The Oc: Pecados no Paraíso

Capítulo 4:Happy Birthday


Julie encontrou o marido Caleb e o filho dele sentados à mesa, cada um com o rosto escondido atrás das páginas do New York Times.

- Bom dia, querido. – Caleb respondeu praticamente sem abrir a boca e sem se desviar da leitura; Julie se serviu de uma torrada e leite. – O fotógrafo da Newport Living estará aqui às quatro horas da tarde. Caleb? – Julie arrebatou o jornal das mãos do marido. – Ouviu o que eu disse?

- Claro que ouvi, às quatro horas. – Julie olhou interrogativamente pra Cal. – Você ouviu, não é, Cal?

- Aham, e você sabe que eu não vou posar pra nenhuma revista babaca. – Cal pegou a caneca de café e continuou lendo.

- Bem, eu preciso chegar mais cedo no trabalho e... – Julie apontou para Cal e murmurou “convença-o” para o marido. – Cal, por favor, esteja vestido, preferencialmente de Armani. – Te vejo no escritório, querido. – Julie acenou um tchauzinho para Caleb e saiu, o barulho dos saltos agulha ecoando no chão de mármore.

- Que casamento moderno.

- Será que você pode fazer o favor de estar em casa às quatro horas da tarde pra essa sessão de fotos?

- Não.

- Caleb, isso é importante pra nós.

- Errado, isso é importante para a Julie. – Cal dobrou o jornal e tomou um gole de café. – Cancela a festa e eu poso para as fotos.

- A festa não será cancelada.

- Então, nada feito, eu não vou sorrir e fingir que nós somos uma família feliz na frente de uma câmera.

- É uma pena, Cal, eu estava realmente disposto a deixar que você convidasse sua amiga Anabelle pra sua festa.

- A Anabelle é minha namorada e essa não é minha festa... espera, o que você falou? – Caleb deu um risinho sarcástico.

- Quatro horas em ponto e use Armani.

Marissa estava sentada no sofá da cantina, tinha acabado de deixar Ryan jogando sinuca com os amigos. Summer sentou e lhe entregou um copo com café.

- Obrigada, Summer. Já imaginou quando eu contar ao Ryan que vou a festa de aniversário do Cal?

- Você ainda não contou?

- Depois do que aconteceu na aula de Educação Física? Acho que não seria uma boa ideia.

- Talvez seja uma boa ideia você convidar o Ryan pra festa. Sua mãe não vai se incomodar, vai?

- Não, provavelmente ela não vai reparar na gente, mas eu duvido que o Ryan aceite, principalmente depois das fotos.

- Que fotos? – Summer quase cuspiu café.

- Pra Newport Living, eu sabia que todos aqueles presentes não iam sair de graça.

- Você vai sair na Newport Living, Coop! Que demais!

- É, que demais! – Cal chegou e abriu espaço para sentar entre as garotas no sofá, equilibrando o café pra não derramar, Marissa se afastou um pouco. – Então, você também vai posar com a nossa família feliz?

- Não se eu puder evitar.

- Nós dois vamos ficar ótimos na capa da Newport Living, você não acha, Sum? – “Sum? como assim, eu te chamo de Sum”, pensou Marissa, sem gostar nada do sorriso bobo da amiga ao concordar com Cal.

- Você quer levar outra surra do meu namorado?

- Coop!

- Oh! Marissa, onde está o seu senso de humor? À propósito, por falar no seu namorado, convida ele pra minha festa, bom, você também está convidada, Summer.

- Obrigada, Cal.

- Você vai conhecer a Anabelle. – os olhos dele pareciam brilhar quando falou de Anabelle e Marissa achou incrível que ele fosse o mesmo convencido insuportável.

- Hey, Cohen! – Summer se levantou quando Seth apareceu, ela bateu no braço de Cal, que derrubou o copo de café em cima de Marissa. – Oh, meu Deus, Coop, você tá legal? Se queimou?

- Não, eu tô bem, Summer. – Marissa falou, embora estivesse irritada, olhando com cara feia para Caleb.

- Ai, Cal, seu desastrado, é Chanel a saia dela. – Summer disse batendo nas costas dele com o livro.

