A fofoca que Summer previa e que Cal tanto esperava explodiu na Harbor menos de uma semana depois; as coisas pareciam normais na escola, o fim da temporada de pólo aquático agitava a existência dos atletas e das líderes de torcida, enquanto alguns seres normais estavam preocupados em escolher a universidade, mas o assunto do momento não tinha nada a ver com pólo aquático ou mesmo com universidades. Summer reparou que algumas pessoas estavam cochichando pelos cantos, dando aquelas risadinhas insuportáveis enquanto ela passava pelo corredor, mas não deu maior importância, tinha pouco tempo para pegar o livro que Cal tinha esquecido no armário e voltar para a aula. Com certa apreensão, talvez um pouco de medo de encontrar drogas, abriu o armário do colega, onde felizmente só encontrou os livros, pegou o de História e bateu a porta. Estava voltando para a sala quando viu um dos colegas jogar um panfleto no chão, e isso era realmente uma coisa que tirava Summer do sério. Ela começou a reclamar, mas o garoto já ia longe e não se preocupou em apanhar o papel e colocá-lo na lixeira; Summer apanhou o panfleto sem interesse, mas antes de colocá-lo no lixo, sua atenção despertou para a foto impressa; aquele panfleto era o motivo de todos os cochichos no corredor.
- Summer? – Summer levantou a cabeça e viu Cal andando mancando. – Você estava demorando.
- Já estou indo.
- O que é isso? – Cal perguntou e Summer mostrou o panfleto. Na folha tinha uma foto de Lindsay Wheeler, com uma legenda em letras vermelhas que dizia “Se você transou com essa garota, CUIDADO! Você pode estar com AIDS, procure um médico. UERGENTE”. – Wow! Que maldade.
- Para você ver como as pessoas ainda conseguem me surpreender. – Summer amassou a folha de atirou na lixeira, mas logo percebeu que havia muitos outros panfletos espalhados. Quando Summer e Cal entraram atrasados na aula, o Sr. Peters deu aquela olhada fuziladora nos dois, e principalmente em Summer; pela primeira vez era bom estar na aula do ditador Peters, por que ninguém falou no assunto, pelo menos, não em voz alta. Mas logo que o sinal tocou e todos saíram para os corredores, recomeçaram os cochichos.
Aquela deve ter sido a cena mais deprimente que Summer viu durante sua vida escolar; mesmo acostumada com os animais do colegial, ainda foi surpreendida com tão pouca sensibilidade; Lindsay saiu da sala de aula, com certeza já sabia do que estava rolando, andava com a cabeça baixa, como se evitasse olhar para qualquer um, ouvindo assovios e xingamentos ditos aos sussurros quando ela passava. Até que um dos colegas pegou um panfleto e atirou praticamente na cara de Lindsay. Aquilo foi demais para Summer, por mais que nunca tivesse ido com a cara de Lindsay, não poderia achar que a garota merecia tanta humilhação. Ela ficou olhando Lindsay ir embora aos prantos, e sentiu vontade de ir procurá-la e oferecer ajuda, embora fosse provável que a outra não aceitasse. Ficou se perguntando quem teria feito aquilo com Lindsay.
- É como eu sempre digo, pessoal, tipinhos como a Wheeler, acaba nisso. – ouviu Lana dizer, ela devia estar se sentindo o máximo com toda aquela plateia ao seu redor.
- Cuidado para não morder a língua, Lana, você pode morrer com seu próprio veneno.
- Qual é o seu problema, Summer? – Summer encarou Lana, uma vontade enorme de dar uns bofetes naquela cara de porcelana de repente se apoderou da garota, aquele sorriso cínico da líder de torcida não enganava, era Lana a responsável pelos panfletos. Seth pegou na mão de Summer e praticamente puxou-a para longe de Lana, de fato, acreditava que se a namorada entrasse numa briga com a loira fatal, levaria a pior.
- Ela faz ioga, Summer!
- Eu aposto que foi a Lana quem espalhou aqueles panfletos, Seth.
- Ei, essa acusação é muito séria, Summer, como a Lana poderia saber que a Lindsay está com AIDS?
