LUHAN

Acordo sobressaltado dando um pulo na minha cama e caindo no chão na minha cela branca e irritantemente pura, meu corpo pronto para batalha, minha cabeça dói, as luzes piscantes do teto me irritam e estou ouvindo um zumbido no meu ouvido direito.

Meu coração palpita rápido e com força, eu preciso estar alerta para...para...alguma coisa...

Me sento na cama e tento entender e lembrar para o que eu deveria estar alerta, mas nada me vem à cabeça, tudo que me lembro é de Heechul vir aqui me irritar e... branco.

Eu tento puxar pela memória e me lembrar do que quer que seja que eu devia me lembrar, mas é inútil, eu simplesmente não faço ideia do que poderia ser, na verdade não sei ao certo se devia me lembrar de alguma coisa, tudo que me lembro é que Heechul me colocou aqui nessa cela e pretende me mandar para o labirinto e que eu preciso salvar meu irmão, preciso burlar os inibidores.

Mas porque eu acabei dormindo quando ele veio aqui? Os tranquilizantes já deixaram de fazer efeito e os inibidores apenas me impedem de usar meus poderes de telecinésia, não deveriam me cansar desse jeito, pelo menos em teoria.

Há quanto tempo estou aqui?

Não saber quanto tempo se passou é talvez a pior parte.

Minha cabeça dói e gira, nem mesmo tento me mover na cama porque não há muito motivo, afinal, eu preciso apenas pensar em como salvar meu irmão e em como sair daquele labirinto quando entrar lá.

Passo horas deitado olhando para o teto, as lâmpadas e as calhas de metal que me inibem, tento imaginar alguma maneira de me livrar de seus efeitos, mas é inútil, tudo que eu penso acaba, de novo, comigo levando a pior e nada além disso.

Começo a pensar e chego à conclusão que fazem no máximo dois dias que estou aqui, mesmo com esses ciclos bagunçados de sono, só me serviram comida uma vez. Se ele me quer como cobaia precisa me manter alimentado e saudável, então só posso passar no máximo dois dias sem comida. Ele ainda estava com os ferimentos bem recentes de quando ele me descobriu e mandou meu irmão para o labirinto, logo, não deve fazer muito mais que um dia que estou aqui e isso é bom e ruim ao mesmo tempo.

Bom, porque meu irmão ainda pode estar vivo, ruim porque ele está tomando todas as medidas que puder para me colocar no labirinto sem nenhum risco ou chance de eu fazer alguma coisa para me proteger e cada minuto a mais ele deve estar instalando mais e mais proteções, o que só comprova que minhas indagações eram reais e em todas as situações e possibilidades que eu faço na minha mente, ele ganha e eu perco.

— Doutor Luhan...

Ouço uma voz feminina familiar e uma leve batidinha no vidro da cela. Meu coração pula de alegria e alívio ao ouvir essa voz. Me levanto da cama em um pulo e corro para o vidro ficando de joelhos em frente a ele e apoio minha testa nele.

— Tiffany... – Seu nome escapa de minha boca quase como uma súplica antes que eu perceba – O que faz aqui? – De repente me dou conta que se ela está aqui, sendo que ela era minha assistente pessoal antes, não pode ser boa coisa. – Você não está com o Heechul...está? – Não consigo evitar que minha voz soe temerosa nesse momento, quase assustada demais para falar.

— Não me ofenda, doutor. – Ela dá uma risadinha baixa ao responder. – Não me ofenda. – Meu coração fica leve e meu peito se enche de alívio.

— E as câmeras? Se a virem aqui...

— Eu as sabotei por um breve período, o suficiente para podermos conversar. – Ela me interrompe com um tom de voz um pouco orgulhoso. – Como o senhor está?

— Admito que poderia estar pior. Ele e o Woojin desenvolveram inibidores e... – Paro de falar de repente ao me lembrar que ela não sabe, ou sabia, que sou dotado de poderes igual os garotos.

— Eu já sei doutor...de tudo... – ela fala de maneira cautelosa – o senhor é igual os garotos. Ele fez questão de mencionar para todo mundo e se vangloriar de como ele derrotou o seu intelecto superior e como você traiu a própria espécie.

Eu fico em silêncio alguns momentos, talvez os mais longos da vida, sem saber o que responder, uma das poucas vezes que isso me aconteceu na vida.

