Os alunos do último ano da Harbor estavam na época de escolher a universidade; talvez de todos, apenas Summer e Seth não estivessem ansiosos, afinal, não tinham mais o que pensar, já estavam decididos sobre Harvard desde muito tempo, mesmo assim estavam presentes a feira de faculdades que a escola organizou para auxiliar os alunos e pais em suas escolhas.
- A Brown é ótima. – disse Summer.
- Acho que eu vou escolher Brown como uma das minhas opções. – disse Marissa.
- E Berkeley? – perguntou Ryan com um sorriso maroto.
- É melhor ter um plano B na manga, não é?
- Com certeza, eu também vou escolher Brown, além de Yale, Cornell, Columbia, Stanford.
- Acho que nós já entendemos, Summer. – Cal falou, enquanto pegou um dos panfletos no stand da Johns Hopkins, mas ao invés de ler o papel, ficou olhando para Taylor que estava conversando com o representante da universidade.
- E você, Cal, já escolheu? – Cal deu um risinho.
- Eu não vou para a universidade.
- Como assim, não vai para a universidade?
- Vocês acham sinceramente que alguma escola vai me aceitar com o meu histórico? Não. Mas não importa, eu acho que a universidade é para você se encontrar, descobrir o próprio caminho, essas coisas, se eu entrar na universidade por que o meu pai poderia pagar não seria nada disso, seria apenas a continuação do colegial. – os colegas de Cal não souberam o que dizer por instante, por que na verdade, todos tinham pensado a mesma coisa, ora, se Caleb Nichol pagou para o filhou estudar na Harbor, poderia pagar para que ele entrasse numa universidade também. – De qualquer forma, eu não tenho talento para a academia.
- Existem as universidades públicas, algumas são bastante respeitáveis. Ou talvez no exterior.
- Com certeza eu estudaria muito em Amsterdã. – Cal voltou a olhar para Taylor, que para sua surpresa estava ouvindo tudo que ele tinha conversado e ainda deu um sorriso. – Essa daí é maluca. – murmurou para si mesmo e continuou o tour pelos stands das faculdades.
***
- Mas será possível que você não larga mais esse notebook? – Cal levantou a cabeça e encontrou uma Summer aparentemente irritada, para quem não deu muita atenção. – Cal?
- Summer.
- O que você está fazendo?
- Summer, dá um tempo. – Summer ficou de boca aberta, parecia que Cal estava lhe mandando dar um tempo, estava lhe trocando pelo computador. Mas ela não arredou o pé. – Que foi?
- Você está viciado em internet.
- Por que você tem que estar sempre dizendo que eu sou viciado em alguma coisa. Ok, por que ao invés disso você não me ajuda.
- Hum.
- Acontece que essa garota é um mistério para mim.
- Miss Vixen? – Summer não evitou dar uma boa risada debochada. – A Marissa me contou.
- E por que isso seria engraçado?
- Então, como eu poderia ajudar?
- Você acha que conseguiria descobrir alguma coisa sobre ela?
- O que você está sugerindo? Que eu posso hackear a conta de internet da sua garota e descobrir o endereço de IP? Não, eu precisaria ser do FBI para conseguir isso. – Summer ficou atrás de Cal e olhou para a tela do computador. – Mas eu acho que esse é fake profile.
- Um o que?
- Fake profile, Caleb. Essas fotos naturalmente foram editadas, trabalho de profissional, ela está usando Victória’ s Secrets, deve ser uma garota de programa.
- Summer, você nem a conhece.
- Nem você, Cal. Você já tentou marcar um encontro? – Cal resmungou alguma coisa. – Cal, ela pode ser qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, talvez nem seja uma garota, não tem como saber.
- Ok, Summer, eu não sou criança. Mas eu vou descobrir quem é ela. Por que é claro que ela existe.
- Tudo isso por causa desses peitos? Tem muita mulher bonita em Newport, Cal.
- Não se trata dos peitos, Summer, até por que, ela tem o corpo inteiro maravilhoso...
- Menos o rosto que você nunca viu...
- Ela é diferente, diferente de... Tudo. – Cal se ouviu dizendo, de repente sem acreditar nas próprias palavras ou no jeito como as tinham dito, ou como aquela estranha relação virtual lhe afetava. – Eu devo está ficando maluco mesmo, não é?
- Você já falou com o seu psicólogo sobre isso? – Cal revirou os olhos. – Afinal, o que você conversa com o seu psicólogo?