- A gente nem sabe se a Lindsay está mesmo com AIDS, a Lana pode ter inventado tudo.
- Por que ela faria isso, Summer? – perguntou Cal. – Você acha que é possível alguém ser tão mesquinho a ponto de inventar tanta mentira? – Cal acabou de falar, ao mesmo tempo que lembrava de Alex, ela tinha sido bem mesquinha com ele, embora não tenha feito tanto estrago. – Eu realmente desisto de entender as mulheres, cara.
- Seja bem vindo ao meu mundo. – Seth concordou. – Mas se a Lana queria acabar com a reputação da Lindsay, ela conseguiu.
- Que eu saiba a Lindsay nunca teve uma reputação. – Summer lançou um olhar fuzilador a Cal. – O que?
- Só falta você dizer que vai “fazer o exame, só por via das dúvidas”. – Summer deu as costas aos garotos e foi embora irritada.
- A Summer fica mesmo irritada com injustiças não é? Ela ainda vai se tornar uma defensora dos direitos humanos.
- É, acho que sim. Mas, e aí, você vai fazer o exame, quer dizer, “só por via das dúvidas”?
- Não, mesmo que eu tivesse transado com a Lindsay, eu teria usado camisinha. Eu nunca transo sem camisinha.
- Nem quando você tá chapado? Quer dizer...
- Mesmo quando eu to chapado, meu cérebro é programado, ou sei lá, acho que nada me apavoraria mais do que a ideia de engravidar alguém.
- Isso realmente parece assustador.
- E você, Seth, vai fazer o exame? – Cal deu uma risada, Seth já tinha desistido de ficar vermelho, então riu também, mas por pouco tempo. – O que?
- O Ryan, cara, o Ryan teve um rolo com a Lindsay.
Seth procurou o irmão no treino do pólo, mas Ryan já tinha ido para casa, e só quando chegou pôde falar com ele.
- Você soube da Lindsay?
- Tinha como não saber?
- Será que é verdade? - Ryan balançou a cabeça. – Você já sabia?
- Ela mesma me contou, bom, ela contou a todo mundo, que, bem, você sabe, ou, acho que você sabe...
- Wow! Isso deve ter sido um pouco pior do que aqueles panfletos. Mas, você, você, você sabe, Ryan, você usou camisinha, não é?
- Humpf! Você que me dar essa lição, Seth?
- É legal você querer fazer piada a essa altura, Ryan, mas talvez isso seja um pouco mais sério do que tirar onda com a minha cara, brother. Você não está nem um pouco preocupado?
- É claro que estou preocupado, Seth, mas não comigo, ok, eu usei camisinha, todas as vezes, eu acho, mas, eu estou mais preocupado com a Marissa.
- Onde é que a Marissa entra nessa história? Ok, nem me conta.
- Eu não ia contar mesmo. Mas, acho que eu vou ter que falar com ela. Logo agora, que tudo está tão bem entre a gente, cara, se a Marissa pirar?
- Eu ainda me preocuparia mais em possivelmente estar com AIDS.
- AIDS? Quem está com AIDS? – Kirsten apareceu na porta do quarto e ficou espantada ao ouvir a conversa dos garotos. – Seth, Ryan, pelo amor de Deus. – Seth e Ryan se entreolharam.
- Calma, mãe, é só um boato que tá rolando na escola, só isso.
- Oh, meu Deus, se fosse com um de vocês, ok, melhor nem pensar, mas isso é um assunto muito sério para virar boato na escola, vocês tem que tratar isso com seriedade.
- Você tem toda razão, mãe. Escuta, cadê o Trey? Ele não vai mais morar com a gente? – Kirsten olhou admirada para Ryan.
- Você não se incomoda se o Trey vier morar aqui?
- Bom, isso te faria feliz não é? Não vejo problema nenhum.
- Seria ótimo se você dissesse isso para ele. Bom, venham, não demorem, o jantar já está servido. – Kirsten saiu.
- Você deveria contar a ela.
