KRIS

Desde que Luhan foi resgatado do labirinto já se passaram alguns dias, não sei ao certo, talvez dez, tento me guiar pelo céu daqui e contar como noite quando o cinza se mistura com um azul muito escuro, mas não me recordo ao certo quantas vezes vi essa cor.

Os ânimos andam um pouco diferentes, percebo que ainda têm gente muito tensa, Xiumin e Chen não dão o braço a torcer e não trocam uma palavra com Luhan, na verdade se recusam a estar no mesmo lugar que ele, o que acaba até sendo bom, assim evitam brigas.

Kyungsoo, Chanyeol, Lay e Tao não são exatamente os mais simpáticos com ele, porém, não o evitam e o tratam de maneira cortês, Tao até mesmo já o agradeceu por tê-lo salvado.

Eu não me sinto confortável perto dele, não posso mentir, mas tento ser legal, afinal de contas, até agora ele não apresentou nenhum perigo e fora sua chegada estranhamente calma e controle inexplicavelmente desenvolvido, nada nele pareceu suspeito, pelo menos não mais do que todos nós aqui.

Nenhuma memória além do nome, habilidades estranhas, conhecimentos e conceitos que ninguém sabe explicar de onde vêm, mas estão lá, em nossa mente. Ele até mesmo parou de observar nossa área segura de maneira estranha e contemplativa. Era o que eu mais estranhava nele, sempre parecendo fascinado com tudo isso.

Suho o trata como a todos nós aqui dentro, sempre educado, sempre simpático, sempre amigo de todos, mas sempre de olho nele, por vezes, eu, ele e Kyungsoo ficávamos discutindo e trocando informações sobre ele a noite e nossas impressões pessoais.

— Tudo está indo bem, aparentemente, - Kyungsoo havia admitido, cansado, na noite anterior – tirando talvez, uma prepotência e ser bastante metido, ele não parece estar causando nenhum problema.

— Para falar a verdade, - Suho não olhava para mim ou para Kyungsoo, olhava para o chão pensativo – depois do estresse e da hostilidade da chegada, ele está se adaptando bem.

— Sim, Sehun, Kai e Baekhyun ficaram bem próximos dele. – Concordo.

— Ele grudou no Sehun, você quis dizer. – Kyungsoo adiciona com uma risada sem graça – Depois daquele dia que nós estudamos o que ele conseguia fazer, ele sempre estava conversando com o Sehun.

— Sim, - Suho olhou para mim agora – o Sehun até comentou comigo que não estava se sentindo muito confortável com aquela aproximação dele tão repentina e tão focada nele.

— Acham que pode ser algo para nos preocuparmos? – Pergunto.

— Porque? Pelo interesse repentino dele no Sehun? – Suho perguntou desinteressado – Vai ver ele gostou dele.

— Também não sei se há algo demais nisso, Sehun foi simpático com ele desde o começo, pode ter aproveitado a situação para fazer amizade. – Kyungsoo concordou.

— Mas a verdade que não pode ser ignorada é que desde aquele dia, estamos divididos.

Ao ouvir minhas palavras, os olhos de Suho vão para Kyungsoo que olha para o chão e suspira alto.

— O momento não pedia por isso, - Suho pondera voltando a olhar para o chão sem piscar – mas foi o que aconteceu. Isso interfere até mesmo em nossas dinâmicas para saídas de rondas. Era um momento de sairmos o máximo possível, mas ao mesmo tempo, temos que ser cauteloso com o que possa vir a acontecer aqui dentro.

— Talvez seja bom alguns saírem, - eu sugiro – principalmente o Chen e o Xiumin que parecem ser os que estão mais incomodados com o rapaz. Talvez para tentar fazer o tal treino do Lay, como sugar vidas. Pelo menos até os ânimos se acalmarem um pouco, até estarem mais acostumados com o Luhan aqui dentro.

— É uma boa ideia. – Suho avalia – Ficaria muito óbvio se fossem apenas eles, na verdade ficaria muito na cara se mandássemos eles irem.

— Eu posso sugerir, para eles amanhã. Provavelmente vão ficar felizes em sair. – A verdade é que eu também quero sair um pouco.

