The Oc: Pecados no Paraíso

Capítulo 2:The new kid on the block


Pelo silêncio que reinava na cozinha impecavelmente limpa da casa dos Cohen parecia que não tinha ninguém em casa, mas uma farta mesa de café da manha já estava servida, panquecas, bagles, waffers, geléia, queijo, suco, leite, algumas frutas e por último café preto. Kirsten sorriu, admirando a mesa com tudo que todos gostavam, assim nenhum deles ia reclamar. Ela sentou, pegou o jornal e esperou que o marido e os filhos acordassem, o que não devia demorar muito, afinal, Sandy precisava trabalhar e os meninos tinham escola. Mas, quinze minutos se passaram e nenhum dos três apareceu na cozinha; Kirsten guardou o jornal e foi bater na porta do quarto dos garotos. Sandy tinha acabado de chegar quando ela voltou à cozinha e trouxe consigo um bocado de areia da praia pregada nos chinelos que agora estava espalhada pelo piso de mármore.

- Bom dia, querida. – disse ele dando um beijo rápido na esposa. – As ondas estavam maravilhosas, você nem imagina.

- Não imagino mesmo.

- Eu vou tomar banho.

- Sandy, você está sujando a casa toda, olha só.

A paz que há meia hora parecia impensável na cozinha dos Cohen, desapareceu quando Sandy e os garotos desceram para tomar café da manha; eles nem sentaram, eles nunca sentavam, porque, afinal, estavam sempre atrasados demais para sentarem à mesa e simplesmente tomar café como uma família normal.

- Ei, garotos, eu preciso de um favor de vocês. – disse Sandy ainda mastigando um pedaço de pão com geleia. – O filho do Sr. Nichol acabou de se mudar pra Newport, ele tem a idade de vocês, bem, eu queria que vocês fossem amigos dele.

- Pai, eu não ouvi direito o que você disse, desculpe. Você poderia repetir?

- Você entendeu, Seth.

- Entendi que você está me pedindo para ficar amigo do seu chefe? O Baby Nichol que foi expulso da escola? Desculpe, eu não posso fazer isso.

- Seth, por favor, não custa nada pra vocês, e ele não conhece ninguém por aqui.

- Mãe, fala pro meu pai que esse garoto é uma péssima influência pra mim.

- Bom, ele foi expulso da escola, não foi, Sandy?

- Kirsten, ele é o filho do meu chefe, ok? Não precisa ser amigo, basta ajudá-lo a se enturmar.

- Pede ao Ryan. – Ryan tomou um gole de café.

- Quanto eu vou ganhar por isso?

- Não é possível, será que eu não posso pedir um favor aos meus filhos?

- Não esse favor. – disse Seth.

- Pois eu acho bom vocês se tornarem os melhores amigos de Caleb Nichol Junior, ou muita mordomia aqui vai acabar. – Ryan quase se queimou com o café, Seth parou a mordida na torrada no meio do caminho e Kirsten também olhou com os olhos arregalados para o marido. – Péssima influência ou não, ele é filho do meu chefe, e quanto menos o Sr. Nichol tiver que se preocupar com o filho, melhor vai estar o humor dele no trabalho, mas, se o pobrezinho do Cal não fizer nenhum amigo... Bom, eu espero contar com vocês dois. Bem, eu preciso trabalhar agora.

- Sandy, espera. – Kirsten desfez o nó da gravata do marido e fez um novo. – Você deveria trocar essa gravata, você usou ela ontem.

- Eu estou atrasado, Kirsten.

- Talvez você pudesse ser promovido se não repetisse de gravata no trabalho, assim ninguém ia precisar bajular o filho do seu chefe.

- Isso não teve graça, Seth. – Sandy falou sério e saiu; Seth deu de ombros e pegou um copo de suco.

- Talvez o garoto seja legal, vocês podem se dar bem.

