KYUNGSOO

Um nome que eu achei que nunca mais iria ouvir, que eu não queria mais ouvir, nunca mais, de repente, ele é trazido de volta e apenas ouvi-lo me faz sentir um soco bem na boca do estomago além de ficar gelado por dentro.

Namjoon.

Porque ele tinha que achar esse nome? O que ele quer saber sobre ele? Porque justo esse maldito nome tinha que vir à tona?

Nesse momento é nítida a divisão entre nosso grupo, os mais novos dos mais velhos aqui dentro. Eu, Kris, Chen e Xiumin estamos tensos apenas com a menção desse nome e temos que encarar todos os outros nos encarando confusos e ainda assim, ansiosos por respostas.

— Quem foi Namjoon? – Kai pergunta mais uma vez.

— Porque você quer saber justamente dele? – Kris o confronta antes que eu consiga formar uma linha de pensamento.

— Porque... – percebo que Kai se sente desconfortável com essa informação, o que ele sabe? – Porque ele morreu aqui dentro.

— Só por isso? – Baekhyun pergunta já debochando – Ele não é o único que morreu aqui dentro, sabe, houveram muitos outros além dele.

— Mas nenhum outro foi morto pelo Suho. – Estou olhando diretamente para ele quando ele solta a informação que deveria ter acesso desde o começo, por isso a pergunta, por isso trouxe esse nome à tona.

Todos parecem segurar a respiração ao mesmo tempo, eu fecho os olhos apenas por um segundo já esperando a comoção e as perguntas que eu sei que virão, fecho os olhos um momento, apenas um momento, para poder me preparar para lembrar disso. De todos os horrores e atrocidades que vivi aqui dentro, provavelmente, Namjoon, foi o responsável pela grande maioria.

— Onde você descobriu isso, Kai? – Chen o questiona e sua voz entrega o quanto ele não queria falar dele.

— Na sala onde eu estive com o Chanyeol, abaixo de cada foto, haviam dados sobre nós, identificação, idade, tipo sanguíneo, nossa natureza e...o status de cada um. Vivo ou morto e a causa da morte. – Kai responde.

— E o que dizia na foto desse tal Namjoon? – Tao se apressa a perguntar.

— Morto em combate com Suho.

— O Suho matou um garoto? – Tao ecoa confuso.

— Isso não pode ser verdade. – Baekhyun protesta. – Quem garante que o que estava nessa sala aí era verdade?

— Todos outros eram verdade, Taemin estava lá também. – Kai replica.

— Chanyeol, isso é verdade? – Lay tenta confirmar de maneira mais calma.

Chanyeol está olhando para um ponto distante e em algum momento nossos olhares se encontram e quase vejo dor em seus olhos quando ele responde – É sim, é verdade.

— Quem foi esse cara? – Tao pergunta para nós – Obviamente é coisa antiga porque vocês cinco ficaram de cabelo em pé quando ouviram o nome dele e o Kyungsoo está com cara de enterro.

— Nós não vamos falar nada, não enquanto o Suho não acordar. – Chen se apressou a responder – Essa é uma história dele e, portanto, ele que deve contar.

— Eu quero saber quem foi esse cara e porque ele foi morto pelo Suho, - Kai intervém – preciso saber se posso confiar nele como a pessoa no comando aqui dentro.

— Se você soubesse a asneira que está falando, Kai. – Xiumin o adverte.

— Então me digam, eu tenho o direito de saber, nós, temos o direito de saber. – Kai está saindo da atitude calma que queria passar e adotando uma postura mais agressiva.

— Você que fez questão de falar disso, Kai, - Chanyeol o rebate – se dependesse de mim, esse assunto nunca teria saído daquela sala.

— Você não quer entender o que aconteceu? – Tao pergunta incrédulo.

— Se ele fez o que fez eu tenho certeza que foi por um bom motivo. – Chanyeol responde de prontidão sem titubear.

