vendo agora.

— Saiam e se espalhem ou seremos alvos fáceis aqui dentro! – Suho comanda todo mundo e nós obedecemos.

Por mais que a área externa vazia seja enorme, a boca da quimera conseguiu cuspir uma quantidade enorme de ácido bem longe e teria acertado bem no alvo se não fosse pela atenção do Kyungsoo.

Ela abaixou a cabeça e se preparou para outro cuspe de ácido, mas dessa vez estávamos mais atentos, foi Tao que apontou as duas mãos para a grande gosma esverdeada e a desacelerou no meio do ar e eu a empurrei de volta com minha telecinésia.

Uma vez fora da antessala eu pude ver melhor a criatura que Heechul havia feito no laboratório e ficar ainda mais admirado e aterrorizado com o que eu via.

De alguma maneira bizarra e que eu não faço ideia como, o animal apoiado nas quatro patas devia ter perto de quase quatro metros, o corpo era um híbrido de leão, lobo e escorpião.

O corpo musculoso era de um leão, a cabeça de lobo e o rabo com o ferrão na ponta era de escorpião, as presas não cabiam na boca e as garras estavam para fora constantemente.

Mas, da mesma maneira que a cobra, algo parecia doente nele, o ácido que ele cuspiu parecia ter queimado sua boca também, as presas pareciam incomodar e furar a boca, e a coloração do pelo deixava tudo ainda mais com aspecto doentio.

O focinho do lobo tinha uma coloração azulada, o corpo de leão era um tom laranja e o rabo de escorpião era roxo, o porquê de todas essas cores? Não faço a mínima ideia, mas algo está muito errado na forma que essas criaturas foram feitas.

Muito errado.

— Luhan, eu pensei que não deveriam ter criaturas vivas para nos atacar! – Xiumin esbraveja na minha direita distante.

— Não havia mesmo, nós vimos algumas mortas. – Kai se apressa a explicar.

— Essa não é uma das minhas, eu nunca as fazia desse tamanho ou... tão coloridas. – Eu me defendo sem tirar os olhos da quimera a nossa frente que nos observa cuidadosamente. – Essa deve ser mais uma das obras do Heechul, igual àquela cobra gigantesca que tentou pegar o Lay.

— Quanto tempo até o elevador chegar? – Suho pergunta mais à frente de todos.

— Devem faltar uns vinte e sete, vinte e oito minutos.

— Entendido, pessoal, não precisamos derrotar ou matar mais esse monstrengo, temos apenas que sobreviver até o elevador descer e nós vamos conseguir! Nossa saída, nossa liberdade está atrás daquela porta e a menos de meia hora de distância! Chegamos muito longe para sermos derrubados agora!

Suho está à frente de todo mundo tudo o que vejo são suas costas, ele não tira sua atenção da quimera nem por um segundo sequer, a tensão, antecipação e o medo são tangíveis no ar, mas a determinação dele também é.

Ele podia não querer isso, mas era natural para ele ser um líder, tomar a frente e incentivar todo mundo era algo mais forte que ele e nesse momento em específico, precisaremos disso mais do que nunca.

— Algum plano? – O terror é perceptível na voz de Baekhyun e a maneira como ele encara a quimera com expressão de pavor.

— Tomem cuidado, não se arrisquem, não façam nada estúpido e lembrem-se, nosso objetivo aqui é apenas ganhar tempo. Lay, você fica aqui dentro caso precisemos que cure alguém, Kai, você ficará encarregado de teletransportar quem precisar de cura ou estiver em algum apuro. É só o que consigo pensar no momento. Algo a acrescentar, Luhan?

Sou pego de surpresa pela pergunta dele, por ser consultado em um momento tão crucial – Eu não fiz essa criatura. – Eu reafirmo minha inocência enquanto o HD passa de mão em mão até chegar no Lay, o único que ficará fora de combate.

— Não foi isso que eu perguntei.

