Tell me it's nothing
Try to convince me
That I'm not drowning
Oh, let me tell you I am
Falling - The Civil Wars

A cidade estava em festa pelo Sol estar brilhando no céu. Os seres humanos estavam comemorando o fato do planeta ter voltado para o lugar sem nem ao menos notarem o grande perigo iminente que estava não só as suas vidas, mas toda a criação e universo. Donna estava conversando animada com seu avô e mãe sobre tudo o que tinha acontecido lá fora, tanto que nem tinha reparado no afastamento do Doctor, que sentou em um banco na praça do pequeno bairro onde a família da companion vivia. Ele encarava a sua chave de fenda sônica completamente imerso em seus pensamentos e alheio ao que passava ao redor.

Ele não tinha noção do que estava acontecendo, mas algo estava muito errado. Sua intuição não costumava falhar e o sentimento que inundava seu ser era de que algo muito ruim aconteceria. Olhou novamente para a sua chave de fenda sônica, completamente inofensivo e altamente eficiente e fitava o resultado de um escaneamento rápido ao organismo de Rose Tyler. Sentia um nó incômodo na garganta ao notar que, apesar de já ter passado por tanta coisa nos seus 900 anos de vida, não sobreviveria perdê-la de novo. Não para a morte pela segunda vez.

“Deixa-me adivinhar: você está bem, não é?”

Ele foi retirado dos seus pensamentos pela voz da companion ruiva que se sentava ao seu lado no banco. Assentiu.

“Aquele código que significa que você está morrendo por dentro.”

Ele olhou para o céu. Sem negar ou assentir, mudou de assunto.

“Você deveria comemorar com a sua família! Foi uma vitória e tanto.”

“Eu conversei com a Rose.”

“Sim.”

“Ela está com medo.” - ele encarou a ruiva que falava. - “Tem hora que ela parece estar tão firme, segura sobre o que está acontecendo, mas quando eu olho pra ela, tudo o que vejo é medo.” - Ele abaixou a cabeça e olhou para frente. - “E vejo o mesmo medo em você.”

Ele respirou fundo e levantou. “Diga ao Wilfred que eu tive que voltar para a Tardis... Você pode...”

“Doctor, não a afaste de novo.” - Ele, que já havia se levantado, a encarou de volta. - “Sei que tem algo errado e isso não é bom, mas ela tem medo de você a fazer esquecer.” - O timelord franziu a testa em confusão. Donna se levantou. - “Ela me disse que você me faria esquecer se tudo o que ela evitou acontecesse. E acho que de alguma forma, o destino está tentando reparar a bagunça feita por ela.”

“Não existe destino. Existe passado e futuro e pontos fixos no tempo e espaço...”

“Que a Rose anulou exterminando os daleks de forma tão poderosa. Sei que é difícil e quase impossível para você compreender isso, mas tente: Todas as escolhas que ela fez foram conscientes. Ela queria ficar com você. Por isso eu peço: Não a afaste!”

“Ok.”

“Vou lá em casa e demorarei um pouco. Qualquer coisa sabe onde me encontrar.”

“Ok.”

--

Ela não foi tomar banho. Quando entrou pelo corredor da Tardis simplesmente continuou andando até uma porta pela qual nunca havia entrado de forma espontânea, senão para procurar pelo Doctor nos dias em que não saíam para novas aventuras. Ela parou na frente da porta e suspirou, antes de virar a maçaneta e entrar na enorme biblioteca do Senhor do Tempo. Lembrava-se da primeira vez que entrara ali e do choque que levara pelo tamanho dela. A lareira era um toque especial, cuja luminosidade dava um certo charme ao cômodo mais importante para o Doctor.Ao mesmo tempo que ela queria ficar sozinha, não se imaginava apenas indo ao seu quarto e chorando na sua cama. Ela queria simplesmente ficar ali, então sentou-se no chão encostada a uma fileira de estante de livros e olhou para a sua mão.

Sua mão estava envolta num brilho dourado. Rose cerrou os punhos e a esticou mais uma vez, fazendo o brilho tremular. Se concentrou na mão até a luz diminuir e seu membro voltar a cor natural. Contudo, sentiu uma pontada na região abdominal. Fechou os olhos e se encolheu numa bola. Outra pontada e sua mão voltou a brilhar. Olhou para cima, engoliu o nó de desespero e lágrimas que se formou na garganta e colocou a mão dentro do casaco que vestia.

Ela ainda não havia se refeito completamente, quando ouviu o som da porta abrindo e fechando. Depois ouviu alguém entrandono recinto, mas não se alarmou. Ouviu o seu nome sendo chamado pela pessoa mais importante para Rose. Tudo o que conseguiu responder foi um tímido “Aqui.”

O Doctor seguiu o som de sua voz até atrás de uma das estantes e a viu sentada no chão. “Donna disse que você estava tomando banho, mas a Tardis me mostrou que você estava aqui.”

“Ela não quer me deixar sozinha né?!” - ela sentia frio, mas tentou parecer normal e segura como falou com a mãe que estava tudo bem. Porém intensificou o aperto dos seus braços em si mesma.

“Se você quiser...”

“Não... Fica.” - Ele se sentou no chão ao lado dela. Aparentemente não havia reparado em nada errado.

“Você nunca vem aqui. Sabe? Por conta própria.”

“Eu sei... Mas era o único lugar onde eu me imaginava agora.” - Ela respirou pesadamente.

“Após o muro entre os universos se fechar e você ficar... sabe... eu ficava aqui. Pensando...”

“Sempre foi o seu cômodo preferido.”

“É bom para pensar... tentar achar soluções.”

“Você não achou.” - Ele a encarou e ela deu um sorriso triste. - “Soluções para o problema entre os universos.”

“Não, mas consegui achar um jeito de me despedir.”

“É... Você nunca terminou a frase.”

“É. Nunca.” - Um silêncio pairou entre eles. Ela se encolheu um pouco mais, tentando ser o mais sutil possível. “Você estava buscando solução para quê?!”

“O quê?!” - Ela se surpreendeu com aquela pergunta.

“Você está aqui, sentada no chão e encolhida de frio enquanto a Tardis está elevando a temperatura para você. O que está acontecendo?”

Ela abaixou a cabeça e respirou fundo. “Apenas se você não me fizer esquecer.”

“Não posso prometer isso.”

“Por quê?”

“Porque se depender disso para você viver, é isso que farei.”

“A escolha é minha!”

“Não pode escolher morrer!”

“Posso sim! Sabe por quê?! Porque é a minha vida!” - Ela levantou e se esqueceu de se esconder. O corpo inteiro brilhava, quando ela arqueou com uma pontada de dor na região próxima aos rins.

Em segundos, ele já estava próximo a ela ajudando-a. - “Isso a está consumindo!”

“Isso sou eu agora!”

“Não posso deixar...” - Ele respirou fundo, lutando com suas perspectivas de ação. - “Não vou deixar...” - E encostou os dedos no rosto de Rose, porém foi rechaçado violentamente pela mente dela.

“NÃO! NÃO VOU DEIXAR!” - o olhar da companion brilhava num dourado forte e sua voz estava mais uma vez duplicada. - “É a minha vida aqui, então me deixa em paz.” A luz o empurrou para fora do cômodo e da própria Tardis, fechando-o do lado de fora.

“Rose! Me deixa entrar! Por favor!” - Ele bateu na porta, mas a Tardis não o deixava entrar. - “DROGA!” - Ele estava preso do lado de fora, enquanto Rose morria sozinha lá dentro. Correu para chamar Donna. Ela era a única pessoa que podia ajudá-lo nesse momento.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.