— Desculpa, mas eu também quero saber. – Lay interveio, porém calmo. – Eu acredito que ele tenha feito por um bom motivo também, mas eu quero saber o porquê. Eu não gosto da ideia de matar outro companheiro.

— Só falaremos disso quando o Suho acordar. – Xiumin tentou dar o assunto por encerrado. – Cabe a ele contar tudo e explicar o que houve.

— Eu acho que devemos falar. – Kris o corta de repente – Vocês sabem como ele é, provavelmente não vai contar como o Namjoon era horrível e fará os outros terem pena dele.

De repente, todo mundo começou a falar junto, um por cima do outro, o que era uma conversa, não demorou muito e virou uma gritaria, todos se atacando com palavras, exigindo, exigindo e exigindo cada um uma coisa, olho ao longo da mesa e Sehun é o único que ainda não falou nada, apenas observa confuso e assustado.

— Você não vai falar nada, Kyungsoo? – De repente, Kai chama minha atenção – Você não tem nada a declarar nessa história?

— Você acha que ele pode ter feito algo de propósito, Kai? – Sehun pergunta de maneira ríspida o pegando de surpresa. – Depois de ver como ele se esforçou para me salvar, eu não vejo como ele poderia ter feito isso sem um bom motivo.

Ele pode ter tido essa resposta e esse posicionamento, mas eu via em seu rosto, ele estava assustado e confuso com o que estava ouvindo e descobrindo.

É o olhar assustado de Sehun que me convence, é o olhar assustado dele que me diz o que fazer. Ele é o mais novo aqui, não sabe o que está acontecendo com ele ou em quem acreditar, estar preso em um lugar como esse e a única pessoa que deveria ser seu líder, passa a ser uma figura duvidosa.

Eu já passei por pior, a pessoa que deveria me liderar e guiar, era a pior de todas, era justamente quem me assombrava e abusava não só de mim, mas de todos.

— Eu vou falar quem ele era. O Kris tem razão, se o Suho for contar, ele provavelmente vai aliviar o lado do Namjoon. Só preciso que vocês me ajudem. – Digo a Kris, Chen e Xiumin. – A tampar alguns buracos que possam aparecer.

— Quem era esse tal de Namjoon? – Foi Tao que fez a pergunta.

Alguém que eu não queria ter que lembrar de ter conhecido um dia – Ele era o antigo líder dos rapazes que vinham para cá. Mas ele era o líder por ser poderoso e impiedoso.

“Acho que todo mundo sabe que esse labirinto existe já há muito tempo, ninguém sabe ao certo, o que sabemos é que o Suho é o mais antigo vivo. Mas antes dele houveram outros, ele não foi o primeiro a chegar aqui. Antes dele havia Kim Namjoon como líder, quando ele chegou aqui, já haviam alguns garotos aqui dentro, quando eu cheguei aqui tudo era lotado e abarrotado de gente, se hoje temos onze pessoas, e vez ou outra chega mais uma, quase diariamente garotos eram encontrados aqui antes.

“Mas no mesmo ritmo que chegavam rapazes, também morriam, no dia em que fui achado, chegaram comigo outros dois, porém, cinco, não retornaram e a culpa disso era do próprio Namjoon. ”

— O que ele fazia? Matava os mais antigos ou mais fracos? – Baekhyun perguntou, mas estava realmente intrigado e não debochando como ele costumava fazer.

— Ele não precisava, - eu continuo a contar – eu não sei ao certo como ou em qual momento, mas ele tinha poder inquestionável aqui dentro, quando os novatos eram trazidos por quem os achava, ele já os desestabilizava e quebrava seus espíritos. Eu passei por isso e assisti o Kris, Chen e Xiumin passar pelo mesmo.

— O que ele fazia? – Chanyeol perguntou de maneira cautelosa.