— Tomem cuidado com o ferrão, vimos que ele consegue cuspir ácido então tentem manter distância para termos mais tempo de reação... por enquanto é isso. – Soo mais perdido do que imaginava.

Sehun aperta minha mão ao meu lado brevemente e quando olho para ele vejo um sorriso incentivador.

— Nós vamos sair daqui e nem mesmo esse monstrengo vai nos impedir.

A determinação de Suho passa para todos nós quase como se nos infectasse, o medo e a adrenalina ainda estão aqui presentes, mas não me paralisa mais.

Nada vai nos impedir.

SUHO

Meu corpo está tão tenso que chego a sentir dor nos músculos retesados, meu coração palpita e sinto o suor colar minha camiseta nas minhas costas enquanto encaro aquele ser gigantesco.

Nenhum de nós faz movimento algum, essa é uma batalha para ganharmos tempo e nada mais, se tivermos que ficar o tempo todo apenas o observando, que seja.

Mas claro que não teríamos tamanha sorte.

Um dejá-vú se inicia em minha mente quando o animal estranho abre a boca, uma grande língua vem em minha direção muito rápido do mesmo jeito que aquele sapo enorme tentou me engolir mais de uma vez.

Antes que eu faça alguma coisa, uma grande parede de fogo se ergue na minha frente e ouço um guinchado irado da criatura quando sua língua é queimada, olho por cima do meu ombro esquerdo e Kris está com a mão estendida e os olhos brilhando vermelho sangue.

— Kyungsoo, - olho por cima do ombro direito para um Kyungsoo tenso e de olhar fixo e concentrado – eu preciso que você fique atento e proteja o Lay o máximo que puder lá dentro – aponto para a antessala e ele vai mais para trás.

O fogo ainda trepida a minha frente então me permito uma rápida olhada para trás e Lay já não está mais entre nós, seguro dentro da antessala caso nós precisemos ser curados.

Outro guinchado irado da criatura e um som como se alguém tivesse cuspido alguma coisa, nem mesmo tenho tempo para tentar me lembrar quando ouvi aquilo antes ou pedir para que Kris abaixasse o fogo quando o ácido verde e fedorento atravessa as chamas vindo de encontro a mim para me acertar em cheio.

Com o pouco tempo que tenho de reação eu começo uma proteção de água ao meu redor, mas a gosma parou no meio do ar, como se o tempo tivesse parado, imagino que deva ser obra do Tao.

Quando a gosma sai voando de volta na direção da criatura e ela cospe mais duas é que nós acabamos sendo forçados a nos mover e separar.

Eu me jogo para a esquerda, Kris se coloca ao meu lado, ouço Chen e Kai conversando atrás de mim, os outros estão do outro lado, a terceira escarrada de ácido do monstro vai direto na direção de Lay dentro da antessala. Mais uma vez, a cusparada de ácido é arremessada de volta para ela, imagino que devo agradecer ao Luhan por isso.

Tudo que eu vejo é um borrão verde voando de volta para frente, mas quando olho para onde a criatura estava, vejo apenas o vazio, de alguma forma, ela conseguiu se esquivar mesmo com todo aquele tamanho e está correndo avidamente em minha direção.

— Sai da frente!

Kris me empurra e eu caio meio de lado, preciso me afastar muito rápido quando o manto dele começa a queimar o ar e logo o dragão de fogo está ao meu lado, até olhar para ele parece queimar de tão perto que acabei ficando.

Kai aparece ao meu lado e me leva mais para trás e eu tenho que apagar o fogo que acabou pegando em meu pé esquerdo.

Na nossa frente, Kris está usando todo o poder que tem para conter o avanço do monstro, os dentes de fogo do dragão estão fincados fundo no pescoço da criatura que sacode a cabeça violentamente tentando se livrar, mas não consegue, as patas da frente do dragão empurram o corpo gigantesco, mas aqueles músculos não são apenas enfeite.