- Summer, ei! Deixa eu te ajudar. – ele começou a passar a mão na saia molhada de café de Marissa, mas ela lhe deu um tapa. – Garotas, vocês estão muito nervosas, você não acha, Seth?

- Elas são garotas, o que você espera? – Summer preparou o livro mais uma vez tendo como alvo a cabeça de Seth. Depois de mais um instante e algumas “livradas”, os quatro saíram juntos pra sala de aula.

Até aquele instante Ryan se controlou com todas as forças, se esforçando pra não voltar a dar um soco na cara de Cal; não acreditava que ele estava falando com Marissa outra vez, e tocando nela. Claro que confiava na namorada e com certeza Marissa seria incapaz de lhe trair, portanto a culpa era dele, inteiramente daquele novato. Ele foi pra aula de Química e assim que entrou na sala viu seu lugar ao lado de Marissa ocupado, por ninguém menos que Caleb e aguentar ver isso a aula inteira foi demais, embora fosse nítido que Marissa também não estava gostando. Depois da aula resolveu que teria uma nova conversa com Cal; por sorte encontrou os amigos no corredor e seguiu Cal até o banheiro.

Quando Cal saiu do cubículo deu de cara com Ryan, Luke e Oliver; ele riu zombeteiro, pensando em como aqueles três eram ridículos, e tentou fazer de conta que não estava vendo-os; Ryan deu um encontrão nele.

- Qual é o seu problema, cara?

- Eu disse pra você ficar longe da Marissa.

- Me dá um tempo! você já pediu pra Marissa ficar longe de mim? – Ryan jogou as mãos no peito de Cal, empurrando-o e fazendo-o bater na porta do cubículo; Cal revidou empurrando-o também, mas antes de conseguir acertar um soco em Ryan, Oliver e Luke o seguraram, um em cada braço; Cal deu uma risada. – Qual é, seu Durango Kid, você não tem coragem de me encarar sem os seus capachos do lado? Oh, covarde, me larga, cara, me solta. – Cal fez um esforço, tentando se soltar.

- Tá, vou dizer pela última vez. Não chega perto da Marissa, ok?

- Vai pro inferno. – Ryan deu um soco no estômago de Cal e com a ajuda dos dois amigos, arrastou-o para dentro do cubículo, enfiou a cabeça dele no vaso e apertou o botão de descarga.

Seth entrou no banheiro e não achou estranho ouvir alguns risos suspeitos; tudo bem que alguns caras quisessem fazer aquilo no banheiro da escola, mas bem que poderiam ser mais discretos. Mesmo achando que poderia parecer meio doentio, sentiu uma necessidade incontrolável de saber quem era, subiu o zíper da calça e andou nas pontas dos pés para o lado dos cubículos.

- Luke, Oliver, Ryan. – foi uma surpresa, mas completamente diferente do que ele tinha imaginado. – Que legal, Ryan, três contra um.

- Dá o fora daqui, Seth.

- E deixar que vocês continuem agredindo esse pobre garoto? Eu acho que não. Bom, talvez eu deva ligar pro papai e falar um pouco sobre a nossa rotina estudantil. – Seth tirou o celular do bolso, mas antes de discar o número do pai, Ryan pegou o telefone, deixando a cabeça de Cal bater na borda do vaso sanitário.

- Idiota.

- Eu sou seu irmão, Ryan. – Seth deu um de seus sorrisos sarcásticos, enquanto o irmão e os dois amigos saiam, deixando Cal caído no chão do banheiro; ainda ouviu Luke perguntar a Ryan se ele não ia dedurá-los na diretoria e Ryan dizer que isso não aconteceria. – Bem, ele tem sorte de ser meu irmão. Ei, cara. – Seth bateu no ombro do garoto e só quando ele se virou reconheceu. – Cal, ei, cara. Caramba. – Seth ajudou Cal a se sentar. – Você tá legal?

- Eu quase fui afogado no vaso sanitário, Seth, você acha que eu estou legal? – Cal passou a mão no cabelo molhado. – Meu cabelo tá com cheiro de xixi.

- Ah, cara, eu sinto muito, meu irmão às vezes é um completo idiota, principalmente quando fica com ciúme da namorada.