— Como foi dito, os novatos chegavam em grupos, quase todo dia, eram achados no labirinto pelos outros - Kris assumiu meu lugar – quando eles chegavam, Namjoon vinha flutuando até nós, no meio do ar, assim simplesmente, flutuando para um grupo de rapazes jovens e assustados. Ele tinha dois capangas que não saíam do lado dele. Daesung e Chansung, eram seus fiéis escudeiros. Um controlava raios e o outro, gelo. Eu ainda lembro como fiquei aterrorizado quando eu cheguei aqui e vi tudo aquilo.

“De repente, Daesung jogava um raio por cima da cabeça e Chansung fazia várias estacas de gelo no chão tudo para nos assustar e conseguiam. Depois, depois era o chefão que falava. ‘Bem-vindos a nova vida de vocês, que agora pertence a mim, vocês ainda não sabem, mas podem fazer algo parecido com o que acabaram de presenciar, como devem ter notado, estão em um labirinto do qual ainda não conseguimos achar a saída.

“ ‘Em uma semana, vocês sairão para procura-la, vocês vão treinar suas habilidades, desenvolvê-las e então sair para procurar uma saída para todos nós. Portanto, se eu fosse vocês, faria o meu melhor para aprender a usar, seja lá a habilidade de vocês, porque se não souber, as chances de morrer lá dentro, são bem grandes. Não tentem, em momento algum, me desobedecer ou aos dois que estão ao meu lado. ’

“Então, ele sempre fazia seu número, fazia um dos novatos flutuar no meio do ar o segurando pelo pescoço, e nós apenas observávamos enquanto o garoto se retorcia sem ar. Então ele nos ameaçava mais ‘Andem fora da linha, ou não me obedeçam, e eu os faço em pedaços. ’ Para minha sorte, eu fui o objeto de seu show. Eu ainda me lembro do desespero que eu senti, ser tirado do chão daquele jeito. Quando ele me soltou eu só consegui ficar me retorcendo tossindo buscando por ar. ”

Não me sinto orgulhoso disso, mas estou um pouco satisfeito em ver como essa informação, apenas essa premissa, conseguiu deixar todo mundo inquieto, inclusive o próprio Kai, ele está ouvindo de maneira ávida, mas em seu rosto era perceptível como estava apreensivo.

— E assim foi por alguns dias, - eu retomo a história, já que agora, eu fui o que presenciou o que houve – os novatos eram achados, eram amedrontados e acuados até que seus níveis de adrenalina fossem a um nível tão alto que eles conseguissem desenvolver algum tipo de habilidade.

“Uma semana, apenas uma semana era o tempo que ele dava para nós conseguirmos desenvolver algum tipo de habilidade e conseguir usá-la para nossa sobrevivência contra as criaturas do labirinto. Você desenvolvendo ou não, deveria ir para o labirinto em uma equipe.

“E assim foi comigo, fui espancado e amedrontado até conseguir produzir um pilar de pedra tão afiado que quase podia cortar apenas ao olhar para ele. – Chutes, socos, ameaças, choques, quase consigo lembrar das vozes de Daesung e Chansung me ameaçando e me instigando - Eu consegui ir para o labirinto e sobreviver. Muitos não tiveram a mesma sorte, sendo novos aqui dentro ou não.

“Eu acho que estava aqui já haviam umas três semanas quando Suho adentrou o labirinto com um garoto de cabelos castanhos e dentuço. – Por um momento eu me perco em pensamentos e lembranças e vejo o rosto de assustado do rapaz. – Dois dias depois ele lembrou seu nome, ou talvez apelido, não sei, Dong Woo. Vê-lo treinar todo os dias, apanhar, sofrer e cair chorando, tendo um colapso nervoso todos os dias, aquilo não era nada agradável, eu fechava os olhos quando passava perto dele.

“Por ser um rapaz fraco, os dois capangas desgraçados gostavam de pegar no pé dele em especial, meu sangue fervia de raiva ao ver aquilo, não apenas o meu, eu sei que muitos de nós se sentiam revoltados ao ver aqueles dois imbecis fazendo aquilo, mas nos sentíamos tão oprimidos e diminuídos, Namjoon conseguiu nos diminuir e nos quebrar ao ponto de não termos coragem de fazer nada. Mas não todos nós.