- Eu não falo muito, para falar a verdade.
- Mas deveria, afinal está gastando uma grana com ele, enfim, é claro que você está confuso, por que está vivendo um momento de transição, mas quer saber, você está lidando muito bem com isso.
À noite, Cal não saiu do quarto para jantar, não conseguia sair da frente do computador e perder algum minuto que fosse da “presença” de sua Miss Vixen. Cal enviou um convite para iniciar a exibição de vídeo, mas a garota misteriosa não aceitou. “Por que não?” ele digitou e enviou, esperou pela resposta que demorou mais que o normal;
“Você sabe por que”; “tem algum mal ver o seu rosto? A não ser que você não seja quem diz que é.”
“Se você não acredita que eu existo, por que perde seu tempo?” – Cal riu e balançou a cabeça, como se estivesse vendo a garota sorrir e arquear a sobrancelha.
“Você não é fácil, eu só queria te conhecer.”
“Eu também gostaria de conhecer você”.
“Ótimo, vamos marcar um encontro, então. Pode me dizer onde você mora, e eu vou te encontrar, qualquer lugar, Nova Iorque, Europa, Japão, eu vou.”
“Você é maluco”.
“Então, onde você mora?” – Cal esperou e mais uma vez a resposta demorou um pouco.
“Newport, Califórnia.”
“Você deve estar brincando! Eu moro em Newport! A gente vai ter que se encontrar”.
“Eu não sei se é uma boa ideia”.
“O que? Claro que é uma boa ideia, não há razão para a gente não se encontrar--- - dessa vez Cal esperou em vão pela resposta que não veio, o que deixou-o frustrado, não entendia por que Miss Vixen não queria conhecê-lo pessoalmente, pensava se talvez Summer tivesse razão e ela fosse mesmo um fake profile, mas Cal não se convencia disso facilmente, muito menos depois que ela respondeu suas mensagens off line.
***
- Você consegue perceber como isso é doentio? – Seth falou, mas Cal não deu atenção, estava concentrado no Iphone. – Cal?
- E se a gente já tiver se encontrado por acaso? Quer dizer...
- Não existem muitas garotas loiras e magras em Newport!
- Ok, ela tem uma tatuagem, isso reduz bastante as possibilidades, quer dizer, não é todo mundo que tem uma tatuagem daquelas, é?
- Por que você acha que ela não quer se encontrar com você?
- Quer dizer que você não acha que ela não existe?
- Bem, mais ou menos, agora eu tenho que ir para aula, a gente se fala. – Cal também foi para a sala de aula, ainda conectado ao Facebook pelo Iphone; sentou na mesa de sempre, onde já estavam Summer e Taylor, que fechou o notebook assim que ele apareceu; mas Cal não levantou a cabeça até que a companheira virtual ficou off line, e quando o fez encontrou Summer encarando-o com aquele jeito engraçado.
- Sabia que dá pra acessar o Facebook pelo Iphone?
- Sério? Você deveria ganhar o prêmio Nobel por essa descoberta, Cal. – Summer falou ironicamente e até Taylor deu um sorriso, “definitivamente eu estou sendo ridículo”, pensou Cal; Summer empurrou para ele a folha de exercícios que a professora tinha entregado.
Ele já tinha pensado em desistir de querer conhecê-la pessoalmente, mas depois de saber que ela morava em Newport voltou a pensar nisso com frequência, e começou a insistir muito com ela, a ponto de chatear a garota – por que ele tinha certeza de que era uma garota, mas ele não desistiria enquanto não conseguisse convencê-la.
Depois das primeiras semanas, o trabalho voluntário já não parecia tão ruim, embora fosse controlado e tivesse que se comportar para que ninguém colocasse uma observação ruim na sua ficha, ele começou a rever seus conceitos, pensava que talvez Summer tivesse razão, ele estava passando por um momento de transição, talvez estivesse de fato aprendendo alguma coisa, ou pelo menos não se sentia um inútil quando estava com aquelas crianças e pensava que a sua ajuda servia para alguma coisa.
Taylor parou na porta e ficou observando Cal sentada à beira da cama fazendo uma espécie de teatro de marionetes, enquanto a garotinha dava risadas; ela quis reclamar, por que ele deveria estar ensinando matemática, mas acabou desistindo, afinal, um pouco de alegria era bem vindo naquele lugar, acabou ficando olhando um pouco mais e não evitou ficar impressionada pelo modo como ele parecia ter jeito para lidar com crianças. No dia seguinte, quando Cal estava sentado no pátio da escola, Taylor foi falar com ele.