Por incrível que pareça, a criatura está conseguindo lutar de igual para igual e dando muito trabalho para Kris conseguir contê-la e impedi-la de se aproximar de nós, ele morde várias vezes a carne do animal que mesmo se queimando e urrando de dor, não se dá por vencido.

Como um mecanismo de defesa ou de último golpe de misericórdia, a criatura finca o seu ferrão bem no pescoço do dragão de fogo, mas como não há carne, não há dano algum, o veneno sai voando e o esguicho atinge a parede mais próxima, a pedra começa a derreter imediatamente.

— Esse maldito é feito de ácido por acaso? – Chen se irrita mais atrás de mim.

Demonstrando uma força animalesca bruta e imparável, de alguma forma, a criatura conseguiu arremessar o dragão de fogo para longe que acabou virando uma bola de fogo antes de Kris aparecer e sair rolando pelo chão e bater na parede mais distante.

Porém, mesmo com tanta força, os sinais da luta eram perceptíveis, onde Kris havia feito contato, o pelo do corpo havia desaparecido e agora estava uma carne escurecida e torrada, até mesmo subia fumaça aqui e ali, ela até mesmo parecia meio desnorteada.

— Atenção, Chen!

Eu não espero para saber se ele me ouviu ou entendeu, começo a encher o peito de ar, concentrar energia na boca e quando expilo o ar ele sai como água da minha boca, uma grande quantidade e com muita pressão, o primeiro tiro acerta o olho direito da criatura e o estoura misturando um líquido gosmento a água.

Continuo atirando, preciso colocar pressão e acuar esse animal o quanto for possível, se ele for igual àquela cobra, nada conseguia dar um fim nela e ela parecia ficar cada vez mais forte.

O quarto tiro acerta a pata direita de raspão e abre um rombo na pele arrancando um naco de carne e o último o acerta bem no nariz e o melado preto começa a descer no mesmo instante.

Mas o foco não era machucá-lo.

A eletricidade nas mãos de Chen quase me ensurdece com seu ruído agudo e quando ele atinge a criatura com ela o clarão quase chega a me cegar por um instante.

Um raio mais grosso passa quase ao meu lado e esgueira mais para perto da criatura e Chen aparece de repente e em suas mãos uma grande bola de raios que ele joga contra a cabeça dela a arremessando para trás mais uma vez.

De repente, uma grande estaca de pedra e uma de gelo se materializam de cada lado a criatura, mas ela é mais rápida do que poderia parecer com um tamanho tão grande, a de pedra chega a lhe cortar o rosto, mas a de gelo não consegue nem tocá-la, uma grande chama acende aos seus pés e forma a boca do dragão de Kris, mas ela pula para trás no último segundo.

Um raio mais grosso serpenteia ao meu lado e Chen aparece, Kyungsoo e Xiumin também se aproximam, Kai deve tê-los teletransportado para mais perto de mim, Kris continua a distância, ele sabe que eu e ele não podemos lutar juntos pois eu anulo seus poderes, ele tentará dar assistência.

— Mantenham esse ritmo e pressão, temos que manter esse trambolho o mais ocupado possível. – Eu os instruo já um pouco ofegante. – Nos dê cobertura! – Peço para Kris a distância e ele apenas assente com a cabeça.

Eu levei apenas um segundo para falar isso, mas foi o suficiente para tirar minha atenção quando não deveria.

Com um golpe de pura força bruta, a criatura quebra as duas estacas com as patas e urra de raiva, mas ela começa a correr na direção oposta, onde estão os outros rapazes e nós corremos atrás dela também.

Em um instante, ela deu um salto e se virou no meio do ar durante a corrida, abriu a bocarra e eu estava pronto para ver o ácido voando, mas para minha surpresa, ao invés disso, uma névoa esverdeada e espessa saiu da boca dela com muita velocidade.

Kyungsoo era o que estava mais perto e não teve tempo de reação.

