BAEKHYUN

Não tinha única pessoa que estivesse de bom humor quando nós nos sentamos para comer depois que Luhan chegou, todo mundo o encarava descaradamente, Chen e Xiumin até se recusaram a comer na mesma mesa que ele, apenas pegaram um pouco de comida e foram cada um para sua cabana.

Eu me sentia mal pelo garoto, me sentia pior quando lembrava que foi ele que salvou todos nós que estávamos lá fora, pode ser exagero meu, mas eu não faço ideia do que poderia ter acontecido comigo e com os outros se ele não tivesse agido tão rápido contra aquela criatura, vê-lo ser tão hostilizado me deixa incomodado.

Ao mesmo tempo, não posso evitar de ficar inquieto e inseguro com sua presença, lembro do dia que Sehun chegou e como todos pareciam muito mais animados e amigáveis à mesa naquele dia, ao olhar ao longo da mesa de pedra e ver todo mundo comendo calado, olhando para sua comida, lançando olhares nervosos e furtivos em direção de Luhan enquanto ele come desinteressado como se não percebesse o clima ao seu redor, isso me deixa muito triste.

Mas eu também não consigo falar com ele, não consigo agradecer, tenho medo de que uma única palavra possa chatear alguém ou até coisa pior, tenho medo de que ao mostrar simpatia pelo recém-chegado, eu seja hostilizado também, tenho medo do próprio Luhan, essa que é a verdade, a imagem dele flutuando destruindo aquele monstro com tanta facilidade, as histórias de como os mais antigos viram pessoas morrendo assim, tudo isso me fazia sentir medo dele.

Então eu apenas comi.

Após o jantar, foi basicamente isso que aconteceu, ninguém conversou com ninguém, ficou fora das cabanas apenas por estar com alguma companhia, cada um ficou resguardado e o dia terminou nesse clima mórbido e pesado.

De manhã não é nada diferente, ninguém fala com o novato, com exceção talvez de Kai e Sehun, e ocasionalmente, Lay uma coisa ou outra, mas ninguém mais, na verdade, ninguém fala nada com ninguém.

Suho é talvez o único que está tentando falar com todo mundo, alguns o respondem, a contragosto, mas respondem, quando ele me dá bom dia, vejo que ele tem círculos escuros em volta dos olhos, deve ter dormido pouco.

Estamos todos sentados à mesa, comendo, de cabeça baixa, eu e Kai sentamos um de cada lado de Luhan, justamente porque ninguém queria, já para evitar possíveis problemas.

O silêncio me incomoda de um jeito surreal que nem eu mesmo havia me dado conta antes, ninguém fala uma única palavra, ninguém olha para ninguém, até mesmo o Chanyeol está calado e olhando Luhan de maneira atravessada.

— Você conseguiu dormir bem, Luhan? Conseguiu se adaptar? – Suho pergunta e eu quase pulo em minha cadeira com o susto que levei por alguém finalmente falar alguma coisa, de repente.

— Sim, consegui, eu não sabia que estava com tanto sono até ter que dormir. – Ele respondeu de maneira tímida, parecia finalmente ter sentido que quase todo mundo ali o estava hostilizando. – Todo mundo é sempre calado assim? – Ele pergunta tentando ser simpático e esboçar um sorriso.

Eu acho que a única pessoa que ficou mais sem jeito que eu, foi o Suho que tinha que responder, ele olhou para todo mundo, sem jeito antes de responder – Estamos passando por um momento um pouco delicado ultimamente. – Ele disfarçou.

— Ah sim. Quanto a saída do labirinto, vocês acham que estão perto de achá-la? Kyungsoo comentou sobre isso.

— Estamos trabalhando nisso, pode apostar. – Chen respondeu entre dentes.

Eu não estava gostando do silêncio antes, mas estou achando muito pior agora que estão falando.

— Ah que ótimo, quando vocês sairão novamente?

— Assim que possível, - Kyungsoo assumiu um tom de falsa simpatia que eu sempre tive medo – eu garanto que agora temos mais motivos do que nunca para sair daqui.

