The Night Belongs To Love

Falsos Sorrisos - Parte 1


Porque eu sorria quando por dentro eu doía?

Disse que estava bem quando sabia que era mentira

Clear - Miley Cyrus

Era difícil seguir a vida normalmente, como se nada tivesse acontecido, quando a pior coisa que podia acontecer, realmente aconteceu.

Você pergunta para as pessoas qual a pior coisa que podia acontecer, a resposta na maioria das vezes é a mesma, 'perder meus pais'. Tem algumas que até desejam morrer antes para não sentir essa dor, todos querem eternizar a vida de quem nos trouxe ao mundo.

E então acontece o inesperado, você recebe a noticia da qual sabia que um dia receberia, mas que nunca estará preparado para receber. Tem como imaginar a dor? Acho impossível. É tão difícil senti-la, como se não coubesse dentro de você. Tudo piora se você é uma adolescente, com altos e baixos, com a emoção três vezes maior de um adulto.

Lembra quando falei sobre as respostas das pessoas quando a pergunta é 'Qual a pior coisa que podia acontecer?', então são essas mesmas pessoas que dizem que perder os pais seria uma coisa insuportável, são exatamente elas que dizem para eu voltar ao normal. Irónico, não é?

É por isso que digo que é impossível imaginar a dor da perda, sem te-la vivido.

Mas no fim, é isso que todos a sua volta - inclusive seu irmão mais velho - querem, que você ignore a dor, ou melhor, finja não senti-la, pelo menos na presença deles.

Ninguém gosta de estar ao lado de uma pessoa depressiva. Então, se você não finge estar bem, eles se afastam.

Não os culpo, nem mesmo eu aguento minha própria presença.

Jason parece tão bem, na medida do possível, é claro.

Talvez o problema seja eu mesmo,sou fraca de mais para tamanho sentimento de dor.
***

Olhei-me no espelho passando a mão nos fios desarrumados de meu cabelo, conclui que, se eu quisesse parecer arrumada, a única opção era prende-los. Fiz um rabo de cavalo alto. Quando terminei bufei.

– Droga, antes nós éramos melhor nisso! - Fiz uma careta para meu reflexo e levantei do banquinho da penteadeira, que era feita pelo meu pai. Quando soube que mamãe estava gravida de uma menina, correu fazer.

Apesar de eu estar me esforçando para parecer "normal" não tive paciência para me maquinar como antes, me limitei a passar pó facial, blush, rímel e gloss. Nada comparado ao que eu fazia. Peguei minha mochila e desci as escadas correndo, indo direto para o carro de Jason que estava buzinando a bons cinco minutos.

Ele ficou radiante ao ver que eu estava arrumada.

–Você parece melhor. - Ele disse sorrindo grande.

Só pareço, pensei olhando para ele e sorrindo falsamente. Será que ele não percebe, ou apenas finge não perceber?

–Não vestindo esse uniforme. - Falei com uma careta de nojo.

– Essa é minha irmã! - Jason riu alto. Ele parecia realmente feliz e despreocupado, ou apenas é um bom ator.

Tentei acompanhar seu riso escandaloso, mas tudo era tão falso, tão forçado que desisti segundos depois. Ele pareceu não perceber.

Logo Jason anunciou que eu já tinha chegado. Nunca o caminho do colégio foi tão rápido.

Despedi-me de Jason com um aceno tímido e hesitei antes de abrir a porta do carro, respirando fundo diversas vezes antes de sair.

Vamos Sophie Carlie, pensei, não seja covarde!

Mostre quão boa atriz você é!

Sai do carro batendo a porta logo em seguida e recebendo de Jason a típica pergunta "Não tem geladeira em casa?".
***
Andei em meio aos corredores silenciosos, vazios. Eu estava atrasada.

Parei na frente da minha sala e a encarei por alguns instantes, hesitando.

Dei três leves batidas na porta, torcendo para não ser ouvida. Mas, para meu total desapontamento, o professor a abriu e me olhou curioso.

– Está tudo bem? - Ele perguntou preocupado.

– Desculpe, é que eu me atrasei... - Comecei baixando o olhar.

– Danielle e Sabrina falaram que te viram, antes de bater o sinal. - Ele disse.

Era verdade, cheguei antes de bater o segundo sinal, disposta a ser a protagonista da grande peça teatral criada por mim e incentivada por meu querido irmão. Gabriella foi a primeira a conversar comigo, caindo na minha encenação, então outros garotas vieram falar comigo. Achei que era de mais, então com a desculpa de estar com cólica, fui ao banheiro e não sai, bem, até agora.

– Eu... - Não sabia o que falar. - Estava com cólica.

– Entre então, mas avise da próxima vez. - Ele disse dando-me passagem para a sala.

Entrei com meu melhor sorriso falso.

As aulas passaram arrastando-se e o intervalo foi uma droga, passei com a Gabriella e sua amiga que não lembro o nome. Não que a companhia delas fossem ruim, mas não sei, elas riam sem preocupações como se a vida fosse bonita e feliz.
Tive que ir diversas vezes no banheiro, tentando recuperar meu personagem. Eu estava tentando, estava fazendo o que Jason pediu, mas parecia doer igual, talvez mais.

Não fazia cinco minutos que tinha batido o sinal, eu e Gabi caminhávamos em silencio pelos corredores tumultuados do colégio. Ela era uma das garotas que eu mais conversava no colégio, sempre alegre e extrovertida. Ela mora na rua da frente do colégio e a mãe dela tem uma flori-cultura onde mamãe costumava comprar suas flores para o nosso jardim.

Quando já estávamos perto do portão principal e eu já estava pensando na visita ao cemiterio que pretendia fazer em vez de almoçar, ela fala com a voz doce:

– Por que não vem almoçar lá em casa? Mamãe adoraria vê-la de novo.

Costumávamos almoçar uma na casa da outra.

– É que preciso ir ao cemitério, faz um tempo que não á vejo. - Respondi baixo, voltando a andar.

– Que pena... - Ela diz parecendo magoada. - Mas você poderia ir depois, minha mãe dá uma carona pra você!

Respirei fundo, Gabi era um amor, conseguia tudo o que queria.

– Tudo bem. - Resmunguei me arrependendo logo em seguida.

Ela comemorou com palminhas tagarelando como Fátima, sua mãe, irá gostar.

Almoçamos juntas, Fátima parecia constrangida com a minha presença, então tive que me esforçar mais para parecer "normal".

Ela estava indo em direção a minha casa quando pedi para ir ao cemitério. Pelo caminho todo o silencio constrangedor pairava sobre o ar, nenhuma disposta a quebra-lo.

– Vou ficar no carro, te esperando. - Fátima falou ao chegar no cemitério.

– Não precisa se incomodar, vou embora á pé. - Falei, não estava disposta a voltar com ela, ela estava estranha e diferente.

– Não vou deixa-la no cemitério, sozinha. - Ela disse, parecendo que tentava se convencer que isso era o melhor.

– Não vai ser a primeira vez que faço o percurso. - Falei.

– Tudo bem - Ela finalmente diz. - Mas quando chegar ligue para Gabriella avisando, Ok?

– Claro.