Summer corria quase desesperadamente pelos corredores da escola, à procura de Cal; ele estava sentado no pátio, conversando com Seth e Marissa, quando a viu de longe, na verdade, ouviu Summer gritar seu nome.
- Acho que a sua namorada está ficando maluca. – disse ele.
- Excêntrica é uma palavra mais elegante. – Seth falou e Marissa riu. Summer parou ofegante e sentou na última cadeira vazia.
- Hey, finalmente encontrei vocês. – disse ela, suspirando, e pegou o copo de refrigerante que Seth estava bebendo. – Obrigada, Seth. Cal, você não vai acreditar no que eu descobri!
- Se você sabe que eu não vou acreditar, então não me conte, Summer.
- Adivinha o que é isso. – Summer tirou uma espécie de livro de dentro da bolsa; Cal, Seth e Marissa olharam o objeto sem entender nada, será que Summer tinha encontrado um livro secreto na biblioteca? O livro tinha a capa preta, e um tipo de tira em volta, que estava presa num laço. Summer estava cheia de expectativa, mas nenhum demonstrou saber ou mesmo se interessar pelo livro.
- Um livro?
- Não, Cal, é um diário. – Cal deu ombros. Summer colocou o livro em cima da mesa e abriu, apontando a inscrição na primeira folha. Cal abriu a boca, e piscou algumas vezes. – Eu sei, eu sei. – Cal ia pegar o diário, mas Summer voltou a fechá-lo. – Você não pode ler!
- Summer.
- Ler o diário alheio é o cumulo da falta de educação, Cal.
- Summer, isso não é hora de bancar a justiceira.
- Como você conseguiu esse diário, Summer? – Marissa perguntou.
- Eu encontrei no banheiro.
- Significa que a misteriosa Miss Vixen estuda na Harbor? Wow! Por essa eu não esperava. Quem será?
- Eu vou ter que ler o diário para descobrir. – Cal tentou pegar o diário, mas novamente Summer o protegeu.
- Não. Cal, se você tivesse um diário ia querer que alguém lesse e invadisse a sua privacidade? Claro que não, então, não pense em violar o diário de uma garota.
- Uma garota que me fez de idiota, Summer, eu tenho direito de descobrir quem é ela.
- Eu pensei que você estivesse apaixonado por ela, mas você quer descobrir a identidade da sua Miss Vixen só para se vingar? Não, eu não vou deixar que você leia esse diário.
- Mas, Summer, por que você me trouxe esse diário se não vai me deixar ler?
- Eu tenho um plano, é fácil, você pode descobrir quem é ela sem ter que ler o diário. – Cal arqueou a sobrancelha, Summer parecia estar se sentindo em algum episódio do seu seriado preferido, prestes a armar um plano maluco. Mas ele queria de todo jeito descobrir quem era Miss Vixen.
- Tudo bem.
***
Cal olhou o diário fechado, sentindo a mão coçar com vontade de abri-lo e ler, mas tinha dado a Summer sua palavra que não faria isso, e foi apenas sob essa condição que ela concordou em deixar com ele o diário; o plano dela era tão simples que parecia bobo; Cal mandaria uma mensagem de texto para a dona do diário dizendo que o tinha encontrado, e se ela o quisesse de volta teria que encontrá-lo em frente ao laboratório de química no terceiro andar.
- Laboratório de química, por que, Summer?
- Por nada, nós podemos ficar vigiando para ver se alguém suspeito aparecer.
- Ela vai pensar que eu roubei o diário.
- Você não poderia ter roubado, Cal, você nem sabe quem ela é.
- Faz sentido. Ok, mandei a mensagem. – Cal esperou em frente ao laboratório por mais de meia hora, mas não apareceu nenhuma Miss Vixen, até que o professor Peters apareceu no terceiro andar e mandou-o ir para a aula; resmungando sozinho, dizendo que sabia que aquilo não funcionaria, ele voltou para a sala, e guardou o diário na mochila.
- Calma, ela vai entrar em contato, Cal, ela não vai querer que você leia e espalhe todos os segredos dela pela escola. – Cal olhou para Summer, fazendo uma careta, pensando que a amiga estava levando aquilo longe demais.
- Summer, a gente não está fazendo chantagem, está?
- Eu só estava brincando. – Summer levantou para receber a prova que o professor estava entregando, pegou a dela e a de Cal. – Eu tirei A mais, e você?
- B, menos. Quer saber, deixa pra lá, ok, eu vou ler esse diário.
- Não vai não, Cal, você pode perder a chance de conquistar essa garota, se ela é tão importante pra você...