- Não, eu não posso me dar bem com alguém de sobrenome Nichol, mas é possível que ele se dê bem com o Ryan. – Ryan deu uma olhada para o irmão, deixou a caneca em cima da pia e pegou a mochila.

- Atrasados. Tchau, mãe.

- Tchau, querido.

- Eu também já vou, bom dia, mãe.

- Boa aula.

A cozinha estava silenciosa outra vez; Kirsten voltou a pegar o jornal, sentou mas não leu nada, não conseguiria se concentrar na leitura sentada no meio da bagunça; parecia que um furacão tinha passado por ali, destruindo tudo. Não importava se ela tinha feito o melhor café da manhã, eles davam um jeito de estragar tudo.

***

Era o último lugar onde Cal queria estar; ser obrigado a morar em Newport fazia-o se arrepender de ter sido expulso da escola em São Francisco. Já fazia cinco minutos que estava sentado dentro do novo Porsche prata (o velho tinha ficado em São Francisco) ouvindo o cd American Idiot do Green Day, e não sentia muita disposição de sair e encarar aquelas pessoas. E tudo porque ele tinha sido expulso, e ele foi expulso por causa da, não, não foi por causa da Anabelle, foi por causa do David, aquele idiota que os entregou, se ele não tivesse assumido a culpa sozinho, Anabelle teria sido expulsa também, pelo menos isso ele conseguiu evitar. Ele bem que podia matar aula, afinal, era o seu primeiro dia, então ninguém iria saber, mas matar aula sozinho não tinha como ser divertido, para que fosse era preciso estar com Dean e Anabelle. Então não ia matar aula, mas esperaria pelo sinal para poder entrar no covil.

Enquanto Caleb fazia de conta que o seu carro era um casulo que o mantinha isolado do mundo real, a vida na escola Harbor corria normalmente, pelo menos até Summer Roberts reparar no novo carro no estacionamento e fazer a amiga se assustar ao puxá-la pelo braço e apontar o Porsche.

- Oh, my God, Coop, você consegue imaginar o gato que está naquele carro?

- Summer, pára de dar chilique, é só um carro.

- Não é só um carro, amiga, é um Porsche, é um símbolo de status, poder, dinheiro, é sexy, é... Oh, meu deus, oh meu deus. – Marissa só entendeu porque a amiga parecia prestes a ter um ataque quando viu que o dono do Porsche tinha saído do carro e caminhava exatamente na direção delas. – Ele é lindo, e é gostoso, Coop, ele está vindo pra cá, fala com ele.

- Fala você, Summer.

- Não, você fala. – Summer deu um empurrão em Marissa e ela esbarrou em Cal.

- Sum... desculpa, ahm...

- Ok, tudo bem. Ahm, vocês estudam aqui?

- Sim. – Marissa respondeu, embora achasse a pergunta óbvia demais.

- Ótimo. – Cal colocou a mão no bolso, Marissa sorriu um pouco sem jeito e tentou desviar a atenção do bíceps bem definido sob a camiseta Hugo Boss, já que Summer não ia fazer questão nenhuma de disfarçar. – Ok, ahm, eu tenho que ir até a secretaria, vocês sabem onde é?

- Em frente, depois da escada, à direita.

- Obrigado. – o garoto deu um daqueles sorrisos parecidos com um astro de cinema, e Marissa se sentiu meio boba, enquanto Summer sorriu exageradamente. – Bom, a gente se vê por aí.

- Com certeza. – ele deu mais um sorriso, extremamente sexy e saiu andando. – Que gostoso!

- Summer! – Marissa cutucou a amiga, Cal ainda estava perto o suficiente pra ouvir, mas ela também não deixou de olhar o jeito sensual como ele andava.

- Ele tem a bunda mais gostosa que eu já vi. Coop, você tem que convidá-lo para o baile.

- O que? Do que você tá falando, Summer?

- Olha pra ele, tadinho, novato nessa escola terrível, precisa de alguém pra ajudá-lo a se enturmar.

