Capítulo 7: O despertar

- Ed – o fitei. – Posso te chamar assim, né? – perguntei levantando uma sobrancelha.

- Pode sim, Bella – respondeu revirando os olhos.

Sorri pra ele e prossegui.

- Ed, você já falou com a sua mãe sobre a sua situação?

- Não. Eu não quero incomodar meus pais com isso – ele respirou fundo. – Isso é problema MEU – enfatizou a última palavra.

Balancei a cabeça negativamente com uma expressão de descrença estampada no rosto. Ele me fitou curioso, acredito que pensando se tinha falado algo errado.

- Agora ESSE é um problema nosso – apontei pra mim e pra ele, fazendo-o sorrir. – Acho que hoje nós podemos nos distrair e aproveitar nosso primeiro dia sem agressões verbais alheias e caras emburradas, o que você acha?

De início ele pareceu gostar da idéia, mas alguma coisa passou pela sua mente que o fez mudar de opinião. E então resolvi acrescentar.

- Fora do castelo, claro. Estava pensando em ir ao vilarejo comprar algo pra levar pros meus pais, o que você acha?

Ele logo se animou, levantou e me deu um grande abraço que fez com que eu ficasse sem ar – sem ar mesmo.

- Ed… Ar… Eu… Sem…

Ele prontamente me soltou, bagunçou o já desarrumado cabelo e abriu aquele sorriso de ontem à noite. Aí eu vi que podia ter esperanças pra ele.

- Se arruma – mandou. – Depois a gente vai pro meu quarto pra eu tomar um banho e pegar as chaves do meu carro.

Peguei um macacão jeans de bermuda e uma blusa branca pra colocar por baixo. Tomei banho rapidamente e me vesti no banheiro. Escovei meu cabelo e passei uma maquiagem básica, só pra tirar os traços de sono que ainda restavam em meu rosto. Saí correndo e calcei meu all star rosa – quando viu o tênis, Edward ficou rindo e me chamando de criança. Nem liguei.

- Como estou? – dei uma volta no lugar.

- Uma menininha de 10 anos com uma bunda avantajada – respondeu pensativo.

Joguei uma agenda de telefone na cabeça dele.

- Ei, desculpe – disse passando a mão aonde o objeto bateu. – Eu ainda to quebrado de ontem, não precisa me machucar mais.

Exclamei um “oh” dramático e fui apertar a bochecha dele.

- Desculpe queridinho, mas você que me irritou – na última palavra apertei mais forte.

Ele cerrou os olhos.

- Vejo que é hora de ir pro seu quarto – dei ré em direção a porta.

Ele levantou e correu atrás de mim. Rapidamente sai do meu quarto e fui em direção ao corredor dele. Lá eu quase caí – se não fosse pelo próprio me pegando pela cintura.

- Bella, dá pra tomar mais cuidado pelo menos? – Edward perguntou brincalhão.

Dei língua, como uma criança – ou Alice – faz. Ele riu e me pôs de pé. Foi aí que percebi que tínhamos platéia. Victoria e Jessica estavam em frente a uma porta – que julguei ser de Edward – vestidas de enfermeira. Não aguentei e explodi em mais risadas. Edward se apoiou no meu ombro e se juntou as gargalhadas.

- Eu cuidei dele a noite toda meninas, estão dispensadas – disse quando me recompus.

Elas ficaram olhando de mim pra ele – que já havia ficado tenso. – Pareciam confusas e depois pude ver a famosa raiva que elas faziam questão de demonstrar sempre que me viam. Então passaram marchando pela gente sem dizer nada. Imediatamente o senti relaxar e em seguida me virou de frente pra si.

- Obrigado por isso – disse sincero.

Dirigiu-se até a porta do quarto e a abriu. O aposento era umas três vezes maior que o meu. A roupa de cama e os móveis pareciam bem mais sofisticados, assim como as cortinas. Ele tinha um aparelho de som enorme, uma TV maior que a minha, um vídeo game e um laptop.

- Pode ficar a vontade, em dez minutos estou pronto – declarou indo pro banheiro.

Enquanto ele foi se arrumar, primeiramente fui até sua janela e me deparei com uma vista maravilhosa. Dava pro penhasco que ficava atrás do castelo, o horizonte de oceano era hipnotizante. Fiquei em transe olhando o céu azul se fundindo com o mar.