Ele foi atingido em cheio pela névoa e no mesmo instante seus gritos de desespero e agonia encheram o ar e eu não consegui acreditar no que estava vendo. Ele tentou se afastar e desvencilhar, mas a dor devia ser tanta que ele caiu no chão sem forças, tentando se arrastar, sem conseguir.

— Ninguém se aproxima! – Xiumin para com os braços abertos na nossa frente e quase tropeçou no meu pé quando tentou se afastar da névoa se que se aproximava de nós também.

— Alguém faz alguma coisa! – Chen se desesperou.

A névoa avançava, mas ainda conseguíamos ver Kyungsoo caído no chão tentando se arrastar, a pele estava vermelha, parecia ter sido esfolada, derretida, cuspia sangue e até mesmo seu cabelo parecia estar sendo queimado. Aquela névoa devia ser ácida também.

Eu tento envolve-lo em uma bolha de água, mas assim que a água entra em contato com a névoa, parece evaporar.

Meu peito se aperta quando eu vejo o desespero no rosto do menor com a mão esticada pedindo ajuda em silêncio, teria a névoa o queimado por dentro também?

Uma ventania fortíssima aparece de repente e se encontra com a névoa esverdeada a empurrando para a parede que se derrete com o contato.

Kai aparece ao lado de Kyungsoo e some com ele, olho um pouco para trás e sinto um alívio quando vejo Sehun com as mãos ainda para frente depois de se livrar da névoa.

Eu ainda estava olhando para ele quando a língua da criatura se enrolou nele lhe cobrindo metade do rosto, mas seus olhos continuaram de fora e pelo desespero em seu olhar, eu imaginei que sua língua também tinha ácido, eu quase conseguia ouvi-lo gritar igual Kyungsoo.

Em uma fração de segundo, ele estava voando direto para a boca da criatura, mas no meio do caminho ela simplesmente desacelerou, Tao estava concentrado olhando para o corpo de Sehun sendo arrastado.

O som de patas batendo contra o chão me chama atenção e vejo a criatura irritada correndo na direção de um Sehun inerte no meio do ar com o ferrão do rabo pronto para um golpe e envenenar o garoto.

Um brilho alaranjado, uma explosão, uma grande e farta chama dançou entre os dois, a criatura pula para trás se debatendo no meio do ar para se livrar do fogo em sua língua e depois em seu rosto.

Finalmente ouço a voz de Sehun em um grito de dor e agonia retirando o pedaço da língua que o havia envolvido e jogando longe, seu rosto está deformado, faltam pedaços de carne onde a língua se enrolou em sua boca e pescoço, seu lábio inferior havia sumido deixando os dentes expostos em um sorriso apavorante, seu pescoço estava esfolado do mesmo jeito que Kyungsoo havia ficado.

Kai aparece e desaparece com ele em menos de um segundo, ainda bem que ele está conseguindo ajudar quem se machuca.

— Xiumin...Xiumin vai proteger o Lay! – A voz de Kris ecoa com urgência atrás de mim – Agora a coisa vai ficar séria.

Olho para Chen e então para onde ele está olhando com um misto de animação, excitação e até um pouco de medo.

Luhan está levitando no meio do ar, seu olhar é de pura fúria.

Agora a coisa ficou realmente séria.

LAY

Nunca senti tanto medo como estou sentindo agora, pelo menos não que eu consiga me lembrar.

Nenhuma criatura antes conseguiu fazer algo desse jeito, não nesse nível, assim que Kai apareceu aqui e eu vi o estado que o Kyungsoo estava, tive que lutar comigo mesmo para não gritar em pânico e horror.

As roupas tinham buracos derretidos mostrando uma pele que uma vez foi branca, mas que agora estava esfolada, derretida, eu conseguia ver os músculos e tendões dele.

A boca não parava de cuspir sangue, rosto parecia se derreter, sua cabeça tinha buracos sem cabelo aqui e ali, até mesmo a mão de Kai se queimou onde ele precisou tocar nele para se teletransportar.