- Oi.
- Então agora você fala com a parte mais medíocre do sistema?
- Eu queria falar sobre a Amanda. Eu vi o que você fez ontem quando deveria estar ensinando matemática a ela...
- Me poupa, Towsend, a garota está com câncer, de que vai servir aprender matemática?
- Eu queria dizer que você foi muito bem, ninguém nunca tinha conseguido arrancar um sorriso da Amanda.
- Sério? – Taylor balançou a cabeça, e puxou a cadeira para sentar.
- Ela é órfã, está na instituição há três anos.
- Três anos? Você quer dizer que ela passa a vida inteira naquele lugar sozinha, dependendo de estranhos?
- Estranhos que entram e saem da vida dela, de uma hora pra outra, por isso ela não se apega a ninguém, mas parece ter gostado de você.
- Eu não sabia que existiam pessoas, assim em Newport... Quer dizer, sempre me disseram que aqui era o paraíso.
- Você nunca tinha parado para ver além do seu próprio castelo, não é?
- Você realmente me odeia, não é, Taylor? – Taylor deu um sorriso enigmático.
- Eu não odeio você, Caleb, sinceramente, eu tenho outras coisas para fazer, eu sou realista. Você é um principezinho, criado cercado por luxo e tendo todas as suas vontades satisfeitas, que sempre achou que o mundo gira em volta do seu próprio umbigo.
- Você tem raiva do mundo, e coloca a culpa pelas coisas erradas em pessoas como eu, por que fazendo isso você acha que está sendo diferente, mas na verdade, está fazendo o que a maioria das pessoas fazem, julgando sem me conhecer.
- A Summer me disse isso na oitava série. – Cal abriu a boca, mas não encontrou palavras para dizer. – Talvez você não seja um caso completamente perdido. – disse Taylor com um sorriso.
- Devo entender como um elogio?
- Deve.
- Bom, obrigado, talvez você tenha um coração. – por um instante os dois se entreolharam, e ambos pareciam pensar a mesma coisa; Cal sorriu um pouco sem jeito. Olhando para Taylor sem evitar perceber que ela era, de fato, uma garota bonita, apesar de aparentemente fazer o possível para esconder isso; o rosto natural, sem maquiagem tinha traços marcantes, os olhos castanhos e grandes cheios de personalidade, e os lábios finos e delicados, coloridos naturalmente. Cal balançou a cabeça e piscou, como se quisesse sair de algum transe. – Desculpa... Você falou alguém coisa?
- Você está me olhando de um jeito esquisito.
- Desculpe... Então, por que você faz isso?
- Isso o que?
- Trabalho voluntário.
- Você pode chamar de altruísmo ou nobreza, e também vale pontos para a universidade. – Taylor olhou em volta, e baixou a cabeça e sorriu.
- O que foi?
- Acho que as pessoas acham estranho me verem conversando com você. Na verdade eu também acho estranho. Bom, a gente se vê.
- A gente se vê. – Cal acompanhou Taylor com os olhos, enquanto ela caminhava, podia suspeitar que embaixo daquelas roupas cafonas existia um belo corpo, que ele não entendia por que ela fazia questão de manter escondido. – Ok, isso não é mesmo um romance de Nicholas Sparks.
Normalmente Cal não falava nada durante as sessões com o psicólogo; entrava, sentava no divã e ficava jogando alguma coisa no Iphone, dizendo estar exercendo o direito de não falar, mas naquela tarde, ele resolveu falar.
- Aparentemente você está interessado nela, mas não quer admitir por que ela é diferente de todas as garotas com quem você já saiu.
- Espera um pouco, a gente está falando da Taylor Towsend, eu não estou interessado nela.
- Como você explica ter ficado uma hora inteira falando dela?
- Olha só, Freud, eu não tenho esse tipo de problema, ok, se eu estiver interessado numa garota e vou lá e resolvo, esse negócio de sentimento reprimido não é comigo. E mais, eu saberia se estivesse a fim da Taylor, mas, saca só como isso nem sequer faz sentido de ser dito “estou a fim da Taylor?” Claro que não. Não existiria nada mais clichê, quer dizer, o badboy e a garota certinha? Humpf! Além disso, eu gosto sim de uma garota, e ela não tem nada a ver com a Towsend, bom, exceto o lance do mistério. Mas, acho que eu entendo o lance com a Taylor, ela é alguém que fala o que pensa sobre mim na minha cara, e ouvir algumas verdades nuas e cruas às vezes incomoda, não é? – o médico balançou a cabeça, e Cal olhou o relógio, admirado pelo tempo ter passado tão rápido. – Então, está na minha hora.
