The Only Exception

A força da união


Eu tinha que vencer; não havia outra opção. Estava cansado de abaixar a cabeça e aceitar, obedecer ao que Akito determinasse sem reclamar, sem questionar as decisões dele. Por que temos que nos submeter às vontades dele? Não, isso definitivamente está errado. Não sabia se os outros também pensavam assim, mas eu ia lutar. E para vencer.

Claro que isso significaria engolir meu orgulho, e não seria nada fácil. Naquela manhã, resolvi começar tentando convencer aos que estavam mais próximos:

– Shigure... Yuki... – eu ergui a cabeça para olhá-los, enquanto tomávamos o café-da-manhã. – Tohru. – todos olharam para mim, curiosos. Foi extremamente difícil pronunciar aquelas palavras: – Preciso de ajuda.

– Ajuda? – Yuki arregalou os olhos para mim. Será que soava tão estranho assim? – Para quê?

Todos continuaram me olhando, esperando minha resposta. Precisei de um tempo para pensar. Como eu iria convencê-los? Eles esperaram pacientemente até que eu finalmente tivesse organizado meus pensamentos. Comecei:

– Estou cansado de obedecer ao Akito. Cansado de ele ficar mandando em nós. Tudo bem que ele é o líder, mas isso não está certo.

– O que não está certo? – Shigure tentava me entender. E eu tentava me entender.

– Não está certo que ele nos impeça de sermos felizes, só porque ele não é feliz. – falei com convicção, embora aquele discurso meloso fosse extremamente patético e não combinasse nem um pouco comigo. Mas situações de desespero exigem medidas desesperadas.

– Aonde você quer chegar? – foi o ratinho idiota quem questionou.

– Quero lutar. Forçar Akito a aceitar Rika. – até para mim aquilo soava impossível, então fico imaginando o que os outros estavam pensando de mim naquele momento.

– O quê? – Yuki se surpreendeu. – Ficou maluco? Não pode! Como você espera conseguir isso?!

– É por isso mesmo que quero a ajuda de vocês, seu rato burro! – sem perceber, comecei a gritar. Quase instantaneamente me arrependi: aquela certamente não era a melhor maneira de conseguir o apoio deles. Respirei fundo uma vez, tentando me acalmar. – Yuki. – me corrigi. – Eu acho que, se conseguir reunir bastantes membros da família para me acompanhar, isso pode fazer com que Akito pare para ouvir.

Yuki e Shigure me olhavam daquela mesma forma que me olhavam quando eu não quis brigar com o Yuki, quando estava feliz demais por ter conhecido Rika para me importar com qualquer outra coisa: como se eu estivesse ficando maluco. Tohru me olhava com uma expressão... Eu não sei bem que emoção era aquela (pena ou piedade talvez), mas ela parecia prestes a chorar.

– E depois? – Yuki perguntou. – Se você conseguir que ele ouça, o que irá dizer para convencê-lo?

Eu não tinha a resposta para aquela pergunta. Não que eu não tenha pensado nisso: pensei muito, contudo ainda não via como poderia convencer Akito. Mas, também, antes de qualquer outra coisa eu tinha que convencer outras pessoas... Tentei responder a pergunta:

– Ainda não sei bem, mas... – olhei para Tohru. – Se conseguimos que ele aceitasse Tohru, então talvez se Rika souber usar as palavras certas assim como ela... – eu sabia que as chances eram mínimas. Tohru tem um dom para dizer sempre a coisa certa, dizer sempre o que as pessoas querem ouvir, realmente impressionante; e embora Rika fosse muito, muito kawaii, eu não tinha muita certeza se ela poderia conseguir convencer Akito da mesma forma que Tohru.

Todos ficaram em silêncio, pensando. Ninguém falou nada por um bom tempo, até que a garota falou, ou melhor, declarou:

– Kyo-kun, eu vou ajudar você! – ela ainda me olhava com aquela expressão terna e indecifrável. – Conte comigo! – e sorriu.

Tudo o que eu pude responder foi:

– Obrigado, Tohru... – estava surpreso. Como ela tomara aquela decisão assim, tão de repente?

– Vocês também vão ajudar, não é? – ela agora se dirigia aos outros dois. – Vão apoiar Kyo-kun também, não é?