- Aquele Durango Kid é seu irmão? – Seth confirmou, se levantou e ofereceu a mão pra ajudar Cal a se levantar. – Duas surras, meu pai vai ficar orgulhoso. É por isso que eu odeio aniversário.

- É o seu aniversário?

- Amanhã pelo menos eu vou ver a Anabelle. – Cal não voltou mais pra aula, mesmo depois de trocar a camiseta molhada por uma seca que estava em seu armário.

- A última coisa que gostaria de fazer era se arrumar e posar para fotos ao lado do pai e da madrasta, mas pensou em Anabelle, eles se encontrariam no dia seguinte, e isso era uma notícia boa o suficiente pra fazê-lo sorrir para a câmera do fotógrafo da Newport Living.

- Você deve estar brincando. – Julie falou assim que Cal finalmente apareceu, olhando incrédula pra roupa dele. – Eu mandei você se vestir adequadamente.

- Não enche, Julie. – Cal respondeu, terminando de vestir o blazer; estava usando uma calça jeans e uma camiseta pólo listrada. – Você pediu pra eu usar Armani; estou usando. – se o objetivo de Cal era deixar Julie irritada, conseguiu facilmente, teve a impressão de que a madrasta ia ter um ataque de nervos; deu um de seus sorrisos zombeteiros e ficou ao lado de Marissa. – Que gata!

- Não enche, Cal.

- Podemos começar, Sra. Nichol? – o fotógrafo perguntou.

- Claro. Ahm, venha querido. Aqui. – Julie organizou a família, Caleb ao seu lado, Marissa e Cal um pouco à frente dele. Cal colocou a mão na cintura de Marissa abraçando-a, ela deu um pisão no pé dele; Cal gritou quando o salto fino afundou em cima do seu próprio sapato. – Cal, Marissa, não ajam como crianças, por favor.

O mais difícil foi o fotógrafo conseguir uma foto perfeita, mesmo com Julie quase perdendo a calma, Cal e Marissa continuavam se alfinetando, e ele estava mesmo achando divertido, afinal a única coisa realmente legal de fazer naquela casa era tirar a madrasta do sério.

***

Ryan saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura, dançando e cantarolando uma música de Smashing Punpkins que tocava alto no som; puxou a toalha e quando se virou viu Seth sentado com as pernas escoradas em cima da mesa. Fez cara feia para o irmão e desligou o som.

- Qual é o seu problema, Seth?

- Acho que eu vou ficar traumatizado, mas, nós precisamos ter uma conversinha.

- Conversinha? Sobre o que?

- Eu não sei, talvez, sobre, ah, claro, você e seus amigos agredindo um colega da escola, duas vezes.

- Porque você tá preocupado, Seth? Tá a fim dele?

- Você pode achar isso engraçado, ok, Ryan, você impressiona o seu público agindo como um gangster, mas, ahm, o papai e a Marissa talvez não fiquem tão impressionados.

- Se você quisesse contar, já teria contado.

- Eu não falei que ia contar.

- Então o que você tá querendo com esse papo?

- Tentar fazer você se tornar uma pessoa melhor, Ryan.

- Você andou bebendo?

- Você poderia pedir desculpas ao Cal e provar que você é uma pessoa boa.

- E porque eu faria isso?

- Eu não posso te ajudar se você não se ajudar, Ryan.

- Ah, cara, vai com a sua maluquice pra longe.

- Hey, garotos! – Sandy entrou no quarto e Ryan resmungou alguma coisa sobre todo mundo entrar no seu quarto sem bater. – Então, vocês já sabem da festa amanhã na casa do Sr. Nichol? – Seth e Ryan fizeram uma careta. – Eu sabia que vocês iam adorar. A Marissa com certeza vai estar lá, Ryan.

- Ótimo.

- Eu posso pelo menos convidar a Summer?

- A Summer? Claro, quanto mais amigos, melhor. – Seth revirou os olhos, Sandy deu um tapinha nas costas do filho e saiu.

- Se você fosse uma boa pessoa nós poderíamos dar um jeito nisso juntos.

- É só uma festa, Seth, não pode ser tão ruim também.

- Se você acha que puxar o saco dos Nichol não é tão ruim, então você definitivamente não é uma boa pessoa, Ryan.

