SEHUN

Eu não sei ao certo quanto tempo fiquei nessa cabana na qual Kyungsoo me colocou. Estou deitado na cama olhando para o teto tentando engolir tudo o que aquele baixinho de olhos grandes me disse enquanto a luz vaza para dentro pela janela quadrada bem acima da minha cama. Não faz sentido, é ridículo, parece algum filme que eu já tenha visto em algum lugar antes...mas de novo...como eu posso saber dessas coisas? Eu sei o que filme significa, mas não me lembro de ter visto algum...não lembro de nada que eu possa ter vivido.

Em algum momento decido me levantar da cama e trocar essas roupas estranhas nas quais estou, essa bata branca e calça preta. Abro o baú e tiro uma blusa listrada de branco, azul claro e escuro e um short jeans, mas ainda me sinto mal ao estar descalço.

Não sei quanto tempo passou desde que entrei nessa cabana, mas quando termino de me trocar a luz que Baekhyun produzia lá fora some e ouço pessoas conversando animadas. Saio e vejo dois homens altos e um baixo.

— ...eu nunca vi aquilo antes, sério! Aquilo é novidade no labirinto...eu pelo menos nunca me deparei com aquilo e nem lembro de alguém comentar daquilo. – Um deles comenta animado e sorridente, tem as orelhas um pouco grandes, quase como um elfo e a voz grave. Elfo...como eu posso fazer essa analogia? Eu sei o que é um elfo, mas não faço ideia de como eu sei, nem mesmo tenho certeza de como é a imagem de um elfo.

— Eu também nunca vi aquilo, Baek...foi muito estranho. – O outro responde, esse parece mais sério.

— Então tivemos muitas coisas acontecendo hoje, vamos ter muito o que conversar daqui a pouco. – O mais baixo responde sorrindo.

Os três vão para cabanas diferentes, os dois mais altos permanecem nelas, enquanto o mais baixo sai e vai para a cabana onde Suho está em recuperação.

BAEKHYUN

O garoto novo me observa pela janela da sua cabana enquanto eu vou para a cabana do Suho, nem mesmo seu nome eu sei, quando fico de pilar de luz eu me desligo completamente e fica difícil entender ou perceber qualquer coisa. A única coisa que eu vi foi a correria quando ele chegou e Suho chegando todo ferrado. Os gritos dele também foram altos.

— Mas ainda falta gente para voltar... – Eu protesto quando Kyungsoo vem me chamar para ir para a cabana, mas ele apenas balança a cabeça com pesar.

Um recém-chegado, dois que se foram.

Eu nem tenho tempo de chorar ou algo assim, não fazia muito tempo que eles haviam chegado aqui e eu conversei bem pouco com eles, mas é inevitável não me sentir triste, com raiva, apreensivo...eu nem sei ao certo o que sinto na verdade, já foram tantas pessoas que estavam aqui antes de mim, chegaram depois de mim e também se foram.

Apenas vou para a cabana de recuperação ao lado de Kyungsoo, um peso no peito por dois companheiros que se foram e mais dois motivos de odiar tudo aqui dentro.

— Quem está pronto para curar esse rapaz todo moribundo? – Entro na cabana tentando levar um pouco de humor, mas Tao parece cansado, Kai está dormindo, Kyungsoo já foi se sentar na cama observando Suho apreensivo enquanto ele está desacordado com expressão de dor.

— Finalmente, - Lay suspira aliviado do chão – estou apreensivo pelo Suho.

— Ele piorou? – Pergunto já me aproximando.

— Não, mas não sei se ficar segurando assim seja algo bom. – Lay responde. – Tao, pode ir descansar. – Ele esfrega as costas de um Tao cansado.

— Vem, vamos liberar os rapazes da vigia, eu vou dar a má notícia para todos e fazer a barreira. – Kyungsoo se levanta e se espreguiça todo.

— Levem o Kai, precisaremos de espaço. – Lay pede. – E você vai para o outro lado da cama do Suho para poder anestesia-lo durante o processo de cura.

— Certo, certo. – Me sento do outro lado da cama como Lay me instruiu, coloco a mão acima testa de Suho e me concentro.