“Uma semana treinando e Dong Woo simplesmente continuava o mesmo garoto fraco, chorão e assustado, a única coisa diferente era que agora ele tinha alguns hematomas pelo rosto e pelo corpo, mas isso não o salvou de ter que ir ao labirinto, mesmo sem nenhuma habilidade para se defender. ”

— Você não pode estar falando sério. – Baekhyun estava com os cotovelos apoiados na mesa e segurando o rosto entre as duas mãos, sua expressão se misturava entre susto e fascínio.

— As esquipes foram formadas e estavam se preparando para sair, - eu continuo com minhas memórias daquele dia fatídico – Suho era um dos mais experientes, se não, o mais experiente de todos os exploradores naquela época. Eu lembro de ter caído na equipe dele naquele dia junto com o Dong Woo.

“O garoto tremia de tanto que ele chorava, tamanho era seu pânico em ter que sair, ele já havia visto o que existia lá fora e sabia o que o esperava ao sair. Eu estava atrás do Suho quando ele viu o garoto e o levou até um dos capangas do Namjoon, não lembro ao certo qual foi, mas é claro, ele logo chamou o maldito de quem eles puxavam o saco. Ele veio levitando, como sempre fazia questão, sempre querendo parecer imponente e se sobrepor acima de todos.

“O Suho tentou conversar e argumentar com o Namjoon de todos os jeitos, de dar mais uma semana para o garoto, como ele seria apenas um alvo e um peso, ele até mesmo tentou fazer o garoto parecer um inútil, - deixo um sorriso nervoso se formar em meus lábios – vocês conseguem imaginar isso? Um Suho que diminua alguém? Mas era tudo para tentar evitar com que o garoto fosse enviado ao labirinto, apenas isso.

“Inútil, Namjoon simplesmente riu do Suho. ‘O garoto vai, são as regras. ’ Ele debochou do Suho com seu sorriso metido e quando ele ia tentar uma última vez eu só vi a cabeça loira do Suho ser jogada para trás, seus pés levantarem do chão e ele e sacodir enquanto lutava por ar.

“Minhas pernas pareceram virar gelatina naquela hora, eu só lembro de ter caído no chão ao ver aquilo, todos nós apenas assistimos incapazes de fazer alguma coisa, apenas observamos enquanto o cara mais legal dali era levantado no ar e depois arremessado longe.

“ ‘Já que está tão preocupado e com tanto dó do rapaz, porque não vão apenas vocês dois? Assim poderá tomar conta dele pessoalmente, não é? ’ Ou algo assim, não lembro ao certo o que ele disse, mas foi algo assim. Se o Suho se importava tanto com o garoto, porque não ia com ele e tomava conta apenas dele? E assim foi, naquele dia, ninguém foi para o labirinto além dos dois, ninguém. ”

— O garoto sobreviveu? – Tao perguntou totalmente absorto na história também.

Eu dou um riso descontente e até mesmo estranho – Ir ao labirinto depois de ser jogado pelo ar e com alguém que não sabe fazer nada... eu ainda não sei como o Suho não morreu naquele dia, para ser honesto.

“Eu lembro de estar em uma cabana com não sei quantos outros rapazes quando ouvi a comoção lá fora. ‘Venham ver o grande defensor e seu fracasso. ’ Ele ria e se vangloriava por diminuir o único que um dia já se opôs a ele. Suho voltou pra cá todo arrebentado, ele simplesmente caiu de joelhos assim que atravessou a porta, mancando, ensanguentado e fraco. Mas Dong Woo havia morrido, o labirinto o havia reclamado.