- Do que adiante ela ser importante para mim se eu não sei quem ela é? – nesse instante Taylor fechou o livro com violência, Summer e Cal se entreolharam quando ela pegou as coisas e saiu da sala.
- Você fez alguma coisa com a Towsend?
- Não, ela me odeia gratuitamente.
Impotente talvez fosse uma palavra adequada para a situação em que Cal se encontrava, mas se alguém usasse ridículo, também não estaria longe de acertar; ele entendia e não acreditava que pudesse ficar tão envolvido com uma garota, talvez quando estava com Anabelle, mas, embora o que sentisse por ela fosse muito forte, era completamente diferente do que estava sentindo agora.
- Eu vou ler o e-mail. – repetiu pela centésima vez; Summer revirou os olhos. – Ela está brincando comigo, olha isso. – Cal tirou uma folha do bolso do casaco e desdobrou. – Ela me mandou esse e-mail: Querido Strider, em itálico e negrito, para vocês verem que garota sarcástica, mas isso é sexy, enfim, Querido Strider, você ainda não leu o meu diário? Pode ficar com ele se quiser, leia, e você vai ver que não há nada que possa revelar minha identidade.
- Ela está blefando.
- Eu não quero saber se ela está blefando, eu não vou mais brincar disso. Acabou.
- E o que você vai fazer, excluir ela do Facebook? – Seth disse, e os amigos acabaram rindo da carranca de Cal. Ele estava olhando o grupo de líderes de torcida que estava bem próximo, a maiorias delas loiras e com seus corpos perfeitos, imaginando se poderia ser alguma delas. – Já pensou se fosse a Lana? – Cal fez uma careta, a ideia era mais que assustadora, era abominável; claro que Lana era uma garota bonita, mas isso era tudo que poderia ser dito em relação a capitã das líderes de torcida. Cal deixou Seth se divertindo com a sua pouca sorte, afinal, alguém precisava se divertir, e foi pegar os livros e o diário que tinha deixado no armário; acabara de subir as escadas para o segundo andar onde ficavam os armários, quando viu de longe que alguém estava fechando a porta do seu armário, e mais, levando consigo o diário de Miss Vixen.
- Taylor, o que você está fazendo? – a garota se virou, instintivamente escondeu o diário atrás das costas.
- Nada.
- Nada? Desculpe, parece que você estava roubando alguma coisa do meu armário. – Taylor deu uma risadinha, ou pelo menos tentou sorrir despreocupadamente.
- Roubando alguma coisa do seu armário? Eu? Você está me acusando de ladra? Você tem noção disso?
- Eu tenho noção que você pegou alguma coisa do meu armário e quero de volta, agora. – Cal ficou plantado na frente de Taylor, bloqueando a sua passagem.
- Eu não peguei nada seu, garoto, sai da minha frente. – Cal não arredou o pé quando Taylor tentou sair, eles ficaram ziguezagueando. Finalmente Cal se aproximou e conseguir arrancar o diário das mãos de Taylor, e ao fazer isso viu o rosto da garota ficar vermelho como um tomate.
- O que você... Espera. Você. Miss Vixen. Não é possível. – como se estivesse em choque, Cal não impediu que ela arrebatasse de volta o diário e saísse correndo. – Ei, Taylor, espera, volta aqui. – Cal correu atrás dela, e a alcançou quando descia a escada, segurando-a pelo braço. – É você?
- Me solta.
- Não, espera, a gente tem que conversar. – Cal apertou o braço de Taylor, e puxou-a para mais perto, ficando com o rosto quase encostado ao dela; os dois se encararam um instante, mas depois ela desviou os olhos.
- Eu não tenho nada para falar com você.
- Claro que tem. Taylor, eu...
- Não, não, não, Caleb, você não tem nada para me dizer, qualquer coisa que você sente, ou acha que sente, não é por mim.
- Taylor, por que você faz isso, ham?
- Olha, me deixa, ok.
- Você vai fugir? Então eu não significo nada para você, quer dizer que foi tudo mentira?
- O que você espera que eu diga?
- Eu me apaixonei por você, Taylor.
- Não, você diz que se apaixonou por um corpo bonito.
- Não é verdade.
- Você nunca teria olhado para mim, do jeito que eu sou.
- Só que você não é assim, você não é essa garota chata e mal amada, que finge com o propósito de afastar qualquer pessoa que tente se aproximar de você.
