The Return Of The Bad Wolf

A tempestade - parte 2


In the confusion, and the aftermath
You are my signal fire
The only resolution and the only joy
Is the faint spark of forgiveness in your eyes

There you are, standing right in front of me
All this fear falls away, you leave me naked
Hold me close, cause I need you to guide me
to safety
(Snow Patrol - Signal of fire)

Ele não demorou para encontrá-la, o vento lhe dava a direção. E quando a viu, sentada no meio do nada, simplesmente parou observando-a. Um ponto loiro no meio de um mar branco e preto de neve e escuridão.


“Você demorou.” - Rose disse sem se virar para encará-lo. Continuou olhando para o vazio a sua frente. Ele se aproximou um pouco.

“Precisava que você encontrasse os gatilhos sozinha.”

“E se eu não encontrasse?” - Ela virou o rosto para fitá-lo, ainda sentada. O Doctor cobriu o espaço que os separava se aproximando e parando em pé ao seu lado.

“Não tinha dúvidas de que você encontraria.” - Ela abaixou a cabeça e mexeu na neve depositada no chão. Ele sorriu. - “Você é brilhante.”

Ela sorriu. “Não me sinto muito brilhante agora.”

“E como se sente?”

“Uma verdadeira bagunça.” - ela disse com um sorriso triste na voz.

“Sei como é.” - Ele acabou se sentando ao seu lado e encarando o nada que antes ela encarava solitária. Ficaram em silêncio por um longo tempo, apenas observando, pensando ou curtindo a presença um do outro. O doctor quebrou o silêncio. “Por que você fez aquilo?”

Rose fez um bico e mordeu os lábios. “Eu sabia o que iria acontecer. Não podia permitir.”

“Como? E O que iria acontecer?”

Ela sorriu tentando mudar o foco. “Isso importa? Eu alterei o curso dos acontecimentos, mudei linhas do tempo, exterminei uma raça inteira de todos os universos. Não importa mais...”

“Importa pra mim.”

Ela se virou para ele, e viu que o doctor estava encarando-a. Olhou bem fundo nos olhos dele e viu que aquela resposta realmente importava, e que aquele último dos timelords se sentia culpado pelo que ocorreu. Rose suspirou forte. “Eu viajei pelos universos, antes de conseguir chegar a esse. Passei pelo de Donna, e aproveitei a morte do vazio para conhecê-lo.” - levou os olhos ao doctor e viu que prestava atenção a cada palavra dita por ela. - “Assim como o dalek caan sabia o que aconteceria, o vazio tinha esse poder. De te guiar pelas linhas do tempo a um preço. Mas ele estava morto.” - Parou mais uma vez, olhou a neve nas mãos. - “Resolvi ver se valia a pena toda aquela tentativa. E eu vi que te encontraria.” - Ela sorriu, e ele sorriu de volta. Rose voltou a ficar séria. - “Porém, Donna morreria no processo de se tornar meio timelord, meio humana. E você me deixaria de novo naquela maldita praia com um outro você.” - Parou novamente encarando o céu. - “Eu seria feliz com você humano, mas você ia sair tão machucado... Sem ninguém ao seu redor e se regenerar sozinho e ferido.” - Ela voltou a encará-lo, com os olhos cheios de lágrimas. - “Eu não podia deixar isso acontecer...”

O doctor continuou olhando para ela. Todos os seus companheiros se importavam com ele e com o fato dele se regenerar. Nem sempre fora tão amigo dos humanos assim, como nem sempre fora tão bom. Mas nunca alguém estivera tão a ponto de se sacrificar por inteiro como aquela a sua frente por ele para que não estivesse sozinho, para que não sofresse. Aquilo tudo que Rose lhe narrara, era tão profundo para ele que não conseguia entender.

“Você fez tudo isso... pra que eu... não ficasse sozinho?”

“Não entende? Eu sei que você tinha tirado de mim o vórtex. O outro você, na verdade. Mas... ele ainda estava aqui.” - Ela tocou no peito. - “Em algum lugar. O outro eu. A Bad Wolf. Foi difícil encontrar, mas eu o fiz. E percebi que tudo o que eu tinha de fazer era intervir. E naquele momento em que eu me mostrei pra você no Crucible, eu sabia que ia morrer. No momento em que eu encontrei o vórtex dentro de mim eu vi aonde minha linha de vida terminaria. Eu estava preparada para isso...”

“Alguma vez você pensou que ficar sozinho, ou ver a Donna partir, seria menos doloroso do que vê-la morrer?” - Rose o encarou surpresa com o que ele estava falando.

“Mas você sofria tanto...”

“Você tem noção da dor que eu senti em te ver queimar e não poder fazer nada?” Ele a encarava e seu olhar brilhava pela intensidade que ele falava. “Eu vi o meu planeta inteiro morrer e nada se comparou àquele momento em que eu te vi explodir aquele Crucible.” Lágrimas preenchiam os olhos dele, porém ele não quebrou a ligação com os dela. “Não há nada mais irremediável que a morte.”

E o Doctor, finalmente, quebrou o olhar com a companheira. Fitou o céu e o universo acima deles. Uma tentativa de não deixar transparecer a emoção que sentia através das lágrimas que queimavam. Não iria chorar, afinal era um senhor do tempo.

Mais uma vez, o silêncio se apossou deles. Ambos lidando com suas emoções. Voltou a nevar, e quando sentiu o pequeno floco em si, notou que a mulher ao seu lado chorava em silêncio. Ele respirou fundo e abriu os braços para ela, que rapidamente se enroscou nele e o abraçou forte. “Shhhh...” - Ela soluçou e chorou mais. - “Estamos bem agora...”

“Não me deixe mais sozinha, doctor! Eu preciso de você! Agora mais do que nunca.”

Ele fechou os olhos. - “Nunca mais.” - E apertando os braços ainda mais ao redor dela, sentindo-a fazer o mesmo. - “Você está ouvindo? Nunca mais.” - E os dois se deixaram curar um pelo outro, enquanto a neve caía junto com as lágrimas de Rose.