Ir ao labirinto pode ser perigoso, sempre foi, mas para mim não é tanto, afinal nenhuma criatura já conseguiu me morder e viveu para contar a história, pelo que contaram, ele agora até mesmo muda de forma enquanto estamos lá fora, mas estando lá, tudo some de nossa mente, ficamos absolutamente focados e absortos nele, de tal maneira que nenhum outro pensamento nos vem à mente.

Com a tensão dos últimos dias, talvez seja justo o que estamos precisando.

Como imaginado, Chen e Xiumin adoraram a ideia de sair para o labirinto, mas o que não era esperado era que Sehun se oferecesse.

— Eu quero colocar o que aprendi em prática, mais um pouco, além do mais, indo você e o Xiumin, terei bons parceiros para combinar técnicas.

Como Xiumin estava indo e ficaram muitos rapazes acordados e saudáveis dessa vez, ninguém ergueu barreira nenhuma, nem de gelo nem de pedra.

— Lembrem-se, precisamos achar uma criatura, mas não podemos matá-la, podemos machucar, mas não matar, temos que levá-la viva para que o Lay possa tentar praticar seu tal toque de sugar vidas. – Eu os lembro assim que viramos uma esquerda e perdemos a entrada e o brilho do farol de Baekhyun de vista. – Sehun, concentre-se no caminho que estamos fazendo, você deverá nos levar de volta.

Como de costume, ninguém falou muita coisa nos primeiros momentos enquanto andávamos labirinto adentro, mas foi Sehun que quebrou o silêncio.

— Eu sei que vocês odeiam ele, então não sejam influenciados pelo que vou falar agora, mas é um certo alívio estar longe do Luhan um pouco. – Ele desabafa a minha frente, fazendo Chen e Xiumin rirem de maneira nervosa.

— Eu achei que vocês estavam se dando bem. – Chen debocha.

— Não entendam mal, ele é legal, não é de todo mal...mas... eu não sei explicar, algo no jeito que ele está sempre tentando estar perto de mim e sempre puxando assunto comigo...é um pouco desconfortável, como se sempre estivesse preocupado com meu bem-estar.

— Você foi um dos que foram legais com ele logo no começo, deve ser isso. – Pondero igual ponderaram para mim ontem à noite.

— Eu imagino que seja isso, mas ainda assim é um certo alívio estar longe dele um pouco...ninguém nunca demonstrou tal preocupação comigo, nem o Suho. – Sehun aponta.

— Olha só, o Sehun ganhou um fã. – Xiumin o provoca. – Porque você foi legal com ele mesmo, Sehun?

— Ele salvou a minha vida, não só a minha, mas do Kai, Baekhyun e Tao também. – Ele responde de prontidão.

Xiumin não responde, nem Chen.

Quando viramos à esquerda em um corredor, somos surpreendidos por um trio de D1 que pareciam estar brincando ou brigando entre si, era difícil de dizer, mas assim que ouviram nossos passos e nos viram, nos acharam muito mais interessantes do que brigar entre si.

Um que estava mais perto de nós balançou as fortes caldas e empurrou os outros dois de leve e saltou em nossa direção, mas foi jogado para trás caindo em cima dos outros dois por uma forte lufada de ar de um Sehun que eu nem vi se preparar para lutar.

D1 era uma das criaturas mais chatas e difíceis de se enfrentar nesse labirinto, aquelas patas dianteiras musculosas e com aquelas garras enormes rasgavam qualquer um antes que a pessoa percebesse.

— Precisamos dos três vivos? – Chen questionou já com as mãos cheias de raios.

— Dois são suficientes. – Respondo já me acendendo também fazendo uma capa de fogo ao meu redor.

Os três ainda estão no chão se debatendo e se engalfinhando, uma bagunça de caldas e ferrões além de grunhidos e ruídos até que eles conseguiram se separar e estavam os três prontos para nos atacar.

O mais perto, foi Xiumin que deu jeito.

Xiumin levantou as duas mãos com as palmas unidas e as separou em um único movimento rápido jogando cada uma para um lado, uma estaca de gelo da grossura do meu braço desceu bem no meio da cabeça da criatura a prendendo no chão. Se debateu por alguns momentos, mas não demorou e parou de agonizar.