“Namjoon falou mais alguma coisa para humilhar o Suho mais uma vez, mas eu não lembro o que foi, eu só lembro de sentir um misto de raiva, pura raiva e medo. Nossas vidas estavam nas mãos daquele lunático, podíamos morrer tanto pelas mãos dele ou por sermos enviados para o labirinto. ”

— Então o Suho resolveu matar o tal Namjoon para ser o líder? É isso? – Kai se apressou a tomar suas conclusões e ainda mais para expressá-las.

— Nos olhos do Suho, algo havia mudado aquele dia. – Eu não o respondo simplesmente para não perder a linha – Algo havia ficado mais frio, mais rígido.

“Durante dias ele ficou calado, até mesmo isolado, ninguém conseguia falar com ele de jeito algum, sua expressão era de puro vazio. A morte do rapaz o afetou mais do que ele admitia, assim como a todos nós. Segundo as pessoas que viviam aqui antes, não era a primeira vez que aquilo havia acontecido e alguém havia ido para o labirinto sem poder se defender, mas havia sido a primeira vez que alguém havia se manifestado e tentado fazer algo a respeito.

“Aquilo acendeu uma chama nos corações de todos, sem que Suho soubesse, sem que Namjoon soubesse, uma rebelião se formava, um último sopro de revolta parecia aumentar cada vez mais entre todos.

“Conforme os dias foram passando, mais pessoas chegavam, outras morriam, em uma dessas levas, o Kris chegou, foi usado como cobaia, como ele disse, depois o Chen, que conseguiu não ser usado como exemplo de intimidação e bem abaixo do nariz do Namjoon, planos eram formados, todos os dias, à noite as escondidas dele, de seus capangas e de seu toque de recolher. ”

— E ele não percebia esses planos bem abaixo do nariz dele? – Sehun perguntou da parte de trás da mesa pegando todos de surpresa, inclusive a mim.

— Ele era uma pessoa tão prepotente e metida, confiante e cego pelo seu poder que eu acredito que ele até mesmo desconfiava, mas não acreditava sermos uma ameaça, ou até mesmo queria um confronto, ou ria da ideia de alguém querer enfrenta-lo. – Kris passou a falar.

KRIS

Kyungsoo podia saber explicar tudo sobre o caso do tal garoto Dong Woo e em como o Suho sentiu o impacto daquilo naquele dia, mas quando o assunto foi o levantar da rebelião, eu consigo falar com mais clareza que ele.

— Logo que eu cheguei e os rapazes viram o que eu podia fazer e a facilidade com a qual eu o fazia, começaram a me sondar e, tendo sido a peça usada para intimidação, eu aceitei logo de cara.

“ ‘O Suho é o líder dessa rebelião, ele iniciou tudo isso. ’ Eu lembro de terem me dito isso, exatamente isso como argumento para me persuadir a aceitar entrar na rebelião, eles nem precisavam ter dito isso, eu aceitaria de qualquer jeito. Precisava fazer alguma coisa e não fazia ideia de quem era Suho naquela altura, apenas me falaram o que ele fez.

“Com o passar dos dias eu consegui controlar meus poderes tão bem, sendo o único que conseguia fazer o que eu fazia, não demorou até o Namjoon me fazer um de seus capangas, junto com o Daesung e Chansung o que acabou sendo um trunfo, eu consegui ter um olhar mais próximo de tudo e pude ser um espião além de conseguir encobrir algumas reuniões de planejamento da rebelião.

“Mas havia um problema, o Suho se recusava a participar, recusava ainda mais em ser meio que ‘o rosto’ do nosso movimento. Ele não via como ele poderia ser a motivação de todos nós lutarmos contra aquele ditador, não via como ele havia iniciado tudo aquilo e nos dado fôlego, inferno, eu nem mesmo vi o que ele fez pelo garoto Dong Woo e me sentia motivado e inspirado a me rebelar contra aquele maldito e ele não conseguia ver?