— Entendo... – Luhan entendeu a indireta e eu vi seu olhar mudar, ele apoiou a mão esquerda na mesa e a direita colocou abaixo do queixo e fez questão de olhar bem no rosto de Kyungsoo – Você tem algum problema comigo, Kyungsoo?

Se eu estava desconfortável, agora estou tenso, olhando de Kyungsoo para Luhan sem saber onde parar meu olhar.

— Porque a pergunta? – Kyungsoo quis desconversar, mas sua atitude passiva agressiva o denunciava para qualquer um.

— Você só me olha atravessado e parece muito incomodado com a minha presença aqui, mesmo eu tendo salvado três pessoas que são suas amigas. – Luhan rebateu querendo uma resposta.

— Pois é, isso é o que me causa estranhamento, - Kyungsoo ficou de pé vagarosamente – como alguém tão novato igual você, conseguiu um controle tão bom e tão desenvolvido assim, tão facilmente.

— Eu também não sei, mas ainda bem que consegui, não? Se não fosse esse controle repentino você poderia estar lamentando a morte de alguns amigos. – Luhan ficou de pé também e agora falava apontando o dedo para Kyungsoo.

— Pois é, eu poderia, obrigado por salvá-los, - o tom de voz de Kyungsoo poderia passar qualquer sentimento, menos gratidão, ele nem mesmo piscava enquanto falava com Luhan – me pergunto o que mais você consegue fazer com esse controle tão desenvolvido.

— Eu também não sei, mas não vejo a hora de descobrir.

— Já chega! – Suho ficou de pé de repente me fazendo quase pular da cadeira, tamanha a tensão no momento – Vocês dois, vamos nos acalmando, estamos todos no mesmo barco aqui, ou na mesma merda, se preferirem, então vamos tentar conviver bem, entendido? – Nenhum dos dois se manifestou. – Entendido? – Suho insistiu.

— Entendido. – Luhan respondeu.

— Ok. – Kyungsoo resmungou contragosto.

E assim o café da manhã se levou, não demorou muito e Kyungsoo e Chen saíram da mesa com raiva. Kris, Chanyeol e Xiumin ainda pareciam incomodados com a presença de Luhan, porém, mais controlados, Kris até mesmo disse que o ajudaria a treinar caso precisasse.

— Todos precisam estar afiados para ajudar a procurar a saída daqui. – Ele acrescentou de maneira dura e saiu andando. – Sehun, você vem?

— Em um minuto. – Ele respondeu assustado.

Eu não podia treinar, repouso imposto por Lay, então não me apressei, até que acabaram ficando apenas eu, Kai, Suho e Luhan na mesa.

— Eu fiz alguma coisa? – Luhan questionou de repente.

Nós três nos olhamos sem saber ao certo o que responder.

— Não, não fez, - Suho responde cansado – você salvou quatro de nossos amigos, foi isso que você fez... os rapazes estão preocupados com algumas outras coisas, não é nada relacionado a você.

— Não é o que parece, o Kyungsoo parece bem incomodado com a minha presença aqui dentro. – Luhan rebate apertando suas mãos em seu colo.

— Não ligue para ele, - Kai o tranquiliza – ele só é rabugento mesmo.

— Isso não foi convincente. – Ele aponta ainda sem levantar seus olhos.

— Tente não ligar muito para isso, logo, logo ele verá que não há necessidade para tudo isso. – Suho o assegurou.

— Isso aí, os rapazes devem estar treinando, vamos lá ver, você vai ficar impressionado com o que eles podem fazer. – Eu tento soar animado, mas estou me borrando de medo de qual possa vir a ser a reação deles.

Ele assente e se levanta comigo, Kai anda ao nosso lado e ao olhar para seu rosto vejo que ele está tão apreensivo quanto eu.

SEHUN

Não tem nem dez minutos que estou treinando com Kris e Chanyeol e minha camisa já está colando em meu corpo de tanto que estou suando, não só pelo calor das chamas, mas porque eles estão pegando muito pesado hoje, estão vindo com tudo para cima de mim e estou tendo dificuldade de lidar com a magnitude dos ataques.