Seth ainda atormentou a família toda por causa da festa, insistindo para que lhe dessem um bom motivo pra que ele fosse. Detestava a ideia de ir pra uma festa com pessoas de quem ele não gostava – porque realmente não gostava das pessoas de Newport, e não gostava especialmente do Sr. E da Sra. Nichol, afinal, era deles dois a culpa por seu pai estar sempre ocupado demais pra fazer alguma coisa com a família. E ele ainda seria obrigado a sorrir e elogiar a casa de Julie Nichol, porque seu pai cedeu nenhum milímetro. Pelo menos iria convidar Summer, mas como isso também merecia uma preparação, resolveu esperar até depois da aula pra fazer o convite.

- Hey, Seth. – Cal chamou quando eles saiam da sala de aula de Matemática.

- Hey, Cal. Então, você já apanhou dos três mosqueteiros hoje?

- Eu posso te dar um soco, daí você ver se é engraçado.

- Oh! Alguém parece de mau humor hoje? – Cal riu e balançou a cabeça; era impressionante a maneira como se dava bem com o “maluco” do Seth, talvez já pudessem ser amigos ao invés de quase.

- Ei, ahm, então, o que você vai fazer hoje à noite?

- Uma coisa completamente chata e entediante. Sabe quando o seu pai vem com aquela conversinha de que você tem que fazer aquilo pelo bem da família.

- Acontece comigo o tempo todo.

- Mas, porque você perguntou?

- Ah, eu ia te chamar pra ir à minha casa hoje à noite, bom, é o meu aniversário, então...

- Pô, cara, sério? Cal, então nós já somos amigos?

- Quase.

- Quase, ok. Então, se o meu pai não tivesse me obrigado a fazer isso, eu adoraria ir, mas, eu posso tentar convencê-lo de que um quase amigo é mais importante do que o emprego dele, não é?

- É. E você ia poder conhecer a Anabelle, sabe, eu vou buscá-la no aeroporto daqui a pouco.

- A Anabelle, hum, você e a Anabelle, juntos no dia do seu aniversário... Isso significa, eu não sei, talvez, sexo? Ham?

- Seth, mesmo que você fosse meu amigo eu não ia te falar sobre isso.

- Ok, sei; alguém aqui me parece muito apaixonado. Então, enquanto você vai passar a noite fazendo sexo com a Anabelle, ou não, eu vou ter que ser falso e fingir que acho aquela gente chata, interessante. Então, alguma dúvida quanto a quem vai se divertir mais essa noite?

- Me liga se você conseguir convencer o seu pai.

- Eu não vou querer atrapalhar o seu lance com a Anabelle. Ok, eu ligo.

- Seth, valeu cara. – Cal riu e foi embora; encontrou Summer e Marissa no caminho mas só acenou para as duas rapidamente; Marissa estava falando sobre a festa com Summer, precisava contar a Ryan, convidá-lo, mas ainda não o tinha feito

- Então é melhor você cuidar. – disse Summer, quando elas encontraram Seth, e a amiga começou a falar de quadrinhos; Marissa deixou os dois e foi procurar Ryan; talvez aquilo fosse provocar uma briga entre os dois, porque é claro que Ryan não ia gostar de saber que ela ia à festa de Cal, nem tampouco ela queria ir, mas Julie tinha insistido muito pra falar a verdade, e afinal, havia um preço a ser pago pelo carro e as roupas de grife que usava.

- Hey, eu estava te procurando. – disse ao encontrar Ryan.

- Eu também estava te procurando.

- Então, é que tem uma festa na casa da minha mãe hoje.

- Eu sei.

- Você sabe?

- Sei, o meu pai vai e quer que eu vá também.

- E você vai?

- Você não vai? – Ryan perguntou quase assustado.

- Vou.

- Ainda bem, pelo menos você vai estar lá.

- Então, tudo bem se eu for? Tudo bem, mesmo?

- Tudo ótimo. – Marissa sorriu e beijou o namorado; com Ryan, Summer e mais alguns colegas da escola na festa, seria mais fácil ignorar Cal e esquecer que era o aniversário dele.

