Mais tarde, naquele mesmo dia, Percy foi até o quarto de Francis esperando encontra-lo lá.

Ele bateu na porta e ouviu Francis gritar um "entre".

—Ah Perceu. - Francis o olhou, ele estava sentado em sua mesa. - Que bom que veio, o documento está pronto.

—Documento? - Percy perguntou

—Sim. - Francis procurou no meio de seus papéis - Aqui está! - Francis se levantou, indo até Percy - Aqui contém o contrato de casamento. Quando se casar com Luísa, passa a ser sua a propriedade em Córsega, e oficialmente você se torna Marquês de Ajaccio. Sua descendência vai ser sempre da realeza, é claro, estão na linha do trono. - ele sorriu - De forma distante, graças ao meu pai. Mas eles terão direito ao trono. - ele ofereceu o documento para Percy

Percy engoliu em seco e pegou o papel. Estava tudo ali como Francis dissera, após o casamento com Luísa, ele seria chamado Sua Senhoria o Marquês de Ajaccio. Teria uma grande propriedade que poderia lhe enriquecer demais, além dos contatos no palácio, já que teria acesso ilimitado ao local.

—Quer um pena? - Francis perguntou

Percy suspirou.

—Sim.

Francis sorriu, e então procurou uma pena para que ele assinasse.

—Aqui está. - ele lhe entregou

Percy suspirou ao se dirigir até a mesa sólida de Francis para assinar. Suas mãos tremeram quando ele usou o tinteiro, preparando a pena, ele aproximou a mesma na linha onde deveria assinar, sentiu um frio percorrer sua espinha. Ele devia mesmo fazer isso? Deveria mesmo deixar o futuro que conheceu acontecer normalmente e viver sua vida no passado? Devia se casar com Luísa apenas para satisfazer seus prazeres pessoais por poder? Ele nunca poderia estar com quem realmente queria. Nunca poderia estar com Annabeth. Ela não queria, ela não podia. Sem mais delongas, Percy assinou seu nome.

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Véspera do casamento de Sua Alteza Real, o Delfim Francis e Sua Alteza Real, a princesa da Escócia Annabeth de Chase.

Tudo estava uma loucura. O palácio estava agitado demais e tudo girava em torno daquele maldito casamento. Annabeth acordou mau humorada, já que Silvie e Clara a despertaram antes das sete horas. A rainha queria ve-la, Annabeth jogou água gelada na face, esperando que isso a fizesse ter um tom mais jovial.

—É melhor ir, princesa. - Silvie disse - A rainha não vai gostar se você se atrasar. Quer companhia?

—Não. - a loira sorriu - Encontro vocês no café da manhã. Eu me viro com a rainha.

Annabeth despediu -se de suas criadas, abriu a porta luxuosa do Palácio de Versalhes e seguiu para o quarto da rainha.

A área onde estavam localizados os quartos da família real, eram de fato, os mais luxuosos. Annabeth sabia que era privilegiada, era uma princesa afinal. Mas nada se comparava ao luxo apresentado naquele Palácio.

Duas batidas na porta. Uma criada atendeu, Annabeth não sabia seu nome.

—Bonjour, princess. - ela disse

—La reine?

A criada abriu espaço para que Annabeth entrasse.

—Annabeth? - Catarina a olhou - Eu estava mesmo a esperando. Sente -se. - A rainha apontou um banco estofado em vermelho

A criada aproximou uma cadeira, também estofada, em frente ao banco onde a loira se sentara

—Deixe-nos. - ordenou com a mão para a serva a rainha

—O que deseja majestade? - A loira foi direta

—Conversar. - Caterina arqueou a sobrancelha - Sei que você é uma guardiã.

Annabeth congelou.

—Você… sabe… como?

—Oh, pelo amor de Deus! Eu sou Caterina di Medici. Eu sei de tudo.

—Quem te contou?

Caterina sorriu sarcasticamente.

—É fácil descobrir quando se tem dinheiro.

—Se você sabe, fomos traídos. Não de maneira tão severa, mas traídos. Quem lhe passou essa informação deve pagar com a vida, é a lei. - a postura da loira foi séria, seu semblante não lhe permitia um sinal de compaixão

—Não seja tão drástica, duvido que seja tão secreto assim. Além do mais, essa é sua crença, uma crença pagã acredito. Me diga… - ela cruzou as pernas - Como é fingir o Cristianismo e em secreto adorar o paganismo?

—Não é bem assim.

—Então, explique.

Annabeth suspirou, não podia tentar driblar Caterina di Medici.

—Não somos pagãos, como dizeis. Somos adeptos as crenças do mundo. Em particular, creio que a deusa se personifica de diferentes formas em cada religião.