- Você fez um grande progresso, Sr. Nichol.
- É, ok, obrigado. Afinal, do que ele está falando? – saiu do consultório resmungando; a diferença entre falar com Summer ou Seth, e falar com o psicólogo era que o último não usava sarcasmo, o que também não era garantia de ser melhor, mas pelo menos estava sentido-se mais leve, talvez verbalizar o que estava amontoado dentro do cérebro realmente fizesse bem, mas estava convencido que não estava interessado em Taylor, não por que ela fosse diferente, afinal, Anabelle era diferente também e ele a amava, mas existia aquela garota misteriosa, que vivia em Newport, e ele precisava encontrá-la.
***
Zach estava concentrado, estudando quando Taylor bateu na porta e entrou, sentou na cama, e não falou nada nos primeiros instantes; era um pouco estranho Zach ser o mais próximo de um amigo que ela tinha, ou seja, a única pessoa com que poderia falar sobre aquele assunto.
- Algum problema, Taylor? – ele perguntou, depois de quase um minuto que ela estava sentada sem falar nada. Taylor abriu a boca duas vezes, mas não conseguiu falar nada.
- Deixa para lá.
- Ok. – Zach voltou a olhar para o livro, deixando Taylor com suas esquisitices, e ela parecia estar falando sozinha. – Tem alguma coisa a ver com o Caleb Nichol?
- O que?
- Será que você está gostando do Caleb Nichol?
- Ah, por favor, não agrida a minha inteligência, Zach, só por que eu falei algumas vezes com o Caleb Nichol, enfim, isso não tem nada a ver com o Cal.
- E tem a ver com o que? Ou com quem? Taylor, você está saindo com alguém?
- Não seria tão estranho se fosse o Caleb Nichol. – Taylor falou, e depois acabou abrindo-se com Zach, e contando para ele toda a angústia que estava sentindo, e a confusão em que tinha se metido.
- Numa coisa você tem razão, Taylor, não seria estranho se você estivesse a fim do Caleb.
- Obrigada, pela ajuda, Zachary. – Zach achou realmente muito estranho ver Taylor tão vulnerável daquele jeito, ela parecia uma garota normal.
- Ei, Taylor, deixa rolar. Quer dizer, o que você tem a perder? Sair um pouco da linha não vai fazer mal, não é mesmo?
- É, vamos ver, você tem razão, Zach, você tem toda razão, eu vou pagar para ver. Valeu. – Taylor saiu com um novo ânimo, pensou Zach, satisfeito, embora achasse que a prima estava completamente maluca, era realmente bom vê-la empolgada com alguma coisa, além de só reclamar de tudo.
***
Cal se olhou no espelho tentando não parecer narcisista demais, mas tinha que admitir, estava ótimo; tinha cortado o cabelo naquele mesmo dia; a camisa Armani preta acentuava a silhueta perfeita; além disso, estava contente de poder finalmente andar sem Madona e Lady Gaga. Colocou as lentes de contato e sorriu para seu próprio reflexo, parecia que fazia séculos que não tinha um encontro, e na verdade, fazia mesmo, pelo menos não naqueles termos. Era um pouco estranho, claro, mas Cal disse a si mesmo que as pessoas faziam aquilo o tempo todo no mundo inteiro, tinha se tornado comum conhecer pessoas pela internet, afinal. Talvez não fosse comum se sentir tão ansioso para um encontro como ele estava se sentindo; um encontro às escuras era totalmente maluco, mas Cal tinha esperança de que aquela noite terminaria de uma maneira muito agradável. Olhou a foto de Miss Vixen na tela do notebook, imaginando como seria tocar cada curva daquele corpo perfeito, mas principalmente imaginando o rosto que veria emoldurado por aqueles cabelos lindos.
Marcar o encontro no Yatch Club dava a impressão de que ela não era realmente uma garota comum, talvez fosse mais velha, num estilo mais “mulher”, aquelas fotos não tinham muito a ver com uma menininha mesmo, de qualquer forma. Cal chegou a pedir uma dose de uísque, mas acabou desistindo e preferiu beber água, precisava se manter firme no propósito de não voltar a beber, talvez não fosse bom começar aquele relacionamento ficando bêbado.