Chanyeol está envolto em um manto e chamas sem forma, não está em sua forma de fênix, seus olhos vermelhos podem ser vistos conforme as chamas tremulam ao redor dele. De repente ele levanta os braços e o manto sem forma trepida antes de tomar vida e vir em minha direção como línguas de fogo, eu projeto uma corrente de ar muito forte a minha frente, tão forte que é possível ouvir ele assobiando.

As chamas a minha frente se apagam, mas sou surpreendido por chamas abaixo dos meus pés, Kris, está atrás de mim, olhos brilhando vermelhos também, as chamas envolvem apenas seus punhos, mas ele as controla com tanta facilidade quanto o outro e faz o chão arder embaixo de meus pés.

Eu jogo uma lufada de ar contra o chão para afastar as chamas e faço uma corrente de ar me envolver para poder flutuar, mas a faço muito forte e sou arremessado no ar e acabo por voar para longe deles, batendo em meus pés para tentar apagar as chamas que estão queimando meus tênis.

— Atenção! – Chanyeol chama minha atenção.

Só tenho tempo de fazer a corrente de ar subir para escapar de uma bola de fogo que o orelhudo atirou contra mim, logo, Kris o imita e mais bolas de fogo começam a voar pelos ares mirando a mim e quase dou de cara na parede duas vezes por ter dificuldade em controlar o fluxo de ar para conseguir voar.

— Você não vai atacar? Onde estão os movimentos ofensivos que você usou no labirinto? – Kris me provoca. – Vai ficar fugindo o dia todo?

Isso me irrita e já sei o que fazer.

Intensifico o fluxo de ar que está me carregando e acelero, voo rápido em direção a parede, dou uma cambalhota e apoio meus pés com força na pedra e intensifico mais ainda o fluxo de ar que me carrega e ganho muita velocidade em direção aos dois, fica até fácil de esquivar das bolas de fogo porque eles não conseguem mirar em mim direito e quando chego ao chão, projeto uma forte brisa com o braço direito que apaga as chamas deles e com o braço esquerdo faço outra que os arremessa para longe.

Eles saem rolando pelo chão, Kris dá duas cambalhotas e termina todo torto no chão, Chanyeol saiu rolando várias vezes e quando ficou sentado estava todo sujo e descabelado.

— Isso foi muito bom! – Kris me parabenizou quando conseguiu se sentar, estava todo sujo também e descabelado – Isso foi muito bom mesmo, desde quando você conseguiu tanta velocidade?

— Eu também não sei, só fui me forçando e quando vi, estava voando bem rápido.

— Continue assim e logo vai estar no controle total dos seus poderes. – Chanyeol acrescentou se levantando vindo em minha direção. – A questão é se você conseguiria usar isso no labirinto, sabe... você precisaria de espaço e ... – Ele se interrompeu vendo algo atrás de mim, quando me viro, vejo Baekhyun vindo em direção ao nosso círculo de treino com Luhan ao seu lado. - Só pode ser brincadeira dele.

— Já que eu não posso treinar, eu e o Luhan vamos assistir vocês treinando, tudo bem? – Ele pergunta sem de fato esperar uma resposta e já se senta no chão o mandando fazer o mesmo.

Observo como Chanyeol demora alguns segundos antes de reagir, irritado com aquilo, ele resolve não falar nada, apenas os ignora e continua falando comigo de onde havia parado.

Não tive mais muito treino com os dois cuspidores de fogo, logo era Chen quem tentava me acertar com seus raios, escapar dele era bem mais difícil e revidar também, eu acabei sem conseguir atingi-lo com um ataque sequer, pelo menos ele também não conseguiu me acertar com nada, muito embora se ele me acertasse, eu, provavelmente, teria muitos problemas.

— Última chance. – Ele me lançou um sorrisinho metido antes de começar a jogar raios na minha direção por todos os lados.

Por conseguir voar e ser levado pelo ar, é mais fácil de escapar dos raios de Chen, ele tem dificuldade em me acertar, mas não posso me distrair, o último passou muito perto do meu pé e eu preciso acertá-lo também.

Resolvo voar ao redor dele com o máximo de velocidade que consigo e fazer o ar se levantar também, logo ele está preso em um pequeno redemoinho sem conseguir ver muita coisa muito menos onde estou e uso isso em meu favor.