— Eu entendo, – ela quase sussurra pelo vidro – quase tudo...ou pelo menos acho que entendo... Eu convivia com o senhor, eu via o jeito que se esforçava para achar a cura e como acordava gritando e chorando de alguns cochilos...a forma como o Heechul e sua equipe tratavam as cobaias. É completamente compreensível não ter revelado.

— O pior é que eu comecei a encará-los do mesmo modo... – eu sussurro com vergonha, só não sei se é dela ou de mim mesmo por ter descido a esse nível – estava ficando cada vez mais fácil mandar os rapazes para o labirinto...era quase automático...acabei por parar de ver as pessoas e apenas ver os números.

— Você pode mudar isso e eu posso ajudar.

— Como você pode ajudar? Como veio parar aqui, aliás? Não é perigoso?

— Seria, se eu não tivesse apoio, se nós não tivéssemos apoio, na verdade. – Eu não a vejo, mas ouço o sorriso em sua voz e pelo jeito que ela soa, o que acaba por me fazer sorrir também. – Isso se o senhor aceitar o acordo que está sendo proposto em troca da ajuda.

— Que acordo é esse?

— Destruir o projeto EXO. Acabar com ele e todos os dados possíveis e existentes.

Eu não sei quanto tempo se passou depois dela me dizer isso. Isso me tirou o chão totalmente.

Mesmo que eu não esteja mais no controle do projeto e até mesmo odiando o rumo que tudo tomou, eu continuo chocado com a proposta e sou pego de surpresa completamente. A procura da cura do vírus me vem à mente no mesmo instante, o tempo que foi gasto, o dinheiro, as pessoas que morreram, tudo, todo o esforço aplicado a esse projeto, as vidas que se foram, em vão.

— Doutor? – A voz de Tiffany me tira de meus devaneios.

— Como posso fazer, isso? Sou apenas eu. Posso mover as coisas com minha mente, mas nada mais que isso. – Eu respondo de maneira robótica.

— Eu disse que temos apoio, não disse? – Mesmo com toda a tensão ela pergunta com humor. – Não estamos sozinhos e eles têm um plano muito viável e já que o senhor vai ser mandado para o labirinto...

— Então é isso? – Eu já consigo imaginar qual seja o plano.

— Eu imaginei que o entenderia logo de cara.

— Mas quem está te ajudando? Ou vai dizer que ainda tem acesso a tudo?

— Infelizmente, eu não posso te dizer ainda, pelo menos por hora, porém o senhor precisa confiar em mim, existem pessoas que querem acabar com o governo de Heechul, e destruir o projeto EXO é um passo crucial.

— Como sequer sabem desse projeto?

— Eles têm seus meios. É só o que posso dizer.

— Estou surpreso que não tenha acontecido nada com você. Imaginei que seria morta ou algo assim. – Me permito deixar um sorriso passar por meus lábios em alívio.

— Eu também, mas ele achou mais prudente me manter ao lado dele e dar auxílio sempre que necessário – sua voz já estava baixa, agora está quase inaudível e tenho que me concentrar para conseguir ouvi-la. – Eu não ficarei muito tempo mais aqui. Mas eu vim ajudá-lo com algo se aceitar o plano. Aceita?

Eu titubeio um pouco, tenho que admitir que me dói pensar em destruir tudo em que me dediquei e investi tempo, todo o avanço e progresso que consegui fazer e os sacrifícios. Mas eu preciso dar um fim nisso – Aceito.

— Você precisa saber de algumas mudanças que ocorreram com a nova gestão, - ela fala cautelosa – agora não existe apenas uma HD central lá dentro, Heechul e os novos administradores subdividiram em três, cada um focado em um aspecto diferente e... ele reativou o projeto anterior... reativou a sessão do projeto B.A.P. e a integrou ao projeto atual. Está mais mortífero que antes, ele não está poupando esforços ou recursos para focar a pesquisa nas habilidades.

— Desgraçado, quando ele teve tempo de fazer isso? – Eu me pergunto tentando lembrar de algum dado que indicasse a isso. – O projeto foi um desastre, por que ele iria querer repetir?