- Eu não quero ouvir a sua psicologia barata. Me solta agora, por favor. – Cal encarou os olhos castanhos de Taylor por um instante, soltou o braço da garota, e ficou de pé na escadaria vendo-a se afastar às pressas. Taylor Towsend, Miss Vixen, a cabeça de Caleb girava com a confusão; aquela impressão que tinha de estar interessado na garota esquisita que sentava ao seu lado nas aulas era negada graças ao fato de ter certeza que estava gostando de outra garota; e agora as duas garotas eram uma só, o que isso queria dizer? A ansiedade que sentia cada vez que pensava em descobrir a identidade de Miss Vixen agora tinha se transformado em frustração, ainda que estivesse chateado com o que tinha acontecido, não conseguia tirá-la da cabeça.
***
Taylor não estava prestando atenção à conversa dos pais durante o jantar, não parecia interessada em saber nada sobre o futuro casamento de seu primo Zach; claro que seus pais estavam alarmados com a notícia, ninguém esperava por algo assim, mas Taylor já sabia sobre Zach e Nikki muito antes que o relacionamento deles se tornasse público. Zach amava Nikki e eles iam se casar, não deveria ser nenhum problema afinal; agora Taylor poderia dizer que tinha seus próprios problemas sentimentais para se preocupar, e não eram poucos, afinal. De todas as pessoas que tinha imaginado para ser Strider, Caleb Nichol Junior nem sequer aparecia na lista, embora sempre suspeitasse que ele vivia em Newport; ainda não conseguia acreditar numa coincidência tão grande, logo quando estava disposta a deixar acontecer, quando parecia ter finalmente encontrado um cara legal o bastante.
- Taylor, você está bem? Taylor?
- Estou ótima, mãe, com licença, eu já acabei. – Taylor foi para o quarto e ligou o computador; começou a deletar todas as fotos que havia postado no seu perfil no Facebook. Fazer aquelas fotos quase sensuais tinha sido um tipo de brincadeira, Zach adorava fotografar e ela queria provar a teoria de que as pessoas só se interessavam pela beleza, não queria parecer uma vadia usando roupas sexys para atrair a atenção na internet; era para ser divertido, e o próprio Zach tinha ficado de boca aberta ao ver a prima usando lingerie Victória’ s Secrets; Taylor olhou a foto que Cal tinha marcado como favorita; foi um erro ter transformado o que era para ser conversas casuais em amizade, e finalmente se envolver mais profundamente com ele; ela olhou a revista Time em cima da mesa, onde o rosto de Marc Zurckerberg ilustrava a capa. – Isso é culpa sua. – disse ela para a fotografia. – Criar o Facebook foi uma péssima ideia. – Taylor sabia que apagar aquelas fotos não faria qualquer diferença, Cal com certeza as tinha salvas em seu próprio computador; ao pensar nisso, pareceu a Taylor que era a primeira vez que se dava conta que tinha feito uma besteira, apesar de nunca ter deixado o seu rosto visível nas fotos que expos na internet, agora se Cal quisesse espalhar fotos suas semi nua para todo mundo na escola, ele faria. Ela ficou pensando se poderia esperar algo assim dele, ou se... Se ele poderia gostar dela realmente. Taylor riu debilmente, não, não era possível, Caleb Nichol Junior nunca poderia gostar dela, eles eram naturalmente de mundos opostos, lembrou Taylor, pertenciam a mundos diferentes, eram como o norte e o sul, o yin e o yang, água e vinho, e assim por diante. E o que ela sentia? Taylor perguntou a si mesma qual era o seu lado da história. Seria possível que a dama de ferro gostasse de alguém como Caleb Nichol Junior? Alguém que representava tudo que ela considerava mais medíocre na sociedade e na escola? Aquele cara lindo, sexy e rico que tinha todas as garotas aos seus pés, aquele delinquente juvenil que não foi expulso da escola por que o pai milionário pagou? Aquele garoto estúpido que não se preocupava com nada, além do seu próprio mundinho perfeito, que não levava nada a sério, um drogado em recuperação. Para sua completa surpresa, a única coisa que ela parecia lembrar naquele instante era do jeito como Caleb tratou as crianças no abrigo, a maneira como ele brincou com Amanda, como se preocupou, tanto, a ponto de conseguir que a garota recebesse uma doação de medula em tempo recorde. Será que aquilo poderia valer como prova de que as pessoas mudam? Se Caleb tivesse mudado, se ao invés do badboy mimado, ele pudesse ser um ser humano que faz o bem, ajuda as pessoas e ainda é divertido, se ele realmente gostasse dela do seu jeito esquisito e não apenas das curvas do seu corpo? Se tudo isso fosse verdade e Taylor o perdesse por medo de expor demais seus sentimentos? As perguntas giravam na mente de Taylor, impedindo-a de dormir, não havia um jeito de saber as respostas, nenhuma maneira de sair daquela confusão sem apostar alto, e ela também não tinha certeza se queria apostar.