Minha luz deixa minhas mãos geladas, ao contrário do que muitas pessoas possam pensar, quando ela sai da minha mão e a sinto gelar a aproximo dele até sua expressão mude de dor para paz.

— Vou começar. – Lay me informa.

Sempre gostei de ver quando ele cura as pessoas, principalmente quando cura feridas feias assim igual essa do braço do Suho. As fibras começam a se refazer diante dos meus olhos, os buracos se fecham, os tendões se ligam, a pele fica rosada e depois volta ao mesmo tom de pele do resto do braço dele. Logo nem parece que o braço dele sequer havia sido ralado.

— Você facilitou bastante esse processo. – Lay sorri se jogando no chão parecendo cansado.

— Eu o ouvi gritar mais cedo...assim como também vi o novato chegando...mais um ferrado mandado para cá. – Me jogo no chão também e me escoro na parede. Servir de pilar de luz cansa e usar como anestésico também.

— Pois é, mais um para cá. Na verdade, aprece que eram dois, mas... ele estava com o Daehwi. – A voz de Lay fica triste e pesada quando ele termina de falar. – Isso é novo, mandar dois de uma vez, não acha? – Lay pergunta. – Afinal, nos últimos tempos só estavam mandando mais gente quando alguém morria aqui dentro, mas nunca a mais.

— Apenas o Baro foi furado por aquele C3 naquele dia que saiu com o Minhyun, não teria porque mandar dois de uma só vez. – Não devia ter mencionado isso. Lay se sentiu culpado por não conseguir curar o Baro. Ele fica calado no mesmo instante.

— Vamos, acho que já está na hora de irmos comer. – Ele se levanta e sai da cabana com pressa.

Eu o sigo para fora e vejo Kyungsoo fazendo sua barreira de pedra e gelo com Xiumin e o garoto novo está ao lado deles de braços cruzados olhando para cima. Ele é mais alto que eu...novidade, não precisa ser muito alto para ser maior que eu, é magro e tem o cabelo castanho claro um pouco grande, quando ele vira a cabeça para o lado vejo que a franja também é grande, mas está jogada para trás em grossas mechas.

Duvido que daqui uma semana esse cabelo não esteja jogado na testa igual todo mundo aqui.

Kyungsoo pisa no chão com força uma última vez e projeta o braço para esquerda e uma última pedra se encaixa no topo da barreira. Ele pode ser baixinho, mas ele consegue fazer uma parede até quase o fim das paredes do labirinto, porém nenhum de nós sabe onde está o final delas mesmo, elas se perdem nas nuvens roxas estranhas. Agora Xiumin faz sua parte e começa a congelar a pedra para garantir que ninguém a consiga quebrar.

Vou para minha cabana descansar um pouco antes do jantar e da apresentação do novato e tudo mais.

SEHUN

A pior parte disso tudo é saber coisas e não saber como explicar como eu sei. Eu sei que pessoas não deveriam conseguir controlar a terra, gelo ou até mesmo o ar como eu faço...fiz...não sei ao certo, ou preciso aprender a fazer pelo menos. Eu sei que pessoas não fazem isso, por algum motivo eu sei que isso não é normal, mas não sei explicar como eu sei disso...só sei.

Depois que os dois caras voltaram e a entrada foi fechada, Kyungsoo contou o que houve com os outros dois e o outro novato que também acabou morrendo, se eu fecho os olhos ainda consigo ver o sangue espalhado pelo chão e ouvir seus gritos misturados com o som de carne sendo destroçada.

Após isso, cada um entrou em sua cabana e ficou por lá mesmo, pelo menos eu não vi ninguém sair ou ouvi algum comentário, talvez uma voz aqui ou ali, mas nada demais e ninguém veio falar comigo então fiquei na minha cama esperando para saber qual seria o próximo passo da rotina deles.

— Hey, novato. – Xiumin aparece na minha janela e ao me ver olha para baixo – Olha você aí. Vem, está na hora de jantarmos. Vamos nos apresentar oficialmente para você, você para nós, te informar algumas coisas...vem...eu costumo gostar das apresentações. – Ele conclui com um sorriso simpático.