Paro de voar e começo a controlar o redemoinho que eu fiz e fechar o funil, logo eu vejo Chen saindo do chão rodopiando fora de controle jogando raios para todos os lados tentando me acertar, é quando desfaço o funil e o seguro com um braço de ar e o jogo no chão, com pouca força, mas ainda consigo arremessa-lo uns metros no chão.

— Ok, você conseguiu me pegar! – Ele admite levantando ambos os polegares, ainda deitado.

Baekhyun começa a aplaudir e vibrar por mim e Luhan o acompanha, eu caio sentado, cansado, porém animado com o apoio deles.

— Quer tentar, Luhan? – Kris pergunta de repente pegando todo mundo de surpresa.

— Kris, ele chegou ontem... – Eu tento intervir.

— Chegou ontem, mas salvou um pessoal, apresentou um baita controle, ele pode treinar, vamos lá, Luhan. – Ele me ignorou e continuou instigando o recém-chegado.

— Eu acho melhor não. – Luhan respondeu sem graça – Eu não quero me machucar, mais para frente.

— Ninguém vai te machucar, fica tranquilo. – Chen fala e se sua intenção era acalmar alguém, ele falhou miseravelmente, pelo seu tom de voz e sua expressão, era justamente isso que ele queria fazer. – Anda, levanta, vem, vamos só dar uma aquecida e ver o que você consegue fazer.

— Deixa disso, pode vir, somos todos amigos aqui. – Chanyeol o instigou também.

— Parem com isso, ninguém tem que treinar a menos que queira aqui dentro. – Baekhyun estava irritado com a atitude deles.

Isso está errado, isso está muito errado e está me incomodando muito, quando foi que eles se tornaram essas pessoas? Eu nunca fui coagido a treinar desse jeito, pelo contrário, sempre respeitaram meu tempo e me asseguraram que eu só precisava treinar quando estivesse me sentindo confortável para isso.

— Bem, se for só para testar... – Luhan já ia se levantar quando uma pedra voou e acertou Chanyeol na testa.

— O que foi agora? Kyungsoo?! – Ele ralhou esfregando a testa onde foi atingido.

— Ninguém vai forçar ninguém a fazer nada. – Ele advertiu sentando-se ao lado de Xiumin, mais afastado de Baekhyun e Luhan – Se o Luhan não se sente confortável para treinar, ou testar, deixem ele quieto.

Kris pareceu perceber o que estava fazendo e voltar aos seus sentidos e lembrar que deveria ser um dos líderes aqui, junto com Kyungsoo e Suho e parecia até envergonhado agora.

— Tem certeza? – Luhan tentou se certificar.

— Sim, tenho, - Kyungsoo respondeu de maneira firme, mas provavelmente pela primeira vez, educada – nós só treinamos quando nos sentimos a vontade o suficiente. Quando você se sentir à vontade, você treina.

— Eu acho que quero me testar. – Eu quase bato eu mesmo, na cara dele quando Luhan diz isso ficando de pé. Era só o que precisavam, de um motivo para atacarem ele e ele acabou de dar a liberdade necessária.

SUHO

Ver como Luhan foi tratado no café da manhã me deixou mexido, ele não merecia aquele tipo de tratamento, não podíamos trata-lo daquele jeito baseado em uma pessoa que tinha os mesmos poderes que ele, eu não deixaria isso acontecer.

O garoto estourou, com motivo, qual era a reação que esperavam dele depois de todo mundo o hostilizar, olhar torto para ele, meu Deus o jeito que receberam ele quando ele chegou, ele confrontar o Kyungsoo não foi algo tão inesperado e estranho, na verdade, ou ele o enfrentaria ou sentaria em um canto chorando, pelo menos já sei que ele não é de se deixar ser pisado.

Quando chego em minha cabana, encontro Kyungsoo deitado com um braço atrás da cabeça fitando o teto, pensativo.

— Você está feliz com o jeito que estão tratando o rapaz? – Eu o tiro de seus pensamentos e ele me fita com seus grandes olhos.