- Você deve estar brincando! Seth, eu não estou doente, ok? Para que preocupar a mamãe?
- Você não tem certeza, Ryan.
- Mais um motivo.
- Você vai ao médico, não vai?
- Vou, tá bom, eu vou.
- Quem mais está na linha de risco? – Seth perguntou quando os dois desciam a escada.
- O Luke, o Oliver, sei lá, cara, o time de pólo aquático inteiro, menos o Zach, é claro.
- O que isso significa? Menos o Zach.
- Ei por que você acha que o Trey não veio morar com a mamãe? – Ryan desconversou, e embora Seth soubesse que falar de Trey era a tática do irmão para fugir da conversar, não voltou a insistir, na verdade não estava tão interessado em saber alguma coisa sobre Zach Stephens.
Ryan estava preocupado, sem dúvidas, desde que Lindsay lhe procurou e contou sobre a doença, claro que havia algum perigo de ele ter sido contaminado, mas não acreditava nisso, afinal, sempre tinham tomado cuidado, o que mais lhe preocupava era Marissa, ela sabia que ele tinha ficado com Lindsay algumas vezes, mas não que o relacionamento tinha ido tão além; agora Ryan sentia que deveria contar, mesmo que corresse o risco dela ficar muito chateada; mas quando os dois se encontraram na lanchonete, ele não precisou dizer nada.
- Eu não acredito que você transou com aquela garota.
- Marissa, eu, foi quando nós estávamos separados, eu...
- Eu sei, você estava tentando superar! Poxa, Ryan.
- Eu sinto muito.
- Você já, você, você sabe...
- Amanhã eu vou até o hospital, mas, não se preocupe, eu não estou contaminado.
- Como você pode ter tanta certeza, Ryan?
- Você não está chateada?
- Estou, claro que estou, Ryan, mas, eu estou muito mais preocupada. Não adianta você dizer para eu não me preocupar.
- Eu realmente não mereço você, Marissa; amanhã mesmo eu vou fazer o teste, eu prometo.
- Você faz ideia de quem pode ter feito aqueles panfletos?
- Eu não sei, eu não contei pra ninguém, mas algumas pessoas sabiam, quer dizer, alguns caras, você sabe...
- A Summer acha que foi a Lana.
- Acho que a Lana seria capaz de fazer isso com alguém.
- É, mas como ela poderia saber? A Lindsay com certeza não contou, será que ela ouviu algum de vocês conversando?
- O Luke estava saindo com a Lana, ele deve ter contado.
As fofocas no colégio continuaram nos dias seguintes, e a vida de Lindsay parecia um inferno; as pessoas suspeitavam de Lana, mas ninguém tinha provas ou mesmo coragem para bater de frente com uma das rainhas da popularidade da Harbor, em vez disso preferiam julgar os atos de Lindsay. Cal e Summer estavam indo para a aula juntos, quando viram um colega ofender Lindsay.
- Hey, Brandon, como é que vai a bêbada da sua mãe? – Cal falou com o garoto que estava xingando Lindsay, e algumas pessoas viraram as cabeças para olhar. – Eu tenho visto ela na terapia. – Brandon não falou nada, a menção a sua mãe e ao fato dela fazer terapia tinha feito o efeito que Cal imaginou que faria. – A verdade é que todo mundo gosta de ficar vendo os defeitos dos outros enquanto joga os seus para debaixo do tapete. – embora fizesse uma cara de quem adoraria dar um soco em Cal, Brandon saiu murmurando alguma coisa. – Covarde, o pai dele é empregado do Newport Group. Tudo bem? – perguntou e sorriu para Lindsay, fazendo Summer se encher de orgulho.
- Tudo bem, obrigada.
- Isso vai acabar passando, Lindsay. – disse Summer. Lindsay não sabia o que dizer, quando esperava que Summer Roberts fosse a primeira a tripudiar dela foi exatamente o contrário. – Se você precisar de qualquer coisa, conversar ou, sei lá, qualquer coisa, dar uma surra na Lana, pode contar comigo.