—No Cristianismo, ela é Deus. - contatou a rainha

—Exatamente. No islamismo, Alá. No budismo, Buda e assim vai.

—Interessante perspectiva. Sei que trabalham com o futuro e com suas… - ela sorriu - Particularidades.

—Não entendo pra que me chamou.

Caterina levantou de sua cadeira, parou em frente a uma janela poucos passo dali.

—Conhece Michel Nostradamus?

—Nunca ouvi falar.

—É um apotecário e médico. Mas não só isso… - ela se virou para Annabeth - Ele também é vidente.

—Vidente? - a loira arqueou uma sobrancelha.

—Sim, exatamente. E eu acredito em suas profecias, algumas são futuristicas, mas às vezes ele tem visões sobre essa corte.

—Aonde exatamente quer chegar?

—Ele previu algo, e isso não se concretizou.

—Onde me encaixo?

—Nostradamus previu o casamento de Francis com uma princesa, obviamente. Mas as poucas visões revelavam pra ele que ela já estaria aqui esse ano. — enfatizando a palavra ano, a rainha voltou a sentar-se ao lado da loira

—Como posso acreditar que isso é verdade?

—Pense bem, minha cara. Você é destinada a deusa, nunca deveria quebrar seu pacto de virtude, e agora, coincidentemente, meu marido resolve invadir a Escócia, sem motivos aparentes, sendo extremamente bem sucedido, fazendo-a escolher entre dois principes. Não lhe parece estranho?

Annabeth refletiu, de fato, lhe parecia estranho, mas nunca se sabe como a deusa age, ela contava com os planos divinos da deusa, apesar da mesma não responde-la.

—Não me parece certo, mas também não me é estranho. O que a deusa tem preparado para nós é um enigma que apenas ela pode decifrar. Nossa mente, certamente, não é capaz de entender seus planos.

—Nostradamus previu a morte de Francis. Não muito longe desta data.

—A morte…?

Caterina observou o espanto de Annabeth, vendo que a mesma percebeu que ela falava de uma morte prematura.

—Sim, a morte. E digo mais, previu a queda da dinastia do meu marido.

—Em breve?

—Muito em breve. O que me levou a questionamentos estranhos, como a invasão da Escócia, a obrigação em faze-la quebrar seu pacto, a visão específica de Nostradamus quanto a chegada e acordo da futura rainha, e claro, a queda da dinastia. Henrique pode ser meio louco, mas não é burro, se ele soubesse de algo, obviamente tentaria mudar. E claramente ele não me contaria, visando o mínimo de modificações possíveis.

—Não nos é permitido saber do futuro, poucos tem permissão.

Caterina ajeitou a postura.

—Sei disso. Conheço sua religião. Mas não existe a mínima possibilidade de terem sido… Hã… Corrompidos?

—Eu não creio, majestade. O pacto é sagrado, quem o quebra paga com a vida, por esse motivo nossos soldados e todos os envolvidos são escolhidos a dedo.

—Também estou ciente de seus métodos. Mas, nada é impossível na minha opinião.

—Perdoe o linguajar majestade, mas estás a ficar louca.

Caterina suspirou.

—Annabeth, algo está errado. Eu não consigo descobrir o que é, sondei Henry de todas as formas possíveis e até contatei suas amantes! Ele não fala, mas sei que esconde algo.

—És uma mulher astuta, majestade.

—Astuta e observadora.Volto a declarar, algo está profundamente errado aqui.

Annabeth pensou um pouco, as palavras que tinha acabado de ouvir mexeram consigo.

— Disseste-me que Francis morre. Quando?

—As visões de Nostradamus não são claras. - ela suspirou - Ele ascende ao trono, como Rei, mas não parece ter herdeiros para continuar sua linhagem. No seu leito de morte, Nostradamus viu a visão de Charles recebendo sua bênção.

—Mencionou a queda da dinastia de Valois, o que mais sabe?

—Apenas isso, que ela cai com Francis, e seus irmão provavelmente tentarão impedir, o que é provável que não dará certo. No mais certo dos palpites, suponho que Charles e Henry sejam os útlimos, o que vem depois disso, é completamente incerto até para o vidente.

— Majestade, acredito veementemente que a deusa não falha, tudo deve fazer parte de um plano dela, logo mais saberemos, apenas vivendo entenderemos seus projetos, e um dia, no futuro, compreenderemos.

Caterina riu debochada.

—Te achava esperta, princesa Annabeth. De certa forma, esperava que fosse compreender meus argumentos e juntar os pontos da qual eu juntei. Mas, pelo visto estava errada. - ela se levantou - Lamento muito que não perceba, seu destino já está traçado, como diz. Aproveite então, a vida que acredita que lhe foi preparada. Agora pode ir, nos vemos em breve.