- Não acho que ele seja o tipo de pessoa que precisa de ajuda pra se enturmar.

- Não importa, eu quero ele no baile. – as garotas subiram a escada e encontraram o namorado de Marissa; Ryan abraçou Marissa pela cintura e lhe deu um beijo.

- Hey, quem era aquele cara que estava falando com você?

- Ah, sei lá, um aluno novo, eu acho.

- Um aluno novo muito gostoso. Bom, eu vou, ali, a gente se vê na aula, Coop. – Summer saiu ainda fazendo aqueles gestos que só a amiga entendia.

- Tudo bem com ela? – Ryan disse, girando o dedo perto do ouvido.

- Ei, não fala assim da Summer.

- Ela é amiga do meu irmão, Marissa, como você agüenta conversar com ela?

Summer acompanhou Seth, e sem que ele a visse bateu com a bolsa em suas costas, fazendo com que ele derrubasse todos os livros.

- Summer! – ele disse, mas sabia que era ela, afinal, exceto pelo time de pólo, Summer era a única pessoa que esbarrava nele de propósito. Apanhou os livros e quando se levantou encontrou o sorriso traquino de sua amiga.

- Hey, Cohen!

- Summer, hey, porque você está tão feliz? A quem você machucou?

- Nem vem, você não vai me tirar do sério hoje, Cohen; eu conheci um cara perfeito.

- Eu não quero ouvir. – Seth virou as costas e Summer começou a andar atrás dele, quase correndo pra acompanhar as passadas largas do rapaz.

- É sério, Cohen, você pode ir no baile e me ver com ele.

-Eu sei que essa é mais uma tentativa desesperada de me fazer te convidar pro baile, Summer, mas não vai acontecer.

- Quem disse que eu sou uma fracassada, que precisa que um fracassado como Seth Cohen me convide para o baile de inverno?

- Bem, ok, eu posso até ser um fracassado, mas quantos convites você recebeu? Ah, nenhum? Sim. – Seth riu com aquele jeito debochado e Summer fez uma cara feia; ele teve que correr antes que ela acertasse a bolsa na sua cabeça.

***

Cal entrou na sala e de repente sentiu todos os olhos fixos nele; “as pessoas podiam ser um pouco mais discretas”, pensou, e escolheu uma mesa perto da janela, onde só estava um garoto, para sentar.

- Posso sentar aqui? – disse, deixando a mochila em cima da mesa;

- Você já sentou. – o garoto observou, puxando pra mais perto o seu livro de matemática.

- Ok. – duas garotas sentadas na mesa ao lado desviaram os olhos rapidamente quando Cal olhou. – Qual é a dessas pessoas me encarando? – disse mais para si mesmo.

- Aqui é Newport, o que você esperava? – murmurou o garoto sentado à sua frente.

- Seria demais esperar por anonimato?

- Seria. – os dois calaram-se, Cal pegou um livro na mochila, abriu-o.

- Eu odeio esse lugar. – disse depois de um instante.

- Bem vindo ao clube. – o garoto sorriu e levantou a cabeça, olhando pela primeira vez para o novato. – Eu sou Seth.

- Cal. – nesse instante o resto da turma entrou na sala, logo em seguida, o professor chegou e começou a pior aula de matemática do mundo; não houve tempo pra conversas, mas isso não incomodou Cal, certamente não precisava de ninguém lhe enchendo com perguntas sobre a sua vida; o que ele não gostou foi de ter que ir falar com o professor sobre a matéria que tinha perdido, mas pelo menos descobriu que não ia precisar de nenhuma aula extra, porque o programa de Harbor não era muito diferente da escola de São Francisco.

No caminho para a próxima aula, que seria de História, acompanhou o garoto chamado Seth. Marissa e Summer iam descendo a escada e viram os dois conversando.

