#FLASHBACK

-(...) não quero que morras porque aconteceu alguma coisa que te deixou infeliz. Ainda tens muito para viver ao lado das pessoas que tu amas. Falando em pessoas que amas, por que é que ninguém te está a procurar? O que aconteceu á tua família? Se te tentaste suicidar porque estás sozinha ou assim, quero que saibas que eu posso dar-te uma vida feliz, ou perto isso... Posso ajudar-te no que precisares... Não quero que te tentes suicidar outra vez e se tentares, só espero estar lá para impedir que morras.

#FLASHBACK

Eu ouço-o todos os dias. Não sei quem é... Tem uma voz angelical e doce... Parece um anjinho.

-Carrie... Acorda, por favor...

É ele! O anjo! O meu anjinho da guarda...

Espera... Ele chamou-me Carrie? Se calhar ele não estava a falar comigo, mas...

Carrie é o nome da minha mãe e a minha mãe já morreu... Eu morri também?

Será ele um anjo que está a chamar a minha mãe para ela me vir ver? Estarei no céu?

Não, provavelmente não.

Afinal... Que puta é que vai para o céu? Mas... Eu não era prostituta porque queria. Deus deve saber disso, certo?

Eu sempre fui fiel a Deus e rezava todas as noites pedindo para me dar a oportunidade de ser feliz com alguém, um dia.

Sempre ouvi dizer que o céu era o sítio para onde as pessoas boas vão quando morrem. Dizem também que no céu não há dor, não há tristeza, não há doenças.

Agora está tudo escuro.

Tenho medo do escuro. Sempre tive.

No escuro pode-se morrer ou matar, brincar ou chorar.

Onde é que estou?

Não quero arder no inferno por uma coisa que fui obrigada a fazer. Não tive alternativa. Nem sempre há alternativa.

Estou no céu? Estou no inferno?

Preciso de saber...

Dói-me tudo.

Tentei mexer-me, mas não consegui.

É assim a morte? Ficamos imóveis e com dores?

E depois há aquele barulho irritante que também não tenho parado de ouvir!

PI... PI... PI... PI... PI...

Esteja onde estiver... Aqui é tudo tão escuro.

"Por que será que está tudo escuro Lilian? Abre os olhos burra!"

Pois... Abrir os olhos.

Fui abrindo os olhos devagarinho, mas rapidamente os fechei novamente.

Tanta claridade!!!

Isso quer dizer que... estou no céu?

Mas... Como vim aqui parar? Não me lembro de nada...

Pensando bem, não me lembro de quase nada...

Só me lembro de...

#FLASHBACK

-Filha, eu vou estar sempre contigo, vou ver tudo o que fazes e vou tentar ajudar-te sempre… Eu prometo. -Por favor mãe…- solucei. -Gosto muito de ti meu amor, nunca te esqueças disso- a minha mãe sorriu.

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Um soco no estômago. - Tira. A. Roupa!

Fiquei quieta. O meu pai agarrou-me pelo cabelo e puxou-o até ao chão. – Não vais fazer o que eu mandei? - largou o meu cabelo.

Tirei o casaco. Tirei a blusa. Desapertei o cinto e tirei as calças. Estava só de roupa interior.

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- Morre.

“Não aguento mais…”

Saltei.

Um arrepio percorreu o meu corpo e as lágrimas continuaram a correr pelo meu rosto.

É agora. Finalmente, vou morrer.

Só espero ser feliz no sítio para onde for…

Bati com a cabeça e a seguir, tudo ficou preto.

#FLASHBACK

Estes flashes passaram todos muito rapidamente na minha cabeça e aos poucos fui-me lembrando de tudo...

A minha mãe morreu

O meu pai violou-me...

Eu fugi de casa...

Eu saltei de uma ponte e...

Morri.

Finalmente, vou ser feliz com a minha mãe num mundo completamente novo.

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-Lilian... Lilian?

Quem me estava a chamar?

-Lilly...

Esta voz... Esta voz não me é estranha.

-Lilian. Filha...

Mãe?

-Mãe... - disse baixinho, pois não tinha forças para falar mais alto - Mãe, és tu?

-Sim filha, sou eu...

-Mãe...

-Abre os olhos Lilly, ainda tens muito para viver... Não podes vir ter comigo agora. Adeus filha. Eu amo-te muito... muito mesmo.

-Não mãe...

-Abre os olhos e vive meu amor. Amo-te.

-Mãe não... Mãe... Não mãe. Não vás! - senti lágrimas a descerem pelo meu rosto e alguém a apertar a minha mão.

Abri os olhos.

Deparei-me com uma figura humana... Era um rapaz. Quando os meus olhos se habituaram á luz do local comecei a olhar á minha volta... Onde está a minha mãe?

-Mãe?

Quando olhei para o meu lado esquerdo deparei-me com aquele rapaz outra vez, mas desta vez consegui vê-lo bem...Ele tinha os olhos castanhos e cabelo loiro. Ele era lindo.

Que olhos perfeitos...

Fiquei a olhá-lo diretamente nos olhos e pela primeiríssima vez na minha vida... Perdi-me nos olhos de alguém.

É uma sensação fantástica... Comecei a sentir algo no estômago, deve ser a isto que chamam borboletas...

Não sei quanto tempo fiquei a olhar para os seus belos olhos, mas quando senti ele a largar a minha mão, olhei para baixo... Não me tinha apercebido que as nossas mãos ainda estavam juntas.

Ele levantou o meu rosto pelo queixo e limpou-me as lágrimas, que eu não tinha reparado que ainda estavam a correr.

Os olhos dele fizeram-me perder a total noção das coisas que estavam a acontecer á minha volta.

Ele sorriu para mim e limpou-me as lágrimas com o polegar.

-As princesas não choram.

Aquela voz...

É ele o meu anjinho da guarda?