Annabeth levantou, fez uma reverência e saiu.

Obviamente, os pontos destacados por Caterina fizeram a mente de Annabeth borbulhar em perguntas sem respostas. Decidiu refletir um pouco mais antes de se juntar aos outros no café da manhã.

Andou até o jardim, sentou em um banco, ali passou um bom tempo refletindo nas palavras de Caterina. Não percebeu o tempo passar, até que seu estômago fez um barulho rangente, declarando fome. Ela levantou-se do banco, sem noção de quanto tempo tinha passado. Pela agitação dos servos, supôs que o café da manhã havia terminado, e os preparativos finais para o casamento, retomados.

Tentou procurar a cozinha, em busca de algo, já que todos os servos que passavam por si pareciam correr, e ela não queria atrapalha-los.

—Ei! - chamou, um rapaz de aproximadamente 16 anos, cabelo escuro e olhos castanhos se virou para ela, uma sacola de açúcar na mão

—Pois não Lady?

—Leve-me até a cozinha.

O rapaz pareceu intrigado com a pergunta e arqueou a sobrancelha.

—Lady?

—Pulei o café da manhã, queria arranjar algo antes do almoço. Não achei nenhum servo disponível.

O garoto pareceu pensar, assentiu para ela e fez sinal com a cabeça para que ela lhe acompanhasse. Eles seguiram pelos corredores luxuosos do castelo por pelo menos cinco minutos, até entrarem em uma passagem quase escondida. O corredor não tinha paredes luxuosas ou resquícios de ouro, pelo contrário, tinha sim uma estrutura luxuosa, porém mais simples e moderna. Ao seguir pelo corredor vários empregados passavam com olhares estranhos para os dois, Annabeth os ignorou. No final do corredor, estava a cozinha, cheia de servos para lá e para cá com pratos e pratos.

Hugo, pourquoi tu l'as amenée?— um homem de meia idade, parou o garoto e logo em seguida fez uma reverencia para Annabeth

Désolé, monsieur Mathieu. Mais elle a ordonné.

Monsieur, je vous demande de pardonner o jovem rapaz... Mas desejo que vous voyiez un fruit ou quelque chose comme ça.

O senhor de meia idade, levantou as sobrancelhas, surpreso pelo pedido, e pela tentativa do francês da futura rainha.

—Oui, madame. - ele sorriu e virou para trás, onde vários servos olhavam discretamente para a situação - Camill, donne une corbeille de fruits à la princesse.

A moça a quem ele se dirigiu rapidamente parou o que estava fazendo e retirou pela direita da cozinha, onde havia outro corredor, que provavelmente levava a outros compartimentos.

—Attends une minute.— o senhor, de nome Mathieu, pelo que ela entendeu pediu

Alguns minutos depois, a moça na qual ele tinha dado alguma ordem voltou pelo mesmo corredor, com uma cesta nas mãos. Ele timidamente chegou perto de Annabeth e ofereceu a cesta. Annabeth sorriu e olhou a cesta, havia dois cachos de uvas, uma pêra, uma maçã, um mamão, um pêssego e uma banana. A loira pegou o pêssego numa mão e com a outra pegou um cacho de uva.

—Merci. - agradeceu ela, sorrindo e virando-se para sair

—Senhora, aconselho que da próxima vez chame um servo. - Mathieu disse para ela com um aceno

Annabeth assentiu e sorriu, saindo. Ela seguiu pelos corredores pela qual veio, ao adentrar novamente na parte central do palácio, deparou-se com Francis vindo em sua direção.

—Mon Chéri! Estava te procurando! - ele foi ao seu encontro - Você não apareceu para o café da manhã.

—Eu estava perdida em pensamentos, o tempo passou e eu nem percebi, perdão por não avisa-lo que não o acompanharia.

—Óh! Tudo bem, sei que estas deveras ocupada com os assuntos do casamento, afinal, amanhã é o grande dia! - ele sorriu, empolgado, olhou para suas mãos - Você… - olhou para o corredor que levava a cozinha - Estava na cozinha?

—Sim, eu fui buscar algo para degustar antes do almoço. - ela respondeu

—Certo, mas da próxima vez mon chéri, peça para algum servo o fazer. Não é prudente aos olhos da corte que você vá até lá.

Ela sorriu fracamente, pensando na enorme diferença entre França e Escócia.

—Tem razão. - ela sorriu abertamente

—Claro, me acompanha em um passeio? Ou ainda existem assuntos do casamento para completar? - ele ofereceu

—Contanto que possa comer, irei onde quiser, chère.