***

Cal estava esperando ansioso aeroporto, sem tirar os olhos do portão de desembarque. Parecia que não via Anabelle há anos e não evitou se sentir meio ridículo por estar tão nervoso pra vê-la; a verdade era que estava morrendo de saudade dela, do jeito descolado dela se vestir, do seu cabelo comprido que tinha aparência de estar sempre sujo, do jeito cético e debochado como ela encarava as coisas. Depois de tantos dais se falando apenas pelo telefone ou internet, não via a hora de abraçá-la. Quando ela finalmente desembarcou, Cal ficou surpreso por vê-la tão diferente; tinha cortado o cabelo um pouco acima dos ombros, estava maquiada e usando roupas completamente normais; mas isso não tinha importância, porque o sorriso ainda era o dela.

- Como eu senti sua falta. – disse abraçando-a quando Anabelle passou pelo portão.

- Eu também senti sua falta.

- Deixa que eu levo isso. – Cal pegou as bolsas que a namorada trazia.

- Obrigada.

- Você está diferente. – disse ele, colocando o braço em volta dos ombros de Anabelle, ela sorriu.

- Um pouco. Bom, a tia Patrícia já estava acostumada comigo, mas você tem uma família, bem, não queria que você sentisse vergonha.

- Eu nunca sentiria vergonha de você, Anabelle. – Cal jogou as bolsas de Anabelle no porta-malas do carro e abriu a porta pra ela, deu a volta e entrou no carro também. – Além disso, não precisa se preocupar em impressionar o meu pai, ele não merece isso. – Cal sorriu e pela primeira vez desde que se mudou para Newport estava se sentindo feliz. – Então, como estão as coisas em SanFran?

- Normais.

- Eu sinto falta de lá. – no caminho pra casa Cal falou como não suportava viver em Newport, como não tinha amigos, disse que queria ter convidado o Dean pra festa, mas seu pai não tinha permitido. – Ele não queria meus amigos gângsteres na festa. – acrescentou com uma risada. – Mas eu vou infernizar tanto a vida do meu pai que ele vai acabar me mandando embora. – ele sorriu novamente no instante em que passou pelo imenso portão de ferro. Anabelle não pôde esconder a surpresa. Tudo bem que sabia que Caleb era rico, mas aquela casa estava um pouco além do que tinha imaginado.

- Porque você reclama tanto? É mesmo tão ruim morar aqui? – Caleb deu de ombros. – Parece o paraíso. – disse ela, curvando-se para olhar a vista da costa.

- Seria o paraíso se você morasse comigo. – Cal a abraçou por trás e lhe beijou na nuca, sentindo cócegas quando as pontas do cabelo dela encostaram em seu rosto. – Eu te amo, Anabelle. – sussurrou; Anabelle tinha os olhos mergulhados na imensidão do oceano ao longe; se virou sorrindo pra ele e lhe deu um beijo no rosto.

- Me mostra a casa?

- Claro. – Cal tentou não demonstrar a decepção; depois de tantos dias esperava um pouco mais de empolgação de Anabelle quando o ouvisse dizer aquelas três palavras, mas a levou para mostrar a casa, não era de admirar que Anabelle estivesse impressionada, ela nunca tinha saído de SanFran, afinal; e a casa onde morava com a mãe e os dois irmãos era bastante diferente, embora Cal gostasse sinceramente de namorar em meio aos brinquedos e roupas espalhadas no quarto que Anabelle dividia com os irmãos.

O melhor a fazer era tornar as horas de Anabelle o mais agradável possível, por isso, como era possível ignorar a presença de todas as pessoas que entravam e saíam da casa arrumando a festa, Cal a levou pra dar uma volta na praia. Queria ficar com ela ali, sozinhos; e não ter que ir pra nenhuma festa com gente que ele não conhecia e nem queria conhecer. Anabelle tirou as sandálias pra andar na areia; salpicou água em Cal e correu; eles ficaram brincando e acabaram voltando pra casa cobertos de areia e sal; Anabelle sugeriu que entrassem pelos fundos e se limpassem um pouco antes de espalhar areia por toda a casa e, embora achasse que isso fosse perfeito pra deixar Julie muito irritada, Cal concordou e usaram uma mangueira no quintal para tirar uma parte da areia do corpo. Mas, quando entrou na sala, carregando Anabelle nas costa e rindo, não foi Julie quem viu dando ordens sobre a posição dos vasos de flores nas mesas.

