Acordei meio tonta e com a cabeça doendo, Renan não estava do meu lado. Fui no banheiro e lavei meu rosto sujo e grudento pelas lágrimas da noite de ontem, não ousei olhar para o espelho, não me importava.

Desci as escadas hesitante, a casa estava silenciosa, nem sinal de Jason, tia Amélia, nem mesmo de Renan. Fui para cozinha e vi uma forma com bolo de limão na mesa, não queria comer. Queria apenasvisitar mamãe, ela devia estar tão sozinha! Tomei um pouco de água, agora nem a água era bem-vinda em meu corpo, joguei o resto na pia. Me sentia um pouco tonta, apoiei na pia buscando equilíbrio.

- Já acordou, dorminhoca? - Jason disse. O que soava brincalhão antes, agora era totalmente triste e desanimado.

- Não tenho tanta certeza ainda. - Falei com a voz fraca, me sentia um zumbi.

Ele me ajudou a subir as escadas, entramos no meu quarto e sentamos na cama.

- Comeu? - Ele perguntou.

- Comi. - Menti. Ele não caiu.

- Você não come desde... - Ele parou de falar, já sabíamos desde quando eu não comia. - Troque de roupa, vamos ao cemitério.

Fechei os olhos com força, ela estava morta!

Ouvi a porta de meu quarto se fechar, segurei tudo dentro de mim, não queria chorar de novo.

Troquei de roupa colocando o mesmo vestido preto de ontem, mas sem enfeites na cabeça ou sapatos de salto. Vesti meu converse preto e penteei meus cabelos com os dedos e fiz um coque improvisado.

Fui para a sala de estar esperar Jason. Ouvi passos na escadas, mas era tia Amélia. Logo Jason veio atrás.

- Vou junto - Amélia disse.

- Não - Jason falou forte. - Quero dizer, precisa cuidar da casa. - Ele se aproximou de seu ouvido - Ela precisa desse momento. - Ele sussurrou, quase não pude ouvir.

***

Me ajoelhei ao lado de sua lapide, a grama era tão verde quanto a foto do piquenique, talvez corpos sejam bons adubos.

Passei a mão na escritura, ver aquela data me deixava maluca, eu faria qualquer coisa para muda-la.

A foto dela era a mais recente, eu tinha tirado, seu rosto bem maquiado, mas ao mesmo tempo natural, com o lago da cidade vizinha atrás. Era um dia tão lindo e ela usava um dons vestidos que eu mais gostava, laranja que batia no meio da coxa. Seus cabelos estavam soltos, como de costume, e o vento batia de lado. Seu sorriso era lindo!

Logo abaixo a frase "Sente falta das estrelas", perguntaram a mim se poderiam colocar "Saudades dos filhos" e eu não deixei, era a frase mais cliché que existia, não deixaria colocar isso. No túmulo do meu pai a frase é "Sente falta do mar".

É difícil dizer o que a pessoa sente falta, ainda mais quando ela esta morta.

Lágrimas quentes passaram em meu rosto enquanto apertava a lapide buscando forças.

Eu ainda preciso de você, pensei jogando-me na grama de quatro e fincando as unhas na terra.

Aquela dor dentro de mim era agoniante. Era como ser destruído de dentro para fora.

Arranquei o máximo de terra possível e finquei a mão de novo, começando a cavar.

Tudo que eu pensava era cavar, o máximo que eu podia. Ela podia não voltar a viver, mas eu queria estar com ela, queria ser enterrada ao seu lado.

Senti mãos fortes me segurando e tentando me arrancar dali, tentando me separar da mamãe! Gritei com todas minha forças, tentando em vão voltar a cavar, as mãos estavam me levando para longe.

- Sophie! - Jason gritou me sacudindo, ele era as mãos. - Por favor, acalmasse!

Parei de me debater e ele me soltou, cai no chão, em um choro compulsivo.

- Eu preciso dela! - Supliquei em meio as lágrimas.