- Porque o Cohen tá falando com ele? – perguntou Summer, esticando-se toda pra tentar ouvir a conversa, mas os garotos já iam longe. – Será que ele conhece o Cohen?

- Porque você não vai lá e pergunta, Sum? – Marissa sugeriu, divertindo-se com o jeito da amiga.

- Ótima ideia. – Summer deu um tapa no ombro de Marissa e correu na direção de Seth; porem, antes que ela o acompanhasse, Cal já tinha ido na frente, e ela só conseguiu ver as costas largas e o andar enlouquecedor do loiro perfeito. – Cohen!

- Summer.

- Onde você vai?

- Pra aula?

- E quem era aquele gostoso, quer dizer, cara, que estava falando com você?

- Sei lá, um cara novo.

- Cohen?!

- Summer!

- Desde quando você se dá bem com caras altos, loiros e sexy como aquele? Vocês estavam conversando? Sobre o que? Cohen? – Seth suspirou.

- Nós tivemos aula de Matemática juntos, e ele me perguntou onde seria a aula de História, eu disse, depois ele perguntou onde ficava o banheiro. Só isso.

- Aula de História? Hum! Sabe quem tem aula de História agora também?Marissa e eu. Tchau, a gente se vê, Cohen.

- Summer... – Seth viu a amiga se afastar sem entender nada, era a primeira vez que via Summer correr para uma aula. Marissa passou por ele a seguir, andando bem mais calma que a amiga, deu um sorriso.

- Oi, Seth.

- Oi, Marissa. – Marissa seguiu pra sala de aula e Seth também foi para a sua, pensando em como era possível que uma garota bacana como Marissa fosse namorada do seu irmão; mas isso era uma das coisas sem explicação, porque afinal, as garotas mais legais sempre ficavam com caras como Ryan, ou Cal ou Justin Timberlake.

A aula de História não foi nem um pouco como Summer queria, ela só conseguiu sentar de costas pra Cal e Marissa, que estava de frente só conseguia ver o pescoço – um pescoço perfeito, observou Summer, mas não pôde mais dar nenhuma informação. Na verdade, Marissa não contou para a amiga que, por mais de uma vez, encontrou os lindos olhos castanhos de Cal, o cara por quem Summer estava interessada, fixos nela, e numa dessas vezes ele sorriu. Quando a aula acabou elas foram comprar um café e ele estava encostado no balcão; Summer quase arrancou o braço de Marissa.

- Dois cafés, com adoçante, por favor. – Marissa pediu e esperou que o garçom preparasse os cafés; Cal olhou pra ela e não foi fácil acreditar que aquilo fosse um olhar normal e desinteressado, mas Marissa se sentiu pretensiosa demais ao pensar nisso, afinal, eles tinham se conhecido há, bem, na verdade eles nem se conheciam ainda. – Oi.

- Oi.

- Então, como foi sua aula? – Summer tomou a frente de Marissa, porem, era pra ela que Cal continuava sorrindo e demorou um instante pra responder.

- Ahm, foi ótima. – ele tomou um gole de café. – Principalmente a de História.

- Você gosta de História? Eu também! Não é incrível?

- É... – Summer talvez estivesse concentrada apenas no sorriso dela pra não notar o jeito com ele olhava pra amiga, mas Marissa agradeceu quando o garçom lhe serviu o café bem a tempo de desviar os olhos.

- Então, você já sabe do baile? – continuou Summer ainda mais animada.

- Baile? Não, não sei. Que baile?

- O Baile de Inverno. É quando o inverno chega a Orange County.

- Um baile pra comemorar a chegada do inverno? Parece... ahm, parece, legal.

- É muito legal. – Marissa não entendia porque a amiga estava agindo como boba, mas o fato é que Summer estava começando a dar bandeira.

- Você deveria ir.

- Deveria? Você vai estar lá?