- Marissa, hey! – Marissa tentou sorrir. – Essa é a Anabelle, Marissa, a filha da minha madrasta.

- Oi, prazer. – Anabelle disse um pouco sem graça, porque ainda estava nas costas de Cal, e ele não a colocou no chão, enquanto falava com Marissa.

- O prazer é meu. E, feliz aniversário, Caleb. – Anabelle escondeu a cara no ombro de Cal pra rir; até onde sabia, ele detestava quando o chamavam pelo nome todo.

- Então, você está aqui, organizando a minha festa.

- Minha mãe pediu ajuda. – Marissa disse se arrependendo por ter concordado em ajudar a mãe, poderia ter argumentado mais que um evento da escola era completamente diferente de uma festa pra sociedade de Newport, mas Julie já tinha desligado o telefone e, embora Marissa não achasse dificuldade no que estava fazendo,afinal só precisava ficar de olho para que tudo ficasse perfeito, não gostava do sorriso pretensioso de Cal.

- Bem, obrigado. Você está fazendo um ótimo trabalho. Nós vamos nos arrumar, com licença.

***

Anabelle ouviu o som do chuveiro no banheiro, pegou a camisa de Cal no chão e vestiu, ficava quase nos seus joelhos. Pegou sua bolsa que ele tinha deixado em cima da poltrona e tirou o vestido e os sapatos que ia usar. Olhando para o “pedaço de pano” preto, e pensando em todas as pessoas que estariam naquela festa, de repente imaginou que ficar em casa teria sido a decisão mais correta. Mas, Cal tinha insistido tanto que ela não teve coragem de dizer não. Não queria magoá-lo. De jeito nenhum queria magoá-lo. Foi até a janela e observou a decoração da festa, parecia uma cena de filme; a enorme piscina estava iluminada com luzes verdes e garçons elegantemente vestidos – embora Anabelle pudesse confundi-los com pinguins – já se encontravam a postos, assim como os músicos – que com certeza tocariam jazz. Anabelle riu consigo mesma, pensando que aquele lugar não era pra ela; talvez pra Cal, ele era elegante por natureza, se comportava como um príncipe e conhecia todas as regras de etiqueta; embora fizesse aquela pose de rebelde, gostava de ser mimado.

- Anabelle, você deveria ter ido para o seu quarto, bem aqui ao lado. – ela deu de ombros.

- Eu prefiro ficar no seu, se você não se importar.

- Claro que eu não me importo, se você fica mais à vontade, ok. – Anabelle tirou a camiseta de Cal e ele deu um sorriso jocoso.

- Cal! – ela apanhou a mochila e se virou para ir para o banheiro. – Isso pode demorar um pouco.

E demorou muito mais do que Cal estava disposto a esperar; quando Anabelle saiu do banheiro vestida com o roupão de Cal, que ficava arrastando no chão, ele já estava vestido e entediado, brincando com o Iphone.

- Talvez fosse melhor você ir na frente e receber seus convidados.

- São os convidados do meu pai, e eu preferia ficar aqui com você. – Cal deixou o Iphone na cadeira e foi até Anabelle, começou a beijá-la, mas a garota o empurrou de um jeito brincalhão; pegou o secador e a prancha na mochila; Cal ficou surpreso, Anabelle não costumava se preocupar com o cabelo, e ele ficou contente por vê-la se arrumar pra ele.

- Cal, você não vai querer ver isso, hum? Vá na frente, eu vou depois.

- Ok.

***

Julie Nichol estava deslumbrante no vestido verde escuro e o colar de diamantes brilhando no pescoço esguio; seu sorriso ao apertar a mão da senadora Martha Stephens e do seu filho Zachary, escondia sua preocupação. Todos os convidados já tinham chegado e o homenageado ainda não dera as caras; ela estava começando a pensar que Cal ia aprontar das suas e não aparecer na festa; estava sem jeito e com desculpas esgotadas para as pessoas que perguntavam pelo aniversariante.