Olhou para o relógio, ainda faltavam dez minutos para a hora que tinham marcado; repassou mentalmente o código que tinham combinado para se reconhecer; uma mulher alta apareceu ao seu lado no bar e pediu uma bebida; ela poderia ser a pessoa que ele esperava, era alta e loira e estava usando um vestido vermelho.
- Está quente hoje, não é? – Cal disse e a mulher olhou para ele com uma cara meio azeda, pegou a bebida que o garçom serviu e foi sentar-se a uma mesa; definitivamente ela não era Miss Vixen, nem tinha senso de humor.
Depois de mais quinze minutos, Cal começou a se sentir realmente ridículo; duas outras possíveis “Miss Vixen” apareceram, mas nenhuma delas respondeu a pergunta secreta corretamente. Meia hora depois Cal pediu uma dose de uísque, mas não bebeu, deixou o copo na sua frente, enquanto balançava o pé, inquieto. Pelo visto estava levando um bolo, e um bolo de uma garota que ele nem podia saber exatamente se existia; aquilo não era nada lisonjeiro; ainda esperou por vinte minutos, mas já tinha certeza que ela não ia aparecer. O que poderia ser mais ridículo do que ele sentado naquele bar esperando por ninguém? Um bipe vindo do bolso do blazer avisou a Cal que uma mensagem foi recebida no Iphone; ele tirou o aparelho do bolso e leu o SMS. “Você disse que morava em Newport, não que era o dono de Newport. Sinto muito. M.V”. Dono de Newport, do que ela estava falando? Cal se perguntou, mas ao mesmo tempo se deu conta de que entendia sim do que ela estava falando. Então ela esteve ali, e o viu, e fugiu por que descobriu que ele era Caleb Nichol Junior. Cal pensou rápido e saiu para o lado de fora, pensando que talvez ainda pudesse ver alguém, mas não havia nenhuma garota por perto.
- Você levou um bolo? – Seth falou, incapaz de conter o riso.
- Ria, Seth, é engraçado.
- Claro que é engraçado; não é todo dia que Caleb Nichol leva um toco de uma garota.
- Bem, agora você já sabe que ela te conhece, talvez ela seja da escola. – disse Summer.
- Eu pensei que você diria “eu te avisei, não avisei?”
- Mas eu avisei, enfim. Pelo menos ela não é uma garota de programa.
- Como você pode ter certeza? – perguntou Seth.
- Bem, uma garota de programa ficaria feliz em saber que você é o dono de Newport.
- Ok, não quero mais ouvir falar nessa garota, pessoa.
- Esse era todo o seu interesse?
- Não. Quer dizer, eu não sei, ela disse que não pode me conhecer pessoalmente, por que eu não fui honesto. Humpf. Não é Possível que ela tenha pensado que meu nome era Strider.
- Algumas pessoas têm nomes exóticos.
- Eu fiz papel de idiota. – Seth deixou os dois e continuou na direção de sua aula de física; Summer e Cal entraram para a aula de Francês.
- Você está dando muito importância a isso, Cal. – disse ela, e abriu o livro.
- Algumas pessoas nascem para encontrar sua alma gêmea, como você e o Seth, para vocês tudo é simples, por que vocês simplesmente se amam, mas para outras pessoas, como eu, o destino é ser feito de idiota, é ser abandonado, até por um fake profile. Se eu fosse gay as coisas seriam diferentes?
- Algum problema, Sr. Nichol? – Cal percebeu que Summer não era a única a olhar para ele, com certeza tinha falado alto demais.
- Desculpe, professora.
Durante a aula Cal não teve oportunidade de falar com Taylor, ela estava concentrada demais nos livros que nem sequer levantou a cabeça; depois que a aula acabou, ela saiu da sala tão rápido que ele nem percebeu; foi encontrá-la no pátio.
- Hey, Taylor, posso falar com você um instante?
- Tudo bem. – ela disso com aparente boa vontade, “deve ser TPM” pensou Cal.
- Eu pensei em faltar o trabalho hoje, será que você poderia quebrar essa para mim, eu prometo que é por um bom motivo; é que o meu pai vai para Nova Iorque e eu vou com ele para ver minha vó, ela está um pouco...
- Será que você não percebeu que não estou interessada em saber da sua vida?
- Aconteceu alguma coisa, Taylor? – Cal perguntou percebendo que a garota estava muito mais mal humorada do que seu mau humor natural.