- Nós duas vamos. –

Nessa hora nem Summer, por distraída que estivesse com a beleza de Cal, poderia não reparar no clima entre ele e Marissa. Ela não ficaria chateada com a amiga, primeiro, conhecia Marissa muito bem e sabia que ela não tinha culpa dos caras ficarem loucos por ela; e depois, já estava meio acostumada com o fato de os caras darem mais atenção a sua amiga alta e magra, do que a ela, baixinha e nerd. Mas em todo caso, não era ela o problema; um clima entre Marissa e o novato bonitão poderia provocar uma catástrofe, afinal, Marissa tinha o namorado mais perfeito de toda Califórnia, mas que também era o mais ciumento da galáxia.

- Ryan!Ela disse num tom de voz mais elevado quando o viu chegando e enterrou definitivamente o tal clima; Ryan passou o braço em volta da cintura da namorada e a beijou no rosto; Marissa o conhecia bem, e obviamente ele não estava contente por vê-la conversando com o cara novo outra vez.

- Hey, você conhece o... – Marissa ficou com a mão apontando para Cal, sem saber o que dizer, afinal, não sabia o nome dele; nem Summer pôde ajudá-la; parecia uma daquelas cenas de filme de comédia romântica, Ryan esperando, Cal tomando um gole de café antes de se dar conta de que era com ele; Summer podia apostar que ele estava fazendo aquilo de propósito; “e era tão sexy”.

- Cal. E, ahm, obrigado por me convidarem para o baile. – Cal voltou a sorrir e Summer teve certeza que aquilo era premeditado. – A gente se vê à noite. Tchau! – ele dissesaiu.

- Você convidou esse cara para o baile?

- Ryan, eu nem conheço esse cara.

- Não foi o que ele disse; ele disse que você o convidou para o baile.

- Qual é, Ryan, eu o convidei; o Cal, a gente não se conhece, mas eu estou muito interessada em conhecer. – Ryan olhou desconfiado pra Summer, normalmente achava a melhor amiga da namorada uma completa pirada, mas Summer estava começando a passar dos limites; depois se virou pra Marissa.

- É que parece que você vive falando com aquele cara agora.

- Ryan, você não acha que está exagerando um pouquinho, meu amor? – Marissa deu um beijo nos lábios de Ryan; Summer pensou que, tirando os acessos de ciúme de Ryan de vez em quando, eles formavam um dos casais mais fofos. – Eu preciso ir até a casa da minha mãe. Você quer ir? – Ryan fez uma careta.

- Não é uma boa ideia.

- Estranho você e a minha mãe não se darem bem.

- Você sabe que eu adoro a sua mãe, Marissa, eu só, não estou pronto pra ela.

-Ok, ninguém está, mas eu preciso ir buscar o meu vestido, ela trouxe de presente de Paris, deve querer me pedir alguma coisa.

- Tudo bem. Então, eu te vejo à noite na casa do seu pai?

- Claro.

- Ok, manda um beijo pra Sra. Nichol.

- Ok. – Ryan deu um beijo na namorada e saiu; Marissa e Summer deixaram os copos de café na lixeira e também foram embora. – Você não quer vir à casa da minha mãe comigo?

- Não posso, eu tenho que hidratar o meu cabelo; parece que não vai ser nada fácil impressionar o Cal.

- À propósito, ahm, obrigada por me ajudar, com o Ryan, você sabe como ele é.

- É, eu sei. Mas é uma pena que você tenha namorado, Coop, o cara estava babando por você.

- Summer! Bom, depois a gente conversa sobre isso. Preciso mesmo ver a minha ma, parece que ela quer que eu vire babá do garoto problema.

- Quem?

- O filho do meu padrasto.

- Seu padrasto tem filhos?

- Só um. Longa história. Depois eu te conto. A gente se vê.

- Bye, Coop.