Os outros dois foram um pouco mais difíceis de lidar, uma vez que não podíamos mata-los.

Sehun os jogou para longe com uma forte lufada de ar mais uma vez, porém um deles se levantou mais rápido, parecia ser mais resistente que o outro, apontou seus ferrões e saiu correndo em nossa direção, mas com outra lufada de ar, dessa vez, mais concentrada e focada, os três ferrões foram cortados ao meio o fazendo guinchar de dor e raiva enquanto se retorcia no chão.

O outro que ficara para trás, já se levantara e corria em nossa direção mais uma vez, com a boca pingando, mas Chen o acertou com um raio forte o suficiente para deixa-lo parado se retorcendo com o choque, eu aproveitei essa brecha e o acertei com quatro línguas de fogo, uma em cada pata e Chen o acertou com outro choque, dessa vez um pouco mais forte, o jogando um pouco longe.

Para finalizar, Xiumin acertou seus ferrões com gelo e depois os quebrou e acertou as patas dos dois com gelo e as quebrou, logo, ambos não passavam de bocas irritadas.

— Até que não foi tão complicado. – Chen comentou.

— Não fala isso. – Sehun o repreendeu. – Parece que toda vez que isso é dito, o labirinto decide nos ferrar.

— Concordo, Xiumin, faça uma gaiola de gelo para eles dois e vamos embora. – Eu oriento e vamos embora.

— Kris... – Chen chama minha atenção – onde está o farol do Baekhyun?

Olho para o céu, em todas as direções, a luz branca que serve guia, sumiu. Porque? Meu estomago gela por dentro e começo a ter um mal pressentimento quanto a isso.

Poderia não ser nada demais, poderia, Baekhyun poderia ter ficado cansado de ficar lá parado emanando luz, faziam alguns dias que ele não fazia isso, podia estar cansado, fora de forma e sem prática em ficar tanto tempo emanando tanta energia.

Mas alguma coisa não me deixava me acalmar, tudo tem sido tão estranho e louco nesses últimos dias todas as vezes que saímos para esse labirinto, parece que toda vez algo acontece e sempre quase mata alguém.

— Eu aposto que o Luhan já fez alguma coisa. – Xiumin sibilou entre dentes.

— Não vamos tirar conclusões precipitadas, vamos voltar o mais rápido possível e ver o que houve, - digo já começando a andar com pressa – Sehun, sua vez de guiar o caminho de volta terá de ser adiada.

Já saí tantas vezes andando por esse labirinto que se tornou quase automático guardar caminhos e rotas, faço isso de maneira quase mecânica e sem perceber, sem a ajuda de Baekhyun no horizonte, tudo fica um pouco mais complicado, não vou negar, mas logo eu viro um corredor e estou vendo o acesso à nossa área segura e aperto meu passo mais ainda para me certificar que não aconteceu nada, realmente.

Xiumin está logo atrás de mim, a jaula de gelo com os dois D1 logo atrás dele, Sehun e Chen vêm logo atrás, antes que eu perceba começo a correr, nem sei o porquê, de repente me sinto tenso e apreensivo como se sentisse que algo está para acontecer.

Baekhyun não está em seu lugar de costume emanando luz para o céu, alguém está jogado no chão de maneira mole mais para frente, hesito um segundo, minha boca se abre e fecha e eu não consigo chamar seu nome, eu ainda não consegui identificar quem pode ser, sinto um soco no estomago quando vejo que ele sangra, ouço um falatório, uma confusão lá dentro, de repente alguém é arremessado pelo ar, era o Chanyeol?

Meu corpo gela por dentro, Luhan já começou a querer tomar o controle de tudo aqui dentro? Começo a deixar chamas me envolverem, me preparando para o que quer que seja.