Ao sair da cabana vejo que que alguns já estão a caminho do refeitório enquanto alguns estão saindo da sua cabana ainda. Não sei ao certo como me aproximar, então ando devagar para ficar para trás de propósito. As nuvens roxas acabaram por assumir um tom alaranjado de fim de tarde, comparação que mais uma vez não faço ideia de como sei.

— Tarde de verão, não é? – Xiumin pergunta.

Estava andando olhando para o céu e não percebi que ele se aproximou de mim. É muito estranho ver o céu alaranjado em contraste com as paredes do labirinto nos cercando e o chão de pedra cinza.

— Estava pensando em fim de tarde, na verdade. – Respondo sem jeito.

— É, pode ser também. – Ele também fita o céu agora enquanto anda devagar ao meu lado. – É um dos meus favoritos. – Eu o olho confuso e ele ri antes de explicar. – O céu muda de cor as vezes por aqui. Assume várias cores, mas essa é a minha favorita. – Seu riso some e ele fica sério – Não sei como, mas essa é a que mais parece correta, sabe?

— Sei... – coloco as mãos nos bolsos do short e paro de encarar o céu – Eu também sinto algumas coisas sem saber explicar.

— Você e todos nós, vai por mim. – Ele diz dando uma leve tapinha no meu ombro. – Está nervoso para conhecer todo mundo?

— Um pouco.

— Não fique. – Ele continua sério – Eu acho que você vai gostar...vai conseguir se sentir um pouco menos perdido talvez.

Todos estão sentados nos bancos de pedra que Kyungsoo criou e esperando a comida que ele, Kris e Chen estão fazendo afastados da mesa pegando dos baús. Recebo alguns olhares curiosos do baixinho de cabelo preto, Kai e Xiumin estão conversando comigo enquanto Suho parece muito interessado e centrado na conversa que está tendo com o cara alto de orelhas um pouco grandes.

— Bem, como todo mundo já deve saber – Kyungsoo chama atenção de nós na ponta da mesa – sempre que um novato chega aqui, no dia seguinte a mesa amanhece cheia de comida, então eu me permiti fazer uma refeição um pouco maior e com um pouco mais de coisas, certo? – Ele anuncia com sorriso largo. – Mas não se preocupem, ainda tem bastante para caso não apareça mais que o normal.

— Nosso dragão aqui torrou esses pedaços de carne, - Chen começa a andar pela mesa com pratos e distribuir para cada um de nós – e também temos algumas maçãs e peras e uma castanha para cada um.

— Se a carne estiver muito tostada, me desculpem – o rapaz alto, que só pode ser Kris, se desculpa, mas não parece de fato sentir muito – acabei errando o ponto. Chanyeol é melhor nisso. – Ele conclui de cara fechada terminando de entregar os pratos remanescentes, inclusive o meu.

— Relaxa dragãozinho – Baekhyun fala já pegando a castanha e jogando na boca – sabemos que você é horrível na cozinha. – O sorriso provocador aparece em seus lábios no mesmo instante. Provocação que Kris não recebeu muito bem, pela cara que ele fez e o jeito que encarou Baekhyun antes de abocanhar uma maçã.

— Porque não tenta na próxima? – Kris retruca.

— Acho que minha luz poderia assar muito bem também! – Baekhyun ralha.

— Aposto que sim – Kris mordisca a carne e depois a olha parecendo muito interessado – se ficar o dia todo você deve conseguir cozinhar um bife. – Ele olha para Baekhyun depois buscando resultado de sua provocação.

E funcionou. Baekhyun olha para cada um na mesa sem saber o que responder abrindo e fechando a boca parado entre ficar sentado e se levantar enquanto todo mundo, inclusive eu, seguramos alguns risinhos. Kris ostenta um sorriso metido.

— Já chega. – Suho fala ao terminar de conversar com o rapaz alto. – Baekhyun, chega de provocações.

Se eu tinha alguma dúvida antes, agora eu tenho certeza. Suho é o líder desse pessoal. Com apenas essa frase, Baekhyun se recuperou do choque, se sentou quieto e calado, assim como todos da mesa voltaram sua atenção para Suho quase como um imã atrai o metal...ou pelo menos...eu acho que imã atrai metal...

