Us and them
And after all we're only ordinary men

Us And Them - Pink Floyd

Passei a noite no quarto de Zaira, queria garantir que se ela tivesse outro pesadelo eu não demoraria a acorda-la. Quando os raios de sol começaram a invadir o quarto, fui para meu próprio quarto me preparar para o dia.

—Bom dia Zelda, como ela está? –Hilda estava penteando os cabelos na penteadeira e me perguntou assim que eu entrei.

—Ela dormiu como uma rocha. –Respondi.

—Você acha que ela teve uma premonição? –Minha irmã mais nova me perguntou cautelosa.

—Não seria a primeira vez que ela teve uma. –Refleti em voz alta, lembrando-me de quando ela previu a morte de nossa mãe.

Não mencionamos mais nada.

Sozinha no quarto já pronta para o dia eu me encarava no espelho. Fechei os olhos e murmurei um feitiço. Quando abri os olhos eu estava em um salão amplo, um tipo de festa estava acontecendo ali, caminhei até avistar a figura dele afastada em um canto entre duas loiras.

—Uma boate, sério?

Ele riu e disse:

—Saiam. –E assim as duas loiras saíram.

—Projeção Astral? O que meu pequeno demônio ruivo aprontou? –Ele me perguntou curioso.

—Ela está tendo premonições.

—Isso não é possível, ela está sem poderes. Ela é apenas uma mortal comum.

Eu o olhei desconfiada:

—Até mortais conseguem ver além do mundo humano, o que dizer de uma mestiça?

Ele bebeu um gole de sua bebida:

—E o que ela viu?

—Nada especifico como sempre, mas achamos ser um demônio.

Ele deu de ombros desinteressado:

—Greendale não é um lugar comum, é natural que isso ocorra.

—Mas ela não se sente bem, ela tem febre.

—Então diga a ela que se fizer o que eu disse tudo passará. –Eu o olhei fixamente e bufei, de nada estava adiantando essa visita. –O que mais eu posso fazer Zelda?

—Diga-me o que está chegando em Greendale!

Ele riu secamente:

—Eu não tenho o controle de todos os demônios amor, isso é algo que vocês terão que descobrir sozinhas e se possível não se envolvam no que não é da conta de vocês.

Eu o encarei mais uma vez e retornei ao meu quarto, desci para o café da manhã e Hilda estava lá, perguntei por Ambrose e ela disse que ele não havia passado a noite em casa, só espero que ele não se meta em encrenca.

Não demorou e Sabrina chegou, minha jovem sobrinha me perguntou preocupada:

—Onde está Zaira? Ela está bem?

—Foi um pesadelo, mas ela não irá a aula hoje a febre continua.

Sabrina ainda me encarava como se desconfiasse que eu estivesse mentindo para ela:

—O que ela falou é verdade? Ela consegue prever o futuro?

—Foi um pesadelo Sabrina, ela estava delirando de febre. –Contornei.

Ela assentiu e por fim concordou em ir para o colégio sozinha.

Hilda foi para o trabalho e eu fui verificar Zaira. Entrei no seu antigo quarto, suspirei ao encontra-lo exatamente como eu o decorei há anos antes. A encontrei sentada encarando o espelho da penteadeira.

—Talvez não seja nada fora do comum.

Me olhando pelo reflexo do espelho ela disse calmamente:

—Eu duvido muito, mas espero que você esteja certa.

Ali encarando ela a luz do dia, percebi o quanto ela havia crescido e até mesmo mudado. Ela estava mais bonita do que nunca, seus olhos azuis radiantes foram substituídos por um olhar frio, mas seu cabelo ruivo, continuava tão vermelho quanto fogo; aquele bebê que segurei há anos se transformou em uma linda jovem... Dei um último suspiro antes de deixa-la só.

Fiquei na cozinha lendo o jornal até que ela finalmente apareceu, ela preparou algo... café? Estávamos nós duas quando recebi um comunicado da Igreja da Noite.

—O que aconteceu? –Zaira notou minha preocupação ao ler.

—Nada de bom, a Igreja da Noite convoca todas as bruxas da cidade pertencentes ao Coven ou não.

Ela não disse nada e eu imediatamente fui chamar Hilda e pedir a ela que informasse a Sabrina, enquanto tentava sem sucesso entrar em contato com Ambrose.

Sabrina nos encontrou de fora da Igreja e assim entramos nós, as quatro Spellmans. Havia muitas bruxas e bruxos ali e de certa forma alguns apavorados, mas não o suficiente até que Ambrose acompanhado de um rapaz chegou dando o recado. Um tumulto ocorreu quando descobrimos que era as trezes bruxas de Greendale buscando vingança e invocando o cavaleiro vermelho, na menção dele vi Zaira estremecer. O padre Blackwood decidiu por nos juntar todos na academia e lançar feitiços de proteção.

Em casa discutíamos a situação, Sabrina logicamente queria saber a história por trás das treze de Greendale e eu contei. No fim a atitude de Blackwood a deixou irritada e infelizmente eu fui obrigada a concordar com ela, não podíamos apenas deixar os mortais sofrerem por algo que é culpa das bruxas.

—Você está louca!? Nós iremos todos morrer! –Zaira levantou imediatamente protestando.

—Usaremos nossos feitiços de proteção mais antigos....

—Para proteger a cidade toda? Isso é praticamente impossível para apenas vocês quatro! E as bruxas já estão aqui. –Zaira estava se pondo realmente contra a tudo isso.

—Juntamos todos no colégio, lá já foi um abrigo para grandes tempestades. –Hilda disse, e recebeu um olhar fulminante da ruiva mais jovem.

—Vocês estão loucas? Sabrina nem mesmo é uma bruxa completa. –Zaira estava começando a se alterar.

—Então nos ajude Zaira. –Eu disse, ela já estava começando a me tirar do sério.

—Você sabe que eu não posso. –Ela disse baixo, mas ameaçadoramente.

—Não pode ou não quer? É apenas uma marca.... -Eu disse essa ultima parte mais baixo para apenas ela ouvir.

Ela me fuzilou e então riu secamente:

—Eu sabia! Você está do lado dele! Eu sabia que não podia confiar... –Ela disse exaltada e simplesmente saiu batendo a porta.

—Alguém deveria ir atrás da ruivinha –Ambrose disse.

—Não temos tempo, vamos provocar uma tempestade e reunir todos no colégio. -Apontei o obvio.

Hilda me olhou insatisfeita, mas no fim nós quatro fizemos o feitiço para provocar a tempestade.

O plano estava correndo perfeitamente bem, estávamos já nós quatro no colégio, quando Hilda me chamou a atenção:

—Zaira não está aqui.

—Ela virá se sabe o que é bom para ela. -Eu disse firme, e torcendo para que Zaira não seja tão teimosa.

Hilda me olhou reprovadora:

—Só não venha se arrepender depois Zelda.

Ambrose nos interrompeu dizendo que era hora de começar.

Estávamos nós quatro de mãos dadas lançando os feitiços de proteção, quando de repente alguém me invoca e eu juro que ser for Damon....

—Faustus? –Digo assustada ao ver o Padre Blackwood agarrado aos meus braços.

—A senhora Blackwood está dando a luz irmã Zelda.

Eu engulo em seco, é hora de cumprir minha promessa.... Mas que momento para essas crianças chegaram. Respiro fundo e sigo Faustus, só espero que os outros consigam manter as proteções sem mim e que Zaira fique bem.