Ouço um barulho diferente, que não sei identificar, como um bater de asas ou algo assim, um guinchado muito alto e um berro de dor onde eu reconheço a voz de Kyungsoo me deixando desesperado, já sinto meu sistema levar um dose de adrenalina e minhas veias quase doerem com isso, então outra pessoa arremessada pelo ar, Luhan é jogado em uma diagonal e acerta o lado direito da entrada para nossa área segura levando um pedaço da parede junto com ele, não se feriu mais porque estava com seu escudo invisível, mas tinha um corte grande na perna direita sangrando muito.

— O que está acontecendo? – Pergunto urgente ao me aproximar dele.

— Vão lá, o Lay precisa de ajuda! – Ele ofega já levitando.

Eu desato correndo para dentro para entender do que ele pode estar falando, quando vejo o que está acontecendo minhas pernas bambeiam e sinto meu coração errar uma batida.

Nunca senti tanto medo antes.

BAEKHYUN

É estranho pensar que eu já estive acostumado com uma rotina aqui dentro, um local tão perigoso e maluco onde a última coisa que eu poderia imaginar ter é uma rotina, é sim, muito estranho, mas eu tenho uma rotina, estou acostumado com uma ordem do que fazer.

Mais estranho ainda é imaginar que essa rotina voltou a se estabelecer depois que Luhan apareceu aqui e fez justamente o contrário, pelo menos nos primeiros momentos, mas hoje estou no meu local de costume, vendo meus amigos saindo para o labirinto, como de costume, e eu vou agora começar a emanar luz para o alto para servir de farol para eles, como de costume.

Servir de farol projetando luz para o céu é muito mais simples e fácil do que usar minha luz para lutar, eu simplesmente deixo a energia fluir pelo meu corpo e quando eu vejo estou rodeado por minha energia e luz branca e pura, depois disso só a envio para cima.

Ao meu redor, tudo está em paz, tranquilo, Kai e Luhan conversam um pouco, mais à direita em um canto mais afastado Tao treina e desafia sua própria velocidade jogando uma maçã de um lado para o outro, correndo em sua velocidade aumentada para pegá-la todas as vezes, diminuindo as distâncias até que erre, e repete o processo.

Todos os outros estão em suas respectivas cabanas, descansando ou fazendo alguma coisa que eu não sei o que possa ser.

Tendo em vista que já faziam alguns dias que eu não ficava aqui no meu lugar servindo de farol para os rapazes, eu acho que perdi a prática um pouco, estou um pouco cansado, mas sei que é importante que eles tenham um ponto base desde o início para saberem para onde voltar.

Não demora muito e eu acabo ficando sozinho, Kai e Luhan foram comer alguma coisa, eu acho, Suho falou comigo um pouco e foi para a cabana de recuperação, acho que queria falar alguma coisa com o Lay, mas eu fiquei sozinho, até porque não tem muito o que ser feito aqui além de treinar, conversar e comer.

Já fiquei tanto tempo aqui olhado esse longo corredor, de frente para a porta dessa nossa comunidade onde vivemos, já vi tantas criaturas tentando entrar e simplesmente morrerem ou explodirem ao passarem o portal, algumas nem mesmo se dão conta e passam reto, eu acredito que já vi todos os tipos de criaturas, por isso fiquei tão assustado quando vi essa em específico.

A primeira coisa foi um focinho à direita, depois disso um olho amarelo de pupila vertical e bem ao seu lado, um outro olho se abriu, roxo, de pupilas redondas, vermelhas e enormes. De repente, meu corpo simplesmente perdeu todas as forças, meus pulmões não conseguiram puxar o ar mais, simplesmente não conseguia me mover ou fazer nada, minha luz se desfez, simplesmente foi sugada, eu não conseguia fazê-la.

Ficar em pé ficou tão difícil, por mais que eu tentasse, meu corpo não tinha mais força nenhuma, eu caí de joelhos e fiquei lá imóvel, sem conseguir mover um músculo sequer.

Eu cerrava meus dentes e tentava me mover, fazia força, mas não me mexia, minha testa suava frio, minha respiração ficou tão difícil, meu coração disparou, nem mesmo minha boca se movia, eu queria gritar, berrar, mas eu não conseguia de jeito nenhum, eu só sentia desespero e nada mais.

Depois que eu caí de joelhos, o olho roxo se fechou e ficou quase imperceptível, nem mesmo uma fenda nem nada.