— Vamos jantar, o dia já foi cansativo para todo mundo sem vocês ficarem de briguinhas, sim? – Ele parece o mais cansado de todos. – E vocês vão dar uma má impressão ao nosso novo companheiro. – Ele dirige seu olhar para mim com um sorriso acolhedor.

— O labirinto e os ataques são o que então? Cartão de boas-vindas? – Baekhyun faz piada novamente.

— Menos, Baekhyun. – Suho o repreende novamente.

— Ai! – Ele reclama quando Kyungsoo o estapeia na nuca.

— Obrigado. – Suho sorri. – Agora, antes de mais nada, acho que é adequado lembrarmos que, infelizmente, perdemos dois de nossos camaradas e um novato que não conseguimos nem mesmo saber seu nome. – O fantasma do sorriso sumiu rápido e ele ostentou um olhar cansado. – Que seus sacrifícios não tenham sido em vão. – Ele conclui respeitoso com um sorriso triste e fraco.

Todos na mesa ostentaram a mesma expressão por alguns segundos em respeito aos três rapazes, estranhamente, isso não parece ser algo muito raro por aqui e isso me deixa inquieto.

— Sehun, - Suho me tira de meus devaneios - sinto muito que tenha vindo parar aqui conosco, mas já que está aqui, vamos nos certificar de que você não morra como alguns que já passaram por aqui. Você é um de nós agora, mas também preciso que você se disponha a trabalhar conosco para isso. Nossa segurança e nossa sobrevivência depende do nosso espírito de união.

“Como você percebeu, cada um de nós faz alguma coisa diferente, você também, ar, certo? Bem, com exceção de Baekhyun e Lay, que não conseguem de fato lutar, nós fazemos rondas pelo labirinto em duplas para tentar achar uma saída daqui, mas apenas depois de termos controle total de nossas habilidades, porém também ficam alguns aqui para proteger nossa zona de segurança. Nunca nada entrou aqui, mas não podemos arriscar, certo?

“Pois bem, nós o iremos treinar para dominar suas habilidades e o alocaremos em alguma posição, seja ronda ou proteção e todos aqui também precisam fazer suas tarefas, seja lavar roupa, fazer comida, o que seja. Somos nós contra o que quer que seja que esteja lá fora e seja lá quem ou o que nos colocou aqui, certo? ”

— Certo...certo... – quase não percebo que agora ele queria minha resposta perdido em meus pensamentos e até mesmo meu desespero ao ver o peso disso tudo – Eu...a...eu...

— Está tudo bem, - ele me acalma – eu sei que é muita coisa de uma vez. Você terá tempo para se acalmar e entender tudo, infelizmente. – Ele acrescenta com um sorriso triste. – Agora, se você tiver alguma dúvida sobre algo, pode perguntar.

Dúvida? Eu nem sei o que posso vir a perguntar, só estou totalmente sem entender nada de absolutamente coisa alguma então acabo por perguntar a primeira coisa que me vêm à cabeça.

— Como vocês dividem dia e noite? – Olho para o céu onde agora as nuvens assumiram um tom azul escuro. – Pela cor das nuvens?

— Exatamente. – Suho responde – Precisamos descansar e termos nosso tempo para nos organizar e debater sobre o labirinto e coisas do tipo. A nossa manhã chega quando as nuvens assumem um tom meio cinza claro, você verá. Algo mais?

— Há quanto tempo estão aqui?

— Na verdade nenhum de nós tem essa noção, - Chen responde – por mais que façamos a divisão de dia e noite, não sabemos ao certo.

— É verdade, - Baekhyun responde – algumas vezes eu mal ilumino o céu e o dia já acabou, outras vezes eu me esgoto e o dia não acaba. Mas o Suho ali foi o primeiro a chegar aqui entre todos nós. Por isso ele é nosso líder. – Ele finge sussurrar.

Começo a entender algumas coisas e o desespero pela falta de noção começa a querer entrar, mas o afasto fazendo outra pergunta – O Kyungsoo consegue fazer aquela parede toda, mover pedras e tudo mais, nunca tentou mover as paredes e abrir um buraco?

— Que ótima ideia, porque não pensamos nisso antes?! – O alto de orelhas grandes bate na coxa com sarcasmo. – Amigo, a parede nem se mexe. – Ele concluiu rindo. – Acha que não tentamos isso umas milhares de vezes?