***

Marissa passou pelo grande portão de ferro e a imponente mansão dos Nichol se ergueu à sua frente; ela evitava ao máximo ir até lá, embora sua relação com a mãe tivesse melhorado bastante desde que ela se casou novamente; era desconfortante para a garota estar na casa extremamente luxuosa dos Nichol. O Sr. Nichol, marido da mãe de Marissa, era uma espécie de dono da cidade, o rei de Newport, como alguns chamavam, e estava longe de ser uma pessoa simpática. Ela estacionou o carro e desligou o som que tocava o cd de Miley Cyrus; desceu e deu uma olhada nas bétulas no jardim, estavam cada dia mais bonitas, e o responsável por aquela maravilha era o jardineiro Michael, que estava no serviço; Marissa acenou de longe para o senhor de barba branca que lhe sorriu de volta. A enorme piscina estava a poucos metros; ao ouvir o barulho de braçadas na água, Marissa percebeu que havia alguém nadando, mas não se preocupou em descobrir quem era, não estava mesmo ansiosa pra descobrir quem era o enteado da mãe. Parou no terraço e tocou a campainha; sem demora, uma das empregadas abriu a porta; Marissa entrou e preferiu esperar pela mãe na sala; não era à toa que se sentia desconfortável ali, o apartamento do seu pai caberia todo naquela sala; pensou ela e riu sozinha, afinal, não deixava de ser engraçado o fato de que o retrato de Monet na parede resolveria todos os problemas que tinham com grana! Ela ficou um instante olhando para a tela que o padrasto tinha arrematado num leilão, e quando se virou levou um susto; o cara novo da escola estava parado no meio da sala, só de sunga, e pingos d’água caiam de seu cabelo loiro.

- O que você tá fazendo aqui? – Marissa perguntou.

- Eu moro aqui – ele sacudiu os cabelos, respingando água pela casa.

- Oh, não, você é o filho do Caleb... – Marissa se perguntou como não tinha se dado conta. – Caleb Nichol Junior.

- E você deve ser a filha da minha madrasta. Eu pensei que você estivesse no internato.

- É a minha irmã.

- Irmã? Interessante. As coisas estão ficando interessantes. – Marissa voltou o olhar para a pintura de Monet, se esforçando para desviar a atenção do corpo de atleta de Cal.

- Que coincidência, não é?

- Nada nesse mundo é coincidência, Marissa. Você me convidou para o baile, e agora está aqui, na minha casa, isso parece mais, sei lá, destino.

- Eu não te convidei para o baile.

- Convidou sim, você e a sua amiga, ah, a pequenininha, como é mesmo o nome dela?

- Summer, e ela só estava sendo educada. – Cal deu uma risada.

- Sendo educada! Sei, Marissa, eu sei reconhecer quando uma garota tá à fim de mim.

- A Summer não está a fim de você. – Marissa falou, de repente percebendo que realmente Cal não era o tipo de cara por quem sua amiga se interessaria.

- Ok, isso não importa, porque a, Summer, é uma gracinha, mas não faz o meu tipo. – Cal caminhou pra perto de Marissa, ela deu um passo pra trás; o cheiro que emanava dele lhe atingiu como uma lufada de vento. – Você faz. – Cal ficou tão perto que Marissa podia sentir o calor de sua respiração, mas ela não se deixou manipular por tanta perfeição física, aquele garoto estava passando dos limites.

- A gente nem se conhece. – disse, sem alterar sua posição.

- A gente pode se conhecer. – ele riu jocoso e colocou a mão na nuca de Marissa; ela não queria continuar com aquele joguinho, mas por algum motivo não conseguia simplesmente empurrá-lo.

- Sabia que eu tenho namorado?

- Eu não sou ciumento. – por um instante Marissa pensou que se renderia aquele olhar hipnótico e sentiu seus próprios olhos se fechando; mas Cal abriu um sorriso zombeteiro. – Ainda não, Marissa. No baile, eu deixo você me beijar. – raiva certamente seria a palavra adequada pra definir o que Marissa sentiu por Cal, e pela primeira vez pode-se dizer que a garota ficou feliz quando ouviu o som inconfundível dos sapatos Jimmy Choo de sua mãe batendo no piso de mármore.