Um focinho longo virou à direita em direção à nossa porta, uma cobra, gigante, seu corpo devia ter por volta de um metro e meio de largura, ela se movia com pouco espaço pelo corredor, mas era muito rápida, muito.

Respirar ficava cada vez mais difícil, eu não sei se era efeito do olho dela ou se era meu desespero, mas eu não conseguia sequer ver o final do seu corpo.

Ela era coberta por escamas inchadas que pareciam doentes de um tom azul claro e escuro misturados por toda sua extensão, quando finalmente ela chegou ao final do corredor e na nossa porta eu senti uma pequena ponta de alívio, afinal, nenhuma criatura já havia conseguido entrar, mas até mesmo essa pequena gotinha de esperança virou um mar de pavor, quando eu vi o focinho conseguir passar com seus olhos amarelos de pupilas verticais e ela entrar aqui sem nenhum problema.

Eu me sentia preso em meu próprio corpo, queria gritar e pedir por ajuda, avisar que aquilo estava acontecendo, uma cobra enorme havia conseguido entrar, ela estava aqui dentro e estava me rodeando nesse exato momento, meu peito fica apertado, minhas lágrimas descem pelas minhas bochechas em desespero.

A cobra azul seguiu pela direita, rastejando, agora está mais devagar, parece mais calma, como se procurasse por algo, eu observo em completo pavor pelo canto do olho enquanto tento me mover ou fazer qualquer coisa, mas simplesmente estou desligado, completamente desligado do meu corpo.

Seu focinho começa a se levantar e ela fica talvez dois metros e meio acima do chão e vejo que logo abaixo de seu focinho, ossos furam seu corpo de dentro para fora e se fecham se encaixando por fora. De cada lado de seu corpo sai uma longa e forte pata com três garras longas e afiadas e ela se apoia nelas e ainda grandes asas coriáceas, mas algo parecia errado com elas, doentes talvez, erradas, escamas pendiam caindo e sangravam uma gosma verde.

Onde diabos estava todo mundo que não viam aquilo? Como que ninguém viu uma cobra gigante entrar na nossa casa e ainda por cima criar patas e asas e ficar me encarando com seus olhos amarelos por tanto tempo?

Se antes meu coração batia acelerado e apavorado, agora eu nem sabia mais como classificar, a cobra azul abriu a boca e mostrou dentes largos e pontiagudos que só me fazem pensar na palavra serra.

É isso, vou morrer e meus amigos nem mesmo vão perceber e eu não vou poder avisar a eles.

O focinho fica cada vez mais perto de mim até que eu sinto a respiração fria da cobra e vejo as escamas doentes e inchadas de perto, o único motivo do meu corpo não estar tremendo inteiro é porque ele parece desligado, vejo uma pata vir em minha direção e eu aceito que esse é meu fim.

Ouço alguém chamar meu nome, uma grande chama viva e voluptuosa envolve a pata que vinha em direção, a cobra recua emitindo um som muito agudo e irritado.

A última coisa que vejo e sinto é a outra pata me acertar com uma força tão grande que eu cuspo sangue e sinto uma dor excruciante em meu peito e minhas costelas. Sinto meu corpo bater em alguma coisa e caio no chão.

Minha cabeça roda e dói como nunca antes, o mundo fica escuro, ficar de olhos abertos, de repente, fica tão difícil, só ouço a gritaria e vejo fogo antes de desmaiar.

KYUNGSOO

Estamos sendo atacados dentro de nossa comunidade segura, isso realmente está acontecendo, não sei como isso é possível, mas aconteceu, o que eu sempre temia, aconteceu, Baekhyun foi arremessado longe e está no chão desmaiado sangrando.

— PESSOAL! PESSOAL, ESTAMOS SOB ATAQUE! – Chanyeol ralhava com sua voz de trovão nos chamando.

Quando eu vi aquela cobra com patas e asas daquele tamanho todo aqui dentro, meus joelhos bambearam e senti meu estomago se retorcer de medo.