— Ele achou vídeos do senhor gravando os avanços de suas pesquisas e achou um onde você culpava os chips biônicos, ele já queria reativar a antiga sessão fazia um bom tempo, agora ele acha que se deixar os rapazes agir por conta própria, terá sucesso. Mas esse não é o foco principal, - ela se apressa e volta a linha de raciocínio de antes – o foco aqui é que, você terá de encontrar três HDs ao invés de um. Eu ficarei observando as suas atividades lá dentro e destruirei o aqui de fora logo em seguida.

— Eu vou precisar pensar em uma maneira de localizá-los... você não saberia dizer onde eles estão, saberia?

— Eu tentei procurar nas plantas e esquemas, parece que um deles continua no mesmo lugar dentro do labirinto, os outros dois estão em algum lugar na nova sessão, a julgar pelo andamento das coisas, acho que o que continua lá deve ser o que tem dados sobre a cura. Os outros dois estão focados nas instalações e nas habilidades, um deles está marcado como ultra importante e muito bem protegido.

— Deve ser o que tem os dados sobre as habilidades, com certeza.

— Eu pensei o mesmo.

— Eu terei de pensar em alguma coisa para conseguir fazer uma varredura no maquinário no céu, mas darei um jeito. – Eu afirmo.

— Perfeito. - Sua voz soa urgente – O laboratório continua igual, apenas um HD e dois backups, todos serão destruídos quando você começar a agir, tudo está encaminhado. É uma pena não poder salvar os dados referentes a cura, não há maneira de extraí-los, mas o senhor precisa destruir os internos.

— Está se esquecendo que minha memória será apagada. – Ela não sabe que posso proteger meu cérebro.

— Não conseguiu erguer nenhuma proteção ao enfrentar a Krystal? Uns dias atrás?

Krystal? De que raios ela está falando?

— Quem é essa? De que confronto você está falando e como sabe que eu consigo fazer isso?

Ela demora um pouco para me responder e sua voz soa preocupada – Eu analisei os dados do Namjoon. Ele não conseguiu desenvolver, mas tinha essa habilidade, havia a possibilidade de ele proteger o cérebro, talvez ele não o fizesse por falta de necessidade ou talvez nem soubesse dessa possibilidade. Tendo as mesmas habilidades que o senhor, imaginei que o faria. Eu apaguei esses dados dos relatórios, mas não sei se Heechul chegou a lê-las antes.

Então havia essa informação nos relatórios? Será que deixei passar batida?

Conversar com ela sem ver seu rosto é estranho, tudo que faço é recostar a testa no vidro e ouvir sua voz. Namjoon foi um grande problema desde o início, desde os primeiros dias no labirinto até o último, eu perdi mais cobaias por causa dele do que de fato para o labirinto e isso me atrasou demais nos estudos para a cura.

Mas ela não me respondeu.

— Quem é Krystal? – Eu insisto, a possibilidade de Heechul saber que eu posso proteger minha mente não me assusta tanto no exato momento e sim a ideia de eu não saber quem é essa mulher.

— Ela...ela é a nova encarregada do projeto. Ela...Heechul a trouxe aqui já tem alguns dias para te ver. De alguma maneira você conseguiu uma brecha e estourou essa porta de vidro e a estilhaçou fazendo o Heechul e a Krystal saírem voando. Ele está internado em observação. – Não consigo evitar que um sorriso se plante em meu rosto – Mas você não tentou fugir nem nada do tipo...só ficou em um canto...se concentrando em alguma coisa...achei que tivesse conseguido fazer proteções e barreiras. – Ela para por mais alguns segundos pensando em alguma coisa. – Essa Krystal...ela tem alguma coisa debaixo daquele tapa-olho dela...quando ela apareceu sem ele você parecia uma boneca...uma marionete, ela conseguiu te controlar com facilidade.

A voz dela quase some ao final dessa frase e o desespero começa a se alastrar em mim ao me dar conta que não me recordo de absolutamente nada disso, nem mesmo sei quem é essa Krystal, eu estourei essa cela e de quebra ainda consegui ferir tanto o Heechul quando ela. Bem que queria me lembrar disso, mas simplesmente não está na minha mente.

Como se não tivesse acontecido.

— Eu não me lembro de nada disso, como isso é possível? – Eu pergunto urgente para Tiffany. – Ela... você disse que ela me controlou igual uma marionete?

— Afirmativo.