- Gostou da vista? – Ouvi a voz dele atrás de mim.

Eu fiquei ali, boba com a paisagem e nem explorei o quarto. Mas isso não importava, eu queria guardar aquela imagem na memória.

- É maravilhosa – sussurrei.

- Acho melhor a gente ir logo, já esta na hora do almoço – argumentou me tirando de alfa. – E sempre que quiser, você pode vir aqui pra ver isso – apontou pra janela.

Concordei com um enorme sorriso e fui em direção a porta. Edward pegou alguma coisa em cima de um móvel, mas antes que eu saísse ele me chamou.

- Diga – falei despreocupada.

- Er – ele hesitou, parecia ponderar as palavras. – Só vamos nós dois, né? Digo, você não vai chamar sua trupe toda, vai? – Perguntou olhando pro lado.

- Fica tranquilo Ed, hoje meu dia é seu – falei ganhando um sorriso em retribuição.

Eu sabia que ele tinha problema com as loucas, mas agora vi que isso influenciou na sua convivência com as outras pessoas do castelo. Edward era desconfiado e sempre se projetava na defensiva quando se juntava a algum assunto de grupo.

Contei pras meninas o que iria fazer hoje, sem dar muitos detalhes. Elas ficaram bobas, mas antes que pudessem me encher de perguntas, avistei Edward já na porta do castelo e sai correndo em sua direção.

- Então P. Ed, qual é o lugar ideal pra eu comprar presentes? – Perguntei já a caminho do vilarejo.

- P. Ed? – perguntou confuso.

- Príncipe Ed, igual nas crônicas de Nárnia – falei com um sorriso enorme. – Ta que o do livro é Edmund, mas o seu nome é mais legal. E eu soube que já teve um principe Edward nesse castelo. Ou algo parecido.

Ele riu alto e despreocupado, fomos assim o caminho todo; rindo e conversando. Há dois dias eu nunca poderia imaginar esse Edward que estava comigo agora.

Paramos no estacionamento da boate – que estava fechada, - e fomos caminhar. Ele me levou pra conhecer uma lanchonete estilo anos cinquenta e um parque florestal que tinha ali perto. Depois fomos a uma lojinha muito simpática e convidativa. Eu estava tão maravilhada com os artesanatos que tinham ali, que acabei deixando um cair – minha sorte é que esse era de plástico.

Quando abaixei pra pegar ouço passos atrás de mim.

- Que gostosa! – exclamou uma voz infantil.

Virei incrédula, só dando tempo de ver o menino sair correndo da loja. Edward, que estava do meu lado, ria descontroladamente.

Uns minutos depois...

- E aí gostosa, já sabe o que vai levar?

Bufei e fui ao caixa. Pra minha mãe levaria uma miniatura de uma veste real, que era de um dos vestidos da rainha expostos no castelo – ela ia amar. E pra Charlie eu havia comprado um pequeno quadro – feito pelo próprio vendedor – com a imagem do castelo em um dia de sol.

Satisfeita, sai da loja.

Ficamos dando voltas pelo vilarejo, e agora meu novo apelido pra ele era gostosa. Eu até que gostava. Ter aquele pedaço de mau caminho me chamando assim por aí, não era uma má idéia.

Começou a escurecer e Edward achou melhor que nós voltarmos pro castelo. Faltava meia hora pra janta. No caminho eu fiquei intrigada. Será que ia ser assim até o fim do mês? Eu quero muito ajudá-lo. Mas eu quero aproveitar meus amigos também.

- Ed – chamei. – O que você acha da gente passar um tempo com a trupe? – Usei o apelido que ele havia dado mais cedo.

O vi apertando o volante e trincando os dentes. Eu tinha que fazer alguma coisa.

- Ah vamos. Seu irmão ta lá e as minhas amigas são comprometidas, elas não vão te perseguir por aí – falei com um tom de brincadeira.

Ele se mantinha sério e concentrado na estrada.

Parece que eu não vou ganhar nenhum tipo de resposta. Bufei já desistindo. Olhei pra frente e observei a estrada passar.

- Está bem – ele disse baixo. – Mas tenho uma condição.

Logo me animei e sorri pra ele.

- Fala o que você quer P. Ed - pedi.

- Outra noite com você “cuidando de mim” – eu pude ver sua boca curvada em um sorriso.