Chanyeol havia virado sua fênix completa com seu manto de fogo, o grande pássaro de fogo batia suas asas lançando grandes flamas contra o monstro, mas sua pele parecia muito grossa e não querer queimar, as chamas não faziam muito estrago, pareciam apenas doer pelos guinchos irritados da cobra azul.

Em um pensamento rápido, o grande pássaro de fogo cuspiu fogo no chão até acuar a cobra contra uma parede e depois um círculo de fogo no chão ao seu redor para nos ganhar tempo.

A cobra continuava a emitir um ruído estridente e irritado mesmo atrás da parede de fogo.

Baekhyun ainda está caído no mesmo lugar, inconsciente, sangue saindo de sua boca e caído por cima de seu braço em um ângulo estranho. Ele precisa de ajuda, mas não consigo me focar nisso agora.

Vejo Lay correr para ele e tentar ajudá-lo e Tao já viu também e fica ao lado dos dois, muito atento caso precise fazer uma saída no último segundo, porque ele não o leva para a cabana de recuperação? Estaria ele tão machucado que não podia ser movido igual Suho havia ficado?

Nesse momento a cobrona pareceu se irritar mais ainda como fogo e com apenas um bater das suas asas estranhas o fogo se apagou de uma só vez e jogou a fênix longe.

Em um segundo as patas e asas pareceram se encaixar perfeitamente em seu corpo longo e ela tomou grande velocidade se movendo em direção de Tao, Lay e Baekhyun.

Eu pisei no chão várias vezes o mais rápido possível para erguer paredes e impedir sua velocidade e várias estacas de pedra para furá-la por baixo, mas ela era muito rápida, consegui criar meros obstáculos, mas não consegui furá-la, pelo menos consegui afastá-la, desviando dos obstáculos ela fez um caminho sinuoso

De repente, como se houvesse uma coleira bem abaixo de seu focinho, ela começou a ser puxada para trás, o grande corpo se debatia irritado tentando se livrar, mas não conseguia.

Era Luhan, flutuava atrás da grande cobra e a puxava com as duas mãos com sua habilidade de usar uma força invisível, nesse momento eu não poderia estar mais grato por Kai tê-lo resgatado.

Ele conseguiu puxá-la com tanta força que seu corpo se debatia em cólera, porém ele conseguiu afastá-la bastante dos três, estava perto da outra parede.

— Areia movediça. – Suho fala ao meu lado e entendo seu plano.

Faço o chão embaixo e em volta da cobra virar areia e a envolvo com várias fitas a puxando para baixo, então Suho encharca toda a área criando uma lama grossa e espessa dificultando a movimentação da cobra.

A essa altura a cobrona não conseguia se debater tanto e era perceptível que o aperto abaixo de seu focinho e na base de sua cabeça era forte, dava para ver como se fosse uma mão invisível gigante a agarrasse e apertasse com força, seus guinchados irritados estavam cada vez mais baixos. De repente, outro par de olhos, esses roxos e de pupilas muito grandes se abriu focando Luhan atrás dela.

Ele se afastou cobrindo os olhos muito urgente e a cobra agora lutava apenas contra a areia movediça, mas não tinha tanta dificuldade, pelo menos, não tanta quanto eu esperava.

— Alguém acerta aqueles olhos roxos! – Luhan berrou ainda de olhos fechados.

Uma pisada forte no chão e um bloco de pedra pulou na minha frente e com um tapa forte eu o faço assumir a forma de uma estaca e ele sai voando rápido acertando o olho em cheio fazendo a cobrona guinchar de dor e fúria e balançar seu corpo de maneira débil e irritada.

As patas se projetaram para fora e terminaram de puxá-la para fora da areia movediça e arrancaram a estaca de pedra em um de seus olhos roxos. Se antes, ela estava nervosa, agora a grande boca emite um guinchado tão estridente e furioso que chega me embrulhar o estomago.

Seus olhos grandes e amarelos olharam e volta e pareceram se focar em Lay, Baekhyun e Tao novamente, eu não sabia o porquê, mas eles pareciam ser especialmente interessantes para ela.

Kai aparece ao meu lado, eu nunca o vi tão assustado e falando tão rápido quando agora e não posso culpá-lo por isso, eu também devo estar apavorado.