- Não, não aconteceu nada. Tudo bem, eu não vou anotar na sua ficha que você faltou ao trabalho.
- Obrigado.
Cal não ficou mais que três horas em Nova Iorque, visitou a vó e a tia enquanto o seu pai estava na reunião, e antes da meia-noite estavam voando de volta para Newport. Sentado na poltrona do avião ficou um instante observando seu pai; normalmente ele parecia sempre forte e insensível, diariamente desempenhando o papel de empresário bem sucedido; eles mal se falavam como sempre, embora as brigas tivessem diminuído nos últimos tempos; agora, olhando-o cochilar na poltrona, Cal percebia como ele parecia velho e cansado, o peso dos sessenta anos e da rotina de trabalho era nítida; e o casamento não ia bem, Cal sabia disso, por que Julie tinha viajado mais nas ultimas semanas e não falava em nada que não fosse sobre trabalho; Cal se perguntava se havia algum sentimento naquele casamento ou se tudo se resumia a negócios.
- O que foi, Cal?
- Nada. – eles eram pai e filho e não tinham nada o que conversar, podia passar semanas sem se falar, e ainda assim, não teria nenhum assunto em comum. Quando chegou em casa, verificou a caixa de mensagens, mais por costume do que por expectativas; não havia mensagens novas, mas ele leu novamente o e-mail que a Miss Vixen tinha mandado, talvez pudesse entender por que alguém desistiria de um encontro só por que descobriu que de fato já conhecia a pessoa que julgava desconhecer. – Aparentemente confuso. – disse para si mesmo, tentando se convencer que deveria deixar aquela história para trás. Mesmo assim ainda ficou imaginando os beijos e o calor da pele macia de Miss Vixen antes de dormir, mas para sua completa surpresa foi Taylor Towsend quem apareceu nos seus sonhos naquela noite. – Ótimo, agora eu também estou ficando maluco.
- Sonhos ruins? – Marissa perguntou quando o encontrou na sala de jantar tomando café. – Desculpe, você não está com uma cara boa. Mas também pode ser por causa da prova de matemática.
- Prova de matemática? Isso é que é boa noticia no café da manhã. – Cal falou, dando-se conta que não tinha lembrado de estudar para a prova, mas também não estava tão preocupado, precisava de pouca nota, e poderia colar de Summer, além disso era a última prova de matemática do colegial. – E ninguém se importa com a última prova de matemática do colegial, não é? Bem, só a Summer, mas a Summer não conta, então... – Marissa riu, pensando que Cal estava realmente mudado, há alguns meses seria impensável vê-lo agir de uma maneira tão agradável.
- Bom dia. – disse Caleb ao chegar e sentar à cabeceira da mesa. – Estão falando sobre o último ano? – a resposta foi dada mesmo em silêncio, tanto Cal como Marissa acharam meio deslocada a tentativa de Caleb iniciar uma conversa. – Você já escolheu para qual universidade vai, Marissa?
- Já, eu me inscrevi em Berkeley.
- Berkeley! Hum, excelente escolha. – Marissa sorriu, Cal revirou os olhos, o pai tinha estudado em Berkeley. – E você, Cal, vai para Berkeley também?
- Você tá brincando? – Cal disse com um sorriso zombeteiro. – Bem, eu não vou para a universidade.
- Do que você está falando? – Caleb perguntou como se tivesse acabado de ouvir o maior absurdo do mundo.
- Que eu não vou para a universidade. – Cal respondeu naturalmente, sem nenhuma intenção de irritar o pai, o que naturalmente não funcionou.
- Você não pode estar falando sério, e o seu futuro, você não pensa no seu futuro, Caleb?
- Meu futuro, pai, é meu, eu decido o que fazer, ou não fazer no caso.
- O que você pretende fazer, então? Passar a vida inteira sem uma ocupação séria, sem se preocupar com nada, é isso que você pretende?
- Eu não sei o que eu quero, ok, mas sei o que eu não quero, e não quero me tornar uma pessoa tão obcecada por trabalho, que só pensa em trabalho, que vai acabar seus dias sozinho por que até mesmo quando tem uma boa intenção, não tem nenhuma habilidade para lidar com pessoas ou com sentimentos. - Cal levantou da mesa e saiu, deixando o pai sem palavras; Marissa abaixou a cabeça e terminou de tomar o café da manhã, pensando que presenciar as conversas dos dois Nichols era a coisa mais constrangedora que poderia acontecer.