— Você viu como ele reagiu? Isso te lembra alguém? – Ele não me responde.

— Todo mundo parecia estar morto naquela mesa, ou pelo menos querendo matar alguém, você acha isso certo? – Eu insisto.

— Se eu bem me lembro – ele começa a falar sentando-se – eu não era o único calado lá.

— Mas era um dos piores e o que foi aquilo de ter mais um motivo para sair do labirinto agora?

— Eu não estou contente nem confortável com ele aqui, eu deixei isso bem claro desde ontem quando ele chegou.

— Com toda certeza, tanto que o coitado estourou hoje, tenho certeza que deve ter acontecido mais coisas que para fazer ele estourar daquele jeito.

— Pobre coitado?! – Ele ecoou indignado – Ele pode esmagar sua cabeça se ele quiser, Suho.

— E você pode empalar ele com uma estaca de pedra, todo mundo pode matar todo mundo aqui dentro Kyungsoo.

— Ele é uma ameaça muito maior para todo mundo aqui dentro e você sabe disso, não finja que não sabe, você foi o que viveu mais tempo com aquele lunático, parece que você esqueceu disso. – Ele ficou de pé agora e toda sua raiva já está transbordando, seu rosto já está ficando vermelho.

— Muito pelo contrário, o sangue dele nunca vai sair das minhas mãos, será que você não entendeu ainda? Eu vou carregar para sempre a morte dele na minha consciência, Kyungsoo. Desde o primeiro momento em que coloquei um pé aqui dentro, ele fez minha vida um inferno até eu o matar, mas eu nunca quis matá-lo. – Estou gritando, toda minha calma também já voou pela janela.

— Meu Deus, tira esse peso das duas costas, pelo amor de Deus, não é como se você tivesse cometido o pior dos crimes, você o fez para segurança da maioria, quem garante que você não terá de fazer de novo? Com esse Luhan, e se ele sair do controle?

— E se ele não sair? Já parou para pensar que ninguém sabe o porquê aquele louco ficou daquele jeito? E se alguém o tratou do mesmo jeito que você está tratando o Luhan agora e aquilo foi o resultado? Já parou para pensar nessa possibilidade?

O choque que Kyungsoo sentiu foi perceptível em seu rosto, pelo jeito que sua expressão dura se quebrou e o fogo em seus olhos pareceu se abrandar.

— Ontem você disse que seria o vilão da história, eu disse que ninguém o estava fazendo vilão de nada, mas você está agindo como tal. – Eu tento me acalmar agora. – Escuta, eu não estou dizendo para você o receber como um grande amigo e baixar todas as suas defesas, pelo contrário, fique alerta, eu sei que eu estou, eu quase não dormi essa noite, preocupado pensando no que pode vir a acontecer caso ele seja louco também, mas ele pode muito bem ser uma ajuda importante para todos nós.

Kyungsoo não respondeu ou se manifestou, apenas voltou a se sentar em sua cama, parecendo pensar em muitas coisas, seus grandes olhos perdidos e confusos.

— Você não precisa ser amigo dele, apenas seja educado com ele, todos vocês, eu sei que é difícil, principalmente para nós, mais antigos que vivemos na pele todo aquele terror, mas converse com todos que estão receosos contra ele e tente pelo menos convencê-los a serem educados com ele. Quem sabe, se no passado, se o Namjoon tivesse pessoas legais com ele, ele poderia ter sido diferente. Vocês estão até parecendo o Daesung e Chansung do jeito que está tratando o rapaz. – Eu tento rir um pouco e oferecer um pouco de humor.

Kyungsoo dá um sorriso contido, quase a contragosto – Agora pegou pesado. – Ele brinca antes de ficar de pé. – Olha, desculpa se estou sendo muito enérgico e até cabeça dura nesse assunto, é só que a simples ideia de...

— Eu sei, eu sei. – Eu o tranquilizo.

— Eu tentarei ser mais educado com ele, pegar mais leve. Vou falar com os rapazes. – Ele diz já saindo da cabana, mas se detém um momento e fica parado no batente um momento – Suho...vai ficar tudo bem.

— Como assim? – Pergunto confuso com aquilo, tão de repente.