— Eu vou te levar para o outro lado e você fura o outro olho roxo, - ele falou sem olhar para mim – se o Luhan estava tão preocupado com aquele olho, deve ser um problema.

Não o respondo, apenas coloco a mão em seu ombro e sinto um choque em meu corpo e então estou quase encostado na parede do outro lado da cobrona, mas não tem olho roxo aberto desse lado, nem mesmo vejo onde ele poderia estar, na verdade, aquele outro também havia aparecido do nada, parecia guardado, ela só o abria quando queria ou precisava, eu só precisava saber como fazê-lo abrir de novo.

O olho amarelo me vê e o focinho praticamente mergulha em minha direção e eu só consigo escapar porque Kai nos teletransportou mas foi tão rápido que perdi meu chão e acabei caindo de joelhos ao lado de Suho e Luhan enquanto eles conversam.

— ...temos que acabar com isso o mais rápido possível. – Ouço Suho falar urgente – você consegue fazer isso?

— Acho que sim, ela é bem forte, mas eu consigo. – Luhan confirma concentrado.

— Kyungsoo e Kai, perfeito, eu vou precisar de vocês, muito. – Suho fala já me levantando. – Kai, vá falar com o Tao e Lay e vejam se eles podem levar o Baekhyun para dentro, depois peça para o Chanyeol criar uma distração pelo máximo de tempo que ele conseguir.

Olho para a cobrona e vejo que o impacto com a parede a deixou um pouco desnorteada, mas ela já está pronta para o ataque mais uma vez e, novamente, focou em Lay, Tao e Baekhyun.

— Você não consegue parti-la ao meio igual você fez com aquelas criaturas que iam atacar o Tao? – Eu pergunto para Luhan urgente.

— Ela é muito grande e muito forte, - ele nega com a cabeça enquanto fala – eu queria cortar a cabeça dela fora, mas você viu que eu mal consegui segurá-la.

— Luhan, agora. – Suho comanda e Luhan estende os braços de mãos abertas.

A cobra pula com a boca aberta e eu estou vendo em minha mente o momento em que ela morderá os três, mas ela esbarra contra alguma barreira invisível, depois vejo Luhan mover as mãos de maneira muito rápida e a cobrona ser retorcida no ar mais uma vez, mas ele tem dificuldade e não demora para que ele perca o controle dela.

Mas assim que ela cai no chão uma torre de fogo brota embaixo dela, o que finalmente a faz parecer perder o foco nos três e sai desembestada guinchando alto com raiva.

Chanyeol reaparece no ar envolto em seu manto de pássaro de fogo e com um bater de asas várias penas de fogo voam e, finalmente, algo furou a pele da cobra.

Luhan começou a flutuar e foi para mais perto da cobra para distraí-la e Suho começou a falar comigo muito rápido e urgente – Kyungsoo, presta bem atenção, você é uma das partes mais importantes do meu plano, mas para que dê certo eu preciso que confie em todo mundo aqui dentro, inclusive no Luhan, certo?

— Certo. – Tudo para sobrevivermos a isso.

SUHO

Eu preciso que o Kyungsoo confie no Luhan, sem eles dois, isso não dará certo de jeito nenhum.

Começo a concentrar energia dentro de mim, preciso tomar cuidado para não me exceder como da última vez, não posso desmaiar e ficar tão debilitado dessa vez.

Libero a energia e cuspo água e a solto pelas mãos criando uma bolha enorme ao meu redor e a aumento mais e mais enquanto Kyungsoo se posiciona.

Paro por um segundo, aponto minhas mãos na direção da água em volta de mim, levanto na altura dos meus olhos e faço agulhas e estacas de água, e projeto minhas mãos para frente fazendo-as voar na direção da cobra.

Como eu já imaginava, não consigo furar a pele grossa com as escamas azuis inchadas e doentes, mas parece ser suficiente para irritá-la, atrasá-la e distraí-la enquanto Kyungsoo se posiciona próximo de Chanyeol.