- Marissa, querida, você chegou. Porque você não subiu? Ah, Cal!

- Julie! – Julie revirou os olhos diante do sorriso debochado do enteado. – Eu acabei de conhecer sua filha, encantadora.

- Cal, você se incomoda de vestir uma roupa?

- Você se incomoda se eu não vestir? Bom, eu vou deixar que as garotas conversem, e, Marissa, foi um prazer te conhecer, te vejo no baile. – Caleb subiu as escadas cantarolando uma música de Jay-Z.

- Ah querida, como eu estava com saudades de você! Como você está, Marissa?

- Bem. – Marissa deu de ombros, o aluguel e a conta de luz atrasados não eram o tipo de novidade que interessariam a sua mãe. – E você, como está?

- Tudo ótimo, eu passo duas semanas fora e quando eu volto tem um garotão andando sem camisa pela casa inteira, e o Caleb quer que eu ache normal. Bom, quando eu te disse que gostaria que você pudesse ficar amiga dele, não sabia exatamente do que estava falando.

- A gente se conheceu na escola. Ele é tão...

- Insuportável?Você não deve ter visto nada, querida, mas fique tranquila, Marissa, você não precisa ser amiga dele.

- Obrigada.

- Venha, eu tenho muitos presentes pra você, ah, Marissa, espero te levar pra Paris nas férias!

Marissa ganhou um vestido Valentino, uma bolsa da Chanel e muita maquiagem, perfumes; não podia não ficar feliz com tantos presentes, ela era uma garota, afinal e enche-la de presentes era o jeito de Julie demonstrar seu carinho, era estranho e poderia parecer frio, mas estava acostumada. Felizmente não voltou a encontrar Cal enquanto estava na casa dele, e depois do que quase tinha acontecido, ela resolveu que dali pra frente visitaria a mãe com uma frequência ainda menor.

Mesmo decidida a esquecer o que Cal tinha feito, esquecê-lo, nem sequer comentaria aquele incidente com ninguém, nem mesmo com Summer, não conseguia tirar aquele jeito petulante e convencido do garoto da cabeça. Marissa até riu consigo mesma imaginando o que aconteceria se Ryan sonhasse com aquilo, embora não fosse nada engraçado. Ela já estava terminando de se arrumar quando Summer telefonou para perguntar qual cinto ela deveria usar, e quando Marissa disse pra ela usar o prata da Chanel, Summer perguntou qual sapato combinaria com o cinto e depois qual o brinco. Marissa conhecia o guarda-roupa da amiga tão bem quanto o seu próprio, e mesmo sabendo que provavelmente Summer ia muda tudo, ficou dando dicas, tanto que quando ela mesma foi terminar de se arrumar, Ryan já estava esperando na sala.

- Uau! Você está linda! – disse o seu pai, que estava assistindo TV.

- Com todo respeito, Sr. Cooper, ela é linda!

- Bobos! Tem certeza que não quer ir, pai?

- Ah, não, não, querida, divirta-se. Eu sou velho demais pra ir para o baile de inverno.

- Ah, pai, você não é velho. – Marissa deu um beijo na cabeça do pai.

- Você é um amor.

- Boa noite, então.

- Boa noite, não chegue muito tarde; cuide dela, por favor, Ryan.

- Pode deixar, Sr. Cooper, e boa noite.

Marissa já estava no carro quando seu celular tocou; era Summer mais uma vez, pedindo uma carona; Ryan não achou a ideia interessante; a casa de Summer ficava muito na contramão, eles iam ter que dar uma volta pela cidade inteira, e ainda havia o transito.

- Por favor.

- A gente vai acabar perdendo a festa, Marissa.

- Por favor. – Marissa repetiu, fazendo um beicinho dengoso; Ryan riu sem querer, querendo e fez a volta.