— É verdade, - Kyungsoo confirma cruzando os braços em cima da mesa – eu não consigo conexão com ela para movê-la. Eu consigo sim puxar pedras dela, mas não consigo movê-la. É frustrante.

— Eu e o Kris também já tentamos voar para fora daqui, mas quase lá no topo, recebemos uma onda de choque que nos deixou desacordados uns dois dias. – O rapaz orelhudo acrescenta com um sorriso perfeitamente alinhado e cansado ao mesmo tempo que triste. – Vai por mim, todas nossas ideias já se esgotaram. Para sair desse labirinto maldito temos que...bem...passar pelo labirinto.

— Infelizmente é a verdade, - Suho entra na conversa – já tentamos passar por cima, abrir a parede, abrir túneis, tudo que se possa imaginar, mas nada funciona. Mais alguma pergunta?

Derrotado e sem nenhuma expectativa de sair daqui eu apenas respondo – Não.

— Ótimo, podemos comer agora, certo? – Suho esfrega as mãos e pega o pedaço de carne e o abocanha.

Só então que eu me lembro que estou caindo de fome, meu estomago até dói quando a comida cai nele finalmente, uma pera e uma maçã nunca foram tão gostosas, a castanha é indescritível quando meus dentes a quebram.

Suho vai até a mesa onde preparam os alimentos e volta com copos de pedra, que eu imagino que tenha sido Kyungsoo que moldou, e passa um para cada um.

— Olha isso, é muito legal. – Kai se inclina para trás para falar comigo.

Suho pega três peras as coloca no centro da mesa, levanta a mão esquerda, a floreia devagar com os dedos um pouco dobrados e as peras começam a parecer murchar diante de nossos olhos conforme ele lhes retira o sumo e o suspende no ar. Com a mão direita faz uma quantidade de água do mesmo tamanho do sumo das peras, as mistura, move as mãos mais um pouco, flexionando e esticando alguns dedos e girando as mãos até um golfinho de suco de pera esteja flutuando e começa a fazer o suco ir pulando de copo, fazendo seu tamanho diminuir a cada pulo.

Quando o golfinho de suco pula do copo de Kai para o meu e então para o de Xiumin vejo que ele ficou cheio até a borda de suco. Xiumin foi o último a receber o golfinho então ele não pulou novamente, mas ele se levanta estica as mãos para frente e começa a balançar os dedos e de suas mãos um pó brilhante começa a voar e cair um pouco no copo de cada um e quando cai no meu, ele parece começara a suar.

— Eles fizeram suco gelado? – Pergunto para Kai surpreso.

— Sempre que o Suho faz suco tem esse número dele e do Xiumin. – Kai responde contente bebericando de seu copo. – Não é à toa que eles são a melhor dupla aqui. Os poderes deles se encaixam muito bem, sabe? Água e gelo. – Ele dá outro gole e levanta as sobrancelhas com alguma coisa que acabou de lhe ocorrer – Você e os caras do fogo vão se dar bem também! Pelo menos tem tudo para se dar bem. Ar aumenta o fogo e o espalha!

— Eu estava pensando a mesma coisa. – Chen comenta do outro lado da mesa. – Os dois já são super fortes, com a ajuda dele então. – Ele assobia.

E assim foi o jantar, conversas aqui e ali, Suho ainda conversando muito com o orelhudo sobre alguma coisa e depois Kris também entrou na conversa e parecia ser muito séria, o que me deixou curioso sobre o que poderia ser.

Só depois de algum tempo é que Suho cessa as conversas e, novamente, volta sua atenção para mim.

— Bem, acho que é justo cada um de nós nos apresentarmos para você e dizermos nossos poderes, logo após você o fazer também. – Ele concluiu. – Se importa?

— Não, não, claro que não. – Me importo sim. Fico de pé e falo as únicas coisas que sei sobre mim. – Meu nome é Oh Sehun e...eu...eu acho que controlo o ar. – E me sento rapidamente.

— Wow, sério?! – O rapaz orelhudo se anima e inclina na mesa ao saber disso.