- Eu mato o seu filho se ele não aparecer. – disse ela ainda com o sorriso no rosto, de modo que só Caleb ouviu; embora ele também estivesse apreensivo em relação ao comportamento do filho, principalmente com a presença daquela garota, Caleb garantiu a esposa que o filho iria se comportar perfeitamente bem. – Eu espero que sim! Kirsten, querida! – Julie se adiantou pra cumprimentar os Cohen. – Você está linda. Sandy!

- Sra. Nichol! – Sandy Cohen beijou a mão de Julie, depois de cumprimentar Caleb, lhe apresentou os filhos; Caleb estava falando do filho para os convidados quando o viu chegar, acenou, mas Cal fingiu que não era com ele e continuou dando voltas; passou por um garçom e pegou uma taça de champanhe; não foi exatamente surpresa ver Oliver Trask e Luke Carlson na sua festa, e o seu pai queria que ele se divertisse.

- Cal!

- Summer, oi, que bom que você veio.

- Bom, feliz aniversário. – Summer deu um abraço em Cal.

- Obrigado.

- A sua casa é muito bonita. E, onde está a Anabelle?

- Ah, ela vai descer daqui a pouco. – Cal ficou conversando com Summer e Marissa foi até eles.

- Hey, Coop.

- Hey, Sum. Cal, o seu pai tá te procurando. – Cal revirou os olhos e tomou um gole de champanhe. – A minha mãe vai ter um ataque se você não for. Você não vai querer vê-la ter um ataque, vai?

- É a sua mãe que não vai querer me ver dar um ataque, baby. Anabelle! – Cal abriu um sorriso e foi ao encontro da namorada, que parecia deslocada usando o vestido preto tomara-que-caia. Cal nem pareceu reparar nisso, estava contente por Anabelle estar ali e a apresentou a Summer, mas então Marissa lembrou que Julie queria começar a cantar parabéns e isso foi o bastante para Cal resolver ir falar com o pai e a madrasta, para impedir que isso acontecesse. Caleb continuava conversando com os Cohen quando viu o filho se aproximar de mãos dadas com Anabelle.

- Ah, aí está ele. – disse. Seth e Ryan se viraram, depois se entreolharam confusos e ao mesmo tempo sem acreditar que não tinham sacado. – Cal, eu quero te apresentar, Sandy Cohen, a esposa dele, Kirsten. – Cal sorriu sem vontade, enquanto apertava as mãos do casal Cohen e menos ainda quando olhou para os colegas da escola.

- Meus filhos, Seth e Ryan. – Sandy esperou que os garotos apertassem a mão de Cal, mas nenhum dos dois parecia disposto a fazer, até que Seth pensou um pouco e estirou a mão para Cal.

- Hey, cara, feliz aniversário. – Cal olhou pra mão estendida de Seth,mas não a apertou.

- Obrigado. – disse no tom mais seco que conseguiu.

- Cal, por favor...

- Por favor, Julie, por favor, pessoal, vamos esquecer asa convenções aqui, ok, eu já conheço o Seth e o Ryan, Sr. Cohen.

- Vocês já se conhecem? – Sandy perguntou surpreso, Ryan baixou a cabeça e dessa vez Cal abriu um de seus sorrisos sarcásticos.

- Claro. Papai, lembra quando você perguntou como eu consegui me meter numa briga tão rápido?

- Cal...

- O Ryan talvez queira contar como ele e os amigos foram covardes quando me atacaram no estacionamento; e como você foi simpático quando afogou minha cabeça no vaso sanitário; lembra, Ryan? Claro, não faz muito tempo, não é? A propósito, na minha casa tem vários banheiros, a gente pode testar essa brincadeira em alguns, o que você acha? – “esse cara é bom”, pensou Seth, olhando pra cara de desespero do irmão, enquanto seus pais estavam envergonhados sem saber o que dizer, o casal Nichol parecia perplexo. – E, Julie, por favor, eu dispenso os parabéns. Com licença, e aproveitem a festa. – Cal saiu, pegando a mão de Anabelle; a cena a seguir não foi agradável, Caleb não podia ser mal educado com um convidado porque Julie teria um enfarto, mas saber que o filho de Sandy tinha agredido Cal era demais, não importa o quanto Cal fosse problemático, ele nunca permitiria algo desse tipo, era seu filho; finalmente o Sr. Nichol pediu licença, deixando as desculpas dos Cohen sem resposta.