– Honda-san, eu... – Yuki agora falava, quase suplicante. – Desculpe-me, mas eu não vou me juntar a uma causa perdida.

– Causa perdida? – o tom de indignação na voz da garota fez com que percebêssemos que ela entendera bem o que o rat... O que Yuki queria dizer.

– Tohru-kun, eu tenho que concordar com o Yuki... É impossível lutar contra o Akito, por mais que a gente queira. Você sabe que nada me agrada mais do que ajudar os outros, especialmente os amados membros de minha família, mas desta vez... – Shigure estava deixando a seriedade de lado e “dramatizando” de novo. Irritante.

– Shigure-san! Eu não posso acreditar que vocês dois estejam falando isso!

– Honda-san, por favor, tente entender...

– Só será uma causa perdida se vocês não lutarem! Se ajudarem uns aos outros tenho certeza de que conseguirão! Afinal, a união faz a força! – Tohru tentava convencê-los. A expressão obstinada no rosto dela quase podia ser descrita como cômica. Mas eu sabia que ela não estava brincando e me sentia grato por isso.

Resolvi entrar na conversa, já que Tohru estava me ajudando. A esperança crescia dentro de mim: talvez fosse possível convencer aqueles dois.

– Sim, ela tem razão! Se vocês me ajudarem... Se vocês nos ajudarem – eu me corrigi, e olhei para Tohru, lembrando que não estava mais sozinho nessa. – sei que conseguiremos!

– Por favor, Yuki-kun! – Tohru pediu a Yuki.

–Ai... – ele suspirou, fechando os olhos e apoiando o rosto sobre uma das mãos. – Eu só tenho que comparecer, certo?

– Certo. – era tudo o que eu esperava.

– Então tudo bem. Podem contar comigo. – ele sorriu levemente para Tohru.

– Obrigada! – ela retribui o sorriso. Depois, olhou para o Shigure.

– Eu? – o “adulto responsável” perguntou, apontando para si mesmo. – Bom... Se for só ir lá...

– Shigure-san! Obrigada! – ela sorriu para ele também.

– Imagine, Tohru-kun! Você sabe que pode sempre contar comigo para tudo, eu estarei sempre aqui para te ajudar e te proteger da crueldade deste mundo frio e insensível! Precisando de ajuda, conte comigo! – ele já estava dramatizando de novo. Enervante!

– Mas não é a ela que você está ajudando... – Yuki me lançou aquele olhar que normalmente as mães usam com criancinhas de jardim-de-infância, aquele olhar de “como-é-que-se-diz?”.

Eu odiava aquilo: contrariava a minha natureza ser gentil, contar com ele ou agradecer ao ratinho nojento! Acho que foi a coisa mais difícil que já fiz na minha vida. Mas tive que engolir meu orgulho:

– Obrigado. – eu murmurei, virando a cara para não ter que olhar para ninguém.

Por causa de toda aquela conversa, acabamos chegando atrasados no colégio de novo. Rika estava preocupada comigo; eu estava conseguindo deixar todos estressados – assim como eu estava – diante da perspectiva do que poderia acontecer naquele domingo.

Não é extremamente irritante e contraditória a maneira como o tempo parece passar devagar quando queremos que passe rápido, e rápido quando queremos que passe devagar? Quando dei por mim, o último sinal já tinha tocado e todos estavam arrumando seus materiais para irem para casa. Justo hoje que eu queria mais tempo para pensar! Argh! Que raiva disso!

Tohru convidara Rika-chan para ir à nossa casa novamente, para que ela, Yuki e Shigure pudessem lhe falar tudo o que soubessem a respeito de Akito, numa tentativa de ajudá-la a pensar no que iria falar para ele no domingo. Ela estava visivelmente nervosa, mas também não era para menos: tudo dependia mais do que ela dissesse do que de qualquer outra coisa. Ora, qualquer um no lugar dela estaria à beira de um ataque de nervos! Ninguém podia culpá-la! Eu adoraria ter ido com ela para ajudar, porém também tinha minha missão, que não era mais fácil do que a dela: convencer sozinho o maior número de membros da família o possível até domingo! Cá entre nós, não seria a tarefa mais fácil do mundo. Estava justamente pensando sobre isso quando, desanimado, despedi-me de Rika e dos outros e os vi descerem do trem, estações antes da minha.

