The Queen

Capítulo 2: Antes da Mudança


FLASHBACK DO DIA 23 DE AGOSTO

ANO PASSADO

Alissa virou-se num vulto quando Ellie marchou violentamente para dentro do quarto dela.

— O que você está fazendo aqui?! — exclamou Ali, a fúria surgindo imediatamente nos olhos conforme a garota fechava os punhos. — Saia do meu quarto! Agora, sua vadia!

Ellie piscou, tentando controlar as emoções, ainda não acostumada com o modo como a irmã falava com ela.

— O que você fez. — A voz de Ellie estava baixa, chorosa. E não era bem uma pergunta… era uma afirmação. — O que você falou para eles. O que falou para nossos pais. Responda!

Alissa pareceu nem se afetar com o grito de Ellie. Ela permaneceu ali, tranquila, encarando Ellie conforme quase sorria.

Então, por fim, Ali cruzou os braços.

— Não sei. Talvez eu tenha falado que você é doente. Talvez… talvez eu até tenha dito que você não tem controle sobre seus poderes. Que é perigosa… que atacou um aluno sem nenhum motivo na escola. E que você se esquece do que fez depois. — Alissa deu de ombros, encarando as paredes como se aquele fosse um assunto normal e sem importância. — Não sei… quem sabe? Eu disse muita coisa; não consigo me lembrar do que exatamente.

A respiração de Ellie já estava descontrolada, os olhos arregalados e cheios de lágrimas, enquanto encarava a irmã como uma louca. Alissa tinha esse efeito sobre ela; esse poder de deixá-la fora de controle, com medo e desesperada.

— Foi você — murmurou Ellie. — Você atacou um aluno na escola. Você quase o matou.

Alissa franziu a testa, colocando a mão no queixo como se fingisse pensar.

— Será? Não sei…. aconteceu há tanto tempo. E ninguém estava lá além de nós duas. Poderia ser qualquer uma. — Ali já sorria quando olhou para Ellie novamente. Um sorriso que era mais psicótico do que qualquer outra coisa. — Quem pode provar que não foi você, Ellie? Quem?

Ellie, então, sentindo uma raiva monumental subir pelo corpo, viu-se pulando em cima de Alissa e agarrando o pescoço dela antes que pudesse pensar melhor.

Ali começou a gritar, tentando arrancá-la dali, mas nada funciona conforme Ellie prensava a irmã na parede, despejando toda a dor e raiva que ela a fez passar ao longo da vida. Todo o abuso psicológico, todo o sofrimento.

Ellie perdeu um pouco a noção das coisas, só recuperando-a quando sentiu mãos fortes a puxando para longe de Alissa.

Seus pais.

Ellie! — berrava seu pai, o tom já mostrando o quanto estava bravo, enquanto sua mãe corria até Alissa para ver se a filha estava bem. — O que você tem na cabeça? O que você estava fazendo?

A respiração das duas estava descontrolada; e Ellie já chorava enquanto ela e Alissa permaneciam se encarando. Mesmo com a máscara de sou-apenas-uma-vítima, Ellie conseguia enxergar o brilho de vitória nos olhos de Ali.

Ninguém disse nada por uns segundos. Sua mãe, abraçando Alissa, olhava de um modo para Ellie como se ela fosse uma criminosa. Uma louca.

Até que, por fim, a voz controlada e firme de seu pai ecoou pelo quarto:

— Arrume suas coisas, Ellie. Os homens já estão te esperando lá embaixo.

Ellie negou com a cabeça, o rosto já transformando-se em uma careta conforme ela chorava.

— Não… — grunhiu. — Não, por favor….

— Vamos, querida. — Seu pai tentou tocá-la, mas Ellie afastou-o violentamente de perto dela. — Ellie. Por favor. Não torne isso difícil.

Mas Ellie continuou recuando, abraçando o próprio corpo, em meio às lágrimas salgadas que escorriam pela face; parando apenas quando suas costas encontraram a parede.

— E...eu não quero — grunhiu ela novamente, sentindo aquele pânico familiar subir pela cabeça. Aquele tipo de pânico que acontece quando a gente sabe que não tem mais volta. Quando a gente percebe que as coisas realmente ficaram ruins. — Por favor. E-eu não fiz nada… eu não fiz nada…

Mas seus pais não a ouviram. Em vez disso, eles a puxaram para fora da parede, e, por mais que Ellie gritasse, por mais que berrasse e esperneasse e tentasse fugir, eles a obrigaram a ir embora com aqueles homens. A obrigaram a abandonar sua casa, seu lar, e a entrar naquele carro gelado e desprotegido com uma mala pequena.

E Ellie observou, pela última vez, sua casa ficando para trás. Pensou em Hogwarts, na explicação que seus pais teriam que dar para todos. Provavelmente diriam a verdade: que sua filha fora para um hospício. Que ela tinha tendências psicopatas e precisava ser tratada. Que a bondosa e gentil Ellie Frescott idolatrava o antigo Lorde das Trevas secretamente.

Porém, por mais que fossem gêmeas não-idênticas, seus pais sequer notaram que deram, sim, o diagnóstico certo.

Mas deram para a filha errada.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.