“Por vezes, pedimos para ele se unir a nosso movimento e nos ajudar a nos livrarmos do Namjoon, mas ele se recusava. ‘Eu não sou um líder’, ‘Eu não sirvo para isso’, ‘Eu não pedi por isso’, ‘Minha intenção não era de fazer uma rebelião’, ‘Eu não quero matar ninguém. ’ Ele dava tantos motivos e tantas razões por não querer se unir ao movimento, mas era ele que todos olhavam, era nele que todos se espelhavam. ”

— Então, mesmo quando quem havia inspirado a rebelião se recusava a matar, vocês queriam continuar com isso? – Kai perguntou, novamente, querendo tomar conclusões precipitadas.

— Cala a boca e escuta antes que eu perca a paciência. – Chen o advertiu o olhando de canto de olho e assim ele o fez.

— Nós nunca quisemos mata-lo, nunca foi parte do plano – Eu retorno a falar – pelo menos não inicialmente, mas chegou um momento em que tínhamos de ser realistas. Ele não hesitaria um segundo antes de matar qualquer um de nós se precisasse ou apenas quisesse.

“Quem quisesse lutar, lutaria, quem não se sentisse tão à vontade e forte assim, protegeria os novatos e tentaria de algum jeito ajudar quem lutasse. Eventualmente, eu consegui trazer o Kyungsoo para nosso movimento, Chen não se sentia tão à vontade e preferiu se reservar a proteger os novatos. – Ele se retorce desconfortável conforme eu falo isso, mas era a verdade, ele ainda era bem novato quando tudo isso aconteceu e não tinha muito controle de suas habilidades, talvez estivesse morto se tivesse lutado. – Mas o Suho simplesmente não se misturava, não parecia se importar com o que fossemos fazer ou como aquilo poderia afetar qualquer um de nós.

“Estávamos com o plano decidido. À noite, quando todos estivessem dormindo, Daesung e Chansung seriam afastados e mortos, os teletransportadores os levariam para fora das cabanas e os dominadores de terra e pedra agiriam de maneira rápida com estacas de pedra. Se déssemos sorte conseguiríamos mata-lo enquanto ele dormisse, fogo, terra, água, raios, iriam se aproximar dele e tentar mata-lo da maneira mais rápida possível, lutar com ele era a última coisa que queríamos. Tudo estava pronto, mas todos estavam muito apreensivos, com medo, eu sei que eu estava tendo crises de ansiedade só de pensar em fazer qualquer coisa. ”

— Mas isso mudou quando o Xiumin chegou. – Chen ri ao apertar os ombros dele.

— O que foi que esse picolé fez? – Baekhyun questionou sem mudar sua posição.

— Eu cheguei igual o Dong Woo, - ele responde sério – chorando e sem conseguir fazer nada.

— Como era de se esperar ele foi humilhado e torturado para desenvolver alguma habilidade. – Kyungsoo retoma seu relato e sua voz está um pouco embargada e apressada – Durante cinco dias ele e outros garotos foram humilhados, aterrorizados e torturados para conseguir desenvolver alguma habilidade, mas nada, ele simplesmente não conseguia fazer nada.

— Na noite do quinto dia de tortura do Xiumin, Suho nos procurou – Eu continuo a contar – ele não estava mais distante ou fechado, em seus olhos eu via um fogo faminto e voraz. “Eu quero me unir a rebelião. ” Essa frase, essa simples frase foi determinante para nosso sucesso, foi ela que deu moral e estima para todos, saber que a pessoa que nos deu esperança primeiro estava se dispondo a lutar ao nosso lado. Ele sabia que Xiumin seria apenas mais um Dong Woo e não queria que isso se repetisse.