Claro que eu aceito. Cuidaria todos os dias se ele quisesse. Dormir com aquele corpo inocentemente agarrado ao meu não era uma má idéia. Mas eu não podia deixar isso transparecer. Do jeito que ele era, é capaz de me chamar de louca e sair correndo pra longe de mim.

Fiz cara de quem estava pensando, até que me voltei pros seus olhos e sorri.

- OK, eu aceito – respondi.

- Mas dessa vez vamos pro meu quarto, lá é maior e você amou a vista – avisou já estacionando no castelo.

Quando passamos pela porta logo avistei Alice e Jasper sentados em um sofá conversando.

- Bellinha – a diabinha gritou correndo em minha direção e pulando nos meus braços.

- Oi fadinha – depositei um beijo em sua bochecha e a soltei.

- Olá Edward – ela cumprimentou dando um abraço rápido nele.

Ele parecia desconfortável com aquilo, mas não reclamou. O puxei pelo braço levando em direção ao Jazz.

- Isso foi minha irmã – falei enquanto nos sentávamos. – Ela é meio maluquinha, não liga.

Alice me deu língua e cruzou os bracinhos, instantaneamente Edward riu fazendo com que eu o olhasse boba. Deixei ele se divertindo e olhei pro casal a minha frente.

- E aí Jazz, ela anda dando muito trabalho? – Perguntei recostando no sofá.

- Sim, mas eu sei como puní-la – disse malicioso, piscando pra minha irmã.

- EW – gritei tampando o ouvido. – Ela é minha irmãzinha sabia?

Isso fez meu novo amigo começar a gargalhar ao meu lado, mas logo sua felicidade acabou com Jessica vindo em nossa direção. Inconscientemente ele pegou minha mão e apertou. Ao verem que a expressão de Edward mudou, Allie e Jazz viraram pra megera também.

- Oi pra vocês – disse antipática. – Ed, você não quer se juntar a nós? – Apontou pra uma mesa onde estavam Lauren e Victoria.

- Não meu amor, ele não quer – respondi sarcástica.

- Para com isso – retrucou irritada. – Ultimamente toda vez que eu falo com ele é você quem responde.

- Talvez seja porque ele é educado demais pra dar um fora em você – disse enlaçando meus dedos no dele.

Imediatamente uma corrente elétrica passou por mim, me fazendo tremer de leve. Ela obviamente viu, já que quando olhou nossas mãos ficou com o rosto vermelho e saiu pisando forte. Eu comecei a rir da atitude da maluca e ele também. Quando olhei pra Alice, ela e Jazz fitavam nossas mãos grudadas. Imediatamente as soltei e tentei disfarçar.

- Que falta de educação a minha – disse fingindo que nada tinha acontecido. – Ed, esses são Alice, minha caçula e Jasper, o futuro namorado dela.

Os dois ficaram vermelhos, mas ninguém me desmentiu.

- Pessoal, esse é o irmão mais novo do Emm. Edward – expliquei.

- A gente sabe quem ele é, Bella – disse Jasper revirando os olhos.

- Ei, eu só estava querendo ser educada – falei cruzando os braços.

No mesmo momento Esme chamou todo mundo pra jantar, e assim fomos. Rose e Emmett haviam sumido, então nós quatro ficamos conversando durante a refeição. No inicio Edward só escutava, mas quando chegou a sobremesa ele estava em um debate árduo com Jasper sobre futebol.

Resolvemos estender a conversa e fomos pro quarto de Jasper, no corredor achamos Emmett e Rose.

- E aí, meu povo bom – disse Emm todo feliz. – Ed? – indagou surpreso coçando a cabeça.

- E aí grandão – cumprimentou sorrindo pro irmão, que prontamente deu um abraço nele.

- Vejo que a Bellinha te fisgou – deu uma piscada pra mim.

- Não é nada disso seu pervertido, somos amigos – falei, ganhando logo em seguida um abraço de urso dele.

Ficamos os seis vendo TV. Às dez horas Edward já falava animadamente com todo mundo, acabei ficando orgulhosa do meu trabalho feito bem antes do esperado. Pelo menos agora ele tinha com quem conversar além de mim.

- Gostosa, to com sono. Vamos dormir? – pediu bocejando.

- Vamos – respondi já me levantando.

Quando fui me despedir da trupe, todos olhavam pra gente com um sorriso malicioso. Ignoramos e saímos de lá só largando um “boa noite” da porta.