Cuspo mais água, mas dessa vez direto na cobra com muita pressão fazendo projéteis e consigo uma ofensiva um pouco mais efetiva do que imaginava, a cobra fica desnorteada por alguns segundos e aproveito disso para me aproximar um pouco mais dela, ela está quase encurralada contra a parede, então faço um jato de água com a maior pressão que consigo e, para minha surpresa, consigo fazê-la sangrar, as escamas estão sujas de sangue verde.

Ela se revolta e as patas com as garras afiadas são colocadas para fora do corpo comprido e ela começa a avançar na minha direção de maneira desengonçada, porém decidida, boca aberta exibindo os dentes afiados.

É então que Luhan faz como eu o instrui, surge flutuando acima da cobra e com os dois braços faz força para baixo e a cobra parece ser esmagada no chão por uma força descomunal e avassaladora.

Ela está esticada no chão, as patas também, formando uma cruz, seus olhos viram de um lado para o outro procurando qualquer um que ela pudesse pegar ou esmagar.

E então começa, um braço de pedra se fecha no focinho da cobra, fechando sua boca, então outro, logo abaixo de sua cabeça, no corpo, nas patas, Kyungsoo se move rápido fazendo as contenções de pedra o mais rápido que ele podia.

Kyungsoo nem havia terminado de conter a cobra completamente quando Chanyeol começou a voar por cima da cobra cuspindo fogo nos braços de pedra, não demora e a pedra começa a derreter por cima da pele da cobra, perfeito.

A pele podia ser grossa o bastante para não ser furada, mas ainda seria queimada com pedra derretida, era quase lava.

— Pronto? – Kai apareceu ao meu lado.

Ele nem esperou uma resposta minha e pegou em minha mão e nos teletransportou para uma das contenções de pedra derretida, de perto eu via como a pele havia sido queimada, as escamas azuis haviam sido derretidas também, justamente como eu esperava.

Quando eu comecei a jogar jatos d’água por baixo da grande nuvem de vapor e do barulho que que ela fazia, a pedra derretida voltava a se solidificar, mas agora, colada à pele da cobra, ela poderia se livrar daquilo também, mas teria mais dificuldade.

Todos trabalhamos rápido, Kai me levou à todas as contenções derretidas e eu consegui solidifica-las rápido, quando Luhan voltou ao chão, suava e arfava, a cobra parecia ser mais forte do que imaginávamos.

— E agora? – Ele perguntou se apoiando em seus joelhos.

— Kyungsoo, você consegue controlar as pedras derretidas? – Eu pergunto ansioso.

— Sim, enquanto for pedra ou areia eu consigo controlar. – Ele responde já assumindo posição em frente a cobra. – Tem certeza disso?

— Kai, fique atento quanto ao Lay e o Tao, eles estão cuidando do Baekhyun e estão expostos.

Ele não me responde, apenas some no ar e reaparece ao lado dos três.

Assinto para Kyungsoo. – Chanyeol, pronto?

— Hora de fazer churrasco de entranha de cobra! – Ele responde acendendo as mãos.

Kyungsoo começa a moldar a pedra para forçar a cobra a abrir a boca, não precisa de muito, só o suficiente para Chanyeol jogar fogo para dentro dela, depois de uma pequena abertura, ele levanta duas estacas de pedra para terminar de forçar e apoiar mais.

Chanyeol projeta as mãos para frente e jatos de fogo atingem a boca da cobra.

É nesse momento que tudo vai por água abaixo.

Em um momento de força monstruosa, a cobra se solta de uma só vez de todas as contenções de pedra derretida, fazendo pedregulhos voarem por todos os lados com muita velocidade, nós não somos atingidos apenas porque Luhan e Kyungsoo os desviam de nós.

Se antes a cobra já era medonha, agora ficou mais ainda, vários pedaços dela estavam sem pele e sem escama alguma, apenas sangue verde escorrendo, em outros a pedra ainda estava colada.

Ela se apoiou nas duas patas e, pegando todos nós de surpresa, mais um truque, dessa vez os ossos da frente de seu corpo se abriram e embaixo deles, o que pareciam ser vários e vários metros de corda ou cabo azul, só quando começaram a se mexer e mãos apareceram foi que eu percebi que eram braços.

O que mais esse monstro tem para nos atacar?