- Obrigada, Summer. Uma surra na Lana certamente seria merecida, mas não resolve meus problemas, mas, obrigada, mesmo assim. Eu preciso ir para a aula agora.
- Summer, por que você se importa tanto com os problemas dos outros?
- Do que você tá falando, Baby Nichol?
- Bom, você sempre se preocupou comigo, se importou, mesmo quando eu não mereci que você se importasse.
- Você é meu amigo.
- Ok, mas a Lindsay não é.
- Eu não sei, Cal, eu sou assim sabe, um pouco idiota, mesmo, mas eu só acho que tem momentos que tudo que uma pessoa precisa é saber que não está sozinha, ouvir uma palavra de apoio, ou algo do tipo; talvez isso não faça nenhuma diferença, mas talvez faça, então, não me custa nada apoiar alguém que precisa de apoio. – Summer e Cal sentaram à mesa, onda já estava Taylor, que instintivamente se afastou um pouco quando Cal sentou ao lado. – Então?
- Eu acho que vou pedir ao juiz para você ser a minha psicóloga, com você eu gosto de falar.
Taylor só sentava ali por que era o lugar onde poderia ficar mais escondida, mas era um tanto quanto insuportável ficar ouvindo aqueles dois conversando a aula inteira, fingindo que ela não existia. Naquele dia, a professora mandou que eles formassem duplas para responder o teste surpresa, e por incrível que pareça, Summer não fez par com Caleb, que acabou sobrando; como Taylor normalmente sobrava, os dois ficaram juntos. Taylor não tinha nada em especial contra Caleb Nichol, exceto talvez o fato de ele conversar a aula toda; mas também não tinha nada a favor, ele era lindo e sexy, é claro, mas o mundo está cheio de homens assim. Eles eram naturalmente de mundos opostos, e nada poderia uni-los, nem mesmo o dever de Francês, que eles responderam praticamente sem se falar, e ele não se importou quando ela quis conferir as respostas dele para certificar que estavam certas. Graças a mania de perfeccionismo de Taylor, que quis copiar todas as respostas com a letra arrumadinha dela, eles acabaram sendo os últimos a terminar o teste. Cal estava tão acostumado a ter Summer ao lado para ajudá-lo a carregar o material, que na hora de se levantar sem a ajuda, se atrapalhou todo, sem conseguir segurar a mochila com o notebook e os livros na mão enquanto se equilibrava nas muletas, e deixou as coisas caírem.
- Droga. – Cal tentou se abaixar para apanhar o material, mas aquilo ainda causava dor na perna quebrada.
- Deixa que eu pego. – Taylor apanhou os livros dele, e levantou a cabeça, encontrando os olhos de Cal fixos nela, aqueles lindos olhos castanhos eram hipnotizantes. Taylor engoliu em seco, incomodada com aquilo. – Algum problema?
- Desculpa, é que, a gente se conhece de algum lugar?
- Provavelmente, já que eu sento do seu lado desde o começo do ano. – Taylor falou ceticamente, já recuperada da hipnose.
- Não é isso que eu estou querendo dizer, eu tenho a impressão que já vi você, em outro lugar, só que eu não lembro de onde.
- Você deve estar me confundindo com alguém, com certeza, sabe, eu não costumo frequentar, bom, certos lugares. Você ainda deve estar drogado. – Taylor praticamente jogou a mochila de Cal em cima da mesa, e ele percebeu que ela não estava brincando.
- Oh! Qual é o seu problema, garota?
- Desculpa, eu não estou de bom humor.
- É dá para perceber. – Caleb empurrou os livros para dentro da mochila. – Desculpa. – ele colocou a mochila no ombro, mesmo com dificuldade, e saiu mancando; Taylor não pode deixar de rir sozinha, não queria ter sido grossa com o cara, mas foi meio que por impulso, aquele papo de “te conheço de algum lugar” é manjado demais e a última coisa que ela poderia querer na vida era ser mais uma idiota a cair nas graças de Caleb Nichol.