Respirar parecia difícil para ele e o fazia com dificuldade e um ruído agonizante que fez minha espinha se arrepiar.

Estou apavorado vendo meu amigo daquele jeito, estou apavorado em pensar que todos os outros estão lá fora lutando contra a coisa que fez isso com ele e pode fazer com todos eles, se não tomarem cuidado.

— Lay... – Kai ofega cobrindo o nariz com as costas da mão – ele...

— Eu sei. – É a única coisa que digo.

Me ajoelho ao lado do corpo quase derretido de Kyungsoo e posiciono uma mão de cada lado de seu rosto e começo o processo de cura.

Mordo o lado de dentro da minha boca para me concentrar e evitar as lágrimas de pânico e terror que querem descer pelo meu rosto, eu preciso ser forte, ser destemido, corajoso igual aos outros, eles estão se arriscando e fazendo o que podem para me proteger,

Kai estar aqui é uma prova disso e honestamente, é uma grande desvantagem para eles, mas eles abriram mão desse artifício para me proteger, então o meu trabalho é me manter focado, curar quem precisar, quantas vezes precisar e garantir a segurança e vida deles.

Kyungsoo foi destruído por fora e por dentro, seus pulmões estão tão derretidos quanto sua pele e cabelo, se não fosse minha habilidade de cura, ele não sobreviveria por muito mais tempo.

Essa é a minha função nesse momento, curar e ajudar quem precisar ser curado e eu a cumprirei, não vou desapontar meus amigos.

Quando ouço Kai sumir e reaparecer, nem preciso olhar para saber que é outro ferido.

— Lay, tem alguma coisa que eu possa fazer para ajudar? O Sehun também está todo ferrado e...

— Aproxima ele de mim. – Minha voz ameaça quebrar no final da frase, mas consigo evitar. – Coloca ele ao lado do Kyungsoo.

Quando vejo o estado que eles está, mordo minha bochecha com mais força ainda e sinto o gosto do sangue em minha boca, mas não derramo uma única lágrima.

Seu rosto falta um pedaço, desfigurado, a carne também está derretida, falta cabelo em sua cabeça também, mas pelo menos, o dano parece ter sido apenas externo.

Nunca curei duas pessoas ao mesmo tempo, nunca foi necessário, mas agora é um momento que não posso me dar esse luxo, não temos tempo, não temos tempo, não temos tempo, eles precisam voltar para a luta.

Quando coloco uma mão no rosto de Sehun, imediatamente sinto o calor de seu corpo se conectar ao meu e vejo a carne e pele se refazerem diante dos meus olhos.

Ouço o barulho da luta lá fora, os gritos medonhos e aterrorizantes da criatura, gritos de ordem, determinação e raiva dos meus amigos, o som do fogo, dos raios, são tantos barulhos, tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, mesmo mordendo minha bochecha não consigo evitar as lágrimas e elas finalmente caem.

Estou olhando para meus dois amigos através do borrado de lágrimas, estou apavorado, desesperado, mas estou fazendo o que devo fazer, estou fazendo minha parte para que todos possamos sair daqui.

— Eu vou conseguir.

Murmuro entre lágrimas, não sei se para mim ou para eles, mas a única coisa que importa é que eu sei que vou conseguir. Sinto minha cabeça ficar leve e o mundo começa a girar ao meu redor, estou ficando tonto, mas não paro o processo de cura um único minuto. Quando Kyungsoo respira fundo de maneira fácil, sinto um peso ser levantado das minhas costas, ele estava muito machucado, mas eu consegui.

Estou conseguindo.

Está sendo mais difícil e cansativo do que imaginei, mas estou salvando os dois e salvarei quem mais precisar de mim. Podem confiar em mim.

É a minha vez de lutar também.

É a minha vez de proteger vocês, como vocês me protegem.

Eu consigo.