— Deve ter algo a ver com isso, será que já apagaram minha mente?

— Muitas coisas mudaram desde que ela assumiu o projeto, doutor. – Tiffany se apressa a me informar – O senhor simplesmente andou de volta para sua cela e esperou sentado enquanto consertavam. Ela deve ter alguma habilidade também, talvez uma desconhecida?

— É o que tudo indica. – Respondo pensativo. – E eu não me lembrava dessa habilidade ter sido relatada nos arquivos do Namjoon. – Acrescento confuso. – Da proteção mental.

— Eu que a observei e anotei, senhor, ele era, afinal de contas, meu objeto de estudo no começo. – Ela responde - Eu tenho que ir, já me alonguei demais aqui. – Ela sussurra de novo e já me sinto deprimido novamente – Fique atento, em algumas horas os inibidores serão desligados por alguns momentos, por volta de cinco minutos, é tempo suficiente? É tudo o que consigo.

Eu respondo um sim distante, ela se despede, me deseja boa sorte e então, ouço seus saltos baterem no chão e seus passos se distanciando e eu fico na minha cela lutando com meu desespero para ele não me dominar.

O que aconteceu?

Depois que Tiffany me visitou e foi embora eu não consegui me deitar novamente, fiquei no mesmo lugar onde estava quando falava com ela, não consegui colocar força no corpo para me levantar, apenas abracei minhas pernas e as colei no peito e deixei minha mente trabalhar a mil.

Eu sei agora que tem alguém controlando e administrando o projeto no meu lugar, isso não é surpresa e não me choca, mas, segundo Tiffany, essa pessoa tem alguma habilidade escondida e que conseguiu me subjugar.

Tudo que ela disse continua a rodar minha cabeça, um turbilhão de informações me atormenta e a mesma pergunta me persegue em todos os momentos. Quem é Krystal?

Não sei ao certo por quanto tempo fico com minhas indagações, fixei meus olhos nas luzes do teto e foi isso que me fez perceber a mudança na energia, uma leve piscada que eu poderia deixar passar se não estivesse focado nas luzes.

Tiffany.

Tento projetar minha mente e consigo sem nenhum problema ou dor e sinto meu coração palpitar com a onda de euforia, quase começo a pular na cela, mas me lembro que estou sendo observado, pelo menos tenho quase certeza, me contenho e estico minha mente o máximo que consigo só para poder me espreguiçar.

Me foco em minha mente e começo a proteger o que posso e devo. Mas algo me surpreende.

Percebo que minha mente não está intacta, normal, na verdade já existem muitas barreiras e proteções, me analiso, e percebo que são as proteções que eu queria colocar em minha mente e até mesmo me coloquei uma palavra gatilho...tudo que eu queria fazer já está feito...como isso é possível?

Então percebo que há uma barreira que não é minha, na verdade é um comando e um bloqueio. Foi bem feito, mas não da maneira certa, meu domínio consegue desfazê-lo.

A memória me atinge de uma só vez.

Eu me lembro de tudo.

Depois que Krystal conseguiu me controlar com seu olho violeta ela deve ter me feito esquecer tudo, aquele olho deve controlar a mente da pessoa ou algo assim, porque ela me forçou a me acalmar e colaborar com ela e Heechul, eu via o que estava fazendo, mas era como se não estivesse lá, como se assistisse tudo de fora.

Heechul estava sendo auxiliado por alguns dos soldados que vieram para controlar a situação e paramédicos chegavam ao andar de contenção quando ela me colocou dentro da cela novamente.

Me deitou na cama e me fez olhar direto nos seus olhos. – Você irá matar o Kris ou o Chanyeol assim que os ver assim que chegar ao labirinto, será mais forte que você e não terá nenhuma outra opção a não ser mata-lo no mesmo instante em que o ver. Assim como Oh Sehun. Entendido?

Eu me lembro de ter concordado. Então era essa a ordem que estava embutida na minha mente?

Bem, Heechul e Krystal terão uma surpresa, porque eu não vou matar ninguém, na verdade, agora que sei como ela funciona e como ela age, posso me proteger para não ser afetado por esse seu olho sua loira oxigenada.

Me mande para o labirinto. Eu salvarei meu irmão e essa merda vai para o chão e eu vou me encarregar disso.