***
Seth queria falar com Summer, ser sincero e dizer o que estava pensando sobre a nova amizade dela com o tal bonitão do Zach Stephens, mas cada vez que tentava entrar no assunto, acabava perdendo a coragem e se sentia muito mal por pensar alguma maldade de Summer, por que era maldade achar que ela seria capaz de ter alguma coisa com o lesado do Zach. Mas depois de vê-la conversar pela enésima vez com o outro antes, durante e depois da aula, além de ver que ela agora o tinha como amigo até no Facebook, ele não aguentou mais, tinha que tomar uma atitude.
- Summer, será que a gente pode conversar um instante? – Seth falou de um jeito tão estranho que Summer ficou assustada, e também não era normal aquele olhar mal humorado.
- Claro, o que aconteceu, Seth?
- Ok, ahm, aconteceu que eu... Bem, eu... Você pegou meu volume novo de Legion?
- O que? Do que você tá falando, Seth? Eu não peguei nenhuma porcaria de gibi.
- Desde quando você acha que gibi é uma porcaria? Hein, Summer, que eu saiba você gostava da porcaria dos gibis? O que foi, será que o seu amigo Zachary acha que gibis são uma porcaria?
- Por que você não fala logo o que quer falar e para de ser covarde e ridículo e inventar coisinhas sem sentido?
- Você acha que eu sou covarde e ridículo?
- Você se comporta como se fosse.
- Você deve achar o Zachary muito mais interessante.
- E agora você também está sendo idiota.
- Ótimo, por que você namora um idiota? - Summer ergueu o dedo e estava a ponto de colocá-lo na cara de Seth, quando recuou.
- Afinal, por que nós estamos brigando, Seth? Você está com ciúme do Zach? – Seth se encolheu, e não falou nada. Summer ficou impaciente. – É melhor você falar logo.
- Está bem, sim, eu tô com ciúme de você com o Zach.
- Eu realmente acho isso lindo, Cohen, só que você não tem motivos para ficar com ciúme.
- Não tenho mesmo?
- Qual é, Cohen? Nós já passamos por isso uma vez, você vai querer começar de novo?
- Quer saber, você tem razão, Summer, nós já passamos por isso. E, eu sei que o Caleb é seu amigo, ok, o Zach pode ser seu amigo também, você tem muito amigos, inclusive nós dois somos muito amigos, e é tudo que eu tenho sido para você, amigo.
- Não entendo o que você tá querendo dizer.
- Acho que você entende muito bem, Summer, você é a garota mais inteligente do mundo. E eu também não sou muito burro, posso entender os sinais. Você não quer ir para Harvard comigo.
- Que sinais? Do que você está falando, Seth? Eu não estou entendendo nada. Você começou a falar e de repente você falou do Zach, e esse papo de sinais e Harvard...
- Você não está apaixonada por mim.
- Seth, por que você tá dizendo isso? É claro que eu estou apaixonada por você. Mas quer saber, eu acho que sei do que você tá falando, e preferia que você fosse honesto comigo. Se você não gosta de mim, a não ser como amiga, não coloca a culpa em mim.
- Summer, não... Eu...
- Eu esperava mais de você, Cohen, um pouco de consideração para variar. – Seth não soube o que dizer para impedir Summer de ir embora, obviamente tinha dito a coisa errada, ela tinha entendido tudo errado. Ele não conseguia entender por que de repente parecia tão difícil ter uma conversa sincera com Summer.
***
Ryan encontrou os amigos na lanchonete do píer, levando consigo o envelope fechado com o resultado do teste de HIV, por que os três tinham combinado de abrir juntos, por incrível que pareça, Ryan não estava assustado. Não era do tipo que acreditava em milagres ou qualquer superstição, mas era como se alguma coisa lhe dissesse que não havia chance de aquele exame dar positivo.
- O universo tá conspirando a meu favor, como se diz.
- Que vacilo, cara, com tanta garota no mundo. – Luke lamentou-se. – A minha vontade é de matar aquela vadia.
- Qual é, Luke, não adianta chamar a Lindsay de vadia agora, ela não sabia que estava doente. Imagina como deve ter sido difícil para ela ter que falar com todos os caras. – Luke resmungou alguma coisa que Ryan e Zach não entenderam. – Bom, vamos abrir então? Aconteça o que acontecer, nós vamos poder contar um com o outro, certo?