Somente quando me vi em frente à Casa Principal é que fui pensar: com quem eu deveria falar primeiro? Obviamente, a pessoa mais fácil de persuadir... Ou talvez a mais difícil – para dar a ela mais tempo para pensar e mudar de ideia? Dúvida cruel... Fiquei uns bons dez minutos pensando a respeito e, não querendo perder mais tempo, resolvi simplesmente ir até a primeira pessoa cujo nome me viesse na cabeça. Hatori.

A conversa que tive com Yuki, Shigure e Tohru se repetiu várias vezes enquanto, durante o resto do dia, fui passando de casa em casa, defendendo minha causa. No fim, eu estava esgotado, mas satisfeito: mesmo que algumas pessoas se mostrassem teimosamente impassíveis, consegui convencer outras, e até aquelas que agiam com indiferença e frieza pareciam intrigadas – o que me deu a esperança de que talvez mudassem de ideia.

Os dias foram se passando e todo o tempo em que não estava na escola eu me esforçava para trazer mais pessoas para o meu lado. Aquela missão se mostrava cada dia mais simples (era até fácil, se você soubesse como falar e se conhecesse a história de cada um, soubesse o “ponto fraco” de cada pessoa), ainda mais quando Tohru intervinha para me ajudar. Às vezes, as pessoas conversavam entre si e conseguiam convencer umas às outras, sem que eu precisasse falar mais nada. Eu estava cada vez mais esperançoso; meu único medo era de que alguém pudesse contar a Akito o que estávamos planejando e pôr tudo a perder. Mas felizmente ninguém fez isso.

Quando o fatídico domingo chegou, de repente, sem que eu soubesse como, antes que eu pudesse acreditar, quase todos estavam ao nosso lado. Hatori estava ajudando a organizar tudo, ajudando-nos a planejar o que iríamos fazer (o que era bom, porque eu não tinha nenhum senso de organização). Ele nos contou; éramos, ao todo, onze pessoas: eu, Rika, Tohru, Shigure, Yuki, Hatori, Kisa (o tigre da lenda), Hiro (o carneiro), Momiji, Hatsuharu (o boi) e Ayame (irmão de Yuki, que é a serpente da lenda). Ainda achava difícil acreditar que tivesse conseguido trazer tanta gente para o meu lado; mas estava feliz com isso.

Nós fomos chamando as pessoas de três em três – para que Akito não ficasse desconfiado – até a casa do Shigure para conversarmos e explicarmos a situação. Por fim, resolvemos que iríamos todos juntos à casa do Akito por volta das 19h. Passamos o resto do dia fingindo que tudo estava normal, mas a tensão era grande. Tentando esquecer um pouco os problemas, eu convidei Rika para dar uma volta comigo e nós fomos tomar sorvete. Nenhum de nós falou sobre o que poderia acontecer se falhássemos em convencer o chefe de minha família naquela noite, mas o passeio teve todo aquele clima de “última vez”. De modo geral, não foi um dia “calmo e feliz”.

A noite chegou rápido demais e de repente eu me vi em frente à casa do Akito, segurando firmemente a mão de Rika. Hatori entraria primeiro, dizendo que havia “algumas” pessoas querendo falar com o líder da família e depois o resto de nós entraria e eu começaria a falar... Vocês podem apenas imaginar o quão nervoso eu estava! Quando Hatori nos chamou, eu apertei uma vez a mão da Rika então a soltei. Ela passou para trás do grupo, e eu fui para frente. Entramos.

– Mas o quê...?! – Akito soltou uma exclamação, ao ver a grande quantidade de pessoas ali. – Hatori, o que significa isso?

– Essas pessoas querem falar com você, Akito. – Hatori respondeu calmamente.

O chefe da família amarrou a cara e correu os olhos pela multidão, avaliando quem estava ali, desconfiado. Nunca antes tantas pessoas foram falar com ele de uma só vez. Deve ter concluído – pela minha posição, logo à frente – que eu era o líder da “rebelião”, pois foi a mim que se dirigiu quando falou:

– Pois não? O que desejam? – ele me encarou com um olhar ameaçador.

Eu respirei fundo, tentando em vão me acalmar. Agora a batalha começava para valer.