“Então chegou o dia de atacarmos. Saímos em rondas para o labirinto em busca de uma saída, novatos chegaram à nossa área segura, tudo normal como sempre, entre eles o Taemin, outro chorão que não conseguia fazer nada além de chorar. Seis dias depois da chegada de Xiumin a nossa colônia, nós atacamos a noite. Conseguimos fazer como queríamos com os dois capangas. Eu queimei um e Kyungsoo empalou o outro. Mas eu não sei o que aconteceu ou como aconteceu, mas quando estavam indo em direção a cabana do Namjoon, ela simplesmente explodiu em mil pedacinhos jogando pedras para todos os lados e no meio de nós, acima de todos nós, parado no meio do ar, antes da corrente elétrica do céu, lá estava ele, pronto para nos atacar. Nos matar. ”

Eu ainda lembro do som das pedras e a força com que elas foram arremessadas para longe, acertaram as paredes da colônia, acertaram outras cabanas as destruindo, mas acima disso tudo, lembro do desespero que tomou conta de mim. De todos nós.

— Quem estava mais perto da cabana foi atingido pelas pedras e pelos destroços da cabana dele. – Kyungsoo voltou a contar, seu tom era mórbido, eu conseguia sentir o que ele sentia naquele momento tendo que reviver aquele dia novamente. – Nesse primeiro momento nós já perdemos muitos companheiros.

— As cabanas não eram mais um lugar seguro, - agora é Chen que fala, ele estava nas cabanas protegendo Xiumin e mais alguns que não queriam, não podiam ou não sabiam lutar – a que estávamos usando para nos esconder foi atingida pelos pedregulhos lançados no ar, estava desabando. Tivemos que sair de nosso esconderijo.

— Depois disso, foi tudo tão rápido e ainda assim tão intenso. – Xiumin toma a palavra – A única coisa que consigo lembrar é isso, ele projetou a mão direita para frente e praticamente todos que estavam a frente, perto dele, foram levitados e... – Ele se detém em seu relato um momento e eu sei porque, eu lembro o que aconteceu nessa hora.

— Todos foram estraçalhados no meio do ar. – Eu completo e todos se espantam.

Lay prendeu sua respiração, Sehun e Baekhyun ficaram boquiabertos e de olhos arregalados em surpresa, Chanyeol parece a beira das lágrimas, Tao está indignado e Kai está pálido, calado em seu canto, sem falar absolutamente nada.

— Aqueles que conseguiam se teletransportar, escaparam do toque invisível dele no meio do ar, - eu continuo – eles tentaram salvar o máximo de pessoas possível e conseguiram salvar um bom número na verdade, porém, mais da metade não teve essa sorte.

— Pedaços de pessoa caíam do céu para todos os lados, algumas ainda agonizando, outras implorando por socorro. – Kyungsoo adiciona. – Eu estava entre as pessoas que foram salvas, se tivesse sido segurado por ele por mais alguns segundos... eu não estaria aqui hoje falando com vocês.

— Depois daquilo... o pandemônio se instalou. – Chen continua. – Namjoon continuava a se achar intocável e foi assim por alguns momentos. Depois de ver tanta gente morrendo em um único segundo daquele jeito, de maneira tão simples e sem importância, todos que podiam fazer algo, por menos que fosse, também se mobilizaram.

— Ele se colocou em uma bolha de energia e nada chegava perto dele, nenhum ataque surtia efeito, - eu continuo a falar – naquele momento, em um desespero e adrenalina tão alta, foi a primeira vez que consegui fazer meu dragão, eu tentei mordê-lo envolto no meu manto, mas era inútil. Por minha causa um dos teletransportadores morreu. Ele me salvou, mas não foi rápido o suficiente para escapar.

— Como o Xiumin disse, realmente foi tudo muito rápido. – Chen prossegue – Quem conseguia se teletransportar não conseguia uma folga, uma brecha, durante todo o tempo eram eles que nos salvavam. Nos teleportavam para trás dele, para lugares onde ele não estava se concentrando, salvava quem era pego por ele. Mas nada fazia efeito. Não importava por onde o atacássemos, a bolha não falhava de jeito algum.

— A autoconfiança exagerada dele foi sua ruína. – Kyungsoo interveio e ficou calado por um momento, as memórias deviam pesar para ele assim como pesavam para mim – Em algum momento, aquilo se tornou demais para ele. Tantos ataques simultâneos, tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, ter que se defender e atacar ao mesmo tempo... aquilo foi demais para ele.