- Não se atrevam a ir embora. – Sandy disse como se lesse os pensamentos de Ryan e Seth. – Vocês não vão fazer uma vergonha dessas e sair à francesa.

- Me desculpa. – Ryan murmurou de cabeça baixa.

- Não é pra mim que você deve desculpas, Ryan.

- Eu preciso de uma bebida, Sandy. – bom, quando nem a mãe ficava do seu lado, significava que Ryan estava realmente encrencado. Sandy e Kirsten saíram, deixando os filhos sozinhos.

- Eu avisei. – disse Seth ao irmão.

- Cala a boca, Seth. Como é que eu ia imaginar que ele era ele? – Seth olhou com ar cético para o irmão, aparentemente Ryan estava confundindo seu erro e, como certamente não iria se desculpar com Cal, ele preferiu fazer sua parte e foi procurar o quase amigo.

- Ou ex-quase-amigo. – Cal não estava no jardim, Seth o procurou por alguns minutos e não o encontrou; Anabelle agora estava conversando com Summer e Marissa, disse que o namorado queria ficar um pouco sozinho, mas Seth foi procurá-lo dentro de casa mesmo assim; Cal definitivamente não queria ficar sozinho, isso não era o que um garoto mimado como ele ia querer, ele queria que pensassem assim. – Típico. Seth subiu a escada para o primeiro andar e viu Cal sentado no ultimo degrau, com o queixo escorado na mão.

- Hey, cara, você vai perder os parabéns. A Anabelle se deu bem com as garotas.

- Me desculpa, Seth, por... bom... eu...

- Eu sei, está ok, você mandou bem, eu não teria feito melhor.

- Não é nada pessoal, sabe, eu só não quero gente falsa fingindo que me acha interessante.

- Sinto muito, eu não sabia que você era você, quer dizer, eu não sei como eu não me dei conta; se eu soubesse que você era Caleb Nichol...

- Provavelmente não teria falado comigo.

- Exatamente. – Cal deu um pequeno sorriso.

- Obrigado, Seth. Bem, vamos, se o meu pai quer comemorar meu aniversário, nós precisamos dar uma festa.

Seth não entendeu nada, o humor de Cal mudou de repente, mesmo que não tenha conseguido escapar do brinde que o Sr. Nichol ergueu para o filho. Cal sorriu completamente sem graça, depois sumiu por um instante e a música também parou, mas por pouco tempo; quando voltou a tocar, não era a orquestra, era celebration da Madonna. Cal pareceu ficar muito satisfeito com a cara que a madrasta fez ao ouvir a música, puxou Anabelle para o meio da pista de dança e eles não pararam de dançar e se beijar, por muito tempo; a ideia era não dar espaço para ser apresentado a outros “amigos da família”. Cal só deixou Anabelle sozinha um instante pra ir buscar uma bebida.

- O que você acha que está fazendo? – Caleb perguntou, Cal deu de ombros.

- Me divertindo?

- Por isso eu não queria essa garota aqui. – Cal tomou um gole longo de champanhe e encarou o pai; quando ele ia sair, Caleb segurou-o pelo braço. – Comporte-se, Cal, por favor.

Se comportar-se significava não beber e não beijar a namorada de um jeito sensual na frente de todo mundo, Cal realmente não se comportou; no fim da festa ele estava rindo sem motivo como fazem os bêbados; quando ele não aguentava mais ficar em pé, Anabelle conseguiu convencê-lo a ir para o quarto, sob os olhares reprovadores do pai e de Julie.

- Anabelle, Ana, vem cá. – Cal tropeçou nas próprias pernas e caiu; Anabelle o ajudou a se deitar e ajeitou o travesseiro sob sua cabeça e tirou os sapatos; Cal ainda murmurava coisas sem sentido.

- Você deveria parar de beber. – disse ela, fazendo carinho nos cabelos loiros despenteados. – Me desculpa, tá, por tudo. – ficou vendo-o dormir, imaginando quando teria coragem de falar pra ele o que precisava, principalmente depois do que ele disse à tarde, talvez fosse mesmo bom ele estar bêbado, de outro modo ela não poderia.