- Vamos esperar o Oliver. – Zach sugeriu. – Ele anda estranho.
- É claro, não é, Zach? Qualquer fica estranho quando está sob a suspeita de ter AIDS. Pelo menos você não corre esse risco.
- É, a vida tem dessas coisas, Luke. – eles esperaram mais alguns minutos, mas Oliver não chegou, Zach tentou ligar para o amigo, mas o telefone dele estava na caixa postal. Ryan e Luke resolveram abrir os exames de uma vez; Ryan rasgou o envelope primeiro, e soltou um suspirou. – Então? – Zach perguntou, ansioso.
- Limpo. Luke? – Luke estava muito mais nervoso, praticamente tremendo, rasgou o lacre do envelope e leu o exame, mas parecia confuso, como se não entendesse bem o que estava lendo. – Luke, então?
- Não sei o que significa. – Zach arrebatou o papel das mãos do amigo fazendo um esforço para não rir.
- Como você pode ser tão burro, Luke? Limpo. Vocês tem muito sorte, cara, muita sorte. – Ryan não pôde deixar de concordar com Zach, depois daquele vacilo, eles tiveram mesmo muita sorte, e também tinham aprendido uma lição importante.
- Acho que a gente sabe o que fazer daqui para frente, não é? – Luke balançou a cabeça.
- Pegar leve. Tomar cuidado. Ok. Olha, é o Oliver. Oliver! – Luke chamou, Oliver estava no lado de fora e por um instante deu a impressão de que não queria entrar, mas acabou indo encontrar os amigos. – Oliver, hey, onde você andou?
- Oi, pessoal. – logo os três perceberam que Oliver não parecia estar muito animado. – Então, vocês já abriram...? – Ryan e Luke balançaram a cabeça. – E aí? – não foi preciso dizer nada, pelas caras felizes dos amigos Oliver podia entender muito bem. – Legal. Que bom... Para vocês... – Oliver baixou a cabeça, dando a impressão de estar chorando, claro que não deixou as lágrimas escorrerem por seu rosto.
- Oliver...
- Não acredito cara, eu não acredito. – Luke repetia sem parar.
- Você tem certeza? – Zach perguntou, e Oliver apenas balançou a cabeça. – Você já foi ao médico?
- Acabei de voltar de lá, e, eu tive que contar aos meus pais. Ah, cara, eu acho que a minha vida acabou.
- Não fala assim, existe tratamento e, você descobriu cedo, então...
- Qual é, Zach, não é você que está doente.
- Você sabe que uma pessoa que tem o vírus pode ter uma vida completamente normal.
- Normal. Humpf. – os quatro amigos ficaram um instante em silêncio, encarando-se, sem saber bem o que dizer; Oliver sabia que Zach só estava querendo ajudar com aquelas palavras de apoio, mas era realmente difícil pensar positivamente naquele momento. – Eu não quero que ninguém saiba, ok? Ninguém na escola. Por favor. Eu não poderia aguentar as pessoas me olhando como olharam para a Lindsay.
- Tudo bem, a gente não vai contar.
- Obrigado.
***
Os amigos cumpriram o que prometeram, e não falaram com ninguém sobre Oliver, e Lindsay continuou sendo o único alvo das más línguas da escola Harbor. A garota estava a ponto de desistir de ir para a escola, e só ainda não tinha feito por causa da insistência dos pais, mas não aguentava mais.
- Não me admira que a Lindsay queira deixar a escola, cara, se fosse comigo eu já teria largado. É no mínimo um saco encarar esse bando de gente hipócrita todos os dias te julgando. Mas as pessoas adoram fazer isso, não é? Quer dizer, julgar os outros como se fossem os reis da virtude?
- O Cal está parecendo a Summer, é sério. Obrigado. – Seth pegou os dois cafés, e entregou um a Cal, e eles sentaram no sofá.
- Então, já falou com a ela? Com a Summer? – Seth balançou a cabeça. – Seth.