Como eu já havia notado ele era bem alto e tinha as orelhas um pouco grandes, mas nada muito chamativo. Estava de regata preta mostrando braços definidos, sua pele não era tão branca quanto a minha, um pouco mais clara que Kai talvez. O cabelo preto um pouco grande estava com a franja jogada para trás deixando seus olhos amendoados a mostra. Tinha os lábios um pouco carnudos que agora escancaravam o sorriso perfeitamente alinhado – Chanyeol, Park Chanyeol aqui – ele ergue o braço esquerdo animado e fala tudo um pouco enrolado – Eu controlo o fogo, na verdade eu incorporo uma fênix, penas de fogo, coisa e tal, uma graça. Você controla o ar?!

— Foi o que eu fiz lá no labirinto. – Respondo sem jeito pela animação dele.

— Eu, você e o Kris vamos nos dar muito bem, não é Kris? – Chanyeol pergunta com um sorriso de orelha a orelha.

Enquanto Chanyeol é todo simpático e animado, Kris é totalmente o contrário, fechado, com cara de bravo o tempo todo. Ele me encara em silêncio, olhos castanhos, sério, queixo fino e definido, a boca em uma linha reta, embora os lábios não sejam finos, não demonstra nenhuma animação ou emoção. O cabelo grande e loiro jogado para cima. Ele é o outro alto que eu vi chegando e falando com Baekhyun.

— Deve ser interessante ver quais efeitos que ele pode vir a ter com nossos poderes. – É só o que ele comenta ao cruzar os braços em cima da mesa. – Como ele disse, meu nome é Kris, controlo o fogo e “incorporo” um dragão.

— Porque as aspas? Você fica com asas de dragão e tudo mais, garras e tudo! – Baekhyun imita o formato de garras com as mãos.

— Não parece nada com um dragão vocês que... – Kris começa a retrucar com o menor.

— Já mandei os dois pararem. – Suho os repreende novamente e eles se calam.

— Bem, já que eu comecei a falar, eu sou o Baekhyun, - o menor de cabelo preto sorri para mim – eu faço aquele pilar de luz que serve de farol para todo mundo saber como chegar em casa com segurança. – Ele se apresenta com um sorriso orgulhoso.

O cabelo preto cobre sua testa totalmente, os olhos são bem pequenos, diria até que parece com sono as vezes, seus lábios não são finos nem grossos, mas ao sorrir ficavam estranhamente em um formato meio retangular, os caninos superiores me pareceram um pouco proeminentes.

— Já me perdi várias vezes por causa dessa luz estúpida. – Kris retruca baixinho, mas alto o suficiente para todos ouvirem.

— Já chega! – Baekhyun bate as mãos na pedra da mesa e direciona um feixe de luz na direção de Kris que cai para trás com o ataque surpresa. Quando ele se levanta seu cabelo está todo bagunçado e alguns fios eriçados e queimados, assim como suas sobrancelhas.

— Seu anão! – Kris fica de pé e seus olhos brilham vermelho de raiva, porém ele parece se centrar e acalmar por um segundo e seus olhos voltam ao castanho escuro. – Você quer fazer cena e rir às minhas custas que eu sei, mas eu sou mais forte que isso. – Ele abaixa o cabelo, alisa as roupas e se senta deixando um Baekhyun confuso.

— Então...tá... – Ele se senta parecendo decepcionado e desconfiado.

— Continuando... – Kyungsoo, que estava ao lado de Baekhyun chama minha atenção. Enquanto os dois brigavam todo mundo soltava risadas aqui e ali, até mesmo Suho não conseguiu evitar, mas Kyungsoo apenas olhava a cena sem nem ao menos dar um pequeno sorriso. – Kyungsoo, poderes de terra. – Ele faz uma leve reverência para mim com um sorriso educado.

Kyungsoo, poderes de terra – Baekhyun o imita e faz também uma pequena reverência arrancando algumas risadas novamente. Ele era mais ou menos do tamanho de Baekhyun talvez, lábios bem carnudos e olhos amendoados e grandes, cabelo preto bem curto dos lados com a frente um pouquinho maior, tinha a pele morena assim como Chanyeol.