“Ele começou a perder altitude e logo estava a menos de meio metro do chão e sua bolha parecia cada vez menor. Eu não lembro quem foi, mas alguém conseguiu atingi-lo com um raio, bem no pé. Então ele caiu, estava no chão junto com todos nós. ”

— Mas sua fúria pareceu motivá-lo e dar mais força. De repente ele não se importava em se defender mais e decidiu atacar com toda a força que tinha. – Chen adiciona e então abre seu braço esquerdo em um arco na altura do peito. – Só isso, só esse movimento conseguiu nos atingir com tanta força. Quem estava mais próximo dele ou foi pego desavisado foi despedaçado naquele momento. Os mais distantes ou que se protegeram, foram arremessados.

— Com tanta força que o mundo pareceu um borrão ao nosso redor. – Xiumin completou – Ninguém escapou disso, nem quem não estava lutando.

— Durante todo esse tempo, quem conseguia nos orientar e ter uma força de ataque mais chata e persistente era o Suho. – Eu retomo a palavra – Ele não parava em um único lugar, parecia deslizar por todo canto, jogando água e a fazendo leva-lo para todos os lados.

“Era ele quem nos dizia por onde atacar ou o que fazer, distrair, proteger, perguntava e pedia por opiniões e ideias, por ter demorado a se envolver, ele ficou de fora de boa parte do planejamento, mas deixava isso impedi-lo. Ele não dava uma pausa sequer para os teletransportadores. Foi ele que fez o Namjoon se cansar e ir ao chão, mas ele não esperava tanta força vindo dele ainda e nem que tantos fossem morrer. ”

— Depois desse último momento em que ele arremessou todos para longe, a matança ficou desenfreada, - Chen continuou a contar – não sobraria ninguém naquele ritmo, eu vi três serem partidos ao meio de uma só vez. Ele só parou porque o Suho interveio.

— Eu iniciei isso, fui eu que te desafiei primeiro, é a mim que você quer. Foi isso que ele disse no meio de todo mundo. No segundo seguinte ele estava flutuando no meio do ar, novamente, segurando o pescoço. – Kyungsoo continua a história – Se ele fosse só mais um, teria morrido naquele mesmo instante, mas era pessoal para o Namjoon, matar o Suho tinha que ser devagar e prazeroso.

“ ‘ Então foi ele que vocês escolheram como líder desse movimento ridículo? ’ Foi a última coisa que o Namjoon falou. Eu fiz uma estaca de pedra subir do chão em direção a ele, bem na sua frente, Kris e Chen foram teletransportados para trás dele e o atacaram também. Por um segundo que sua atenção foi desviada e ele soltou o Suho, foi suficiente.

“Ele o agarrou com uma mão e com a outra envolveu sua cabeça em uma esfera de água. Namjoon se debateu e tentou se livrar, mas Suho o segurou forte tanto com suas mãos quanto na esfera de água. Em um último movimento, o Suho arremessou o Namjoon na estaca de pedra que eu havia feito. A pedra o furou bem no peito. Ele morreu tentando se livrar e praguejando. ”

— Desde aquele dia, depois de ver tanta gente morrendo, eu prometi a mim mesmo que nunca mais deixaria isso acontecer, nunca mais deixaria de lutar, nunca mais veria um amigo morrer. – Chen conclui.

— Esse foi o motivo do Suho ter matado o Namjoon. Feliz, Kai? – Kyungsoo o pergunta. – Por isso o Taemin era tão amedrontado, ele tinha medo de todos que ele viu naquele dia, de tudo que ele viu.

Kai não responde, apenas olha para a mesa.

— Vamos dormir, acho que todos nós precisamos desencanar, hoje foi bem intenso para todo mundo. – Xiumin diz isso ficando de pé e todos nós o imitamos.

Eu vou para minha cabana, mas eu sei que naquela noite, eu não dormirei, apenas ficarei lembrando.