— Se tivermos algum problema com ele também... nós daremos um jeito.

— Eu sei.

Ele não fala mais nada, nem eu também, apenas ficamos em um silêncio confortável por um momento e ele sai da cabana. Olho pela janela e o vejo indo falar com o pessoal que está treinando, Luhan está no meio deles, espero que Kyungsoo mantenha sua palavra.

Resolvo ir falar com Lay, eu não esqueci o fato dele, aparentemente, agora conseguir matar com um toque também. Ele está na cabana que usamos para recuperação, arrumando algumas coisas.

— Essa cabana anda bastante movimentada ultimamente, não acha? – Eu pergunto me recostando no batente por um segundo.

— Pois é, - ele concorda rindo – mais do que eu gostaria. Mantê-la organizada está sendo difícil, ultimamente, é tudo sempre tão corrido. – Ele acrescenta deixando a frase no ar olhando em volta.

Os colchões têm manchas, tanto de sangue quanto de secreções estranhas que nós ficamos sujos vez ou outra, resultado de quase morrermos várias vezes enfrentando as criaturas, alguns retalhos de roupas jogados por todos os lados, Lay os usa para limpar as pessoas e também quando alguém tem febre enquanto ele não pode ajudar. Febre é talvez a única coisa que Lay não consegue fazer sumir no mesmo instante.

— Porque você está de pé? Deveria estar de repouso. – Lay me repreende sentando em uma cama. – Imagino que tenha algo para falar comigo pela sua cara.

Minha boca se aperta em um sorriso tenso – Como você está? Com toda essa correria e loucura? Se recuperando bem?

Ele evita meus olhos por um segundo e solta o ar de maneira ruidosa – Eu que deveria estar cuidando de você, não o contrário.

— Você sempre se foca em cuidar dos outros e as vezes esquece de você mesmo. Como você está? Curar e cuidar de tanta gente não deve ser muito fácil. – Eu insisto.

— Estou um pouco cansado, não vou mentir. – Ele admite coçando a testa – Mas nada que vá me derrubar.

Dou outro sorriso um pouco tenso – Eu ainda não tive a oportunidade de te agradecer por ter salvo a minha vida, o pessoal me disse como você agiu rápido lá fora. Obrigado.

— É para isso que estou aqui. – Ele responde tímido.

— E me disseram também sobre sua recém descoberta habilidade. – Ele fica orgulhoso e tímido ao mesmo tempo. – Parece que o toque que cura também pode ferir.

— Até agora eu não entendi isso ao certo, eu só... só... quando me dei conta eu o toquei e foi como se toda a energia do corpo dele tivesse vindo para o meu. Eu senti tanta energia...meu corpo nunca teve tanta energia de uma vez e quando eu te toquei ela passou toda de uma só vez para o seu corpo. Quando eu vi, você estava curado de todas as feridas.

— Ainda bem que você seguiu esse instinto repentino, estou aqui por sua causa. – Me mexo em meu lugar sem saber ao certo como começar essa conversa, mas eu preciso – Lay, essa habilidade de... de sugar energia...você quer desenvolvê-la?

— Eu não vou tocar em ninguém para sugar energia, - ele recusa imediatamente – e se eu não conseguir parar de sugar e matar alguém?

— Eu não disse que você tocaria em alguém aqui dentro, - eu o acalmo – eu estava pensando, na verdade o Kyungsoo deu a ideia de trazermos alguma criatura até a porta e você tentar sugá-la. Como nenhuma delas consegue entrar aqui sem morrer ou explodir, teríamos que fazer desse jeito.

— Pode ser uma boa ideia... – Lay avalia. – Quando todos estiverem recuperados, pode ser uma boa...

— Suho! – Baekhyun aparece na porta urgente – Você tem que parar isso, o Luhan quis treinar com o pessoal e estão perdendo a linha com ele.

— Como é?

— Começaram pegando leve com ele, - Baekhyun ofega – mas nenhum deles consegue tocar nele e estão pegando cada vez mais pesado! Não vai sair coisa boa daquilo.

Eu saio da cabana, Baekhyun me acompanha.

Não preciso andar muito para ver a cena caótica.