Kyungsoo o olha pelo canto do olho, um canto de sua boca se levanta com um sorriso malicioso. Bate a mão esquerda fechada na mesa e uma pedrinha pula da mesa, ele fecha a mão direita e a puxa para trás e a pedra voa direto na testa de Baekhyun que cai do banco com o impacto e surpresa fazendo todos estourarem em risadas, Kris principalmente.

— Meu Jesus, não se pode brincar nessa terra mais! – Baekhyun reclama ficando de pé e esfregando o local do impacto que ficou extremamente vermelho.

Sem que ele perceba, Kris aponta um dedo na direção de seu banco e uma pequenina chama voa até ele.

— Sinceramente pessoal, - Baekhyun continua com seus lamentos – não se pode nem falPOR DEUS! – Ele pula do banco de volta ao chão – Qual dos dois engraçadinhos do fogo fez isso?! EIN?! – Ele ralha – Ora quem mais, foi o dragão engraçadinho só...

— Já chega, Baekhyun! – Suho o repreende segurando uma risada – Você que começa a provocar as pessoas, agora aguenta. Quem é depois do Kyungsoo?

— Chen! Eu controlo os raios. – Ele junta as mãos e as separa devagar mostrando um raio oscilando entre uma e outra. Chen devia ser do mesmo tamanho que Suho talvez. Olhos levemente apertados e pequenos, a boca com os cantos levantados dando a impressão de um sorriso permanente e cabeleira em uma cor misturada entre castanho e vermelho escuro também com a franja jogada na testa, era tão branco quanto eu.

— Eu sou o Tao e eu consigo controlar o tempo. – Esse foi o cara que correu para curar Suho logo que eu cheguei com ele. Ele sim tem o cabelo totalmente vermelho contrastando com sua pele morena, embora pareça raspado dos lados, a grande franja também cobre a testa, mas deixa os olhos felinos a mostra, se me lembro bem é um dos mais altos também.

— Meu nome é Lay e eu posso curar as pessoas. – Ele dá um sorriso com covinha. Seu cabelo preto é uma bagunça para todos os lados o deixando ainda mais pálido, tem cara de sono e lábios também grossos, principalmente o de baixo, acho que deve ser mais ou menos da minha estatura talvez.

— Você já sabe que eu sou o Xiumin e que e controlo o gelo. – Xiumin sorri quando fala isso. Um pouquinho menor que eu, bochechas fofinhas, cabelo cor de areia dividido ao meio com alguns fios bagunçados e olhos de amêndoa, era branco, mas suas bochechas estavam sempre rosadas.

— Kai e eu consigo me teletransportar – Kai se apresenta sem pressa.

— E eu sou Suho, controlo água. – Suho conclui as apresentações. – Bem, agora que todos se alimentaram e fizeram graça – ele direciona o olhar para Baekhyun que ainda esfrega a testa onde recebeu a pedrada – acho que podemos ir descansar um pouco. – Ele solta o ar de maneira ruidosa. – O dia foi longo e puxado.

— Acho justo. – Chen responde indo com pressa para sua cabana.

— Lay, me ajuda com isso aqui, acho que me queimou. – Baekhyun choraminga com a mão na coxa direita onde a pequena chama de Kris deve tê-lo machucado.

E assim cada um foi para sua cabana descansar, mas Kai, Xiumin e Chen vieram comigo para a minha e conversaram comigo por mais alguns momentos. Foi Chen que, encostado no batente da minha porta, viu Kris e Chanyeol irem para a cabana de Suho.

— Suho parecia bem preocupado, não acham? Enquanto conversava com Chanyeol durante o jantar.

— Também achei. – Xiumin responde olhando pela janela – O que será que pode ser? Será que os gêmeos do fogo acharam alguma coisa? – Ele pergunta de olhos arregalados de excitação sentado no meu baú de roupas.

— Eles são gêmeos? – Pergunto surpreso.

— Não, não – Kai ri – só os chamamos assim por serem ambos do fogo, sabe? Fênix e dragão e coisa e tal. – Ele se levanta da minha cama e olha para fora também. – Mas ele realmente parece bem tenso. Nem quando eu fui mordido ele parecia tão...preocupado com alguma coisa. Ele sempre está tão centrado.

— Eu fiquei curioso agora. – Chen comenta olhando para fora ainda.