Issa

Estava andando de forma apressada pelos corredores, tentando sentir a presença de Hali, não encontrando em parte alguma. Havia andando por todos os corredores que conhecia e até por alguns que não. Vez ou outra encontrava uma bruxa me olhando de canto, mas a maioria me ignorava.

- Bartinik, espere... – o feiticeiro me parou no corredor. Ele havia me seguido por todos os corredores, mas não é como se importasse no momento.

- Não me chame por esse nome. – digo com certa acidez.

- Só te conheço por esse nome... – sussurrou. – Imagino que as bruxas sejam minimamente inteligentes para esconder a presença da bruxa branca. – o sarcasmo era evidente em sua voz.

- Preciso encontra-la, nem que tenha de desmontar o castelo, tijolo por tijolo. – estava inquieta, tentando me soltar da mão do homem.

- Seja racional. - a mão do homem foi rápida, acertando o meu rosto. Pisquei algumas vezes, respirando fundo.

- Eu... Perdi a cabeça... – palavras saiam aleatoriamente da minha boca.

- Aí estão vocês. – uma bruxa com aparência idosa e com terra nas roupas apareceu. – A Rainha está pronta para o jantar. – ela se virou, seguindo o caminho, esperando que fossemos com ela. Fagan seguiu caminho, junto com a outra bruxa. Lentamente meus pés começaram a se mexer, para acompanha-los. Chegamos a um grande salão, com uma mesa central com o jantar. A mesa era comprida e havia cadeiras o bastante para toda a pequena vila. Bruxas começaram a aparecer, se sentando. Um pouco afastado da mesa, duas hastes fixas de madeira e presa a elas Hansel e Axel. Mordi minha língua para controlar o impulso de ir soltá-los.

- Vamos, junte-se a nós também. – Lilith se dirigiu a mim, a única que ainda estava em pé, a alguns metros da mesa.Me aproximei, mantendo o contato visual com a bruxa. – Garanto que o jantar está comestível. – a mulher riu, e de fato pareceu uma por alguns segundos. Havia muita comida e bebida, e ninguém se poupava diante do banquete. Uma pequena abelha pousou na mesa, logo outras três pousaram. A primeira se aproximou do vinho posto no copo destinado à mim. O inseto começou a agir estranho, apresentando tontura, logo depois atacando as companheiras. As outras abelhas não hesitaram em atacar a outra. Engoli em seco, olhando para a comida e depois para as bruxas comendo dela. Procurei por Fagan na mesa, mas este já bebia e comia. Queria alertá-lo de que era uma armadilha e que logo uma bruxa estaria controlando todos ali. – Não vai comer, querida? – Lilith perguntou por fim.

- Faz tanta questão que eu coma da sua comida? – comentei, como se perguntasse do tempo. O olhar da bruxa brilhou como se quisesse arrancar um pedaço de mim. Encarei-a por alguns segundos e bruscamente empurrei a mesa de jantar, com o apoio de um enxame de abelhas que entravam no castelo, quebrando as janelas. Corri até Hansel e Axel, soltando eles.

- Sabem se virar sem armas?

- Sabemos nos cuidar. – Hansel deu uma cutucada em Axel, sorrindo de canto. – Mas mais importante... Hali... Onde ela está? – comprimi os lábios, mas logo uma ideia veio à mente.

- Halias! Agora! Mate Lilith! – gritei, fazendo um movimento brusco enquanto apontava para a bruxa. Lilith se mostrou confusa, mas virou-se para uma porta que teoricamente daria para a cozinha do castelo. Sorri. Às vezes nem bruxas podem controlar alguns instintos. Puxei os garotos, correndo para a cozinha. Não foi grande a surpresa quando encontrei no lugar da cozinha vários ingredientes usuais para poções e alguns livros de magia.

- Esses livros... – Axel sussurrou.

- Peguem o máximo que conseguirem. – Hansel disse, pegando alguns. Peguei vários, mas quando encontrei um livro com a capa marrom e lacre de metal enferrujado, larguei todos os outros, optando por levar apenas aquele. Batidas na porta da cozinha me trouxe de volta a realidade.

- Preciso achar Hali. – digo, seguindo por uma porta, deixando ambos os caçadores para trás. Segui por um corredor longo e escuro, chegando até uma porta. Abri vagarosamente, a porta rangendo. Lá dentro, amarrada à uma cadeira e desacordada estava Hali. Sua aparência estava horrorosa, parecia estar muito cansada.

A fúria tomou conta de mim. Por um breve momento tudo o que eu queria era matar todas aquelas bruxas, fazendo cinco vezes pior qualquer coisa que tivessem feito à Hali. Uma mão segurou meu ombro.

- Posso não ser a melhor pessoa para falar sobre vingança... Mas a vingança nunca é a resposta. – viro-me e Axel estava me encarando, provavelmente percebendo meu estado emocional.

- Hali... – Hansel entrou logo em seguida. Correu até a loira e desamarrou as cordas, pegando ela no colo. – Vamos sair logo, ela precisa de cuidados.

Estávamos prontos para sair, quando bruxas começaram a aparecer. Eram muitas, até para nós três, eu sabia. Os caçadores estavam claramente preocupados com as possibilidades de fuga quase nulas.

- Por favor... Não olhem... – digo, pedindo em um sussurro.

- Mas..

- Por favor. – reforço. Respiro fundo, olhando as bruxas ali presentes. Fagan não estava entre elas. – Vocês sabem quem eu sou? – As bruxas riram, como se eu estivesse debochando da cara delas. – Sou...

- Batinik, mas acha que pode matar todas nós? – perguntou uma bruxa mais atrevida.

- Bela pergunta... A isso eu respondo: o inferno não é feito em fogo... Ele é pior. – sorrio levemente, seguro a varinha e aponto para uma das bruxas. Uma luz negra saiu de sua ponta, atravessando a bruxa, mas sem fazer efeito algum. As bruxas levaram alguns segundos para perceber que nada havia acontecido, após o susto, todas riam juntas. Quando o surto de riso parou, elas apontaram suas varinhas em minha direção. Antes de qualquer feitiço ser lançado, um zumbido foi escutado. Em alguns segundos, o local estava cheio de abelhas, que atacavam as bruxas. Elas começaram a gritar, se debatendo inutilmente. Aos poucos os zumbidos foram cessando, até sobrar apenas os gritos das bruxas, sentadas no chão. Todas estavam inchadas, com ferroadas por todo o corpo, algumas até tentavam arrancar os ferrões, mas tudo que conseguiam era tirar um pouco de sua pele junto.

- Vamos... – chamo os caçadores, esperando que não vissem a cena das bruxas, que dali alguns segundos estariam com a carne podre e inchada, ficando mais feias do que já eram. Saímos do castelo por uma passagem secreta que encontrei por acaso. A Lua estava alta, a neve caindo como sempre.

- Aquilo... – Hansel tentava se referir ao que havia acontecido com as bruxas.

- Não quero que comente com ninguém... Principalmente Hali... – peço, de cabeça baixa.

Chegando à cabana de Hali, todos entraram. Parei à porta da casa, um pouco receosa. Ainda não sabia se estava bem em entrar ali.

- Não vai entrar? – o caçador de olhos verdes questionou.

- Não sou bem-vinda... Eu estarei aqui fora... – fecho a porta da casa, me encostando nela. Observei a neve caindo, esperando que Hali estivesse bem.