- A Summer me bloqueou no Facebook, é claro que ela não quer voltar.
- Você feriu os sentimentos dela, cara, o ego de uma garota é uma coisa muito sensível, você fez a Summer pensar que não estava mais interessado nela, e...
- Ok, eu sei o que eu fiz, e você é um péssimo conselheiro amoroso, a julgar por suas próprias experiências.
- O seu cinismo não vai trazer a Summer de voltar, isso é uma tarefa que exige muita humilhação; você vai ter que rastejar se não quiser que o jogador de pólo com carinha de bebê roube para sempre o coração da sua garota. – Seth tossiu e espirrou café quando Summer e Zach apareceram juntos; ele e Cal ficaram calados ouvindo a conversa dos dois que também pediram um café; quando se virou e deu de cara com o namorado, Summer fez aquela cara de brava.
- Hey, vocês conhecem o Zach, ham?
- Oi, pessoal. – disse Zach com aquele jeito abobalhado que ele tinha, e nenhum dos dois garotos respondeu.
- Então, vocês souberam da Lindsay? – Summer perguntou.
- O que aconteceu?
- Fizeram outro panfleto. – disse Zach ao mesmo tempo em que mostrava uma folha de papel.
- Fora Lindsay Wheeler? Que absurdo. Cara, já está na hora da Dra. Kim tomar uma atitude, ou alguém fazer alguma coisa, preconceito é crime, todo mundo sabe disso.
- Você está começando a me assustar, de verdade, Caleb Nichol.
- Eu vou indo nessa, tenho que ir para minha sessão de tortura com o psicólogo. Ei, Stephens, será que você poderia me ajudar com a minha mochila? Por favor? – Cal pediu e Zach achou muito estranho, mas não percebeu a piscadela que o outro deu para Seth e pegou a mochila. – Obrigado, a gente se vê, pessoal. – Summer acenou para Cal e ficou vendo-o se afastar, apoiando-se em Madonna e Lady Gaga, suas muletas, enquanto Zach segui-o levando a mochila.
- Eu acho que o Cal está começando a fingir com esse lance de pedir para alguém carregar a mochila dele. – disse meio que pensando alto.
- Eu tenho certeza que ele está fingindo. Mas eu estou orgulhoso, ele até pediu por favor.
- É... – Summer baixou os olhos e ficou olhando para o chão, desde o dia que ela e Seth brigaram não se falavam direito, uma parte dela queria deixar o orgulho de lado e fazer as pazes com ele, mesmo que ficassem como amigos, mas outra parte não admitia dar o braço a torcer.
- Summer, me desculpa. – Seth falou de repente.
- Por querer ser só meu amigo ou por não ter coragem de admitir que a minha amizade é tudo que você quer? – Seth deu um suspiro, falar com Summer exigia muita preparação e coragem e confiança por que ele queria fazer certo.
- Por não ter coragem de dizer o que eu quero de verdade e colocar a culpa em você. Quer dizer, eu sei que você e o Zach são amigos e ter ciúme de você e ele é uma estupidez, não é?
- De onde você tirou a ideia absurda de que eu estava a fim do Zach?
- Eu não... Você sempre falou dele como se ele fosse algum tipo de Deus, e de repente ele vira seu melhor amigo, Summer, eu...
- Você me conhece, Cohen, você me conhece melhor que qualquer pessoa.
- Eu sei, Summer, eu sei que foi burrice.
- Claro que foi.
- Eu fiquei nervoso, com... – Seth engoliu em seco. – a ideia de ir para Harvard, com, você, bem, você sabe... – Summer começou a rir, deixando Seth sem graça e vermelho. – Qual é, Summer? Você é...
- Uma garota frágil e insegura que estava com medo que você não estivesse interessado nela. Bom, Seth, acho que nós conseguimos ser um pouco mais ridículos que o costume.
- Acho que você tem razão. Summer, você quer, hmm, fazer as pazes?
- Quero, mas com uma condição. Vamos ser sempre honestos um com o outro daqui para frente.
- Ok.
- E vamos falar sobre Harvard.